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Desde pequena, sempre quis o poder de parar o tempo

A minha avó sempre teve a mania de tirar mil e um fotografias. Conservava tanto o mais importante aniversário como o mais banal jardim num flash. Preservava tanto a nossa família como meros desconhecidos num clique. O que era necessário era eternizar a essência de quem amava. Por fim, reunia todas as valorosas memórias num álbum meticulosamente escolhido.

Acho que esta foi a herança mais bonita que ela me deixou: o hábito de capturar quem amamos numa fotografia.

Conservei fotos das minhas preciosas bonecas, dos meus queridos brinquedos e das visitas de estudo, tal e qual a minha avó fazia, queria que aqueles momentos e aquelas pessoas ficassem assim para sempre. No entanto, o mágico flash não foi suficiente para resistir ao intransigente tempo que levou consigo tudo o que eu queria eternizar.

Quis manter as minhas barbies, mas já nem sei em que contentor de doações as abandonei.

Quis guardar a minha blusa favorita, mas as traças consumiram-na por completo. 

Quis recordar para sempre as velas do meu sétimo aniversário, mas o sol derreteu-as 

Quis eternizar a minha avó, mas já nem me lembro da sua voz.

Quis parar o tempo, mas não há nada mais certo do que a sua inexorável passagem.

 
 
 

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