top of page

reflexões de uma mente ansiosa

Raquel Nunes

Noutra vida podia ter feito tanto que não fiz, dito tanto que não disse, vivido tanto que não vivi.


Podia mudar tudo, corrigir todos os erros, apagar todos os arrependimentos. Podia desvendar todos os "e se..." e aproveitar tudo o que desperdicei.


Podia ter sido mais, e mais, e melhor. Podia ter o brilho que todos à minha volta parecem ter. Mas talvez eu também o tenha. Afinal, só vemos a luz das estrelas no escuro. Só nos apercebemos do tanto de ruído que havia quando ficamos finalmente em silêncio. Só sentimos a falta do sol quando está a chover. Comparar é destruir, rebaixar, esvaziar. É ofuscar aquilo que de mais bonito há na essência de todos nós. É afundar-nos numa ilusão de que o mundo é preto e branco. É como tirar a cor ao arco íris, tirar o sabor à comida da minha avó, tirar o som à minha música preferida.


Podia ter vivido tantas vidas diferentes, mas foi esta que vivi, resultado de tudo o que escolhi. E há tantas vidas diferentes que ainda posso viver. E de muito ainda me vou arrepender. Tudo bem, hei de aprender. 


Parece que esta coisa de viver é a arte de saber escolher, uma arte subjetiva e abstrata, um monte de rabiscos coloridos que se cruzam, entrelaçam e sobrepõem, preenchendo a tela outrora em branco. Sou um bocadinho de cada pessoa, de cada momento, de cada erro, de cada abraço, de cada riso e de cada lágrima. Sou uma mistura daquilo que já sei de cor: alegria, dor, saudade e amor.


Noutra vida podia ter sido muita coisa. Mas certamente não seria quem sou. Certamente não saberia o que sei nem teria o amor que tenho. Eu não seria eu. E eu é tudo o que quero ser.


 
 

Comments


deixa-nos uma mensagem, fala connosco!

obrigado pela tua submissão!

© 2025 Jur.nal - Jornal Oficial dos Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

bottom of page