Nova Alegoria - greve, outra vez.
- Magda Ferreira
- 23 hours ago
- 2 min read
Querida academia – a intelligentsia da NOVA decidiu que a greve é um embaraço para o Estado de Direito. Bem haja! A aceitação é o primeiro passo.
Baixem a cabeça por respeito. Porquê? Não sabem?
É que, humildemente, caminham entre nós constitucionalistas, brilhantes como diamantes, com a bravura de... questionar a própria questão!Cale-se a miséria. A desigualdade. A violência sistémica. Os senhores estão a falar agora!
E o que os senhores querem falar é precisamente sobre tudo aquilo que conquistámos no pós-Salazar: transportes públicos, habitação, educação, aborto, lei da paridade... O Estado tem é que ter (e ser!) um valor líquido — algo que se esprema facilmente entre punhos fechados.
Acabou-se o tempo em que o teu Direito prevalece sobre o meu direito de questioná-lo.Acabou-se o materialismo histórico que fundamenta a tua Constituição.Acabou-se tudo! (dizer chega é pouco chique entre nós, sociais-democratas)
Nasceu uma nova intelligentsia: uma que goza com os Paulos Otários da Escola Clássica enquanto se deita à sombra do eucalipto Cristas. Uma que brilha com a internacionalização do Direito — opcionalmente em inglês.
Gens humanista... contamos tão penosamente todos os palestinianos mortos, ansiando chegar ao número que preencha o tipo de genocídio. Os nossos códigos não se moldam às convicções partidárias do intérprete – por mera admissão do dogma, claro.Ilustre academia, Virgem Maria! Parteira de todos os especialistas de direito nos OCS privados! Rogai por nós...
Camaradas, até Jesus teve dúvidas na cruz...
E eu? Eu pensei que a NOVA Law, ali em Campolide, era uma instituição minimamente focada na adaptabilidade.Aliás — para quê a nova alcunha?
As estigmas pulsam nas mãos. E com o pus, borbulha o pressentimento de que esta tal "adaptabilidade" é guiada por interesses que pouco têm a ver com os dos alunos.
Por que razão os mesmos que escreveram leis de despejo, cortes salariais e privatizações são agora os que nos explicam o que é justiça, cidadania e Estado de Direito?Por que é que os mesmos professores que nos deram aulas online durante uma peste se recusam agora a fazê-lo por causa de um regulamento inflexível?Por que é que o professor que questiona a palavra “trabalhadores” nas aulas de Direito Constitucional é o mesmo que nega serviços mínimos no tribunal arbitral? É a razão da causa ou a causa da razão, senhores?
Não haverá algo mais português do que uma greve da CP? Talvez o segredo esteja no nome: grève des trains! Public transportation kaput! Prioridades? Nestes termos não se questionam.
Afinal, nós só estamos a pedir um link de zoom... e eles? Um salário que chegue ao fim do mês.
Honremos, pois, todos os académicos de honra.Porque no silêncio, a ideologia torna-se método.
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