Desculpa, Saramago
- Anónimo
- Mar 14
- 2 min read
Desculpa, Saramago
Há um fenómeno curioso que ocorre quando alguém decide imitar Saramago: a coragem cresce exponencialmente!
O problema é que o mestre não é imitado com pontuação arbitrária ou palavras inventadas, ele é homenageado pela profundidade, pela humanidade, por aquela capacidade única de transformar a simplicidade do quotidiano em literatura eterna. Já o que vemos aqui é outra coisa. É como tentar tocar uma sonata de Chopin com panelas e colheres de pau: faz barulho, mas não é música.
Porque se o verdadeiro Saramago nos ensinou a questionar o mundo com elegância e irreverência, estas tentativas de imitação só nos ensinam que a combinação de pretensão e erros ortográficos não é uma fórmula de sucesso. E convenhamos: há uma certa ironia em usar palavras caras para criticar quem, na verdade, só incomoda por existir – e por usar botões de punho, claro. Porque não há pecado maior neste mundo do que o crime de parecer próspero aos olhos de quem só vê rótulos.
Não se enganem: a indignação aqui não é genuína. É um espetáculo, com direito a neologismos mal paridos e metáforas que caem dos saltos antes de chegar ao ponto. O que importa não é a verdade, mas sim a pose. A pose de quem se julga o arauto da moralidade, enquanto empilha preconceitos com a leveza de quem nunca precisou de carregar uma ideia original.
É que, vê-se bem, que é um profundo conhecedor da vida de todos os seus colegas, o seu diploma de Ciências do Preconceito com ênfase em Generalizações fala por si. Quem dera que o Mohamed pudesse oferecer boleia à sua humildade que anda sempre a pé e bem longe da verdade.
No fundo, a verdadeira questão não é sobre casacos, carros ou estágios de verão. É sobre como nos esquecemos de que as pessoas são mais do que a superfície que mostram. Sobre como é perigoso reduzir vidas complexas a caricaturas para alimentar uma narrativa pré-fabricada.
Sobre como é insensato apontar o dedo a quem segura uma taça de vinho, sem perceber que o conteúdo da garrafa é que revela o seu verdadeiro valor. E sobre como a crítica mais válida não vem de quem grita mais alto, mas de quem se dá ao trabalho de ouvir antes de falar.
A lição? Quem tenta ser Saramago nunca "serão-no". E quem o faz… bem, "se-lô-ão" apenas na mente de quem confunde arrogância com arte
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