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O dérbi dos dérbis: uma cidade pintada a dois tons

Na última semana o nosso país parou. Nos meios de comunicação e redes sociais de toda a espécie debatia-se este tema por horas a fio, conversas de café, de elevador, entre família e amigos passavam,  irremediavelmente, este assunto a pente fino. Não era o apagão, nem o início da campanha eleitoral. Era o dérbi decisivo - o dérbi do século, apelidado por alguns - jogado entre Benfica e Sporting no passado sábado, que não saía da cabeça nem das bocas dos mais ou menos entusiasta pela bola. Durante uma semana, Portugal, em particular a cidade de Lisboa, entrou numa antecipação asfixiante que se prolongou desde o fim da jornada anterior até às 17h59 do derradeiro dia. Arrisco-me a dizer que se tratou de um fenómeno sociológico de histeria coletiva, e, em simultâneo, um evento desportivo quase sem precedentes, uma vez que as duas equipas chegavam a este jogo em igualdade pontual quando apenas restavam duas jornadas para o fim do campeonato, com o bónus de que qualquer uma delas poderia sagrar-se campeã nacional naquele mesmo final de tarde. A acrescer à rivalidade histórica entre águia e leões, estava montado o cenário idílico para o pandemónio.

É um lugar comum do futebol, mas vou-me socorrer dele, citando uma frase atribuída ao treinador italiano Arrigo Sacchi: “O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes da vida”. Falo da minha experiência, ainda que apenas de um dos lados da barricada, de que naquele dia vivenciava-se um verdadeiro sentimento de comoção e união. Apesar dos problemas da mais diversa índole que assolam as gentes no seu dia-a-dia, naquela tarde fizeram questão de se deslocar ao estádio, inclusive muitas e muitas horas antes do apito inicial, e de apoiar aqueles rapazes que envergam camisolas vermelhas vivas. Estavam ali para algo maior do que elas mesmas, para algo que é um elemento de ligação imediata entre os mais díspares indivíduos. E não há como negá-lo, o futebol em Portugal é mais do que um simples desporto, particularmente entre os 3 Grandes, é um fenómeno económico e cultural, que move multidões e incendeia paixões.

Tanto antes, como já depois de a bola começar a rolar, para além da comoção, sentia-se um clima de esperança no ar, misturada com alguma ansiedade - aqueles 90 minutos representavam a batalha decisiva numa guerra que já vai longa. No pré-jogo, escutavam-se por toda a parte cânticos de incentivo à equipa, talvez uns decibéis acima do habitual, cachecóis e bandeiras eram agitados, talvez com mais genica do que noutras partidas. Milhares de pessoas concentraram-se nas imediações da Luz para receber a equipa. O ambiente frenético transferiu-se para o interior do estádio, e mesmo quando o resultado era desfavorável aos homens de vermelho, toda aquela multidão não se calou, compelindo os seus a lutar pelo resultado. E quando, aos 63 minutos, Kerem Aktürkoğlu, o Harry Potter turco, marcou o golo que deu a igualdade e que recolocou as águias na corrida para o título, o recinto ia colapsando. 

O empate a uma bola manteve-se até ao fim da partida, e, por conseguinte, também a igualdade pontual entre as duas formações, empurrando a decisão final para a última jornada. De nada valeram as estruturas montadas na rotunda do Marquês de Pombal, nem os cortes à circulação em pontos estratégicos da cidade. Porém, com este resultado, o Benfica deixou de depender apenas de si próprio para vencer o título. Resta a esperança de triunfar em Braga e esperar que o Sporting tropece frente ao Vitória. Quanto ao Sporting, face ao 1x0 alcançado no dérbi da primeira volta, está a uma vitória de alcançar o bicampeonato, feito que lhe escapa há 70 anos. The last dance, para ambas as equipas, joga-se, mais uma vez, no sábado pelas 18h. Ao início da noite, Lisboa ficará pintada com os tons de um destes clubes. 

Para quem sente falta de um dérbi lisboeta, ou para aqueles que não têm problemas ao nível do sistema cardiovascular ou do nervoso (ou ambos), não precisa de aguardar muito para ter repetição da dose. No dia 25 deste mês, o Estádio Nacional será colorido de vermelho e verde para a final da Taça de Portugal, a “prova rainha”. Águias e leões bem podem começar a emitir cheques-saúde aos seus adeptos, porque este final de época está impróprio para cardíacos.

 
 
 

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