Um dos maiores flagelos que assombra a nossa atualidade é a pandemia de um fenómeno que se tem vindo a falar cada vez mais nos últimos séculos: a Adultisse Aguda (também conhecida como “síndrome de Wendy”). Esta "coisa" afeta 10 em cada 10 pessoas e começa a manifestar-se tendencialmente entre os 13 e os 18 anos. Infelizmente, trata-se de algo crónico e o seu tratamento desconhecido!
Não, ok… agora a sério:
Se há algo que sempre me incomodou sobre a vida é o que nos acontece quando ultrapassamos a ponte (também conhecida como puberdade) que separa (ou une, depende do ponto de vista) a infância da vida adulta.
Não sei, este conceito sempre me assustou! Acho que se deve ao facto da travessia desta ponte mudar completamente o nosso âmago, marcar a passagem de uma criança feliz e inocente para um adulto rezingão e triste. É nesta passagem que as cores, outrora tão vivas e brilhantes, passam a tons esbatidos e a puxar cinzentos, os mágicos arco-íris passam a um mero “fenómeno ótico e meteorológico que se forma quando a luz branca solar entra em contacto com as gotas de água na superfície” (tirado de um site de gente crescida), as borboletas, antes fadas camufladas, passam, agora, a meros insetos…
Não consigo mesmo entender porque é que, aí a partir dos 13, passamos a ser uma Alice, sim aquela mesmo do País das Maravilhas, que ao invés de escolher acreditar na sorte que teve de ir a festas de chá estapafúrdias com chapeleiros e lebres, de conhecer um gato envolto em charadas, uma senhora com panca em copas e em cortar cabeças e um coelhinho cheio de pressas, escolheu antes acreditar que tudo isto não passou de um mero sonho… Mas porquê? Porque não acreditar no inacreditável, dar corda à imaginação, abraçar o “impossível” e deixar-se cair num universo mágico?
Eu achava que com o tempo, o nosso ser ia se aprimorando, mas afinal talvez não, porque o meu eu de 8 anos, por exemplo, sonhava muito melhor que o meu eu de 17! Olhem, hoje olhamos para o mar e as suas ondas com um bocejo, mas em tempos pensámos “Que treta de sorte a minha não ter caído numa lagoa no meio de uma cratera vulcânica em plena noite de lua cheia!” O que mudou?
Infelizmente, penso ter a resposta para isso. Tudo isto se prende com o maior sintoma desta síndrome: a perda de magia, ou como os adultos maçadores e aborrecidos gostam de chamar, “inocência”.
Mas a grande questão é: Para onde é que a inocência foi? Já procurei em todos os cantos e recantos da minha alma, subi às montanhas mais altas do meu ser, nadei nas marés revoltas da minha essência, até nas entranhas do meu âmago vasculhei! Procurei em mapas, Google, tudo, até GPS tentei E NADA! Sumiu!
E o problema é que, sem a inocência, a cada dia que passa vamos nos tornando mais carrancudos, mais chatos (“realistas”, “sérios”, o que lhe queiram chamar), mais maus, vamos lentamente passando de heróis a anti-heróis (alguns até vilões) e o nosso sorriso outrora tão fácil e genuíno foi substituído por uma boca cerrada com fio nylon invisível, onde os cantos só se erguem se a esticarmos e colarmos fita cola nas pontas (pela fita cola muitas vezes ter aquele tom amarelado ou castanho é que chamamos a isto “sorriso amarelo”).
Mas não me interpretem mal! Esta reflexão não é de TODO uma ode à síndrome de Peter Pan! É claro que é bom (e essencial) amadurecer, ganhar novas perspetivas, ficarmos grandinhos, porque tornarmos nos adultos é inevitável e imprescindível, e há uma certa beleza nisso, em vermos as marcas de crescimento na parede, as nossas galochas favoritas a ficarem demasiado pequenas, ao invés de dar um golinho na cerveja do/a pai/mãe pedirmos uma cerveja inteira para nós... Mas há necessidade da magia perder-se? Opá se calhar é só diminuir um bocado a dose, em vez de 5 sacos de pó de fada se calhar 2 basta. Haverá necessidade de aniquilar a nossa criança interior e qualquer vestígio seu? Porque não só encolhê-la até ao tamanho de uma formiga para as outras coisas que vamos adquirindo com o tempo caibam na nossa alma também? Ora, é possível caber tudo!
E lá está, uma vez mais, toda a gente fala de “Peter losing Wendy” e tal (shout out to Taylor Swift)… mas e “Wendy losing Peter”, não? A grande tristeza é mesmo essa, todos inevitavelmente acabamos por nos tornar uma Wendy!
Mas, apesar de ser crónico, haverá maneira de retroceder ou mitigar os efeitos?
Sim, normalmente é aconselhado saltar em poças de chuva uma em cada três vezes que chover, soprar um dente-de-leão sempre que possível e fazer macacadas com família e amigos pelos menos uma vez por dia, tudo isto equilibrado com uma dieta não muito restrita de responsabilidades e de coisas de crescidos! Porque, at the end of the day, temos de deixar o adulto que há em nós assumir o controlo, brilhar, prosperar, desabrochar, mas sem nunca deixar de dar um beijinho e aconchegar a nossa criança interior.
Commentaires