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Maria Leonor Baptista

não somos bem

Não somos bem amor.

Ele gosta de chamar-me pelo nome e contar-me sobre o dia dele.

Eu gosto de me levantar cedo, às vezes às horas a que ele se deita para dormir.

É para ele que ligo quando sou eu a deitar-me tarde.

Com ele, não sei discutir.

Sei ouvir, fico sentada ali e quero absorver tudo.

Não pressiono, só espero saber um pouco mais.

Ser um pouco mais.

Nunca o digo em voz alta, mas às vezes penso nele antes de dormir.

Às vezes não vou dormir logo, mas ele também não liga.

É estranho como não quero mais nada.

Basta-me estar perto, ouvir a voz dele.

Saber que se vai sentar comigo um pouco e que me vai dar o lugar de dentro do passeio.

Fico tímida e não sou bem eu.

Estou a pairar por uns instantes, e quero ficar irritada, gritar-lhe mas não sou assim.

Esta presença basta-me.

É mais platónico do que poético.

É mais privado do que prosa.

Mas é muito menos.

Afinal, não somos bem amor.



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