Desde que me lembro que luto com o chamado “self loveˮ. A verdade é que cresci rodeada de pessoas que não sabem o que significa ou que simplesmente acham que esta é “mais uma daquelas coisas insignificantes criadas pela juventudeˮ que não tem qualquer objetivo. Portanto, sendo aquilo que eu ouvia desde muito pequena não irei mentir ao dizer que foi fácil deixar de ter estes pensamentos.
Quando finalmente decidi começar a pensar criticamente, uma das primeiras coisas que fiz foi tentar ativamente melhorar a minha relação comigo mesma mas foda-se, mal eu sabia aquilo que estava a começar.
Sempre fui mais “cheinhaˮ (como dizem os adultos quando não querem chamar uma criança de gorda) e isso foi me constantemente apontado. De familiares, a pessoas que eu mal conhecia (sim, há pessoas com esse nível de audácia), os comentários foram (e são!) incessantes. Durante anos acreditava naquilo que me era dito, deixava que estes indivíduos sem rosto ditassem como me sentia. De um “estás mais gordinha…ˮ sussurrado para não parecer mal, que me levava a um sítio escuro e dolorosamente familiar, a um “emagreceste, estás tão bonita!ˮ que me deixava quase a brilhar por dentro porque honestamente eu não tinha reparado que perdi peso mas alguém reparou e isso é tão tão bom.
Anos e anos disto, até que um dia decidi que estas pessoas não têm direito nenhum a guiar as minhas emoções ou a deteriorar a relação que tenho com o meu corpo. Claro que não estou a dizer que os comentários (que ainda perduram) não me magoam nem afetam porque estaria a mentir. A realidade é que agora faço um esforço para me distanciar, pois sei que vêm de um sítio de insegurança própria e de ódio pelas pessoas com corpos diferentes ou “não perfeitosˮ estabelecido pela sociedade em que vivemos.
A certo ponto fiz uma promessa comigo mesma, que ia deixar de dar este poder a outras pessoas e passar a detê-lo eu. E sim, este sentimento é muito bonito até me aperceber que anos e anos desta mentalidade me levou a ser a minha pior inimiga. Uns dias, olho para o espelho e fico bem comigo mesma, se tiver sorte ainda acho que estou bonita, mas na maioria o meu cérebro só consegue catalogar aquilo que está mal, o que o meu corpo, o que EU, tenho de errado.
“A minha pele está outra vez horrível, tenho que fazer alguma coisa para parar o acne.ˮ
“Parece-me que engordei imenso, estou super inchada…ˮ
“Ai odeio os meus braços, as minhas pernas, o meu queixo, o meu sorriso, os meus olhos…ˮ
São pensamentos involuntários que não consigo evitar de ter. Logicamente, sei que é um produto de anos a ter o meu cérebro condicionado a pensar nestas coisas, mas como é que os paro?
O caminho para começar a amar o meu corpo, a amar-me de certa forma, não é linear. De todo. Tem tantos altos e baixos que mais parece uma montanha-russa. E sim há dias, semanas ou até meses, (muito) maus. Em que não consigo sequer conceber a ideia de ter um pouco mais de cuidado com aquilo que penso e digo. Dias em que não consigo apontar nada de positivo e que me resigno a ficar neste estado mental para sempre. Mas é nesses dias que eu me sinto mais orgulhosa de mim mesma. Porque tem que haver algo que quebra o ciclo, um pensamento por mais pequeno que seja que me ajude a sair destes sentimentos.
O amor próprio não é fácil. É um caminho árduo e conturbado que provavelmente vou ter que seguir o resto da minha vida. Mas não significa que desista de tentar alcançá-lo.
Este é um texto muito pessoal para mim, onde estou a apresentar ao mundo uma parte da minha alma, porque sei que não ando sozinha neste desafio. E, é também por isso que eu o quis escrever e partilhar. Temos que ter paciência conosco, com o nosso corpo que faz tanto por nós. Temos que quebrar os pensamentos horríveis que nos foram incumbidos desde tão cedo. Temos que começar a ser nós próprios a ditar aquilo que sentimos quanto ao NOSSO corpo e não pessoas alheias. Temos que começar a amar-nos.
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