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Entrevista à Comissão Académica

Nesta entrevista, o nosso Diretor António Subtil embarca numa conversa com a Dux, Beatriz Jesus, e a Presidente da Comissão Académica, Beatriz Moderno, sobre o que as levou aqui, e sobre onde levarão a praxe neste próximo ano.


António (A): Esta é a primeira Comissão nos nossos tempos sem ninguém que tenha integrado uma comissão passada, não é uma lista de continuação. Isto põe-vos numa posição inédita. O que vos levou a candidatarem-se?

Beatriz Jesus (BJ): Para mim, candidatei-me pelo facto de que a praxe significou muito para mim, tanto como caloira como doutora. Eu era uma pessoa que não queria estar naquela faculdade, não queria ir à praxe, não queria nada, e foi através da praxe e das experiências, tanto boas, como más, que fiz amizades, que vivi certas situações, e de certo modo mudei como pessoa. E queria poder entrar num novo ano e num novo semestre com um papel na praxe que pudesse fazer passar esta sensação e estes sentimentos todos a outras pessoas, e tentar cuidar e ajudar e colocar estes caloiros, que vêm tão perdidos como eu me sentia, numa posição de conforto que eu sei que, no meu ano, apesar de ter existido, podia ter sido maior. Então quero aproveitar a experiência que eu tive como caloira, como doutora, como júri, como líder, como o que quer que seja, para poder melhorar o que há a melhorar e para poder manter aquilo que há a manter.

Beatriz Moderno (BM): Faço das palavras da Bia as minhas palavras. O meu período de adaptação também foi um bocado complicado… eu não queria estar aqui, eu odiava estar em Lisboa. Mas não sei porquê, por alguma razão, nunca desisti da praxe, sempre tinha aquela cena que me dizia para continuar. E foi a partir do momento em que comecei a participar mais na praxe e a gostar mais, a dar-me a conhecer mais, que comecei a gostar mais de Lisboa. E sei que também muitas das pessoas que conheci, neste caso a Bia, que é uma das minhas melhores amigas, conheci-a através da praxe. Eu acho que também é importante a praxe até para conhecer pessoas de outros anos, através dos padrinhos e até através dos doutores. E no fundo assumo esta posição para agradecer aquilo que fizeram por mim e tentar retribuir de certa maneira o tanto que eu gosto e que gostei, espero ajudar e contribuir para que outras pessoas também tenham essa experiência. No fundo, manter o que achamos que devemos manter e mudar as coisas que achamos que não estão tão bem e que gostávamos que fossem feitas de uma forma diferente.

A: Muito bonito… já mais político, vá. 

BM: Por isso é que a Bia é Dux e eu sou Presidente! 


A: Esta questão da continuidade, neste caso a falta dela, não poderá ser um problema para a vossa Comissão?

BJ: Eu sinto que, como em todas as outras coisas, nos núcleos, na faculdade, no dia a dia, quando tens uma continuidade, há coisas que são mais fáceis, porque já conheces os cantos à casa. No entanto, é uma dificuldade que, até agora, temos conseguido superar, não vemos isso como um impedimento, porque tudo o que temos feito, temos conseguido. E na verdade, temos de agradecer muito à Comissão passada, têm-nos dado todos os apoios e fizeram uma passagem de pastas excelente. Qualquer dúvida que nós temos, eles têm-nos tirado as dúvidas, continuam a estar prestáveis, a ajudar, a dar contactos… então, nesse aspeto, apesar de às vezes nos sentirmos um bocado confusos (mas eu também acho que qualquer outra Comissão, mesmo de continuidade, se iria sentir assim), temos tido esta ajuda e temos tido força de vontade de ir procurar as respostas. Então, acho que em si não é um obstáculo, é só uma curva no caminho.

BM: Sim, sem dúvida. E é assim, o que a Bia estava a dizer é mesmo verdade. A Sara, a Ana, a Luana, estão a ser completamente incansáveis, todas as dúvidas que nós temos nós mandamos mensagem e elas respondem prontamente com todas as informações. E eu acho que é muito aquilo que a Bia estava a dizer… Obviamente que há determinadas situações que poderão ser mais complicadas (não complicadas, mas mais trabalhosas). Mas acho que temos muita força de vontade para que as coisas corram bem, e estamos a dar o nosso melhor nesta preparação, temos imensas reuniões, estamos sempre a falar no grupo da Comissão para que todas essas “faltas” sejam corrigidas e que as coisas corram pelo melhor. 

BJ: Sim, até a nível de tesouraria, todas as informações foram-nos logo passadas, temos sempre noção das contas, de como o dinheiro foi gasto, do quanto foi gasto… Tudo isso nos foi passado de boa vontade e sempre dispostos a ajudar.

BM: Eu não sei se passa para as pessoas uma imagem, nessa questão da continuidade, de que não há contacto com a Comissão passada, isso é mentira. Passaram-nos as informações todas e tiram-nos todas as dúvidas, portanto pode não haver continuidade mas há muita comunicação entre nós e eles.

BJ: E depois também há uma coisa que eu e a Bia já tínhamos discutido. De facto, verifica-se aquele diz-que-diz que, quando estás nos cargos, começas a ter muito mais respeito pelas pessoas que cá estiveram antes e pelo trabalho que elas desenvolveram. Então nós começamos cada vez mais a perceber tanto as decisões deles como as posições, como o cansaço, como tudo. Até nisso eles têm sido um bom apoio para nós, e estamos muito gratos pela ajuda que nos têm dado.

A: Isso é bom, porque é uma impressão que se pode ter às vezes, como não é de continuidade, podia haver uma falta de diálogo.

BM: Até porque, a nível pessoal, nós somos amigas das pessoas que estavam na Comissão anterior, obviamente que íamos falar com eles e tirar-lhes as dúvidas. Nós queríamos muito passar esta mensagem de: não é como se houvesse uma ruptura total de sistema, não. Nós vamos manter as coisas que achamos que estão corretas e vamos mudar as coisas que achamos que estão erradas, como todos os presidentes e todos os Duxs anteriores fizeram, porque há sempre uma evolução e há sempre coisas diferentes de mandato para mandato.

BJ: Sim, todos os anos a praxe apresenta necessidades diferentes, há anos em que se calhar temos caloiros que são de uma forma, outros que são de outra forma, portanto é uma questão de adaptação. Acho que qualquer mudança é sempre a pensar naquilo que temos no presente, e não uma questão de se foi mal feito ou se não foi.

BM: Eu, no ano passado, fui líder dos Favaius. E eu fiz coisas no início do ano que, se calhar olhando agora no fim, passado um ano inteiro, pensei “ah se calhar não deveria ter feito isto desta forma”. Isto para dizer o quê? Podemos ver coisas nas Comissões coisas com que não concordamos, que se calhar eles próprios também fizeram de uma maneira e não concordaram… Provavelmente isso vai acontecer connosco, porque isso acontece sempre. Agora estamos a fazer coisas que se calhar daqui a um mês, uma semana ou um ano vamos pensar “se calhar não era assim que deveríamos ter feito.”. Mas eu acho que isso é inevitável e acontece sempre.

A: Claro… No fundo, muitas vezes só se aprende a fazer.

BM: Literalmente, e mais nestas coisas, porque não há um manual de instruções.

A: Têm de ser vocês a fazer.


A: Quais são as discordâncias que vocês têm com a forma como a praxe tem sido conduzida?

BM: Nós não temos bem discordâncias… Há coisas que achamos que podiam ter sido feitas de outras formas. Por exemplo, este ano vamos na primeira semana criar um forms para que os doutores, aqueles que não queiram falar connosco pessoalmente, possam escrever lá alguma situação com a qual não se sintam confortáveis. Nós também estamos super abertos e receptivos para que as pessoas venham falar connosco sobre tudo. É uma coisa que queremos muito fomentar, o contacto entre os doutores e a Comissão. Obviamente que nós sabemos que existe uma hierarquia, mas o nosso objetivo principal (e acredito que aqui falo pela Bia, pela Comissão e pelos doutores) é o bem estar dos caloiros. Não há, no fundo, uma discordância. Tínhamos vontade de fazer parte da Comissão, tínhamos os mesmos valores, juntámo-nos para fazer isso. A nossa candidatura foi motivada pelo nosso amor pela praxe, e não como um “ataque” a outras Comissões. 

BJ: Eu concordo com a Bia. Eu acho que nós também queríamos ter uma visão mais abrangente de tudo. Isto foi dito pela Bia no discurso dela quando ganhou: não éramos propriamente amigos, éramos conhecidos da faculdade, mas não éramos pessoas que conviviam constantemente. Nós tínhamos maneira de praxar diferentes, eu tenho uma forma de praxar diferente da Bia, o Francisco Monteiro tem uma forma diferente de praxar de nós, o Miguel tem uma forma diferente de praxar de nós… Ou seja, somos pessoas que, mesmo na praxe, são diferentes, e era isso que nos motivava, termos uma opinião diversificada de várias pessoas, vários grupos, várias formas de praxar. E neste objetivo de criar proximidade, daí a criação de uma comunidade que vai ser com todos os doutores. E queremos que as pessoas também se sintam reconhecidas. A praxe é para os caloiros, e toda a gente sabe que eles são as estrelas, mas queremos que os doutores também tenham um certo conforto e saibam que estão seguros e que se precisarem de alguma coisa, nós estamos lá. E que também por termos esta hierarquia superior, também é para os ajudar, não é só para estar a mandá-los fazer as coisas.

BM: Até porque a praxe não se faz sem os doutores. A praxe é para os caloiros mas sem os doutores não fazíamos a praxe… os caloiros sozinhos, pronto, era impossível.


A: Mas por que é que acham que há uma distância entre os doutores e a Comissão?

BM: Eu acho que isso é inevitável de acontecer, vai sempre haver uma distância, por questões de organização, uma multiplicidade de razões. O nosso objetivo principal é saber que os doutores podem estar próximos de nós, possam sentir-se confortáveis em falar connosco - o que eu não estou a dizer que não acontecia nos outros anos. Mas eu sei que há pessoas que se calhar não se sentiam confortáveis. Por exemplo, eu sentia-me próxima da Comissão do ano passado, mas eu era amiga de muitas pessoas que lá estavam, não sei a opinião geral. O nosso objetivo não é estar a dizer que a Comissão passada não era próxima, não achamos produtivo, mas o nosso objetivo é ver o que podemos fazer para aproximar. No ano passado a Comissão também tentou aproximar os doutores, e o nosso objetivo é continuar a tentar fomentar isso. 


A: Vamos agora falar sobre alterações concretas para vários tópicos. Para começar, alguma ideia nova para as atividades académicas e eventos em si?

BJ: Nós fizemos algumas alterações, mudámos a ordem cronológica, e queremos introduzir novos jogos e novas praxes - não vou especificar ainda porque não sabemos o que será possível realizar ou não, e não quero frustrar as expectativas de ninguém. Sabemos que há jogos que são nostálgicos para todos e que toda a gente gosta, e atividades que toda a gente odeia mas sabem que têm de ser feitas - peddy-paper - mas sim, haverão várias alterações.


A: E quanto aos estatutos, os da Comissão, os Códigos de Praxe e Traje? Sei que foram alterados recentemente, mas…

BM: Sim, foram alterados recentemente, então não são neste momento o nosso foco de trabalho, mas, com o avançar do ano, se virmos que é necessário fazer alguma alteração, também o faremos. Mas também não achamos produtivo fazer alterações constantes, até para que os estatutos possam ser conhecidos. Portanto, neste momento, não pretendemos fazer nenhuma alteração, não significa que não faremos no futuro se surgir essa necessidade. 


A: Já falámos da questão da democratização da praxe e inclusão dos doutores. Para além destas questões de atitude e abertura, e das comunidades, têm mais medidas para promover essa proximidade? Sei, por exemplo, que a outra lista queria fazer mais reuniões de doutores, e que, segundo o Código da Comissão, os alunos têm o direito de votar os principais atos da Comissão, o que nunca aconteceu na prática, portanto, neste sentido, que outras medidas existem para democratizar?

BJ: Como dissemos antes, haverá sempre uma distância e uma hierarquia. Para além da comunidade onde faremos comunicados e termos um Instagram mais ativo, aberto, e informativo, uma das coisas que sentimos necessário é pré-preparar melhor os doutores para o que vai acontecer: pretendemos informar melhor sobre o que se vai passar na praxe, o que é preciso levar, o que dizer aos caloiros… Ou seja, queremos que os doutores sintam que sabem exatamente aquilo que têm de responder e sabem mais que os caloiros. É um dos nossos principais objetivos, e estaremos sempre abertos a qualquer sugestão e reunião por iniciativa de qualquer pessoa - sabemos que é impossível estar sempre a fazer reuniões, por logística e cansaço, mas vamos procurar estar sempre disponíveis para o que quer que seja.

BM: Nós também, à semelhança dos outros anos, já estamos em contacto com os líderes, porque eles também têm aqui um papel muito essencial no contacto entre doutores e Comissão. E o nosso objetivo era também tentar fazer mais reuniões com eles, porque nós não queremos diminuir o papel dos líderes. Os líderes têm muito esse papel de contacto entre a Comissão e os doutores, e nós também queremos manter isso. Achamos que é essencial. 


A: Vou fazer uma pergunta assim talvez mais complicada… Suponham que têm uma medida qualquer, prova-se ser controversa, alguém no Jur.nal até fala sobre isso, e que algum doutor usa esse artigo e diz que a comunidade académica deveria votar sobre essa medida. Qual seria a vossa opinião sobre isso?

BJ: É difícil estarmos as duas a responder porque, apesar de estarmos a representar a Comissão e o nome da Comissão e daquilo que vai ser organizado, nós somos um conjunto de pessoas e todos nós temos uma opinião. Mas eu acho que, e acredito que é a opinião da maioria por aquilo que temos discutido até agora, nós estamos aqui não só para organizar e para ter os cargos da praxe, mas para servir a comunidade académica. E se nós sentimos que a comunidade académica quer votar uma medida, e se não concorda com essa medida, nós estamos abertos a que isso vá a votação e que seja discutido, e, se calhar, mesmo antes de ser implantado para evitar situações destas (do género “Ok, isto é uma situação mais problemática, vamos já reunir todos e ver como podemos fazer isso.”). Mas, novamente, depende muito da situação. Eu estou a falar de um lado de fora, não tendo ainda tido qualquer problema a nível de organização ou a nível de praxe. Mas, sim, eu acho que seria esta a posição que nós tomaríamos.

BM: Nós achamos que é ótimo as pessoas terem uma opinião, obviamente. E nós acreditamos que isso é que contribui para que as coisas se desenvolvam. Nós esperamos também que as pessoas venham falar connosco diretamente. Nós queremos que, se as pessoas não concordarem com uma coisa, venham falar connosco, porque não nos vale de nada que as pessoas andem a dizer isto e aquilo, se depois não nos dizem e não expressam as suas preocupações. No fundo é isso que poderá mudar alguma coisa, é virem falar connosco. Nós até poderemos ter uma opinião, as pessoas podem dizer “achamos que isto, por esta razão” e nós até poderemos reconsiderar, ou não. Mas eu acho que a questão é haver alguma abertura para falar sobre as coisas. 


A: Acho que faz todo o sentido falar nisto agora… claro que eu estava a pensar no sistema de faltas. Qual é a vossa posição sobre o sistema de faltas? A meu ver, e de muitas pessoas, o maior problema é a falta de especificidade - não se sabe por que motivos se pode faltar, por quais é que não se pode (pode-se faltar, por exemplo, por causa das aulas? Pode-se faltar porque se está de férias?). Qual é a vossa opinião sobre isto?

BM: Nós tivemos uma reunião só a falar de faltas, porque nós tínhamos todos opiniões diferentes. É um bocadinho difícil dizer-te que é assim ou assim, porque as pessoas têm opiniões diferentes. Nós vamos manter o sistema de faltas, até porque está tudo nos códigos. Relativamente à situação de justificação de faltas, o que decidimos entre nós é que, em situações dúbias, vamos conversar entre nós. Isto para que não aconteçam situações de um doutor da Comissão justificar uma falta, e outro doutor da Comissão, pela mesmo razão, não a justifica. Vamos tentar ter um contacto permanente entre nós para uniformizarmos as justificações de falta. Claro que se me disseres “fui para o hospital”, a falta está justificada, obviamente. 

BJ: Relativamente às aulas, esse assunto ainda está para ser discutido. 

BM: É muito difícil estarmos a dizer com esta distância, porque, lá está, há situações e situações. Por exemplo, estávamos a falar, e até foi o Miguel que disse que há aulas em que conta a assiduidade. E se calhar nessa situação é um bocadinho diferente de aulas em que não conta a assiduidade. Portanto, é muito difícil agora estar a dizer-te casos concretos de isto, isto e isto conta, e nós sabemos que isso cria incerteza. O que podemos dizer é que as faltas vão ser justificadas para as pessoas da mesma maneira.

BJ: Nós queremos ter uma abordagem mais leviana às faltas, por ser uma situação que foi tensa, por ser uma situação que até aos dias de hoje gera discordância, mesmo entre nós. O nosso objetivo é tentar ao máximo uniformizar a opinião de todos nós dentro da Comissão, é tentar, de forma igualitária, justificar as faltas que merecem ser justificadas e negar aquelas que têm de ser negadas, mas, ao mesmo tempo, ter uma abordagem mais leve, mais pensada (ou seja, parar, discutir, analisar o caso em si e ver). Pode ser uma coisa que nos leve mais tempo? Pode, mas nós pretendemos fazer isto, porque é uma coisa que também está nos valores de todos nós, e há pessoas que na Comissão defendem e querem abordar este tema com seriedade. E para isso estamos cá nós. 


A: O tribunal de doutores… Já agora também falamos sobre o tribunal de praxe, se quiserem… O tribunal de doutores não foi muito bem recebido este ano. Portanto, eu queria saber qual é a vossa posição sobre isso, se há alguma coisa que querem mudar nesse sentido?

BJ: Eu vou ser muito sucinta. Eu acho que, relativamente a este tema, todos nós pretendemos apenas utilizar o tribunal de doutores para situações específicas, para situações graves, para situações que realmente sejam alarmantes. Ainda não discutimos sequer o seu funcionamento, ou se vai existir ou não, porque, novamente, têm de ser situações muito específicas, e para nós vai ter de ser com o decorrer do semestre e da praxe. Ele pode mesmo não acontecer, porque será para situações que vão ser observadas e analisadas, em que nós vamos chegar à conclusão de “sim, isto é uma situação muito grave, isto é uma situação em que a pessoa está errada.”, e cabe-nos a nós alertá-la, informá-la e, se for necessário, castigá-la.


A: Sobre o tribunal de praxe em si, este ano eu sei que a grande reclamação foi sobre o tempo que demorou. Na vossa opinião, há alguma forma de resolver isso, de encurtar? Não sei se já pensaram sobre isso…

BM: Novamente, nós ainda não debatemos essa questão, porque neste momento estamos “primeira semana! Primeira semana!”. Falando por mim, eu pessoalmente, acho que o tribunal é sempre uma coisa que vai demorar imenso tempo. É inevitável, porque são todos os caloiros, há caloiros que demoram mais. Se calhar, uma maneira de combater isso é começar mais cedo o tribunal, mas depois também temos aquela questão de as manhãs serem sempre dedicadas às atividades específicas. Portanto, é uma coisa que vamos ter de ver a nível de organização. Vamos tentar, se calhar, arranjar uma maneira de o tribunal ser mais rápido, mas o modelo do tribunal vai manter-se. 


A: Claro! Agora, caça ao caloiro… é um tema muito debatido. Às vezes é difícil definir o que é que é caça ao caloiro. Portanto, para vocês, excelentíssima Presidente e excelentíssima Dux, o que é que é ao certo caça ao caloiro?

BJ: Eu para isto tenho a resposta que sempre dei, tanto como líder, tanto aos meus afilhados, tanto como júri: a caça é impossível de ser definida. Tu não podes definir aquilo que é ou não uma atitude de caça. A caça vem das intenções que as pessoas têm por trás, e como todos sabemos, é muito muito difícil, senão quase impossível, saber se a pessoa está a agir com uma intenção errada. A realidade é que na nossa faculdade também há muitos boatos, há muito “diz que disse”, e isso também torna as situações mais complicadas. Há coisas que para mim acabam por ser óbvias. Se tu és uma pessoa que, se calhar, não és acessível, não falas com ninguém, tens uma personalidade, e do nada mudas tremendamente; tens uma pessoa como afilhado e depois, do nada, a pessoa já não te interessa e já não falas com ela. Para mim isso poderá ser uma indicação. Mas, novamente, é uma coisa que é muito difícil. Acho que só em casos muito específicos e casos muito óbvios e, se calhar, mesmo atirados à nossa cara, é que podem ser reconhecidos como tal. Nós queremos alertar todos que não é bom, porque ser padrinho, ser madrinha, ser doutor não é algo que possa ser levado com ânimo leve. Nós estamos a marcar de forma positiva ou de forma negativa a vida de pessoas que acabaram de chegar e que, se calhar, estão assustadas e querem apoio. E isso também fica um bocado na consciência de cada um, e acho que cada pessoa sabe se está agir com boas ou com más intenções, porque ter afilhados não é para receber prendas, ter afilhados não é para ter uma listinha de nomes bonitinhos. Ter afilhados é ter um conjunto de pessoas que podem ou não precisar do teu apoio a qualquer momento, que podem querer ter bons momentos contigo, que podem querer a tua ajuda, que podem querer ter o teu abraço. E não é só um conjunto de pessoas que tu podes dizer que gostaram de ti ou que foram com a tua personalidade, há uma responsabilidade muito grande por trás. E, pronto, eu acho que isto vai ficar muito na consciência de cada um, e eu espero que as pessoas sejam conscientes e que acartem com esta responsabilidade.

BM: Sim, eu concordo com a Bia. Acho que é muito difícil definir o que é que é ou o que é que não é caça. Até porque as pessoas têm personalidades diferentes, e há pessoas que por natureza são muito mais carinhosas, estão sempre a perguntar se está tudo bem, e há pessoas que fazem isso só porque são mesmo assim. Agora, obviamente, há situações que não são ok - por exemplo, se eu tiver um grupo de caloiros, e eu escolher entre esses um caloiro para ir jantar comigo; ou se eu estiver a falar mal de outros doutores com um caloiro, não acho que isso seja correto. Mas, novamente, isso também cabe muito na consciência de cada um, e há situações que acho que são tristes e acabam por desvirtuar um bocadinho o próprio sentido da praxe (situações em que as pessoas só querem afilhados, têm os afilhados e não lhes ligam nenhuma). Acho triste que isso aconteça, mas, lá está, acho que é muito difícil definir caça. Acho que é muito caso a caso também, porque há uma série de fatores que têm de ser olhados e tidos em consideração. Mas para mim Beatriz, não Comissão, acho que não vale mesmo nada a pena fazer caça, porque o que é que vale ter um afilhado se sabemos que ele não gosta tanto assim de nós? Só para dizer que temos? No fim do dia, isso não vale mesmo a pena. Eu dou o meu exemplo: eu nestes dois anos que estive a praxar nunca tive nenhum afilhado no batismo, e tenho afilhados, e sei que os meus afilhados me escolheram porque gostam mesmo de mim por uma razão ou outra, e para mim não fazia sentido dizer “ok, tenho afilhados, estou a batizar pessoas” (porque eu sei que há pessoas que naturalmente ficam tristes se não tiverem afilhados no batismo. Mas eu acho mesmo que isso não quer dizer que as pessoas sejam maus ou bons doutores, acho que não tem nada a ver. Acho que as coisas acontecem no tempo que elas têm que acontecer). Isto para dizer: não façam caça, é mau e no fim do dia não vale mesmo a pena.

BJ: Sim, eu conheço casos de pessoas que não tiveram afilhados no 1º ano, e depois no 2º ano como doutores tiveram imensos afilhados. As pessoas são todas diferentes, as conexões são diferentes… É ter calma, é fazer o trabalho que se tem como doutor e carregar com essa responsabilidade, e deixar as coisas acontecerem naturalmente e aproveitar também, porque às vezes também sinto que os doutores se esquecem de aproveitar aquilo que eles podem retirar de bom da praxe. 

BM: Até porque o objetivo da praxe não é nós termos afilhados. De todo. Se isso acontecer ainda bem, muito bom. Por um lado é um reconhecimento do nosso trabalho, assim dizendo, mas por outro, se não tivermos também está tudo bem com isso. Não é o fim do mundo, e é mesmo ok não ter afilhados. E as coisas naturalmente acontecem a um certo ponto. Eu no meu primeiro ano a praxar, no segundo ano, tive três afilhadas. Elas pediram-me todas depois do batismo, e isso não muda o amor que eu tenho por elas, não muda nada! Os meus afilhados deste ano também me pediram depois do batismo, e são meus afilhados na mesma! E está tudo tão ok com isso!

A: Exato! Molhar uma pessoa com leite e azeite não é o pináculo de uma relação.


A: Já agora, eu não sou biased, mas eu sinto que o sistema de júris é subaproveitado. Não sei se vocês discutiram isso, mas acham que há alguma dinâmica a mudar no sistema de júris? Se os querem envolver mais, etc.?

BM: Eu acho que é mais fácil a Bia responder a esta pergunta, porque ela foi júri e eu nunca fui. Mas eu acho que, por exemplo, há coisas que nós não concordamos (e vamos dar o nosso máximo para que isso não aconteça, sendo que essas coisas acontecem sempre), que é gastar imenso dinheiro com os júris. Nós achamos que não é mesmo por aí. Sobre os júris, nós queríamos, e estamos a pensar em formas de os envolver para ficar mais dinâmico (porque ao décimo quinto “eu digo-lhe como está hoje… lindo e maravilhoso como sempre!”...). Então nós estamos aqui a pensar em estratégias para ver se isto fica assim um bocado mais dinâmico, sendo que é sempre um bocado difícil porque o papel dos júris, pronto…

BJ: Eu tendo sido júri senti um bocado aquilo que o António também sentiu, e ele sabe: um bocado desorientada; um bocado não sei muito bem concretamente o que é que se está a passar aqui; tão depressa sou muito, como depois já não sou nada. Há umas incertezas acerca do que o júri faz, do que o júri não faz, do que pode fazer, do que não pode fazer. O nosso objetivo é um bocado tentar definir ao máximo o que é que o júri pode ou não fazer, o que é que eles deviam ou não receber. É tentar ajudar e facilitar um bocado essa tarefa. É fazer com que eles se sintam mais dentro da praxe, mais ouvidos, e não tão perdidos, porque depois o júri não tem propriamente um grupo, não está dentro do grupo, então é um bocado tentar que haja essa inserção no clima da praxe.

BM: Até porque se não estão sempre a ouvir as mesmas coisas. E isso também acredito que enquanto doutores seja um bocado frustrante estarem a ouvir que são lindos maravilhosos (o que é verdade), mas... [risos]!


A: O papel do júri podia ser expandido para outras atividades ao longo do ano. Têm alguma opinião sobre isso?

BJ: Nós concordamos em manter o júri na primeira semana, como estava antes. Mas nós queríamos uma participação mais ativa, ou seja, parecendo que não, a Comissão não consegue estar em todo o lado em toda a altura, e o júri acaba também por ser uma pessoa que está muito ativa a ver as dinâmicas dos grupos e aquilo que se está a passar. Nós queremos dar uma missão ao júri, um papel de destaque. Eles estão lá, eles estão a presenciar, eles vão cedo, eles correm os grupos todos, eles ouvem mil e uma coisas. Nós queremos que haja esse papel do júri, quase que mais considerativo - do género: vocês estão a fazer bastantes coisas, vamos tornar útil esta vossa função. E então queremos tomar mais em consideração a opinião que eles possam ter acerca de certas coisas, acerca de certos grupos (se calhar mesmo não só em termos de pontos, mas a nível de jogos). 


A: Há algum comentário final que gostassem de passar à nossa comunidade académica?

BM: Da minha parte é… divirtam-se! [risos] Não, mas a sério, eu tenho memórias incríveis da minha primeira semana enquanto caloira, mas também enquanto doutora. Eu divirto-me sempre imenso imenso imenso! Eu sempre que penso na primeira semana do ano passado eu choro a rir. Portanto, eu acho que é muito isso: aproveitem. Obviamente que a praxe é para os caloiros, e acho que isso deve ser o objetivo de todos nós, mas acho que as pessoas também têm de aproveitar. É uma altura mesmo gira para nós até conhecermos outras pessoas de outros grupos que, se calhar, noutra ocasião não conheceríamos. E não façam caça! [risos] Mas aproveitem porque é muito giro e passa muito rápido! E esta agora é a nossa última primeira semana (como assim passaram quatro primeiras semanas?!)! E isto agora vai ser os Favaius dentro de mim a falar, mas eu sempre aprendi que praxe era amizade e praxe era integração, e acho que é mesmo isso. Obviamente que na primeira semana vai haver uma certa distância entre nós e os caloiros, mas eu acho que é também pensar como é que nós nos sentíamos quando viemos para a faculdade e tratar os caloiros dessa forma. Ou seja, nós não queríamos ser completamente deixados aí “olha, agora orientem-se”. Também temos de ter em mente que eles vêm para uma cidade nova, muitos deles sozinhos. E acho que é também ter esse cuidado e essa atenção. 

BJ: Eu concordo plenamente! Eu acho que é: aproveitem, divirtam-se, sejam amiguinhos uns dos outros, façam amizades, conheçam pessoas novas, falem se tiverem alguma coisa a falar. Nós estamos aqui para ouvir, nós vamos ser acessíveis, nós estamos dispostos a tal. And let the games begin! [risos]

BM: Nós estamos prontíssimas. E malta, vão todos ao jaloiro, por favor! Vai ser incrível! É a minha mensagem para a comunidade académica. [risos]


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