Desculpa, Florbela
- Anónimo
- Mar 18
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Desculpa, Florbela, que hoje escrevo em vão,
Que hoje me perco na sombra e na fala,
Que faço das letras um pobre refrão,
Cantado sem voz, sem alma, sem gala.
Há quem se esconda por medo ou por glória,
Há quem se erga sem nunca cair,
E há quem se perca, na própria memória,
E escreva sem nunca se ouvir.
Aqui se grita sem ter quem escute,
Aqui se cala quem pensa demais,
E os que se vestem de penas e luto,
São os mesmos que lançam punhais.
Falam de tudo, mas dizem tão pouco,
Enchem-se em rimas de um falso saber,
Erguem-se altos num palco já oco,
Lutando por glória sem nunca a ter.
De um lado, a pose que nada revela,
O grito vestido de grande opressor.
Do outro, o espelho que mente e se quebra,
E finge que é justo, mas só é rancor.
Falam sem medo, mas falam de lado,
Escondem-se todos na voz de ninguém,
E quando se veem no espelho rasgado,
Culpam o vidro, mas nunca o que têm.
A voz que se esconde na voz dos demais,
Que julga tão alto sem nunca pensar,
Que ri de um verso que jaz nos umbrais,
Que esmaga a verdade sem a escutar.
Ai, deixa-os, vida, dançar sem sentido,
Vazios de causa, de alma, de paz,
Que um dia a brisa, tão fria, tão lenta,
Apague estas vozes que falam demais.
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