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Por um ensino que ensine

As universidades, enquanto sistemas de ensino, são uma piada de mau gosto: eu tinha melhor ensino na creche.

Não nos enganemos, a Nova School of Law é das melhores faculdades do país: bem falada, bem vista, boas oportunidades para quem cá passa. Mas tudo isso deriva da sua reputação, uma mistura poderosa entre um bom marketing e excelentes conexões, fatores em que nada relevam para as condições pedagógicas da instituição.

Para os que cá chegam, ainda por cima, por sua escolha, talvez o maior choque, depois de tão bem ouvir falar da virtude do ensino superior, seja ser confrontado com o desinteresse em ensinar pela maior parte do corpo docente. Em contraste com os professores que os acompanharam por 12 anos, que tinham como objetivo principal, pois, ensinar, são agora confrontados com políticos, advogados societários, e investigadores, que encaram as aulas como um passatempo com o qual não vale a pena passar muito tempo. Se algum dos problemas que daqui surgem são óbvios, como atrasos em entregar exames e responder a mails, há um em particular, mais subtil, e muito mais insidioso: as aulas são uma seca do caralho.

 Chegando às primeiras aulas, os alunos categorizam as cadeiras rapidamente entre “vale a pena ir”, e “não vale a pena ir”. Muitas caem na segunda categoria, especialmente se não houver avaliação contínua. As opcionais em particular – na qual se incluem a boa parte das cadeiras multidisciplinares, marco da nossa instituição – tornam-se desertos a meio do semestre. Os estudantes estudam, por si só, por sebentas e manuais, em bibliotecas e salas de estudo, longe das aulas, longe dos professores. 

As propinas pagam-se pelo privilégio de fazer os exames.

“O futuro está na tua cabeça”, pois, porque é só com a nossa própria cabeça que podemos contar. 

O lado positivo, é que nada disto é irremediável. Há excelentes professores nesta faculdade – 3 ou 4, mas há – que, com as suas capacidades, me incutiram interesse e até paixão por várias áreas do Direito – o ideal platónico do que o ensino deveria ser. Eles têm a minha eterna gratidão, e preveniram-me de cair na completa descrença quanto à classe docente.

E, também felizmente, a Nova, enquanto faculdade, é perfeitamente banal nos seus problemas: a falta de um bom ensino no ensino superior assola todo o Portugal. Ouvimos histórias de terror de outros reinos, de absolutos tiranos, desde os que se orgulham de ensinar mal, se orgulham de não dar boas notas, se orgulham de assediar estudantes. Para as críticas que cá teço, seriam piores para outras instituições, mas acredito piamente que provêm das mesmas causas – uma falta de visão crítica quanto à pedagogia do ensino superior, em que os docentes são, primeiro doutores, e só muito depois, professores. 

A solução passa por um repensar do ensino superior. Passa por uma reformulação do sistema de tenure, que torna os catedráticos, para todos os efeitos, intocáveis. Passa por uma separação do investigador, do professor, criando um docente que seja versado na pedagogia. Passa pela inspeção, como se faz nos restantes níveis de ensino, das aulas, e da avaliação estatal da qualidade do ensino. 

Com estas, e outras opções, talvez, um dia, a universidade seja uma escola. 

Até lá, vemo-nos na biblioteca.

 
 
 

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