deixas-me perder na tua tempestade
em mares perigosos
em pequenos copos
cambalhotas no sofá
a medo, saio na tua paragem
é-me mais familiar
o gato de rua cumprimenta-me
vejo as árvores e flores ao andar
ofereço-te ponto de desembarque
estrada para ponto morto
gotas de baunilha na massa do bolo
agulha e linha para a bainha das calças
deixo que saltes na poça enlameada
que me descubras sempre nas escondidas
que trauteies a tua melodia favorita
e que te surpreendas sempre que a completar
sol que derrete os teus fios de caramelo
cócegas no nariz, café a 45 cêntimos
chávena de chá preto
maço de tabaco no bolso de trás
ergues aos sete céus o garfo de quatro pontas
da minha casa à tua são três morangos
e de mim a ti são duas romãs
e eu aceito que me alimentes à colher
deposita no mapa as tuas palavras
mostra que não precisas de escalas
que a tua régua se mede às frutas
contornando as formigas que se aproximam
evito dizer as palavras concretas
“ia embora e era tudo mais fácil”
corrijo a banda, alinho as nuvens no céu
“em Amora era tudo mais fácil”
lábios pintados de framboesas
camisolas tricotadas de bolachas
restos da tua presença
enfim, pestanas alagadas
caneta que nunca foi tua
sala de espera do escritor
abandono do banco de jardim
escuridão lateral no mindinho direito
praga dos deuses do olimpo
absolvição dos átomos da madeira
destruição da lenga-lenga
do resumo de paixões a figos secos
candelabro que se funde
acima da minha cabeça
desvio de olhar inerte
toca e foge do teu perfume
panos húmidos empregues
cacos de vidro espremidos na pele
pegadas das tuas mãos nas minhas
água que ainda ferve para o teu chá
ofereces-me fósforos
imploras para que ateie fogo
à única casa que conheceste
prevejo queimaduras nos braços
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