é na solidão de Kant
que cultivo as papoilas gregas.
coloco o conhecimento empírico
sobre qualquer outro
dou prioridade à quantidade de sorrisos
de lágrimas, ou de suspiros
faço do coração tripas
bombeando o que me move
por entre os que me fazem mover
é “nele” que está o meu ser
é “nela” que está o meu viver
e em mim, nada fica
deixando-me esvair em cada trinca
permito-te um pedaço
do meu ventrículo esquerdo
permito-te que coloques um sinal
“piso escorregadio”
à entrada do teu quarto em mim
pinto os teus corredores
decoro tudo a teu gosto
mais que a mera utopia de casa de férias
mais que a quimera que assusta Luís Severo
que nunca feches o teu olho de lince
que me dês a sorte de lá mergulhar
perder-me naquilo que tens como somente teu
nas tuas palavras nunca ditas
nas tuas ações nunca feitas
retira o suspiro que mantive no congelador
deixa-o queimar-te as mãos,
derreter na fonte do causador e dela desaguar
para a eternidade estagnar
na noite branca por que ambos deambulamos
atentos alunos de Dostoiévski e de Cesário Verde
incapazes de manter a candeia onírica
acesa pelas ruelas de Lisboa, por umas míseras quatro noites.
incapazes de abalar o empírico em prol da lógica sanidade.
mal-aventurados, que nunca permitiram a união dos átomos
que nunca souberam a cor favorita do outro.
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