Desde pequena, sempre quis o poder de parar o tempo
- Maria Leonor Lopes
- May 8
- 1 min read
A minha avó sempre teve a mania de tirar mil e um fotografias. Conservava tanto o mais importante aniversário como o mais banal jardim num flash. Preservava tanto a nossa família como meros desconhecidos num clique. O que era necessário era eternizar a essência de quem amava. Por fim, reunia todas as valorosas memórias num álbum meticulosamente escolhido.
Acho que esta foi a herança mais bonita que ela me deixou: o hábito de capturar quem amamos numa fotografia.
Conservei fotos das minhas preciosas bonecas, dos meus queridos brinquedos e das visitas de estudo, tal e qual a minha avó fazia, queria que aqueles momentos e aquelas pessoas ficassem assim para sempre. No entanto, o mágico flash não foi suficiente para resistir ao intransigente tempo que levou consigo tudo o que eu queria eternizar.
Quis manter as minhas barbies, mas já nem sei em que contentor de doações as abandonei.
Quis guardar a minha blusa favorita, mas as traças consumiram-na por completo.
Quis recordar para sempre as velas do meu sétimo aniversário, mas o sol derreteu-as
Quis eternizar a minha avó, mas já nem me lembro da sua voz.
Quis parar o tempo, mas não há nada mais certo do que a sua inexorável passagem.
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