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Liberdade para os irmãos Menendez

Mariana Loução

Em 1989, quando se deu o início de um dos julgamentos mais vistos nos Estados Unidos da América, eu ainda não era nascida. No entanto, em 2024, já tenho consciência para poder construir uma opinião sobre os irmãos Menendez, principalmente, enquanto estudante de Direito. 


Após matarem os seus progenitores, Jose e Kitty Menendez, Lyle e Eric foram condenados a prisão perpétua, em 1996, sem possibilidade de terem liberdade condicional. A sua sentença final contribuiu para extinguir alguma esperança que pudessem ainda ter, uma vez que se mostrassem um bom comportamento ou tivessem a sorte de ser julgados por um juiz e júri (como é comum nos tribunais americanos) que achassem que não teriam o direito a passar o resto da vida na prisão, como se encontram, infelizmente, a cumprir.


Ainda que já se tenham passado mais de 30 anos desde a sua condenação inicial, em 2024, o seu caso voltou a surgir, após uma das mais emblemáticas figuras de Hollywood, Kim Kardashian, se expressar relativamente à defesa de Eric e Lyle, apelando à sua liberdade. No passado, eu já tinha tido um pequeno conhecimento do caso dos irmãos Menendez, tendo em conta a sua amplitude internacional mesmo depois de tantos anos da sua ocorrência; mas, após visualizar a nova série de Ryan Murphy, Monsters, e, ainda, o documentário da Netflix, The Menendez Brothers, fiquei bastante investida no caso, uma vez que, após tantos testemunhos que prestaram ao longo do seu julgamento, sempre me foi possível encarar estes irmãos com uma empatia bastante delicada, mas também, uma tristeza profunda, por me aperceber que as suas vidas lhes foram roubadas. 


A forma pela qual mataram os seus pais parece-me bastante fria, no entanto, a razão por detrás destes homicídios revela-se suficiente para os justificar. Lyle e Eric passaram toda a sua infância e adolescência a serem abusados sexualmente pelo seu pai, Jose, e a mãe teria conhecimento de tudo, sem nunca agir em defesa dos seus próprios filhos. Jose Menendez dá a entender que era uma pessoa bastante perturbada, exigindo sempre que os seus filhos fossem os melhores em tudo, principalmente ao longo do seu percurso académico e no ténis, e caso demonstrassem não o ser, garantia que os rapazes seriam punidos, infligindo-lhes violência física e verbal. 


Para lá do portão da mansão milionária em Beverly Hills, Lyle e Eric passaram aquela que poderia ter sido uma vida extraordinária, não lhes faltando nada no que tocava a posses materiais, mas que na verdade, era um pesadelo constante, na medida em que chegaram a afirmar que estar na prisão é uma realidade mais livre do que o seu passado, o que é tristemente irónico. Enquanto que os irmãos sempre se tenham mostrado como o apoio um do outro, encontram-se em unidades prisionais diferentes, separados, nas quais têm demonstrado que realmente não são monstros, como tantos os tentaram retratar, ao ajudar diversos prisioneiros a ser melhores pessoas e a lidar com os seus traumas, assim como Lyle conseguiu completar a sua educação universitária na prisão, este ano. 


Acredito realmente que tenham agido em autodefesa, para que pudessem terminar com o sofrimento que viveram durante tantos anos, mesmo que tenham dito que se arrependeram de assassinar os seus pais, o que só vem realçar, novamente, o caráter gentil e amável, que chega a ser surpreendente após toda a violência que viveram, uma vez que não é o que se verifica em muitos prisioneiros que mataram outras pessoas. Espero que o sistema de justiça do estado da Califórnia encare estes irmãos como eles realmente são e veja que merecem a liberdade que ansiavam toda a sua vida. 


 
 

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