Letícia Paes
Lembro-me que, fiquei demasiadamente espantada de possivelmente tomar pauladas do Dux com a colher de pau, pelos meus crimes. Lembro-me que, consegui convencer um grupo inteiro a ir no BK, por achar menos nojento que o McDonald’s. Lembro-me que, o discurso do presidente da comissão me fez ter uma crise existencial com a Júlia e a Mariana, e percebemos que realmente somos uma linda pequena família unida, pela qual tenho muita gratidão. Por fim, lembro-me de não chorar com os meus padrinhos, mas sentir demasiado amor e gratidão, além de esquecer de informá-los que tenho dificuldade em chorar em público.
Maria Leonor Baptista
Lembro-me que acordei cedo naquela manhã, demasiado excitada para conseguir dormir mais. Demorei mais do que o costume a vestir-me, cada peça do traje foi colocada devagar, quase como um momento solene. Olhei para a gravata e lembro-me de sorrir a imaginar o momento em que o meu padrinho lhe iria fazer o nó. Lembro-me de chegar praticamente horas adiantada e de correr para a minha madrinha e pôr-lhe uma colher ao peito. Ver as minhas 2 melhores amigas, muitíssimo adiantadas no horário tal como eu e de transbordar de orgulho. De levar a capa no braço sempre na expectativa de a colocar aos ombros. Já na madrugada de sábado quando a senti nos ombros e me ajoelhar e pensar "tudo vale a pena". Vou guardar esta noite.
Beatriz Rodrigues
Lembro-me que nunca bebi tanta jola, sangria, sidra e vinho num só dia. Dos sapatos que fugiam dos pés, de nenhuma das minhas madrinhas saber fazer o nó da gravata, de me molhar 50 vezes, das pessoas com quem falei e de tentar não me rir no tribunal. De estar de joelhos em cima da terra, de ouvir os discursos improvisados mais bonitos e de nunca ter ficado tão feliz por ter vinho e jola despejados na minha capa.
Lembro-me que tinha muito mais do que uma lágrima no canto do olho. E foi aí que, ao olhar para as pessoas que escolhi como padrinhos, entendi o verdadeiro significado de “praxe é família”. E é a família mais bonita que poderia ter pedido.
Lembro-me que tive mais espaço no coração do que alguma vez pensei ter.
Isabel Costa
Lembro-me que nunca gostei de falar de amor ou das pessoas que usavam a palavra como se fosse qualquer outra. Para mim, esta palavra sempre teve o peso do mundo em si - estava reservada apenas à família e só se fosse extremamente necessário dizê-la.
Até que cheguei a Lisboa... Lisboa mudou tudo, Lisboa facilitou a palavra amor e deu um significado novo a família e o dia do traçar foi prova disso.
A rir num uber atolhado de pizzas e alguidares com a Bea e a Mel, a descer a lona com a Jéssica, a ver a Inês defender o seu rebento, a ser engolida em abraços pelos meus novos irmãos (que sabem que sempre o foram) a desabar com o pin da Ana Sofia, a soluçar com o 15. ° "sou gay" da Mello, a querer um abraço apertado do Luís, a assistir ao Hugo e à Leonor a rir com os seus filhotes, a pensar no meu Bernardo, a traçar a capa à minha Sofia, a ver todos os meus caloirinhos já doutores e a adormecer no uber com a Carol - não há outra palavra possível para descrever tudo o que senti se não Amor.
Muito obrigada 💜
Sofia Dias
Lembro-me de falar com as bichas sobre testes de gravidez. Lembro-me do elixir da Mello. Lembro-me da Isabel me dizer: “SOMOS IRMÃS!”. Lembro-me de dar a mão à Beatriz Moderno enquanto o Gonçalo discursava. Lembro-me de olhar para trás e de ver a Bea Jesus com a cabeça encostada ao Hugo, de lhes sorrir e de eles me sorrirem de volta.
Lembro-me de pensar que depois daquele dia talvez me fosse embora. Seria um bom final. Partir sem acordar seria um desperdício, mas não seria o caso. Lembro-me de olhar para as minhas afilhadas, de improvisar discursos e de sentir um aperto gigante, uma montanha russa no meu pobre coração quando me diziam: “Gosto tanto de ti. Olha para ti, olha só para tudo o que fazes. Quero ser como tu!” e se atiravam para os meus braços em busca de um abraço amigo, que eu daria num abrir e fechar de olhos. É monumental ouvir isto. Claro que o que eu lhes queria dizer era: “A tua madrinha deita-se a horas horríveis, tem problemas na barriga, sente-se exausta, quer mandar os núcleos todos à merda, esquece-se de metade das coisas, tem o quarto todo desarrumado, não consegue traduzir o que o estupido do coração lhe sussurra e o cérebro está praticamente em coma de tanto correr.”. Lembro-me de pensar - que se dane o meu ego e que se dane a minha própria desvalorização, por vocês, fingia que arrumava o quarto todos os dias. Que lia mil livros num dia. Se isso vos ajudar a fazer com que o cérebro e o coração não estejam em coma permanente, então, finjo que já sou crescida e que não luto todos os dias com a camisola, porque não encontro o buraco onde meter a cabeça.
Mello
Lembro-me do sol da manhã. Da Luana e da Bea me darem as pizzas e eu fugir para casa da Rita, para as ir fazer. De ela fazer sangue falso para mim numa panela, enquanto me contava mil e umas histórias do ano dela. A fazer render o tempo que nos faltou.
Lembro-me das pistolas de água, e o quanto tentei esconder os meus olhos das mesmas, seguido por um "Olha as lentes!!". Serviu de pouco.
Lembro-me de sorrir para a Isabel, e de ela me dar um enorme abraço e uma cerveja.
Lembro-me de fazer várias viagens para ir encher bacias e garrafões de água, e lembro-me da foto rápida que a Matilde pediu para tirar comigo antes de desaparecer. Lembro-me da lona, claro, e do meu traje ficar pintado de branco, pois absorvi todo o sabão que a lona tinha. E da Gi, da mão dela, e das cambalhotas da Jéssica. Lembro-me de ir buscar água com a Matilde, e de desperdiçar imensa água a tirar o sabão do meu traje.
Lembro-me dos últimos dois cigarros amassados do maço que o Joura me tinha dado, e lembro-me de que o grupo da FCSH que estava lá ao lado era uma festa de anos, e que me enrolaram outro também.
Lembro-me de dizer ao Riccardo que tudo iria ficar bem, que ele se ainda iria surpreender pela positiva.
Lembro-me de ficar de pé durante o tribunal com a Diana Pádua e a Marta Cardoso, e o esforço que foi para não nos rirmos. E da minha afilhada Maki a picar os caloiros dos Favaius enquanto abanava o meu leque do sapo.
Lembro-me de ir ao El Corte com a Marta, Sofia, António e Gi, e de a Constança me acompanhar o caminho todo. De nos enfiarmos as duas no supermercado e comprarmos o jantar: filipinos de morango, mojito em lata e um elixir bucal. Ah, e o Rosé que o António pediu.
Lembro-me de relembrar a Constança que fazia um ano que ela tinha chorado no traçar enquanto dávamos as mãos.
Lembro-me do António me pegar ao colo e me rodar quando a Isabel lhe contou das novidades. Da cara de espanto da Sofia, e dos gritinhos de felicidade. Fui feliz nesse momento. Imensamente.
Lembro-me de o Afonso vir super feliz de um concerto, de me puxar para perto dele e me dar um abraço. De me dizer que o Joura já tinha ido embora (para meu desgosto), e de estar ao meu lado durante todos os discursos, e de trocarmos olhares que diziam "tenho sono", "estou velho". Lembro-me perfeitamente do discurso dele para os Favaius, com a menção do Panda do Kung Fu 3. Lembro-me de ele se despedir de mim e agradecer por tudo. Sorri-lhe. Disse-lhe que foi das pessoas mais especiais para mim neste meu terceiro ano.
Lembro-me de já não conseguir ver bem com as minhas lentes enevoadas, e de andar a correr pelo Batalhão a perguntar pela TC deles. Lembro-me de me levarem até à Rita, e de nos sentarmos na relva, debaixo de um candeeiro. Lembro-me de tudo o que ela me disse. De me chamar caótica e incrível. Prometi-lhe muito. Ensanguentou-me a capa. Abraçamo-nos. Chamei-lhe mãe.
Lembro-me da Maki me fazer prometer que lhe traçaria a capa noutro dia, pois tinha lhe fugido o tempo.
Lembro-me de ser vitima do sistema de rega enquanto traçava a Sofia Dias, e lembro-me de lhe segurar nas mãos frias dela. Lembro-me de lhe chamar filha da primavera, mesmo que tenha nascido no final do verão. A minha Sofia.
Lembro-me da curva do nariz da Marta, das pestanas perfeitamente enroladas dela, das lágrimas a escorrer-lhe, e do que prometemos mutuamente. De lhe ajeitar o cabelo, dos medos, das angustias e das memórias. Lembro-me de dizer que tinha amor por ela. Deu-me o abraço mais forte.
Lembro-me de ser difícil de pegar na Gi, pois ela é muito ocupada. Lembro-me de finalmente ter tempo com ela, e de ela se desfazer em lágrimas logo. Lembro-me de lhe beijar a testa, e de lhe dizer que cuidava dela atrás de portas fechadas mais do que ela imaginava. Perguntou se não era demasiado. Disse lhe que nada o era, pois era por amor.
Lembro-me da Isabel. Que me chamou autodestrutiva, e xingou toda esta faculdade. Disse-lhe que para mim importava quem tinha coração. Que me orgulhava dela e que ela sim iria fazer algo de bom. Que restaurava-mos a fé na humanidade uma da outra. Rimo-nos. Ela tinha as bochechas encarnadas. Desejei-lhe felicidade. Chamei-lhe filha. Chamou-me mãe. E desta vez, significou algo.
Lembro-me do António. De me sentar com ele e dizer "bom, que mais te posso dizer que tu não saibas?". Que é parvo fazer um discurso a alguém com quem estou quase diariamente. Mas que há algo kármico entre nós. Que tudo o que vivi me levou a estar sentada com ele na relva, as mãos dele nas minhas. Que numa vida passada fui mesmo mãe dele, e não somente madrinha. Que sempre estarei do lado dele, e que dano na nossa amizade, e com as irmãs dele também, me angustia mais que muita coisa. Chamou-me corna. Mandei o ir se foder. Abraçamo-nos. Este ano, não choramos.
Lembro-me da Beatriz Jesus. De ser ela quem me faltava, e de ela estar debaixo das palmeiras. De lhe prometer o mundo, e de não conseguirmos explicar a nossa conexão. De a comparar a mim e à Rita, e de lhe dizer que ainda tínhamos tempo. De nos rirmos da primeira vez que nos conhecemos. De dizer que ela encarna o significado da minha palavra preferida — gentil. De lhe colocar a cabelo atrás da orelha, e fazer um trocadilho enquanto a traçava. Beijei-lhe a testa.
Disse a todos que acreditava que as pessoas pertenciam uns aos outros, e que eles eram meus, e eu deles. Que os laços entre as pessoas são mais densos que a água, mais espessos que o sangue.
Isso, e um elixir bucal de 1,49€ do El Corte Inglês.
Hugo Mendes
Lembro-me de identificar presságios de que este dia seria o culminar de um acumular gradual de sentimentos. Que seria um dia emocionalmente pesado. Não só pela sua solenidade; mas também pelo que senti há um ano atrás: a sensação de pertença aos braços dos meus padrinhos e a sensação de que havia tomado as escolhas corretas. Lembro-me que nesta semana refleti inúmeras vezes em como as transmitir às minhas afilhadas. A vocês: Marta, Inês, Bia e Bruna, espero tê-lo feito. Lembro-me de pensar que uma amizade e uma relação de padrinho-afilhad@ não é nada sem uma certa admiração pela contraparte. Esse foi o elemento comum a todos os meus discursos a vocês direcionados. Lembro-me da forma como vos olhei assim que vos tracei a capa e de pensar que vos quero proteger de tudo e todos (apesar de saber que não o consigo fazer - mais vale render-me agora). No entanto, o que posso fazer, e farei, é acolher-vos, rir-me de todos os vossos momentos constrangedores e histórias bizarras, como também estar lá para vos levantar do chão quando caírem. Estou aqui para isso e para muito mais. Mesmo que não fosse esse o meu papel, eu fá-lo-ia.
António Subtil
Lembro-me que há um ano, era eu, e agora são vocês. A nostalgia, minhas filhas, é uma sensação muito bonita, mas tão perigosa. Caio na tentação de mergulhar na melancolia pelo que perdi, e pelo que nunca foi. Minha família, não olhem esse abismo durante demasiado tempo, ou um dia ver-se-ão velhos.
Para o ano são vocês. Orgulhem-me.
Maria Leonor Simão
Lembro-me dos olhos molhados de muitas pessoas a refletirem as luzes da cidade lá ao fundo, sinal de que o tempo continuava a andar, a vida não parando sequer para as nossas lágrimas. Felicidade, tristeza, tudo de uma vez misturado em água salgada: a nostalgia assoladora a relembrar-nos de que mais uma noite tinha passado, as luzes tinham continuado acesas, e nada realmente tinha mudado. Mas todos nos sentíamos diferentes.
Carolina Correia
Lembro-me que tracei a capa a três meninas muito especiais. Lembro-me que vi os meus caloirinhos a passarem a doutores (com uma lágrima no canto do olho). Lembro-me que fiquei com o coração quentinho a ouvir a Marta e a Jousa a falarem sobre mim. Lembro-me que abracei e sorri muito, e lembro-me que essa noite foi a cura para algumas feridas abertas…
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