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  • À minha frente sentava-se uma mulher

    À minha frente sentava-se uma mulher em cujas rugas se inscrevia o cansaço de muitas décadas de vida, mas também a reflexão face à mudança dos tempos que apreendia ao observar o seu redor. Notavelmente religiosa, não tivesse esta a cabeça coberta por um longo lenço que contava cinco voltas em torno de si mesma e, ademais, uma camisola excessivamente comprida com o rosto de “nossa senhora de algures” impresso, observava expressivamente o desenvolvimento da segunda geração depois de si. Os cabelos longos ou curtos ao descoberto, de cores diferentes e chamativos. Os decotes, costas abertas, saias acima dos joelhos e não abaixo como foi costume outrora. Enfim, uma cambada de heresias destinadas a chamar a atenção, mas que, no fundo, desejava, ela própria, que nos seus tempos tivesse tido a liberdade de se expressar de tal forma, afastando rapidamente esse pensamento com receio de pecar. Não, prefiro viver humildemente. A minha vida foi dura, mas, pelo menos, sempre tive o conforto de saber que Deus tinha um desígnio guardado para mim, coisa que os jovens, hoje, dificilmente conseguem afirmar. Encontram-se desviados. É uma pena, julgava ela. E, de facto, é uma pena que o fim dos papéis sociais opressivos tenha gerado, por fim, uma crise existencialista profunda que se abate sobre os mais novos que, hoje, podendo identificar-se com qualquer coisa acabam por não se identificar com nada, questionando frequentemente a sua razão de ser.

  • Nota à comunicação social - Professor Jorge Bacelar Gouveia

    Ministra do Ensino Superior e Inspeção-Geral da Educação e Ciência declaram ilegal o uso apenas em inglês do nome da Faculdade de Direito da Nova, numa decisão que terá consequências sobre todas as instituições de ensino superior que se denominem somente em inglês, como sucede com boa parte das unidades orgânicas da Universidade Nova de Lisboa. 1. Na sequência de queixa por mim apresentada à Inspeção-Geral da Educação e Ciência em 10.5.2021, este organismo entendeu - através de parecer emitido pelo inspetor em 28.7.2921, com declaração de concordância com o mesmo por parte do Chefe da Equipa Multidisciplinar do Ensino Superior e Ciência do dia seguinte, documento estranhamente homologado pela atual Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior só em 4.7.2023 (dois anos depois...) – que a utilização exclusiva do inglês na denominação da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (FDUNL) é ilegal. Com efeito, esse comportamento viola o art. 10°, n° 1, do RJIES (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, aprovado pela Lei n° 62/2007, de 10 de setembro), em cujos termos "] – As instituições de ensino superior devem ter denominação própria e característica, em língua portuguesa, que as identifique de forma inequívoca, sem prejuízo da utilização conjunta de versões da denominação em línguas estrangeiras". 2. Ora, no caso da FDUNL, esta infração não podia ser mais óbvia compulsando os seus Estatutos, nos quais se diz, expressis verbis, que "A Faculdade adota a designação de «NOVA School of Law» em língua inglesa" [art. 1°, n° 5, dos respetivos Estatutos, Despacho n° 9852/2022 do reitor da Universidade Nova de Lisboa (UNL), publicado no DR, 2ª série, Parte E, n° 153, de 9 de agosto de 2022, pp. 205 e ss.]. Problema maior será o facto de esta ilegalidade, agora declarada, afetar boa parte das unidades orgânicas da UNL, as quais - embora tal sendo negado a título oficial, mas com "pouca habilidade" – não só deixaram de se nomear em português, usando exclusivamente abreviaturas/acrónimos em inglês, como qualquer sua alusão em português nem sequer consta já dos correspondentes sítios eletrónicos, documentos oficiais ou redes sociais. Diga-se ainda que este imbróglio se avolumará quando se souber que nenhuma das designações "anglófonas" de unidades orgânicas da UNL consta do registo que as instituições do ensino superior mantêm na Direção-Geral do Ensino Superior, na qual são unicamente registadas em português, ilegalidade essa que pode conduzir ao cancelamento da respetiva inscrição. 3. Depois desta decisão, espero bem que as entidades que tutelam a legalidade em Portugal – a legalidade democrática em geral e, sobretudo, a legalidade universitária - atuem sobre aqueles que são os responsáveis por tais condutas antijurídicas (inconstitucionais e ilegais), ou que foram coniventes com a sua difusão e execução. Além do mais, mesmo que isso que não fosse inconstitucional ou ilegal, num país que tem como língua oficial o Português (tal como se diz no art. 11°, n°3, da Constituição ou no art. 54° do Código do Procedimento Administrativo), que é a 5ª língua mais falada do Mundo, esta seria sempre uma atitude "antipatriótica", fundada, aliás, no raciocínio demasiado "elementar" de que a internacionalização universitária se pode fazer, algo magicamente, com a simples mudança da nomenclatura das instituições de ensino superior para inglês. Recordo, a este propósito, que por razões de preservação da identidade nacional começa a surgir legislação que impõe limites ao emprego de línguas estrangeiras na lecionação de cursos superiores, como sucedeu nos Países Baixos, assim como vai sendo prática - na Alemanha, por exemplo - obrigar que a língua nacional seja falada por pelo menos metade dos oradores em colóquios internacionais. Da minha parte, além da vigilância contínua, fica a promessa de vos oferecer, a breve trecho, um livro científico sobre este assunto. Lisboa, 20 de julho de 2023

  • Sonhos de menino

    Sonho 1 Hoje sonhei que estava a ver uma série com a minha família. Depois estava na ilha da série, em que havia um asilo, mas eu era simultaneamente eu  e uma das personagens, uma criança. Estávamos a correr pela ilha, numa cena pastoral idílica, e chegámos a uma casa, e quando entramos estava lá o pai dela (e o meu, simultaneamente). Mas o pai só parecia o pai na visão periférica. Ele visto de frente era um lobo gigante esquelético, quase só pele e osso. Ele atirou-se violentamente contra ela/eu e olhou para nós, farejando-nos. Saiu de cima de nós e entrou numa sala. Da sala saíram 5 raparigas jovens, eram pessoas que eu conhecia, uma era ****  e a outra era a minha *****. Eu estava num canto, encolhido e elas passaram num corredor, a minha ***** viu-me, sorriu-me e acenou, antes de três delas entrarem numa sala. Uma das restantes entrou na casa de banho com o pai/lobo. A outra olhou pra mim e disse "Lembra-te, o Professor não olha, nem fala, nem reconhece a Professora" e depois entrou na sala. Vi pela janela uma sala onde estava uma senhora, a presumível professora. A casa de banho era a única divisão que tinha a porta que dava para a rua. Eu/ela entrámos a correr na casa de banho, saí porta fora e corri pela minha vida. Acordei enquanto corria. Sonho 2 Hoje sonhei que ainda estávamos na gala. Mas algo mudou e de repente estávamos dentro de um complexo gigante, parecido à estrutura do El Corte Inglês, mas todo branco. Não havia saídas. Apareceram os nossos anfitriões, homens cobertos dos pés à cabeça de preto, que nos explicaram que isto era meio uma experiência social, e que íamos ficar ali presos para sempre. Muitos de nós começaram a tentar fazer paz com o fim das suas vidas enquanto a conheciam. Passou algum tempo. Estava a um canto com a ** e outras bichas e estávamos a discutir por causa de algo. Apareceram esses homens atrás de mim, do nada. Eles apareciam e sumiam do nada. Eles fizeram meio que um teatro improvisado on the spot, e nuvens apareceram. Narraram e explicaram que havia algo muito grave que eu tinha feito no passado, algo que estava profundamente errado comigo. No meio dessas nuvens, estava um espaço vazio, negro, que representava esse algo que eles não especificaram. Eu acho que era sobre doença mental. No final, deram-me asas de anjo, e depois substituíram-nas por asas pretas. Essas asas caíram ao chão. Depois disso, as bichas ficaram a olhar-me de lado, então fui-me embora. Noutro canto, passado uns tempos estava deitado num banco de jardim, lembro-me que a *** e o ****  estavam lá e mais algumas pessoas. Alguém comentou que já que o 4º ano não ia embora, porque estávamos presos lá, eles iam fazer a edição física do próximo ano. A *** olhou para mim e disse "António, precisas de maquilhagem" e sacou de um estojo e começou a pintar-me. Ela disse "é que a tua cara precisa um bocado...." O **** interrompeu e disse "não és giro". Alguém comentou alguma coisa sobre o *********, e ficaram a falar dele, até que a *** disse "pois, o ********* tem imensa facilidade em arranjar raparigas, nem tem de se esforçar, enquanto que o António bem se rói e tenta mas falha sempre". Fui-me embora. Comecei a andar numa direção e não parei. Andei e andei, até estar de volta aos jardins de Torres Vedras. Era noite e o céu estava cheio de estrelas, o espaço branco desaparecera. Encontrei uma trotinete elétrica, peguei nela e comecei a andar por aí, a velocidades incríveis. Foi excitante. Quando parei, acordei.

  • Um saco de pão

    Estou na cama que nunca foi minha, mas que verão sim, verão não, se torna mais do que minha durante alguns dias. O quarto é frio devido à construção rasca das paredes. Ao menos está decorado a teu gosto, com memórias da tua vida e algumas da minha, ainda que eu só tenha entrado em cena há 6 anos. Viro-me para o outro lado e deparo-me com molduras pousadas na tua mesa de cabeceira, à espera de serem penduradas, ainda que, aquele pareça ser o lugar delas. Reparo que tens uma foto dos primos e outra minha. A foto mais escondida é a do teu próprio marido, do amor da tua vida, ultrapassado pelos novos amores que foram surgindo por meio da família que criaste. Gostava de ter o teu apelido, mas ele morreu contigo. Entras na divisão e convences-me a sair da cama, prometes que faremos pulseiras com as missangas que tens guardadas, debaixo da sombrinha da figueira, e que me ensinarás a costurar. Cumpres sempre com as tuas promessas, então levanto-me mais depressa que as velhas que terminam a peregrinação de joelhos pela faixa do chão de Fátima, ansiosas por se sentarem com gelo nas dobradiças, satisfeitas com a audição das suas preces. Reparo que estamos a comer o meu almoço favorito há três almoços seguidos. Digo-te que não me importo de comer o peixe que o avô tanto gosta e abandonar os hambúrgueres com batatas fritas, ainda que os teus sejam os meus preferidos. Respondes que ele está tão velho e gasto que aquelas papilas gustativas já não conseguem diferenciar peixe de carne. Na minha inocência, rio-me, mas sei que se o avô não estivesse tão atento às notícias, teria-se levantado em direção ao congelador e teria apanhado o último gelado, enquanto te assombrava “SE O VELHO JÁ NÃO SABOREIA, ENTÃO DIZ-ME LÁ SE ISTO NÃO É GELADO DE MORANGO!”. Mal saberia ele que, sempre que chegava a semana de eu vir para o campo, tu nunca compravas de morango, era sempre de chocolate. Continuamos o almoço, embebidos em paz e harmonia, no ruído da reportagem que passa na televisão e no cheiro de roupas antigas, que tinhas para passar a ferro de seguida. Ouço a buzina estridente do padeiro e pergunto-te se meteste o saco no portão para receber as bolinhas de pão. A resposta é afirmativa. aliás, quem serias tu se não tivesses pedido pão. Saio disparada da mesa (sei que foi falta de respeito, mas era uma emergência), em direção às portadas amareladas, e pego no saquinho já cheio. Agradeço mentalmente à mãe do padeiro por ter posto na terra o homem dos meus sonhos, e volto a correr para a cozinha. Ultrapasso o cão, que espera ansiosamente por comida, mas compadeço-me por ele e dou-lhe um pedaço de pão, ainda que hoje em dia saiba que há maravilhas gastronómicas que não são apreciadas por cães. Continuo a minha corrida, alcanço a cozinha, mas a luz está apagada. Não há sinal, nem de ti, nem do avô. Eu jurava que tinha corrido o mais depressa possível, para onde é que vocês foram? Os pratos com restos de comida continuam em cima da mesa, a máquina de café está ligada, mas não há vestígios de café nas vossas chávenas. Acho estranho, mas vou até à figueira ver se foste mais rápida que eu e se já começaste as nossas pulseiras. A figueira está rodeada de ervas daninhas, tem ramos cortados, e não vejo um único figo. Penso que talvez esteja a alucinar e, por isso, vou até ao galinheiro ver se por acaso foste dar os pães antigos, demolhados em água, aos animais. Não ouço o galo, mas entro à mesma no espaço. Assusto-me e penso que é impossível estar a imaginar coisas. Claro que a mente de uma criança está constantemente no pico da criatividade, mas era demasiado real para ser imaginado. Olho para o chão, e para surpresa minha, vejo que já não tenho os meus ténis rosa com luzinhas que tu tanto elogiaste, até disseste que querias uns iguais. No lugar deles vejo umas botas pretas, pesadas demais para serem suportadas pelos meus pés de menina de 6 anos. Começo a sentir-me zonza e dirijo-me à casa de banho. Olho, a medo, para o espelho, enquanto lavo a cara com a água fria corrente. Aquela não sou eu. Não posso ser. Seco a cara à pressa e vou até ao telefone fixo. Marco o número da mãe e ela atende com o tom mais preocupado que consegue encaixar na sua doce voz. “FILIPA, FILHA! FINALMENTE! ONDE É QUE TU ANDAS?” Franzo as sobrancelhas e cerro os olhos enquanto a ouço disparar frases exclamativas e interrogativas em simultâneo. Penso: “mas que raio, como assim onde é que eu ando? Vim passar uma semana a casa da avó…”. Até que levanto o olhar para a parede à minha frente. Um calendário com o ano “2023” encabeçado a negrito deixa-me estática. O telefone escapa-me da mão direita, perco a força nos dedos da mão esquerda, o saco de pão solta-se, e

  • Lista da Redação, da Coordenação e da Direção - Ano Letivo 2022/2023

    Redatores Do 1º Ano: Beatriz Diogo; Beatriz Rodrigues; Francisco D'Orey; Francisco Jesus; Inês Fonseca; Joana Moreira; Leonor Baptista; Letícia Mendonça; Margarida Raposo; Maria Eduarda Meneses; Mariana Carvalho; Marta Fernandes; Mateus Rego; Nuno Ferreira; Pilar Passos; Riccardo Noronha; Sara Pinto; Simão Costa; Sofia Batista; Sofia Silvério; Taavi Medeiros; Ved Bagoandas. Do 2º Ano: Ana Beatriz Reis; António Subtil; Beatriz Geraldi; Beatriz Pereira; Carolina Correia; Carolina Sacavém; Fábio Pereira; Filipe Ferreira; Guilherme Sousa; Hugo Mendes; Inês Costa Graça; Isabel Costa; Joana Almeida; Luana Fernandes; Luís Lobo; Maria Leonor Simão; Rafael Guerra; Rafael Santos; Rita Esteves; Simone Silva; Sofia Dias; Sofia Paulino; Tiago Monni; Zulficar Silva. Do 3º Ano: Beatriz Mello; Diana Pry; Diogo Simões; Inês Brazão; Luís Miranda; Neuza Lopes. Do 4º Ano: Pedro Serra; Raquel Lopes. Externos: André Neves. Coordenadores Beatriz Rodrigues, Coordenadora dos Podcasts; Francisco Jesus, Coordenador da Comunicação; Rafael Santos, Coordenador do Clube de Leitura. Direção Isabel Costa, Diretora; António Subtil, Diretor-Adjunto; Hugo Mendes, Diretor-Adjunto; Sofia Dias, Diretora-Adjunta.

  • Como é que voltamos atrás?

    Como é que voltamos atrás? Como é que vivemos com o que já sabemos E sabemos que não podemos usar? Como é que se volta ao “normal”? Se o normal deixou de ser uma palavra E tudo o resto parece diferente? Se a vida já teve cor, Como é que voltamos a tons de cinzento? Como é que voltamos a uma rotina A uma rotina onde nenhum de nós existe, A um espaço no tempo em que nos temos de apagar E viver o amanhã a esquecer o ontem? Como é que se continua? Será que sequer é possível? Passar num relvado e ser só verde, Não ser nenhuma daquelas coisas que representa? Não ser um sorriso ou um abraço, Não ser uma canção, nem um silêncio Ser apenas o que realmente é, Um espaço infinito de verde. Como é que voltamos atrás?

  • Logo Se Vê - melopeias

    Track 1 - Jeito Pra Tudo Melopeia : A essência do ser humano só por ele pode ser criada. Sendo algo intrínseco a cada um e formulado como e conforme cada qual, não deixa de ser curioso quando se ouve “tens jeito para x” ou “tu brilhas ao fazeres y”. Fui eu que criei “o meu jeito” e só os outros o conseguem ver. Estúpido, não? Eu dei-lhe comida, água, até a mão para atravessar a estrada, porém, ele é um filho (quase) rebelde, que prefere ver a minha cara zangada ou confusa a ver-me satisfeita com os seus atos. Afinal, é sempre mais divertido mudar de ar (ao espelho) a cada ano, do que se manter estável, ou não? Como é que eu digo ao “meu jeito” para descansar e deixar-se simplesmente ser quando nem a sua dona o é? Dizias que eu tenho jeito para quê, desculpa? Ahhhhhh Abro os olhos Já meio cansado de acordar Eu não quero, eu não quero ver Mais um dia a se perder Vou-me desculpando E deixando tudo pra depois Eu não quero, eu não quero ver Uma vida a se perder Jeito pra tudo, jeito pra nada Mas por enquanto vou ficando por casa Dá-me um beijo, não me sinto tão bem Mas isto são fases, isto vai e vem Jeito pra tudo Tanto jeito que não serve pra nada Quando centro, as minhas forças Na coisa errada Mais uma semana de frio Mais um espaço para o vazio Mais um almoço precoce Ou um pequeno-almoço tardio É que o tempo passa, a vida corre Já não vais pra novo, faz o que te comove Não deixes esmorecer (Eu não quero, eu não quero ver) Eu não quero ver A minha vida a se perder assim Devagarinho caminho para o fim E vai-se esgotando a fé que tenho em mim Deixa-te estar A quem é que tens de provar Dá tempo pra continuar E hoje mereces descansar Track 2 - Aparentemente Melopeia: Se olhares com atenção, há a não tão ínfima possibilidade de captares um sorriso no rosto da Mona Lisa. Não há evidências de tal, porém eu gosto de crer que a feição dela muda aos olhos de cada um, para se aproximar mais daquilo que a pessoa sente e servir de choque térmico de realidade. Há quem morra de choques térmicos. Aparentemente uma vida normal Mais leve que as outras Mas de resto tudo igual Aparentemente uma casa normal Com vista para o mar, lá do terceiro andar E um pouco mais central Aparentemente uma miúda normal Mais inteligente, bonita, diferente Mas de resto tudo igual Aparentemente uma vida normal Deixa de ser aparente, quando olho para a gente Fora do meu pedestal Fui acertando em todas as chaves Destranquei a sorte Viciada para o meu lado Num caminho enviesado Já jogo sem querer ganhar Continua a me calhar A vida tranquila que quis O mundo conspira pra me fazer feliz Procuro e ela não se esconde de mim Há quem não tenha a sorte de ser assim Pistas elaboradas Evidencias escondidas No fundo da estrada, errada A inquietação Torna o desespero a solução E eu na minha paz A leste do que o mundo traz Olho o espelho inocente Vejo aparentemente Uma vida normal Uma vida normal Uma vida normal Fui acertando em todas as chaves Destranquei a sorte Viciada para o meu lado Num caminho enviesado Já jogo sem querer ganhar Continua a me calhar A vida tranquila que quis O mundo conspira pra me fazer feliz Track 3 - Luz Do Túnel Melopeia: Preciso de um momento para assentar. Sinto-me num loop constante entre o jogo da “cabra cega” e o jogo do “macaquinho do chinês”. Perguntas-me o que é que estes têm em comum. Tanto a cabra, como o macaco, são obrigados a ver- sem ver. Uma quase reencarnação do “Ensaio Sobre a Cegueira”. A parte positiva é que, eventualmente, se vive em paz com a cegueira ou se aprende a ver para além de ver. Se deixar de ver a luz, a escuridão passará a ser a minha melhor amiga e passarei a ver nela a luminosidade possível. Ultrapassar, andar, correr, saltar, mover. Sair de onde estou para (1) não criar raízes e (2) ter a possibilidade de ver flores de cores diferentes florescer (3) pelas mãos da mesma jardineira, que com certeza não foi feita para cavar buracos na terra, mas aprendeu a fazê-los na areia da praia, com auxílio de uma pá azul e um balde amarelo. Ah, escuro outra vez ‘Tava tão bem visível o caminho Que tinha de tomar Era só continuar Tenho uma queixa a fazer A quem quer que esteja lá no fundo do túnel a mandar A luz não para de alternar Falsa esperança que me deixa a alucinar Já perdi a conta das vezes, vem Uma mágoa aguda só de pensar Nos caminhos às cegas Que a luz me fez tomar Já me perdi, encontrei Tive em sítios que nem sei Como lá fui parar Mas cheguеi aqui Pouco ou nada me vai desorientar O túnеl virou labirinto Num desafio mesquinho Sombras contraditórias Dissuadem o caminho Já corri p'ra todo o lado P'ra cá e p'ra lá Oiço as pernas a dizer "Não dá" Mas faço-me acreditar Que esta vez vai ser diferente O fumo carregado Dissipou-se lentamente E tu na minha cabeça P'ra cá e p'ra lá Oiço o coração dizer Já perdi a conta das vezes, vem Uma mágoa aguda só de pensar Nos caminhos às cegas Que a luz me fez tomar Já me perdi, encontrei Tive em sítios que nem sei Como lá fui parar Mas cheguei aqui Pouco ou nada me vai desorientar Track 4 - Gigantes Melopeia : Olha para mim e diz-me exatamente como me vês. Eu não sei como me vejo e preciso que alguém me faça um desenho do que vê por mim. Entra em detalhes e diz-me o que sou. Acreditarei com mil vezes mais força nas tuas palavras do que nos meus olhos. Aliás, talvez não devas dedicar tempo a observar-me. Não, não olhes para mim. Guarda o que quer que penses de mim, desde que esse pensamento te mantenha aqui. Eu posso arranjar-te uma venda, se preferires. Uma da tua cor favorita. É laranja, não é? Sei que terá de ser uma opaca, para tu não veres (obviamente) e para eu não me embebedar na cor dos teus olhos. Se quiseres que eu faça um desenho do que tu és, eu faço. Nem preciso de olhar para ti. Traz-me uma folha de papel e uma esferográfica, nem de borracha farei uso. De repente somos gigantes E nada interessa Atrasamos o tempo Que nos voa depressa Amanhã já somos formigas Ressacados de afeto Era tão bom Quando estavas por perto Há quem diga Que ainda sentes coisas por mim Há quem diga Que ainda há amores assim Quando estás por cá eu não saio Fico aqui bem colado A sede da tua presença Açambarcou o meu estado Sou sortuda apesar de tudo Apenas por saber Com toda a certeza Não te posso perder Deixa-te estar Que eu viro o desta vez Só para te ver mais um segundo Só por um instante Que se devolve o sentido Que se constrói um paraíso Que se relembra um sonho antigo Viro o mundo outra vez Pra poder voltar Mas eu vou tão cedo que a Saudade se esconde Demorou, descomplico Agora que sorriste Mas eu vou tão cedo que a Saudade se esconde Demorou, descomplicou Agora que sorriste Track 5 - Não Admira Melopeia: A retrospectiva é sempre mais bonita do que a perspetiva. Infernal, miserável ou repugnante, um dia tornam-se sinónimos de glorioso, rico e sedutor. Cai no esquecimento do cérebro humano, o quanto desgostou, para que seja mais apetecível cometer o mesmo erro. Para que se recorde com saudade do que fora, quando na altura seria capaz de vender órgãos para desaparecer do mapa. Olho pra trás, o mar está calmo Sei que houve tempestade Mas a saudade Tratou de a acalmar Olho pra trás, que céu tão lindo Sei que a chuva caiu E a memória insistiu Fazê-la esbater Não admira, que vivamos no passado Se a saudade torna tudo mais bonito O tempo passa, mas os anos dourados Serão sempre os que já foram vividos Não admira, que vivamos no passado Se a saudade torna tudo mais bonito O tempo passa, mas os anos dourados Serão sempre os que já foram vividos No meu tempo é que era Gente pura e de verdade Por mim fico aqui pelo rеstelo Que eu já não tеnho vossa idade Imaginem só meus amigos Há milhares e milhares de anos O paraíso que não era o nosso mundo Quando decidiu abrir portas aos Humanos Não admira, que vivamos no passado Se a saudade torna tudo mais bonito O tempo passa, mas os anos dourados Serão sempre os que já foram vividos Não admira, que vivamos no passado Se a saudade torna tudo mais bonito O tempo passa, mas os anos dourados Serão sempre os que já foram vividos Vivo tão bem no passado Vivo contigo novinha a meu lado Vivo tão bem no passado Vivo contigo novinha a meu lado Vivo tão bem no passado Vivo contigo novinha a meu lado Vivo tão bem no passado Lembro o bom e esqueço o errado Vivo tão bem no passado Vivo contigo novinha a meu lado Vivo tão bem no passado Vivo contigo novinha a meu lado Vivo tão bem no passado Vivo contigo novinha a meu lado Vivo tão bem no passado Era tão bonito o anel de noivado Track 6 - Todos Os Loucos Melopeia : Há quedas de paraquedas de vivências que trazem vida às vidas. Parte da Clara outrora fez parte do Miguel. A Clara: ouve música enquanto anda de bicicleta, tal e qual como fazia ao sair da escola com o Miguel; põe queijo ralado por cima das pizzas congeladas antes de as levar ao forno, porque o Miguel dizia que o queijo presente era mínimo devido à fome do capitalismo; começa todos os seus textos com uma frase curta, para depois prolongar a ideia, exatamente como ela apreciava na escrita dele, que era tão somente dele; cumprimenta todos os animais de estimação com um “Olá, pequenino!”, pois ouviu-o falar assim com um cão e achou a doçura (novamente) na voz dele; usa os atacadores atados em torno dos tornozelos, porque, uma vez ele atou-os assim pela piada. Há peças dele, nela. E aposto que dela, nele. Há puzzles de vida que nunca param de se expandir, e é tão bonito ver o que pertence a quem já pertenceu. Alugueres de maneirismos. De todos os loucos do mundo Foste logo escolher a mim Um poço de insegurança Com certeza que há alguém que não seja assim De todos os loucos do mundo Foste logo escolher a mim Daqui do cimo do ócio vejo Tanta gente que não é assim Não, não conheci o mundo inteiro Tampouco todos os recantos corriqueiros Sei que este amor é apenas o terceiro Mas consigo te dizer Que da minha agulha Desconhecia o paradeiro Encontrei-a no meio do palheiro, assim que te vi Tão bonita Tanto, tanto mar E nem uma ideia por onde começar Contento-me com a miragem E na minha costa Desembarcaste só de passagem Mera aprendizagem O teu corpo partiu E o resto ficou cá Não, não conheci o mundo inteiro Tampouco todos os recantos corriqueiros Sei que este amor é apenas o terceiro Mas consigo te dizer Que da minha agulha Desconhecia o paradeiro Encontrei-a no meio do palheiro, assim que te vi Tão bonita Track 7 - Lembra Melopeia: A luta pela presença na cama de solteiro. O choque de corpos pelo espaço inexistente. Deixa-me mergulhar de cabeça no teu espaço, compartilhar sono e sonhos. Dizer-te que “vai ficar tudo bem” e que “foi só um pesadelo” quando acordares de rompante. Acalmar-te, apaziguar-te, embalar-te, aconchegar-te. Figurar nos teus pensamentos além sonhos. Assinar termos e condições de amor. Dormir profundamente. Ou nem dormir de todo por não passarem de utopias. Lembra-te do começo Vivemos tudo de uma vez Na certeza que não nos ia restar nada Depois daquela madrugada Lembra-te do começo O tempo baralhava-se Esticava e comprimia Era linda essa magia de estar contigo Parecia um amor antigo O tempo baralhava-se Passei a viver a vida a antecipar Imaginar O dia em que deixava de sonhar E abria a porta para poderes entrar Mas valia sempre a pena Mas valia sempre a pena Mas valia sempre a pena Mas valia sempre a pena Os dias desfiavam E os nossos corpos costurados, destinados Pela forma que encaixavam Tudo no seu lugar Os dias desfiavam E nesse mar quentinho Não me canso de banhar Eu sou bom a navegar, quando vejo o fundo O meu corpo é um barquinho Nesse mar quentinho Passei a viver a vida a antecipar Imaginar O dia em que deixava de sonhar E abria a porta para poderes entrar Valeu sempre a pena Valeu sempre a pena Valeu sempre a pena Valeu sempre a pena Esperar por nós dois Inventar caminhos Desistir, voltar Fintar o destino Esperar por nós dois Inventar caminhos Desistir, voltar Track 8 - Assim, Sem Fim Melopeia : O barco não pode parar no meio do oceano. Eu não sei quando ele parou, mas sei que aqui não pode estar. Acorda o capitão e o seu ajudante, diz-lhes para içar as velas, aproveitar esta rajada de vento, deslocar, não estagnar. Promete-lhes terra, terra cada vez mais próxima, que eles não desistam agora. Relembra-os das famílias que os aguardam na ilha, dos almoços e dos beijos. Sem ler as letras invisíveis Aceitei os termos e condições De um plano de emergência Para a manutenção dos corações Uma garantia de estender a ilusão Amor pré-pago, tempo escasso A mesma paixão de sempre Crescente Uma bela cidade (vai saber a pouco) Fugindo da realidade (vai saber a pouco) Na hora de partida Vai saber a pouco tudo menos Que uma vida É claro que todo o amor nos sabe a pouco Enquanto andarmos a remar no sentido D’um contra o outro O vеnto em popa depressa fingiu-se sopro Foi pouco tempo a pendurar-me no teu dorso Achas que eu nunca soube como tudo num dia rompe? Esperança que essa vela folgada ainda vá longe Tentaste encarcerar-me com palavras Não há culpa tudo no eixo Eu quis prender-te com a cola do meu beijo Poesia ou anzol, âncora ou cais? Marés que luas regem não nos trouxeram sinais Enquanto declaro tudo ao nosso amor maravilha: Só te nego a volta ao mundo Que eu já não saio desta ilha Sei que sabes como o barco parou Mas não sei dos dois: Quem foi um fim? Assim (sem) Sei que sabes quando o barco parou Quem se afundou (logo se vê) Quem chorou mais? (logo se vê) Quando (logo se vê) Combinei com a verdade (logo se vê) Para ver onde vai o futuro (logo se vê) Apenas uma direção (Eu e tu eu, eu e tu eu) Quando (logo se vê) Combinei com o futuro (logo se vê) Para ver onde vai a verdade (logo se vê) Apenas uma direção (Eu e tu eu, eu e tu eu) Ah, a sorte Fica comigo até perder o norte Sigo o instinto que me leva a ti Fico assim, sem fim Track 9 - Ficamos Assim Melopeia : “Amor. Linda palavra. Infinito. Linda palavra. Amor infinito? Miserável. De 400 mil palavras no dicionário, vamos contentar-nos com duas que já foram usadas milhões de vezes juntas?” Ficamos assim, cada um do seu lado Vou fingindo que não estou apaixonado Pode ser Que acabe por me enganar Ficamos assim, ao menos estou triste Escapei da dormência fatal que me persiste Vejo a beleza na tristeza Acabo por me consolar Hey hey hey hey hey, oh Que bom enganar-me assim Hey hey hey hey hey, oh Esfrego os olhos na areia por ti Cavámos memórias, cada vez mais fundo Rompemos cidades de diversos mundos Era escusável tentá-lo esconder O amor encontrava sempre forma de aparecer Se nos amamos assim E a vida se arrasta por aí E o verso, sai cada vez mais perto Do escuro da minha cabeça seja o que aconteça Que vale adiar, ficar, esperar Eu não te perdi Ficámos assim, logo depois notámos Mesmo sem ver e ter ainda nos amamos E a alma aguentava O corpo frio a desmembrar Hey hey hey hey hey, oh Que bom enganar-me assim Hey hey hey hey hey, oh Esfrego os olhos na areia por ti Cavámos memórias, cada vez mais fundo Rompemos cidades de diversos mundos Era escusável tentá-lo esconder O amor encontrava sempre forma de aparecer Cavámos remorsos, cada vez mais fundo De várias cidades do meu submundo Era escusável tentá-lo esconder O amor encontrava sempre forma de aparecer Track 10 - Monte de Nada Melopeia: “não sobraram fotografias do justino ou do paulinho, por isso escrevi os seus nomes num papel e pu-lo diante de mim como modo de chamar por eles. para que os lembrasse. e li aqueles nomes vezes sem conta à espera de que dentro de mim algo atendesse por eles. aterrorizava-me que se apagasse da minha memória o jeito de cada um, a expressão que tinham quando lhes falava, quando me perguntavam coisas difíceis. benjamin, que acontece se morrermos e não haver ninguém no céu que nos conheça.” Pega no teu amor E joga fora O que é que fica? Um monte de nada Pega no amor da tua vida E joga fora O que é que fica? O que é que fica? Acabou o tempo, tudo desabou Levaste o céu contigo Sem sequer me avisar Afundo na muda solidão Arrasto os despojos do meu corpo Que insistem em ficar Acabou o tempo, tudo desabou Levaste o céu contigo Sem sequer me avisar Afundo na muda solidão Arrasto os despojos do meu corpo Que insistem em ficar Mas fica a sensação Uma rede debaixo do coração Quando me fazеs sonhar Que um dia mais tarde tu vais Aparecеr no meu portão De braços abertos e uma canção Que nos faz relembrar De quando era tão fácil se Apaixonar Pega no teu amor E joga fora O que é que fica? O que é que fica? O que é que fica? O que é que fica? Track 11 - Volta E Meia Melopeia : Se eu te atirar uma corda, consegues fazer força suficiente para saíres desse buraco de coelho? Se eu te abrir as cortinas, consegues enfrentar a radiação solar e apreciar a dança das folhas das árvores? E se eu te trouxer a tua sobremesa favorita, tiras duas colheres da gaveta? Então é aqui o fim da história? Nem me apercebi Estava tudo tão confuso no guião Não era o final que eu previ Prolongo no teu abraço Espremo a ternura que me vai salvar Quando cair o pano e eu não souber de ti E o mundo amanhecer Fora do lugar Pensava que seria mais fácil Ao amadurecer Pensava que estaria tão longe deste amor Morrer Volta e meia tu voltas Deixas-me assim Três e meia descolas Sem regresso e sem vontade de partir Porque não ficas por cá? Imagina Tornamos a alegria a nossa rotina Volta e meia tu voltas Deixas-me assim Três e meia descolas Sem regresso e sem vontade de partir Porque não ficas por cá? Porque não ficas por cá? Daqui a uns anos voltamos de coração sarado Prontos para renamorar Refazemos a história à sombra de um telhado De uma casa junto ao mar Tu escreves os teus livros Eu as minhas canções Vai valer cada segundo Quando chegar o fim Da história mais linda do mundo

  • Junior Law School – vem experienciar o trauma por uma semana!

    No passado dia... (estou a gozar, isto não é um post do linkedin). Foi na NOVA Direito que alguns e algumas estudantes do ensino secundário tiveram a excelente ideia de passar a semana passada. O que levou estes estudantes a participar nesta Junior Law School, a equipa de reportagem do Jur.nal ainda não foi capaz de apurar, apesar das principais possíveis razões serem: não saberem o que lhes esperava, crush na diretora do Jur.nal, ou curiosidade em conhecer a faculdade pelo seu interior, já que no Open Day teriam sido atacados pelo famoso jardim do campus, relata fonte que pediu o anonimato. Ao longo desta semana, os participantes deste programa que voltou finalmente depois de vários anos adormecido puderam viver o verdadeiro espírito NOVA, sempre com boa disposição e vontade de ser um agente de mudança confirmar se se querem mesmo sujeitar a quatro anos de pura tortura estudo intensivo e dedicação ao estudo das leis. O Jur.nal teve o prazer de, logo no primeiro dia, realizar uma atividade com os possíveis candidatos, tendo feito o esforço para minimizar o trauma dos estudantes, já que fomos avisados de antemão que teríamos de causar uma boa primeira impressão (um esforço similar ao feito pela faculdade com o Bootcamp inicial, mas que todos os anos falha redondamente). Foi através de kahoots, jogos do Stop e quizzes que secretamente tinham o objetivo de descobrir os próximos redatores, que lhes mostrámos o ambiente relaxado que se vive no Jur.nal. Posteriormente, tivemos o prazer de dar a conhecer o campus às nossas crianças, e de assistir a uma atuação da maravilhosa Juristuna, que nunca desilude, e que contou com um seguidor avido, que não perdeu nenhuma das músicas para mostrar a sua qualidade de fã. Durante esta semana, foi também proporcionado aos estudantes que comessem na Cantina, mas na do CAN, tendo esta decisão sido tomada após chegar-se à conclusão de que após uma refeição na Cantina de Campolide os futuros candidatos deixariam de o ser. Os e as participantes puderam ainda nadar nas águas da Introdução ao Direito, do Direito Constitucional, Penal e dos Contratos, através de palestras lecionadas pelas professoras e professores Miguel Moura, Luís Terrinha, Maria Beatriz Brito e Joana Campos Carvalho. Foi com muito entusiasmo e participação que os estudantes receberam esta piscina de conhecimento jurídico. Podíamos ter-lhes dito que a água vinha das lágrimas dos estudantes anteriores, mas não nos pareceu adequado, já que se estavam a divertir tanto. Ao que pudemos apurar, o prémio de maior entusiasmo foi entregue à professora Maria Beatriz Brito, mas todos os outros docentes levam uma menção honrosa, uma vez que os elogios foram unânimes quanto a todos (claro está que não tiveram a oportunidade de experienciar uma época de exames, caso contrário não existiria tanto feedback positivo). Além das palestras, foi-lhes também proporcionado a oportunidade de visitar o Tribunal da Relação de Lisboa, visita que os deixava mais ansiosos, depois de uma sondagem cuidada e rigorosa (perguntámos em conversa no corredor), e ainda a sociedade PLMJ, que contou com uma conversa com o associado Tiago Guerreiro, que deu os seus conselhos aos nossos mini-lawyers e que os levou a conhecer o rooftop da dita sociedade. Pasme-se que, os participantes tiveram mesmo a oportunidade de participar num pequeno moot court, defendendo ou acusando uns arruaceiros de Erasmus, e um Bernardo que se deixou levar por promessas de Rizotto. Finalmente, deu-se a sessão de encerramento, que contou com os oradores David Freitas, coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária, António Assis Teixeira, jornalista na TVI e Francisco Cordeiro Ferreira, Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, que nos falaram um pouco da sua carreira após o curso. Foi uma semana muito atribulada, mas muito frutífera para os participantes, que puderam durante uma semana experienciar o que é viver esta vida de estudante de direito. Tendo tido um feedback tão bom dos participantes, que poderão ler no final deste artigo, o Jur.nal faz fotos de que este renascimento não seja só de um ano, e que possamos estar presentes na segunda (nova) edição. Acabando este relato, resta-nos agradecer. Em primeiro lugar, a título pessoal, agradeço à direção do Jur.nal, que esteve sempre a acompanhar a Junior Law School, e pela sua atividade, que foi um dos pilares da semana. Posteriormente, à Associação de Estudantes, e em especial à sua vice-presidente, Aliyah Bhikha, organizadora principal deste evento. Finalmente, e mais importante, agradecer aos participantes, que decidiram escolher-nos para perderem (ou ganharem?) uma semana do seu verão. Sem vocês, isto não teria acontecido. Esperemos que tenham gostado tanto de nós, como nós gostamos de vocês. Dito isto, termino com uma pergunta para os participantes, e deixo-vos com alguns dos relatos dos mesmos. Queridos participantes.... vemo-nos em setembro? “A Junior Law School mudou a minha vida e a visão do meu futuro porque agora tenho realmente a certeza que quero seguir Direito na faculdade. As atividades foram bem organizadas e pertinentes, para nos termos uma ideia do nosso percurso universitário. Para além disso, os monitores fizeram um ótimo trabalho de valorizar não só o lado académico, mas também social, da vida académica. Agradeço muito o trabalho deles.” – Beatriz Violante, Aluna de 10.º Ano no Colégio Atlântico, Arrentela “Em que é que esta semana mudou a minha vida? Esta semana foi desafiante, cansativa mas foi mais que recompensadora. Aprendi a ter uma ideia mais aberta do que o Direito nos poderá trazer, das suas áreas e saídas e tive a oportunidade de conhecer sítios que honestamente adorei! Fez me sair da minha zona de conforto e fez me sentir que seria capaz de enfrentar um novo desafio sem medo! Obrigado por esta experiência!” – Mariana Cardoso, aluna de 10.º Ano na E. S. Braamcamp Freire, Pontinha “A minha experiência na Junior Law School foi francamente positiva. Tive a oportunidade de contactar com alunos e professores da faculdade, o que me permitiu escolher mais acertadamente a faculdade onde pretendo estudar direito nos próximos 4 anos – e por esse motivo, importa perceber não só o modus operandi da faculdade e do curso, tendo experienciado pequenas aulas sobre direito penal ou constitucional, por exemplo, como também o modus vivendi, transmitido pelos testemunhos dos estudantes que ali efetivamente se sentem em casa. Por outro lado, foi nos proporcionado um contacto direito com o leque de profissões que o curso de direito pode abrir – visitámos uma sociedade de advogados, um tribunal, e estivemos também com profissionais da esfera do jornalismo, da segurança e do poder governamental. A riqueza do plano de atividades, que incluíram um moot court e debates diversos, aliada à total disponibilidade e boa-disposição dos estudantes da faculdade que nos acompanharam, permitiu-me aprender e pensar de novas perspetivas, além de ter ficado mais convicto que direito é mesmo aquilo que eu gosto. Um grande obrigado a toda a equipa envolvida na organização, aos professores e aos demais participantes por esta semana extremamente enriquecedora!” – Francisco Freire, aluno de 12.º ano na E. S. Filipa de Lencastre, Lisboa “Para mim, a Junior Law School foi uma experiência inesquecível! Durante uma semana, senti-me uma estudante da Nova School of Law, e graças ao carinhoso acolhimento dos estudantes que se disponibilizaram para organizar esta iniciativa, senti que estava em casa. Achei incrível o facto de alguns professores participarem neste projeto e transmitirem não só uma parte do seu conhecimento, mas também o espírito curioso e interessado desta universidade. Foi, sem dúvida, uma semana muito bem passada, que confirmou o meu interesse em direito e me convenceu a seguir este curso.” – Mariana Cruz, aluna de 12.º ano na E. S. Camilo Castelo Branco, Carnaxide

  • mãe, podemos deixar de comprar laranjas?

    mamã, consigo ouvir os pássaros lá fora e o sol já me disse olá, deves estar a acordar agora, eu não consigo dormir. o meu corpo sente se cansado, mas eu não consigo fechar olho. eu sempre fui horrível para adormecer, eu sei que sabes isso. sei que tu e o pai me lavavam às 3 da manhã a andar de carro, porque acham que ajudava e eu adormecia, mas assim que estacionavam acordava. mas agora é diferente, mãe. eu quero tanto dormir, estou farta de acordar no dia seguinte e não saber viver por causa da dor de cabeça. não sabia que ia ser assim. ninguém te dá um aviso e eu sei que tu também estás confusa. o pai pergunta me sobre o que falo nas consultas e eu não lhe quero dizer. vocês ficam com uma cara tão assustada e apavorada quando digo alguma coisa, não gosto de vos ver assim. não era suposto isto acontecer. era suposto não me acontecer a mim. era suposto eu ser a amiga que está sempre bem. e sei que quem se sente mal devia pedir ajuda e não se devia envergonhar disso, saúde mental devia deixar de ser tabu, mas aconteceu tudo tão rápido e de forma tão abrupta. ninguém me deu um aviso. ninguém me gritou nada . não me deram sinais nenhuns. não me notificaram nem nada. não me disseram: “vamos iniciar a fase preparatória da decisão”. encaminharam-me para o escuro, enquanto eu me distraia com a luz refletida na água da piscina. e o dinheiro… o dinheiro é vil. a quantidade de dinheiro gasta nisto. tu dizes-me: “nós só queremos que fiques bem. só te queremos ver feliz, amamos-te muito.” e eu sei disso, mãe. sei que queimavas metade da casa se isso significasse que eu poderia continuar no psicólogo e no psiquiatra e receber ajuda, mas custa-me saber que tens que causar um incêndio para eu acalmar a tempestade do meu cérebro. disseram-me que precisava disto para deixar de discutir comigo. li-lhe isto: “Penso em como estar a explicar para mim própria o processo da dança do meu cérebro fazer parte da dança do meu cérebro. Penso em como o que acabei de pensar poder ter sido uma redundância. Penso que tenho de parar de censurar os meus pensamentos. Penso em como ter pensado que tinha de parar de censurar os meus pensamentos censurou o meu pensamento que me chamou de redundante. Penso que não devo pensar em coisas muito complexas. Penso que o meu cérebro é incapaz de o fazer. Penso que o meu cérebro ser incapaz de o fazer não é necessariamente uma qualidade. Penso que o meu cérebro, às vezes, é cansativo de amar. Penso que para amar o meu cérebro, às vezes, é preciso dar-lhe um sedativo. Penso que tocava no Pedro e deixava-o tocar-me, porque amava o cérebro dele, da mesma forma sensual como amo palavras. Penso que, nos próximos dias, não volto a comer laranjas.“ a reação foi: medicação. só de ler isto agora o meu cérebro apita, que teia. espero que resulte tudo. tem que resultar. o primeiro dia de medicação foi horrível, deixou-me enjoada, com uma enxaqueca e são exatamente 4:44 (ontem fui dormir às 6, eu devia ter sono). nestes momentos, apetece-me desistir de tudo, do jur.nal, dos projetos, das merdas para o currículo, eu sou demasiado fraca para isso tudo, mamã. eu quero desenhar-te em bonecos palito outra vez. é isso que quero fazer com todas as horas do meu dia, enquanto bebo sumo de laranja joy de um copo com uma palhinha, daquelas que dá muitas voltas, como o copo da minnie que trouxemos da disney em Paris. não sei porque estou a escrever isto, sabes? acho que há uma espécie de desejo em querer ser salva no que escrevo. de que me venham buscar e me levem a passear. de que me levem para um sítio onde não tenho que ser bonita, onde não tenho que ter miolos e onde me delicio em doces nadas. a minha escrita grita desesperadamente por festinhas na cabeça e empatia. mas não interessa. a razão não interessa. estou farta de tentar perceber o porquê de tudo. desta vez, não quero metáforas, nem laranjas, nem coisa que o valha. não aqui. aqui não há isso. aqui só há cansaço para andar a chamar metáforas, apesar de eu não me mexer um centímetro. a laranja foi comida pelo cão da tia. não há noite. só há o sol que me queima a cara e me faz um escaldão no nariz.

  • Talvez o sentido da vida seja apenas viver, talvez o sentido da vida seja apenas…ser

    Vi recentemente um Tweet que quase poderia ser catalogado como humorístico, publicado por uma rapariga católica que num quase tom de pena, questionava como é que os ateus evitavam depressões e tristeza sendo que não tinham um propósito de vida por acreditarem que surgiram do acaso. Não pretendo neste texto explorar as razões e possíveis causas de depressão nas mais diferentes pessoas, até porque, mesmo que a crença em algo superior à existência humana atenue alguma depressão ou infelicidade na vida de alguém, ninguém fica deprimido por não acreditar em Deus. Venho, no entanto, tentar dar o meu ponto de vista sobre o que é, para o ex-católico convicto e (atualmente) ateu convicto que sou, o papel do ser humano na realidade em que vivemos. Fá-lo-ei, está claro, tentando não cair na esparrela de me achar suficientemente superior aos outros ao ponto de pensar que descobri o real sentido da vida. A religião Católica defende que o sentido da vida é Deus em si e a crença na existência do mesmo, uma vez que esta representa uma passagem para uma realidade espiritual ao lado deste ser. Os filósofos gregos defendiam que o sentido da vida era a prossecução dos desejos e vontades, o conhecimento e a sabedoria ou a virtude. Os Maias acreditavam que tinham sido criados para venerar os deuses, uma vez que os animais não podiam falar para concretizar essa vontade divina. Para os Hindus a vida tem como objetivo confirmar os quatro estágios da existência: Dharma, Artha, Kama e Moksha. Existem muitas teses sobre qual será o sentido da vida, sobre qual é a finalidade ou o objetivo de viver, mas todas elas têm algo em comum. É preciso viver. Os católicos precisam de viver para acreditar em Deus, os filósofos gregos precisavam de viver para satisfazer as suas vontades, ganhar conhecimento ou tornar-se virtuosos, os Maias precisavam de viver para venerar os seus Deuses e os Hindus precisam de viver para cumprir os quatro estágios da existência. Talvez o sentido da vida seja apenas viver, talvez o sentido da vida seja apenas…ser, independentemente de crenças, objetivos de vida, vontades ou desejos, tal como é com qualquer ser vivo. Um Ateu, ao não acreditar em divindades ou forças sobrenaturais superiores a si mesmo, contenta-se com a sua insignificância na vastidão do Universo, não tem necessidade de acreditar que foi criado por um motivo especial, mas acomoda-se no acaso em que foi criado. Não sinto que preciso de um motivo para ter sido criado para além da vontade dos meus pais, mas, tendo efetivamente sido criado e, já que existo, a finalidade dessa existência deve ser… viver. Será infeliz, como apelidam os religiosos, esta crença no acaso e na insignificância da vida humana? Penso que não. A “Aposta de Pascal” sugeria-nos que entre acreditar ou não na existência de Deus, mais valia escolher acreditar porque se Deus de facto existisse, teríamos um ganho infinito, no entanto, se não existisse, não tínhamos perdido nada. Poderia apresentar uma outra versão desta Aposta: entre acreditar ou não na insignificância da vida Humana, mais vale acreditar, uma vez que se insignificante se revelar, temos as expectativas preenchidas, e se de facto a vida humana for especial por criação de Deus, apenas temos as expectativas superadas e nunca quebradas, dado que se esse Deus é perfeito e omnipotente (como nos apresenta o Cristianismo), tem a capacidade de julgar a vida humana pelas suas ações e não é arrogante a ponto de condenar alguém por não crer em si. No entanto, não acho que acreditar em algo só porque essa crença nos traz benefícios seja o caminho mais correto, é até hipócrita e contrário, por exemplo, às doutrinas religiosas. Ao mesmo tempo é impossível acreditar falsamente em algo, porque uma crença é um fenómeno psicológico e mental involuntário que transmite convicção e segurança de ser, pelo que ou existe ou não existe em cada um, não se podendo revelar infeliz (tipo, bolas, fui criado por Deus). É desta forma que reitero que a crença é inerente a cada um, individualmente, e que é algo que nos diferencia enquanto pessoas, até porque, mesmo dentro da mesma religião há formas de acreditar completamente diferentes umas das outras. O maior facto que liga todos os seres-humanos é a sua existência como objetivo e finalidade dela mesma, alheia a fatores e disputas ideológicas, filosóficas ou religiosas, pelo que apenas a vida em si pode dar sentido a ela mesma através de cada um. Sendo assim, talvez o sentido da vida seja apenas viver, talvez o sentido da vida seja apenas…ser!

  • MARIA

    “Maria!” - gritei. Naquele dia estava diferente. Ela que passava a vida a tagarelar, tinha estado muito calada, e agora fugia-me. Pensei, enquanto a perseguia desesperadamente por aquele corredor, em contar-lhe tudo. Afinal, não tínhamos muito tempo. Pensei em como gostava de ser boa com despedidas. As lágrimas que eu teria poupado, lágrimas que dariam para encher um lago algures entre montanhas numa paisagem de um filme... A Maria finalmente parou, já perto da linha do comboio, e eu parei perto dela, ainda ofegante da corrida. “Por que é que vinhas a correr?” - perguntou-me ela, com o seu habitual sorriso sereno. “Maria, como assim? Porque ias a fugir de mim, tive de correr para te alcançar!” - respondi, confusa. A Maria riu-se calmamente, certamente reparando na minha cara ofendida com a pergunta. Explicou-me que não vinha a correr, aliás vinha a andar a passo lento pelo corredor, e parou assim que me ouviu chamá-la. Pensei que ela mentia… Ou isso ou eu estava a enlouquecer (também era possível). “Alguma vez sonhaste que ias a correr atrás de alguém, e independentemente do quão rápido corresses nunca conseguias alcançá-la? Foi isso. Devias estar a viver dentro desse sonho, mas na vida real. Foi a tua cabeça a brincar contigo.” - disse-me, rindo suavemente. Zanguei-me. Não queria acreditar nas palavras dela. Afinal, eu sabia bem que aquilo não era nenhum sonho, e vira com os meus próprios olhos a Maria a correr à minha frente uns minutos antes. Não eram invenções do meu cérebro cansado. Pensei que talvez ela estivesse a fazer aquilo para me irritar e me distrair da inevitável despedida que se aproximava. Ao fundo uma voz anunciava que faltavam cinco minutos para o comboio chegar. Nesse momento, não quis continuar zangada com ela. Convenci-me que cinco minutos chegavam perfeitamente para lhe contar tudo, para lhe dizer tudo o que faltava dizer… Ela continuava a olhar para mim com um sorriso calmo, que (como sempre) contrastava com a minha cara angustiada. Não parecia minimamente abalada com a nossa evidente falta de tempo. Ela, aliás, umas horas antes, tinha partido sem sequer se despedir de mim. Lembrei-me disso e tive vontade de lhe perguntar se não se arrependia. Mas não o fiz, porque sabia que estávamos a ficar sem tempo, e não o queria desperdiçar. Sempre fizera dos relógios meus inimigos, desde pequena. Para a Maria era ao contrário, era como se nem existissem relógios nenhuns no mundo. Ela era uma alma livre e, ao contrário de mim, vivia a vida pelas suas próprias regras. Tantas vezes ao longo dos anos eu desejara ser como a Maria… Não conseguia arranjar palavras para lhe dirigir naquele momento (ela continuava a fitar-me em silêncio), e prossegui perdida nos meus próprios pensamentos. No fundo eu tinha sorte, pois tinha a oportunidade de me despedir dela. Quantos de nós não chegam a despedir-se de quem amam… Imaginara aquela despedida vezes e vezes sem conta ao longo dos últimos meses, correndo-a na minha cabeça como um filme (uma curta-metragem). O que diríamos uma à outra, o momento em que nos abraçariamos, o lugar exato dos silêncios e dos risos, o presente que lhe levaria (e que agora me tinha esquecido em casa, com a pressa de sair atrás dela), até a forma de lhe acenar pela última vez. Mas agora que estávamos as duas ali, escolhemos ficar em silêncio, como se nada mais tivéssemos a dizer uma à outra. Logo eu, que ainda tinha tanto por lhe contar… O comboio aproximava-se rapidamente de nós. As lágrimas começaram a escorrer-me furiosamente pelo rosto. Continuava calada, paralisada. A Maria continuava em silêncio também, mas ainda a olhar-me de sorriso calmo na cara. Pegou nas suas malas e esperou que o comboio parasse e as portas abrissem. Depois aproximou-se da porta, olhou para trás e disse-me apenas “até já”, ainda com um sorriso na cara. Eu não disse nada, não me mexi um único centímetro. Parecia que qualquer ação que eu tomasse naquele momento seria a errada. À minha frente via apenas uma névoa, e fiquei presa ao chão até a porta se fechar, ela a olhar para mim e eu a olhar para ela. Até que a porta fechou e o comboio seguiu o seu caminho. Não sei se nessa altura a Maria chorou. Talvez sim, mas por outro lado, talvez não. Deixei o corpo cair no banco mais próximo, ainda lavada em lágrimas. Não entendia como é que alguém poderia ser tão bom nas despedidas. Será que ela não sentia as coisas? Talvez eu fosse exagerada e sentisse demais, mas também não era normal sentir tão pouco! Ou se calhar ela até sentia, mas não o sabia (queria?) demonstrar. A verdade é que as almas livres não se deixam (não podem deixar) prender às coisas, aos lugares, nem mesmo às pessoas; e eu no fundo sabia disso. Deixei-me ficar esparramada naquele banco na estação por mais alguns minutos, até as lágrimas secarem. Depois levantei-me e voltei para casa. A minha vida continuou e a da Maria certamente também. Nunca mais falei com ela, nunca mais tive novidades. Ao longo dos anos fui questionando se isso me trazia paz ou tristeza; nunca cheguei a perceber. A verdade é que a vida está cheia de “Marias”. Aliás, a vida é um vaivém de “Marias”, que ora entram ora saem da nossa vida. Às vezes despedimo-nos com toda a pompa e circunstância, outras vezes temos a oportunidade mas por um ou outro motivo não aproveitamos a despedida que nos é concedida pelo universo, e na maioria das vezes nem nos chegamos a despedir (ora porque não sabíamos que aquela seria a última vez, ora porque não quisemos aceitar que era um “adeus”). Também acho que quase nunca dizemos tudo o que tínhamos a dizer, nem fazemos tudo o que queríamos fazer. Hoje em dia nem sei se prefiro despedir-me ou não, mas sei que detesto fazê-lo. Detesto despedidas e recuso-me a lidar bem com elas. Mas agora percebo que naquele dia talvez estivesse mesmo a correr atrás da Maria quando ela não estava a fugir de mim... O medo de perdemos alguém (mesmo que não seja para sempre) faz-nos isso. Hoje, já quase esqueci o timbre da voz da Maria, as músicas que ela tocava sempre na guitarra, o cheiro característico dela, até mesmo as suas feições (não fossem as fotos, acho que já teria esquecido mesmo). A vida é isto, não é? Apaixonamo-nos pelas pessoas, damos-lhes tudo de nós por um certo período de tempo (podem ser anos, meses, até mesmo dias); e depois há um dia em que elas nos abandonam, como (quase) todos os outros. Mas a verdade é que, mesmo sabendo o que sei hoje sobre o rumo da minha história com a Maria, teria feito tudo igual. Teria sido amiga dela na mesma, ter-lhe-ia dado tudo de mim e deixado que ela me desse tudo dela, ter-me-ia apaixonado pela forma de ser dela mais uma vez. E teria sentido a dor da despedida da mesma forma. Porque a vida é isso, é um vaivém de pessoas… Pessoas: que bom motivo para estar viva. Conhecer e amar seres humanos, mesmo sabendo que um dia eles irão provavelmente partir (especialmente porque um dia eles irão provavelmente partir). A todas as minhas “Marias”, eu amo amar-vos mesmo sabendo que um dia poderei ter de me despedir (e mesmo que possivelmente nem chegue a haver uma despedida mas que a vida se encarregue dela). Vocês são a minha razão de viver. E amar-vos-ei para sempre, mesmo quando um dia já mal me lembre da vossa voz…

  • Casa

    A casa já não é casa. Quarto antigo já não me representa, já não consigo visualizar tão nitidamente as memórias daqui, só as do ano antes deste, quando nada era bom para mim. O que ainda significa quero trazer comigo. Vou para casa, para a casa onde vivo, (da família, às vezes com família) mais leve, porque agora posso escrever em paz, em silêncio e posso fazer tanto barulho. Não é barulho dentro da minha cabeça, é barulho de música com amigos, de debates irrelevantes sobre temas desinteressantes. É ter a chave da porta, é ter a resposabilidade de não perder a chave da porta, é tentar abrir pela primeira vez a porta e ter de pedir ajuda na porta do lado. Descer as escadas de manhã, entro no autocarro e quando digo bom dia, reparo que ainda não falei de manhã. E isso é tranquilo, e deixa-me feliz que depois disso não me vou "calar". Bom dia ao motorista de autocarro, bom dia a toda a gente na faculdade (porque tenho a mania de que conheço meio mundo). É o barulho que eu quero ecoar, mas que não tenho de ouvir cá dentro. É voltar para casa e merda... as chaves não estão na mala, vê o bolso, vá lá. Eis as chaves, já posso abrir sem que a vizinha do lado me queira ajudar, e vou encontrar a casa quente, de final de tarde, de volta a um silêncio bom, não é solidão, é independência. Conseguir abrir a porta por mim mesma, por mim.

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