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- O Segundo Sexo
A Mulher Enquanto Figura Jurídica “Não se nasce mulher: torna-se.”- O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir Seria na Bíblia que a primeira mulher, de nome Eva, tomaria por todas as seguintes o peso da culpa de carregar em si o pecado original. De tal modo, ao consumir a insolência, turvaria o seu útero com a imoralidade que lhe enchera os seios, as ancas e os glúteos, e a tornára num vulto de desejo e de pecado. Por sua culpa, como ditam as escrituras de homens santificados perante Deus, seria a mãe de todas as que nasceram cingidas ao seu erro, erro esse que afirmava a necessidade de o controlar pelo desígnio daquele capaz de resistir ao pecado, a vítima da indecência primordial da mulher, o homem. Ora o homem assim fez. Criou o plano jurídico onde no centro se situou, do mesmo modo que se situara no centro do universo, e posicionou todos os restantes na sua órbita. A mulher, claro, uma lua em função dele, nunca um astro em função de si. É com esta conclusão, da mulher em relação ao homem, que Simone de Beauvoir formula a sua crítica à posição da mulher na história da humanidade. Na sua obra, “O Segundo Sexo”, ela começa por demonstrar o rídiculo de ter de escrever algo sobre o sexo feminino, como se fosse algo a analisar. Em contraste, o homem não sente a necessidade de se identificar, de estudar o seu papel na sociedade, de criticar o seu posicionamento. Isto, pois o homem é autoevidente. Nunca fora posta em causa a sua dignidade e o seu direito à autodeterminação. Ora, o homem não sente a necessidade de entender o que é ser homem, já que ser homem é ter a habilidade de se definir. A mulher, contudo, estuda não o que ela é, mas o que a sociedade a faz. De Beauvoir então proclama que a mulher não se define em relação a si, mas é definida pelo homem em relação a ele. Tomando uma posição hegeliana, pela dialética, ela demonstra a diferenciação primordial inerente à consciência humana: "A categoria do outro é tão primordial como a própria consciência, nas sociedades mais primitivas e nas mitologias mais antigas encontra-se a expressão da dualidade - o eu e o outro". Tal como para cada tese há uma antítese, para cada eu haverá um outro. Curiosamente, nenhum grupo começa por se estabelecer a si “sem que uma vez estabeleça o outro contra si próprio", ou dito de outro modo, sem criar primeiro a distinção entre ele e o outro. Isto é equiparável à filosofia de Freud, particularmente ao seu trabalho em torno do “líbido” ou “Eros” que junta indivíduos ditos iguais e os separa daqueles que se manifestam como ameaças dadas as suas diferenças (o amor tanto junta indivíduos comuns como os separa dos desiguais). Diz de Beauvoir que “a própria consciência tem uma hostilidade fundamental para com qualquer outra consciência, o sujeito só pode ser colocado em oposição”, gerando então a expressão binária homem-mulher. Dada a nítida subordinação da mulher ao homem, porque é que as mulheres não disputam a desigualdade da soberania masculina? Esta pergunta (que terá de ser contextualizada, pois o livro foi escrito em 1949) surge, para Beauvoir, de um reconhecimento da falta de contestação da posição da mulher pela própria. Há, claro, exemplos contrários, mas estes não são suficientes para contrariar a regra. Ela apresenta casos em que uma determinada categoria conseguiu dominar outra durante uma grande quantidade de tempo, mas em que muitas vezes este privilégio depende da desigualdade numérica dos subordinados (a maioria impõe a sua regra à minoria ou persegue-a). Tal foi o caso dos afro-americanos nos Estados Unidos da América (nomeadamente no sul) e dos judeus perseguidos durante a maioria da sua existência. As mulheres, no entanto, não são uma minoria (sendo agora até uma maioria). Ela nota também que nas relações de subordinação, o grupo dominante tende a viver sem o conhecimento da existência do subordinado até que, num determinado momento histórico, vem a descobri-lo e por esse meio dominá-lo. Aqui se encontra outra discrepância entre a relação homem-mulher e as relações supramencionadas pois estes sempre coexistiram. É então que de Beauvoir desenha o paralelo entre as mulheres e o proletariado. Ambos nunca formaram uma minoria ou uma unidade colectiva separada da espécie humana. Ela denota uma diferença, dizendo que o proletariado nem sempre existiu (o que, se expandirmos a nossa noção de dominação económica para além do âmbito da revolução industrial, deixa de ser o caso, tornando a classe baixa numa classe perpetuamente subordinada, equiparável então à mulher). De novo, verifica-se a não-ação feminina em contraste com o proletariado, que acabou por se revoltar (A revolta dos bolcheviques, as várias revoltas dos camponeses [aqui fora do âmbito da revolução industrial], a revolta do Haiti..). A razão de ser desta letargia é, de acordo com a autora, o facto das mulheres não terem os meios para se organizarem numa unidade (nós, o único, o eu), já que não têm passado, não têm história, não têm religião própria, não têm solidariedade de trabalho e interesse revolucionário como tem o proletariado, não se reúnem promiscuamente de modo a criar um sentimento de comunidade (como foi o caso dos trabalhadores judeus do gueto do sul de Denis), em vez disso vivem dispersas pelos homens ligadas através da sua residência, do seu trabalho doméstico e do condicionamento económico e social. Nunca estão ligadas a outras mulheres (se fazem parte da burguesia sentem-se solidárias com os homens dessa classe e não com as mulheres proletárias). A característica básica da mulher é ser “o outro” através da relação biológica (a reprodução) e da posição cultural (mãe, esposa, filha..). Simone de Beauvoir proclama então que "os dois sexos nunca partilham o mundo em igualdade mesmo quando os seus direitos são legalmente reconhecidos num costume abstracto”, chamando à atenção que mesmo com a reforma jurídica necessária, a mulher terá pela frente uma luta material que ultrapassará o suposto desenvolvimento do direito (igualdade formal e desigualdade material perpendicular). Ela termina o seu estudo com uma visão mais atual da estrutura da sociedade, onde as mulheres são agora capazes de penetrar o local de trabalho e a cultura, mas ao fazê-lo têm de concordar com partes de um determinado negócio. Têm, então, de se conformar a ser “o outro” perpetuamente, pois negar esta posição é renunciar a todas as vantagens que lhes são conferidas pela sua aliança com a casta superior. A mulher é comprada, o que leva a uma certa cumplicidade. É um caminho fácil em que se evita a tensão envolvida no empreendimento de uma existência autêntica (numa visão existencialista, como proclamou Jean Paul-Sartre, estamos condenados a ser livres, tendo então a escolha entre o caminho árduo que revela a liberdade ou o caminho cómodo que leva ao comodismo [daí o nome]). A escolha mantém-se a mesma desde 1949- cumplicidade (ratificando o estatuto desta divisão fundamental), ou revolta. Tivemos a oportunidade de ouvir relatos de várias mulheres cujo trabalho revolve em torno da violência de género e da desigualdade social. Havia em mim, subconscientemente, o desejo de ver caducadas as críticas de Simone de Beauvoir, de encontrar um mundo onde o desenvolvimento legislativo tivesse gerado efeitos reais, palpáveis, correspondentes a uma percepção da mulher num plano de igualdade e dignidade. E sim, há melhorias na esfera jurídica feminina: o estupro já não acarreta a pena acessória de indeminização pela maculação da mulher (ou criança) violada, atribuida a uma familia agora prejudicada na procura de pretendentes. Não, a mulher já não se vê tão nitidamente empacotada, objetificada. É mais subtil, hoje em dia. Ela pode deambular, votar, protestar o quanto quiser, mas basta que entre num tribunal para que seja clarificada a sua verdadeira posição no plano jurídico. Foram feitas 591 queixas às autoridades em 2020, 582 participações em 2019, e 487 em 2018. Em 2020, 32 vítimas mortais. Isto, surpreendente ou não, demonstra um pequeno pedaço, o mero topo do iceberg, pois a grande parte das vítimas de violência doméstica nunca chegam a apresentar queixa. Eis que me deparei com a verdade: as críticas de Simone de Beauvoir são hoje, mais do que nunca, pertinentes. Quando a violência é mascarada, quando a aparência da sociedade não revela subtileza da subordinação de um determinado grupo de pessoas, estas não entendem a iminência do perigo, acreditam os slogans de igualdade, progresso e justiça, sentando-se satisfeitas. Morrerão 30, 40, 50, e entre discursos orquestrados, homens e mulheres falarão de um mundo novo onde a violência de género é coisa do passado. Triste somos, filhas de Eva. Tristes seremos, até renunciarmos a culpa e expelirmos de nós o caroço da maçã.
- Ser mulher é...
Ser mulher é saber sorrir Mas não demais Para nenhum homem me perseguir Ser mulher é saber dizer não Mas um não mentiroso É para pura provocação Ser mulher é ser Bruce Lee Pois tenho de saber taekwondo Para me defender de ti Ser mulher é ser coruja Pois tenho de rodar a cabeça 180 Para não ser atacada na rua suja Ser mulher é ser companheiro Pois adoro ouvir assobios Daquele estranho trolha alheio Ser mulher é ser cozinheira Pois mulher que é mulher Cozinha para a família inteira Ser mulher é ficar feliz com o básico Pois um homem que respeita um não Só pode ser um ser mágico Ser mulher é não falar de sexo Pois um tópico desses É coisa para mulher sem nexo Ser mulher é falar baixinho Pois o único que levanta a voz É o nosso querido maridinho Não é mulher quem diz não Quem vos cospe na cara E não vos dá justificação Não é mulher quem anda de decote Quem dança porque quer E tá´-se a cagar para a vossa sorte Não é mulher quem tem raiva cega Quem te enfia na parede E pelos tomates te pega Não é mulher quem beija quem deseja Que se sente poderosa Quando o corpo bem maneja Não é mulher quem está fora do padrão de beleza Quem ama o seu corpo E vive a vida com destreza Não é mulher quem filhos escolhe não criar Que prefere ser o seu centro De todas as coisas para amar Não é mulher quem é independente Que anda pelo o mundo alegre Sem precisar de pretendente Não é mulher quem sobre o seu corpo delibera Que não deseja ouvir homens Enquanto a morte a espera Não é mulher quem não quer ser sexualizada Quem quer poder ser sexual Sem ser objetificada Não é mulher quem faz isto então Pois minhas amigas digo Quem faz, é um mulherão Contudo, minto... Isto é tudo lindo, mas tem no fundo um senão Pois um mulherão é o que quer Seja tradicional ou fugindo ao padrão Um mulherão tem orgulho em quem é E como leva a vida é a sua decisão Mas uma coisa é certa Nós tamos-nos a cagar para a vossa opinião!
- A Ilusão do Sucesso
Eu não nasci com nenhum talento especial. Não sei cantar, não sou boa a fazer qualquer tipo de desporto, desenho pior do que muitas crianças no infantário e, Deus me livre, tenho zero noção do que é ritmo. A sério, não vão dançar comigo, é desastroso. Quando era mais nova, o comentário era sempre o mesmo: “a sua filha é muito respondona” ou “tem uma personalidade muito vincada para a idade”, a minha mãe simplesmente sorria, ela sabia a peça que tinha em casa; ao que parecia o meu talento era mesmo esse: tinha uma língua afiada e nunca parava calada. Claramente tinha faltado às aulas de etiqueta onde aprendiamos a respeitar o patriarcado. Oh não, mais uma mulher com opiniões… Toda a minha vida me perguntaram o que queria ser quando fosse grande, acho que ninguém queria mesmo saber a resposta, porque, momentos antes de sequer conseguir abrir a boca, já estavam a proferir a típica frase “sabes que com essas notas podes ser o que quiseres, até podes ser médica!”. Eu nunca quis ser médica, quem me conhece sabe o desastre que isso seria (desastrada é capaz de ser o meu nome do meio…); nunca me imaginei a percorrer os corredores de um hospital numa qualquer bata branca, nem sentada numa cadeira no topo de uma torre monstruosa (aquela típica imagem de sucesso, algo saído de Suits ), nunca quis ter um quadro no Louvre, nem cantar na 02 Arena, muito menos aparecer na NFL… A minha resposta foi sempre a mesma (e é a que, ao dia de hoje, continuo a dar): eu quero ter orgulho de mim própria (o que quer que isso signifique). Essa sempre foi a minha ideia de sucesso; sempre quis ser a pessoa que olha para si e para o seu percurso e vê mais felicidade do que arrependimentos; a pessoa que vê mais conquistas do que derrotas; a pessoa que vê uma vida, não apenas uma existência… Eu não quero ter o meu nome no jornal, muito menos sonho em aparecer na televisão; realisticamente, se a minha professora de português do 12.º ano ainda se lembrar de mim, já fico feliz… Porém, os meus ambíguos planos de vida, levantam uma dúvida ainda mais pertinente: quando é que eu sei que posso estar orgulhosa? Quando é que posso começar a sentir este orgulho? Como é que ele se parece? O que tenho vindo a descobrir, nos meus escassos anos de existência, é que, muito como a felicidade, também este orgulho que aspiro sentir é relativo, pois ele não é permanente, não é uma sombra que nos persegue, nem uma luz escondida numa sala escura, é mais como aquela tristeza que nos assoberba espontaneamente. É algo como partilhar um olhar prolongado com a nossa crush ; é apaixonante, é reconfortante e é excitante, mas, ao mesmo tempo, deixa milhares de dúvidas e, muitas vezes, transforma o nosso cérebro numa maré ainda mais irrequieta. Produz, irremediavelmente, aquele angustiante “E agora?” Vive em nós e abana-nos assim que sentimos aquele espetro de orgulho no que fizemos. Está na altura de avançar para algo mais, para algo maior. Isto já está feito, já saboreaste a tua vitória, siga para a próxima. Será que alguma vez vou ter orgulho em mim própria se estou constantemente à procura de outra coisa? Será que vou satisfazer o único desejo que sempre tive? Será que isso sequer é possível? Será que faz sentido pensar assim? Sempre me disseram que eu podia ser o que quisesse, que eu podia ser rica (como se o dinheiro valesse alguma coisa), que eu podia ter uma mansão (como se eu precisasse de mais do que uma cama), que eu podia ter um Ferrari (como se eu sequer soubesse conduzir), que eu podia ir à Lua (como se eu sequer conhecesse 1/100 da Terra), que eu podia deter os mais altos cargos nas mais prestigiadas firmas. Como se o sucesso fosse algo unilateral que só pode ser expresso em coisas supérfluas palpáveis ou através de validação social estéril? Sinceramente, nunca quis nada disso. Afinal de contas de que serve um currículo cheio com um coração vazio? Será que perdemos tanto tempo em busca de uma versão fantasia de sucesso que, ao longo do caminho, nos acabamos por perder a nós próprios? Que deixamos de entender o quanto já alcançamos e tudo o que já fizemos? Que os nossos esforços se tornam míseras etapas num percurso que nem questionamos? Que o orgulho se torna acessório e dispensável, algo que cada vez dura menos e é mais tênue, como se um meio débil para um fim inatingível; algo que temos de sentir para avançar ao próximo passo e não algo que merecemos por ter dado até a mais ínfima parte do nosso ser por algo que parecia ser o certo? Perseguimos durante tantos anos o fato à medida e os sapatos engraxados que perdemos noção de que éramos mais inteiros quando tínhamos blazer baratos e meias rotas. Talvez o sucesso não se esconda no quanto temos, mas no quanto conseguimos fazer com isso - novamente, de nada serve uma conta recheada se não temos onde gastar esse dinheiro. Eu não sei onde vou parar, não sei o que vou acabar por fazer, nem por quanto tempo, só sei que quero ter orgulho de o estar a fazer no preciso momento em que esse pensamento me assombrar, quer isso seja no tão esperado destino final ou no meio de uma estrada sem fim. Então, afinal, quando é que eu posso sentir esse orgulho? Sempre que saiba que estou onde devo estar. (Hoje é um desses dias). Os meus pais sempre me disseram que eu podia apenas ser feliz, se calhar gosto mais dessa versão. Olhem à vossa volta. Estão felizes neste momento? Sentem-se concretizados? Talvez esse seja o maior sucesso de todos…
- Isabel - 20 anos
Sofia Dias Sei que a aura da liberdade masculina pertence à maioria das representações do mundo e da nossa experiência humana dentro dele. As mulheres habituam-se a traduzi-la em algo que podem reconhecer. Temos dicionários, deciframo-la e evitamos partes que não entendemos e, assim, participamos, lideramos. Correr pelo caminho sinuoso e tentar encontrar poder e liberdade na minha feminilidade (e não numa versão distorcida de masculinidade) com a Isabel a liderar este núcleo é como beber café gelado e se eu adoro café gelado! Decidimos fazer-te esta surpresa, porque o Dia Internacional da Mulher também é sobre reconhecer e valorizar as mulheres com quem partilhamos existires. Isabel, eu implorava ao bartender, com mais cara de mau no bairro alto, para poder beber da tua inconformidade, coragem, trabalho e dedicação. Sei que atravessavas a cidade toda de saltos altos por algo em que acreditas. És determinada quando tens de o ser e a rainha da festa quando te dão uma boa música. Foste dos melhores abraços que tive, bebia um shot de pastel de nata quando quisesses e não precisas de me chamar para ir contigo ao bar esquerdista, eu já lá estou à tua espera para apontarmos para o cartaz do 25 de abril e darmos gritinhos. Adoro-te! Muitos muitos parabéns! (a Isabel com corte de cabelo roxo está a chorar neste momento). Hugo Mendes Desejar um feliz aniversário a esta Mulher (sim, com M grande) é celebrar os 20 anos de uma pessoa que comecei por não gostar, e que, aos bocadinhos, fez crescer em mim uma enorme admiração. Uma mulher diligente, inconformada, talentosa, inteligente e confiante. Uma mulher que luta pelo que quer e pelo que acredita como se não houvesse amanhã. Que escreve tão bem que parece que suga pensamentos emaranhados e os materializa em textos magníficos. Com esta mulher, todos temos algo a aprender. Tenho orgulho em poder dizer que faço parte de uma direção encabeçada por ti, Isabel. Esta Mulher é o significado deste dia. Nada faz mais sentido que isso. Sofia Paulino A Deusa (que bem podia pertencer à mitologia nórdica), mais vulgarmente conhecida por amiga inigualável e Diretora do Jur.nal, Isabel, é a revolucionária do meu coração. Neste dia tão especial, desejo-te muitos parabéns, sua estrela. Que continues a iluminar os meus dias com a tua sabedoria e a pasmar-me por não gostares de chocolate. Adoro-te. Leonor Ferreira Querida Isabel, Chegaram os teus sweet 20's!! Desde encontrares shots a 1 euro e vires, plena e girlboss, para a faculdade, depois de uma noitada, ao teu sorriso inconfundível e aos teus "ai, pai" e "que precário", o que se pode pedir mais numa amiga?! Que, nos teus 20, continues a ser carefree e a muitos mais anos desta amizade!! Aliás, sorry not sorry, mas parece-me adequado constatar que a nossa amizade é como o liberalismo, funciona! 😈 António Subtil Numa altura em que nenhum dos presentes sabia fechar a porta dos súcleos, tivemos de chamar a Isabel. Chegou numa marcha de salto alto, vestida para matar como de costume, pegou na chave e virou-se para a porta. Tornar-me-ia testemunha de seguida dos atos da mais violenta natureza alguma vez imaginada, capaz de triunfar sobre todas as guerras passadas, presentes e futuras: Isabel ganhou acabou por ganhar ao fim de um combo de 20 pancadas, mas a Porta foi um oponente deveras formidável. No final da batalha, não só obtive uma incontrolável ereção, como ganhei uma profunda admiração pela destreza e força da rainha das rainhas das mulheres, Isabel Lundbo Murta Costa. Catarina Silva Esforço-me por não celebrar o Dia da Mulher apenas no espaço de um dia. Um dia nunca seria suficiente para contemplar a estrada percorrida por todas as mulheres, ou o troço que continua lentamente a ser construído (pena as obras públicas demorarem tanto tempo, enfim!). É bom, no entanto, ter este humilde lembrete. Neste dia, olho e orgulho-me das mulheres que conheci ao longo da minha vida. E hoje destacamos uma em particular. Acho bem. Antes de ser crescida (ou cumprir o critério da altura para andar na montanha-russa) sempre quis aparecer na revista do panda, no hall of fame dos aniversários. Nunca aconteceu, por isso contento-me em participar neste espaço para comemorar alguém especial. Uma mulher cuja voz, ou o clique claque dos saltos, se ouve ao longe, ainda no corredor, e que não tem medo de dar a sua opinião. Parabéns, Isabel! Sofia Marques Querida Isabel, Para além de Diretora do Jur.nal e, definitivamente, uma das melhores estudantes que já passou pela NOVA SOL, és também minha madrinha, uma mulher que eu admiro infinitamente e uma fiel amiga com quem posso sempre contar. De facto, foste uma peça importante para a minha integração na faculdade. Contigo descobri a euforia da vida universitária e aprendi que, quando estamos juntas, a diversão não tem limites. Mas não quero que fiques a pensar que contribuíste apenas para a parte “não séria” da minha vida académica, porque, na verdade, és uma boa influência. Infelizmente, apenas me permitem dedicar-te um parágrafo, o que não me deixa uma grande margem de manobra para colocar em palavras o que sinto por ti, portanto, assim me despeço e te desejo um FELIZ ANIVERSÁRIO!! Beijos infinitos da tua querida afilhada, Sofia Marques. Rafael Guerra Parabéns, Isabel. Por vezes tenho a suspeita de que, na verdade, foram os dias que nos escolheram a nós para nos terem – e tu, agora do alto (pequeno) dos teus vinte anos, que viu a luz pela primeira vez num Dia da Mulher, és das principais provas que me corroboram as suspeitas. Não é que todas as mulheres precisem de ser fortes para o serem (ainda que não tenha conhecido até hoje nenhuma que não o seja, à sua maneira), mas a verdade é que se fosses a única mulher que eu conhecia, teria expectativas extremamente irrealistas e disparatadas para aquilo que devo esperar de uma. Uma mulher que talvez já tenha nascido de punho direito em riste, que é brilhante em tudo o que faz, que é absolutamente indomável nas saídas à noite, e que em cima disto tudo ainda tem um negócio familiar para manter aos fins de semana na sua terra natal (e a que eu inexplicavelmente ainda não fui). És inesgotavelmente amiga e cordial com todos os que vêm de fora; irrepreensivelmente justa e frontal com os de dentro. És a definição de Mulher de Ferro; Super-Mulher; o que queiras chamar. A tua resiliência e perseverança perante todos os contratempos da vida são uma inspiração para mim, e para todos os que te rodeiam. Que celebres muitos mais, e que continues a honrar todos os anos (e todos os dias), o dia em que tu nasceste. Ana Sofia Fernandes Todas as mulheres, mesmo com os seus defeitos ou feitios, são maravilhosas. Mas sempre existiram mulheres que fascinaram: mulheres ousadas, mas que mantêm a calma, mulheres sem medo de dar as suas opiniões, mas também de aquelas, que no momento certo sabem o poder do silêncio, mulheres com corações de ouro e ideias fixas, mulheres com sentido de humor e pés assentes na terra. Essa mulher que me deslumbra e inspira, és tu, Isabel! A tua beleza está na tua essência, nesse teu brilho nos olhos, e nesse sorriso diário. Adoro-te por seres tudo isto... por seres simplesmente tu! Inês Graça A Isabel é como o café do bar da faculdade, depois de uma noite mal dormida, ou uma brisa fresca num dia quente. É como um doce saboroso depois do jantar, ou o cheiro a pão fresco pela manhã. Até se pode passar sem qualquer um deles, mas a vida não teria metade do seu encanto. Tiago Monni Isabel, muitos parabéns pelo dia de hoje. Engraçado que os teus anos calharam justamente num dia muito representativo para ti e para todas as mulheres. Mas talvez essa correspondência esteja errada ou se calhar, incompleta (não me batam, mulheres da Nova SOL), pois não és apenas um exemplo para as mulheres, mas um modelo para qualquer um. És responsável, inteligente e interessante, além de ser uma notável líder e diretora deste ilustre jornal. É verdade que podes responder alguém da maneira mais seca em uma manhã estressada e tentar ao máximo parecer ser a "mulher durona", que talvez atualmente também seja um estereótipo, mas és tão boa que consegues superá-lo. Mal sabem que por trás escondes uma especial e distintiva sensibilidade. Fico feliz em ser teu amigo e, mais uma vez, parabéns! Maria Leonor Simão Acho que o universo tem formas bonitas de funcionar, e acho que não é coincidência que tenhas nascido no dia da mulher. Para mim, és a personificação deste dia. Não tenho dúvidas de que vais ter sempre alguém a olhar para ti como um exemplo do que todas devemos ser. Nem tenho dúvidas de que a tua voz vai sempre ser um farol do trabalho árduo, compaixão, e muita muita força para navios que se perdem num mundo que é cruel, difícil e injusto para as mulheres. A mim, inspiras-me diariamente a ser a minha melhor versão. E quando, daqui a uns anos, ouvir falar de ti no telejornal - tenho a certeza de que vai acontecer - vou ficar orgulhosa por te teres cruzado no meu caminho, e por me teres ensinado que, se quisermos realmente, podemos mudar o mundo. Obrigada ❤️ Carolina Correia Impossível pensar em mulheres livres, empoderadas e que têm tudo para conquistar o mundo, sem pensar em ti, Isabel. O jur.nal tem (demasiada) sorte em te ter como diretora, e eu tenho ainda mais sorte em te ter como uma das minhas melhores amigas. Obrigada por seres um exemplo (às vezes daquilo que NÃO fazer, é certo…) e uma companheira e certeza na minha vida. Somos “prova provada” de as melhores amizades serem as inesperadas, e mal posso esperar por ver por onde a vida nos vai levar (no que depender de mim, sempre juntinhas). Adoro-te de Campolide a Odivelas ao Lumiar ao Marquês ao Restelo a Oeiras ao Bairro Alto, sra. diretora! Riccardo Noronha Esta história não podia ser senão de luta. Luta, pelos que não têm voz, especialmente dos que nunca a puderam ter. Luz ao fundo do túnel para quem nunca a conseguiu ver, procuras com todas as tuas forças dar voz a quem nunca a teve, a todos por igual e com a mesma intensidade. Por todos te bates, como se fosse tua a batalha, por todos lutaste como se a ti te impedissem de viver. No fim, restarão na memória de todos essas tuas lutas, essas tuas conquistas e todo o labor que nestas empenhaste sobretudo. Que tenhas sempre essa força de vontade e fidelidade a quem és, que nunca pares de lutar por aquilo em que acreditas, por mais que discordemos, continua sempre a ser um foco de esperança e fé para quem estas perdeu ou não tem, continua a iluminar o mundo para que as outras pessoas possam ver o quão bonito ele realmente é. Parabéns Isabel, um enorme obrigado por tudo, do fundo do coração. Do caloirinho impertinente <3 Bernardo Pinto É um orgulho poder chamar madrinha a esta pessoa fantástica e que tanto admiro. Uma das primeiras doutoras que conheci na faculdade e que certamente irei levar para a vida. Parabéns, camarada! Que tenhas um dia muito feliz como mereces. Beijinhos do teu afilhado liberal :) PARABÉNS, ISABEL!!
- A revolta das queridas e doces Tágides
Invadem a nossa casa. Sem qualquer convite, arrombam qualquer entrada para o alto mar. Desbravam as ondas que nos embalam ao luar. Contra os ventos que ondulam o cabelo, tomam o nosso mar como seu. Nem o sol quente que lhes sussurra, nem as tempestades que gritam para recuarem, pois não é o seu lar. Medo, esse assombra-os apenas quando o silêncio impera. Durante a noite, tocamos com a cauda na casca do navio. Madeira áspera e desgastada pelas rochas dos caminhos. Na proa, está a nossa imagem gravada a lenha. Há pouca iluminação no convés. Todos dormem. O nosso canto acompanha o tilintar do sino, no mastro principal, que chama os marujos. Acordam todos como se de uma emergência se tratasse. Nem pelas estrelas estavam iluminados, apenas pela luz do farol que está na popa. Aproximam-se freneticamente da borda para nos contemplarem. Vislumbram-nos como se nós fossemos deuses, com letra minúscula, pois somos parte mulher, e como tal somos vistas como fracas. Somos frágeis, ingénuas e puras, é assim que nos veem. Fáceis de manipular para satisfazer as suas necessidades carnais. Somos a aparente Ilha dos Amores, que aparece como troféu. Aguardamos que estes homens imundos nos tomem e que nos mostrem o que é a satisfação, é o que desejam. Contudo, a verdade é algo muito diferente. Não constituímos estas criaturas dóceis que carecem de dominância, mas sim, seres concebidos na dor, robustas e livres, que não devem submissão a nenhum homem. Ignoram e caem nos encantos físicos e vocais. Não existe cera que os proteja, nem cordas que os amarrem aos mastros. Vão caindo à água como âncoras. Tocam-nos na pele gelada e escamada. Deslumbrados com a magnitude das caudas lustrosas, tentam percorrer a mão ao longo do tronco nu. Procuram o derradeiro beijo, à medida que vamos descendo. Pensam que encontraremos a cidade perdida, onde nos amaremos eternamente. A realidade é que os arrastamos para as profundezas, onde o azul Marinho se confunde com a escuridão das fossas. Só lá existem navios a apodrecer repletos de restos mortais. Quando começam a ficar aflitos pela falta de ar, despertam da hipnose em que eles próprios se submeteram (não vale a pena referir que os enfeitiçámos). E num ápice, já se querem ver livres dos nossos braços, onde procuraram momentos antes afogar-se. Estremecem com aflição. Tentam, inutilmente, alcançar a superfície. As bolhas de ar dividem-se, são tantas que embelezam o mar. Cada vez mais fundo, olham-nos de uma forma diferente, já não somos formosas, mas o pesadelo em carne e osso. Um sorriso era o que estes homens queriam para os confortar, mas nós sorrimos, eles é que não gostam do tamanho dos nossos dentes. Nos seus últimos suspiros, sentem o seu corpo a ser devorado. Fragmentam-se em pedaços tão redutores como a sua existência. Depois de toda a alvoroçada, os ossos desaparecem no fundo. E o barco? Esse terá o mesmo fim. Muitos deles não queriam obter satisfação carnal connosco, apenas monetária, vender-nos em praça pública. Eles tornar-se-iam Imortais, com o legado dos “sobreviventes”, que resistiram e, ainda, trouxeram “peixe” para casa. São homens os alvos destas “glórias”. Nas histórias que rumam a terra, seremos sempre as vilãs, quando, apenas queríamos salvaguardar-nos. Podem dizer que é macabro. Talvez seja, mas mesmo isto não os impede de nos subestimarem. NOTA: desenho elaborado pela autora do texto
- A perenidade dela
As tuas pestanas ficam pretas com o rímel. Pensas que o produto que estás a usar foi criado pelo mercado da cosmética para homens velhos e ricos ficarem ainda mais ricos, conseguindo capital à custa das tuas inseguranças. Estás a apoiar, a perpetuar um padrão de beleza inatingível que te faz odiar a ti própr- FODA-SE, ESPETEI ESTA MERDA NO OLHO, ESTOU TODA BORRADA. Sais de casa. Vais a um espetáculo de stand up de uma comediante para dizer que apoias a arte feminina e que as mulheres também sabem contar piadas. Ficas o espetáculo inteiro a pensar na merda da mensagem não respondida. Sais do Coliseu e és assediada. Sentes repulsa e sabes que se tivesses passado pelo velho bêbado e ele não te tivesse mostrado a pila, então era porque não estavas bonita o suficiente. Mas, hoje não é o caso, por isso relaxas. Vais para casa, o telemóvel não brilha.Vês pornografia degradante na internet. Vens-te. Sentes-te pesada. Cheia de fluidos vaginais e da repulsa de teres acabado de contribuir para uma das maiores indústrias que te retiram dignidade e que utilizam o teu corpo como produto de troca. O teu não. O de outras. Sentes-te uma má feminista, achas que não és digna para receber tal rótulo. Pensas que apesar de bateres com o pé quando te dizem que as mulheres só pensam em homens, passas o tempo a pensar na mensagem não respondida e no Tomás que toca guitarra numa banda alternativa qualquer e que finge ler o que escreves sobre feminismo, fazendo comentários ridículos e superficiais que gritam “merda, eu quero é foder-te e por esta altura vai ter que ser sexo aborrecido, estas gajas hoje em dia acham-se todas emancipadas…”. Queres que o Tomás se foda, mas que te foda a ti. Cospes no feminismo liberal por te ter ensinado a narrativa da mulher moderna empoderada pelo sexo casual, que acaba por ser uma indireta reprodução do padrão de comportamento masculino. Imediatamente a seguir, sentes culpa por achares que te aproveitas de teoria de género para evitares um compromisso moral com o que sentes. Não tens sono. Vais escrever. Escreves sobre ti. Preocupa-te se o intelectualizar dos teus sentimentos não passa de um mecanismo em que expões as tuas emoções, de forma a vitimizares-te relativamente às situações que as suscitaram. Achas que o que escreves é fundamentalmente feio. Que as frases não são lidas como um poema, mas sim como se alguém se estivesse a engasgar e depois as cuspisse e tossisse uma e outra vez. Pensas que as tuas palavras são, quer filosoficamente quer politicamente, inúteis. Ninguém vai pegar nelas, por muito mais que te digam que as amam. Sabes que namorarem com as tuas palavras não interessa, o amor não te entrega voz num prato e tu estás esfomeada. Desprezas homens que escrevem horrivelmente e que utilizam a escrita para dizer merdas embebidas em heroísmo e tristeza regurgitada, merdas que, no fim, irão ser endeusificadas e tu sempre foste um pouco iconoclasta. São geniais porque vêm de onde vêm, porque são ditas por quem as diz. A genialidade da arte, pensas, tem o seu início e o seu fim nas mãos de quem a faz. A arte masculina faz-te bocejar. Sabes que amaldiçoar a arte masculina não é propriamente útil para o movimento político feminista, mas, sinceramente, agora queres que o movimento se foda por uns momentos. Estás-te a lixar para o artista amedrontado e desejas que o homem branco e heterossexual seja amputado. Olhas para o telemóvel e ele não brilha.
- A mulher do filme
A mulher do filme romântico é alta, é magra, tem um bom emprego, trabalha 6 horas por dia e tem tempo para ela, 2 filhos, 1 cão e 1 marido perfeito que até cozinha, vejam bem. E a mulher real? A mulher com estrias e celulite, a mulher que tem de usar uma cadeira para chegar ao armário mais alto da cozinha, a mulher que trabalha 9 horas, num emprego precário, a mulher que tem 2 empregos para sustentar os filhos, a mulher que não consegue ter filhos, a mulher que não quer ter filhos, a mulher violentada pelo marido, a mulher que come demais para preencher um vazio, a mulher que não come. A mulher lésbica, a mulher trans, a mulher negra, a minha avó, a vossa mãe, as sufragistas. Ai, como eu amo a mulher. Todas as mulheres, as perfeitas e as nem sempre perfeitas, as da maquilhagem meio borrada, ou com o cabelo em desalinho. A mulher é a criatura mais bela, mais sensível, mas desenganem-se porque ela também é a mais forte. Ela é tempestade, ela é furacão, é a calma e é compaixão. Se eu pudesse mudar o mundo, colocava-o nas mãos de uma mulher, de uma e de todas e aí sim seria um filme romântico. Seria um mundo melhor.
- Entrevista ao Escritório de Advogados Morais Leitão
ZS : O que acham do modelo de ensino das faculdades de Direito portuguesas e europeias? É um modelo de ensino que gostam? A minha faculdade (Nova School of Law) é muito voltada para o internacional, por isso é que perguntei sobre as europeias. ML : Para a Morais Leitão, independentemente das características formais do modelo, voltadas desde Bolonha para um sentido tendencialmente em duas fases, licenciatura mais generalista e mestrado de especialização, conta muito a cultura própria de cada instituição. Isto é: formalmente, os modelos são semelhantes, variando porventura em conteúdos abordados, procedimentos de avaliação e prioridades; no entanto, é no conjunto das normas informais que formam uma instituição que vemos maiores diferenças. O estilo ou forma de estar dos professores e alunos, o tipo de aulas, a curiosidade e o ambiente de debate que se forma, a maneira como se apresentam as matérias e se trabalha a capacidade de raciocínio e crítica; tudo isto é fundamental no desenvolvimento do espírito do futuro jurista ou advogado. As faculdades têm um papel central tanto a ensinar as hardskills que são as áreas e disciplinas do Direito, enquanto ciência social, com os seus fundamentos e lógicas próprios como a promover as soft skills , as características mais individuais que moldam a maneira de trabalhar o direito. ZS : O que esperam de um aluno recém-licenciado em Direito que queira trabalhar convosco? ML : Esperamos simultaneamente muito e pouco. Muito, no sentido em que deve ser, evidentemente, um bom aluno, com boas bases de direito, mas também uma boa pessoa, na sua integridade humana. Cooperante, curioso, ético, rigoroso e exigente nas diferentes esferas da vida e com princípios bem vincados. Pouco, no sentido em que obviamente aprendeu Direito na faculdade, mas aprenderá agora a exercer numa sociedade de advogados, vocacionada para a aplicação prática e concreta do Direito ao serviço das necessidades e estratégias de um cliente, e, portanto, a nossa expectativa é de alguém sem experiência considerável, que vem para um processo de formação. ZS : Como funciona uma das maiores firmas do país? Em que áreas estão mais focados? MS : Na Morais Leitão, funciona com muito trabalho e um fortíssimo espírito de equipa. Estão formalmente divididos em duas grandes estruturas: tem a estrutura profissional, integrada por cerca de 270 advogados, e a estrutura de gestão, com mais de cem profissionais. Os advogados integram nove departamentos de áreas jurídicas, organizando-se em equipas. Com grande frequência, trabalham em matérias multidisciplinares, com colegas de outras equipas e jurisdições. Existe uma enorme preocupação com o rigor no trabalho jurídico, é uma vaidade que tem e que, bem ou mal, passa por todos: prestar, todos os dias, o melhor serviço jurídico possível mesmo que nunca tenha sido feito, mesmo que rompa com modelos e paradigmas. Isto implica estudo, conhecimento, e capacidade de ouvir o outro, para ir ao seu encontro. É uma Sociedade full-service , que cobre todas as áreas do Direito. Indo ao encontro do cliente, trabalhando em novos setores muitas vezes ainda por regular ou com normativos ainda pouco trabalhados. ZS : E, por último, quais são as principais áreas do Direito e como acham que será o Direito no futuro? ML : O Direito acompanha a sociedade em que vivemos e os seus desenvolvimentos. Assim, acompanha a digitalização e todos os temas conexos, da inteligência artificial ao blockchain , dos serviços digitais aos mercados digitais, dos tech contracts às novas questões de propriedade intelectual ou de cibersegurança, com mudanças tanto na forma, por serem temas novos, como na maneira de prestar serviços, com novas ferramentas e culturas de trabalho. Acompanha as alterações na economia, com princípios de ESG, com novas formas de financiamento e de investimento, com novas empresas e novas regras de concorrência e de regulação. Acompanha as mudanças no trabalho, com a hibridização e desmaterialização dos postos de trabalho. Acompanha as mudanças no setor público, com diferenças relevantes no Estado e na forma como este interage. Qualquer pessoa que tente prever o futuro no Direito vai falhar tanto quanto qualquer pessoa que tente imaginar a nossa vida daqui a vinte anos. E, por isso, a sociedade tem uma mensagem importante: a curiosidade e a abertura são centrais para quem queira exercer Direito. Temos de aprender com o mundo e tentar, em troca, dar-lhe alguma ordem e previsibilidade com o nosso trabalho. NOTA FINAL DO AUTOR: "Queria agradecer à sociedade por terem dado esta entrevista!"
- Função do Irregular e do Absurdo f(x)=x?
Eu cambaleio na corda bamba da descontinuidade, mergulho naquilo que me é núpero e solto gargalhadas enquanto nado. Eu não fui feita para me derreter e evaporar por algo/alguém segundo a fórmula: f(x) = ax. Eu fui feita para dançar, para andar em folias, para jogar à apanhada, para brincar, para saltar sem olhar para o chão. “Sofia, é hoje que vamos ver o mar?” “É sim, Inês!” “É que estavas sempre a prometer e a marcar para outro dia, não tinha grandes esperanças de que fosse hoje!” “É hoje, sim. Prepara o fato de banho!” Eu fui feita para levar alguém a ir ver o mar e para depois desaparecer nas ondas e deixar que elas me levem diretamente a outro alvo da minha estima. Esta última revela-se fatalmente efémera, levando à repetição de todo o processo. Tudo interstícios, tudo aproximações, tudo função do irregular e do absurdo: (f(x) = x? Perfeitamente insaciada com as possibilidades de casacos que posso vestir e amar. Talvez o que há de mais cíclico em mim, o que há de mais rotineiro seja a minha capacidade de dizer adeus, de me despedir docemente daquilo que antes recebi com um esperançoso “olá”. Nutre-se, então, um luto por algo que não chegou a ser corpóreo, mas que foi algo suficientemente intenso para o meu peito mergulhar de cabeça, bater com o queixo no fundo da piscina e afogar-se em saudade. Sei que para existir um corte de uma sequência tem de existir sempre algo que lhe suceda. A minha continuidade encontra a sua cama na descontinuidade, ama-a e faz amor com ela vezes e vezes seguidas. Se tal não acontecesse, não existiria nenhuma das duas no meu universo metafísico. Só existiria Branco. Silêncio. Vazio. Se não existir algo para substituir o que lhe antecedeu; se a minha mente já não conseguir inventar mais; se eu não me puder multiplicar e eliminar o que anteriormente fui; se já não conseguir saborear este espaço entre eu e mim mesma; se a minha alma já não me procurar; se eu já não andar a monte - o meu cérebro deixará de cheirar a laranjas e de ter uma música. Ficará sem cheiro. O silêncio permanente vai fazer com que pare de estar tonta com tantas voltas dadas no carrossel da metafísica. Vai matar as insónias e fazer com que eu, finalmente, consiga adormecer sobre mim mesma.
- O jogo das cadeiras da Universidade Nova de Lisboa
Reza a lenda, num mundo muito longínquo, havia um rei com uma promessa de melhorar o seu reino. Basicamente, o Rei tinha muitos terrenos, e não sabia o que com eles haveria de fazer. No entanto, sabia uma coisa: queria mudar todos os seus habitantes de terreno, não vão eles enjoar-se do sítio onde vivem. O mundo muito longínquo, é o nosso. E o Rei, a Universidade Nova de Lisboa. O ano era 2018, e seria inaugurada a nova Nova School of Business and Economics – com as espectativas de ser “a Escola do Futuro”, citando o então diretor, Daniel Traça, numa entrevista à Dinheiro Vivo. Começava assim o jogo das cadeiras, sendo o primeiro jogador a NOVA SBE, que trocou Campolide por Carcavelos, leiloando aos investidores privados partes da Faculdade, aproveitando-se do ego de quem as pode pagar, apenas para poder dizer que têm uma biblioteca, ou um auditório em seu nome. No entanto, havia um problema óbvio: apesar da SBE ter mudado de ares e de se ter instalado a dois passos da praia, deixou para trás a Residência Alfredo de Sousa que, ironia das ironias, tem o seu nome em homenagem ao fundador da Faculdade de Economia. Mas, nada temam, porque foi instalada uma residência à porta do campus! No entanto, na tradução da SBE para o inglês, o Social em Alojamento Social caiu, e os estudantes terão de arrendar quartos que começam nos 700€ mensais, uma subida de 56% comparada com o quarto mais caro na residência de ação social. A alternativa será manterem-se junto ao seu fundador, na Residência de Campolide ou na Residência do Lumiar, ambas a sensivelmente uma hora e meia da “ Nova way of life ”. Na verdade, não foi só o Alojamento que perdeu o Social, mas a Alimentação também viu o seu removido, quando os surfistas largaram a citadina Cantina de Campolide, e abraçaram a zona de restauração da SBE, onde dificilmente se come por 2,79€. Infelizmente, a SBE não seria caso isolado, e em 2019 é anunciada a migração das Faculdades, perdão das Schools , de Medicina e Direito: a Nova Medical School e a Nova School of Law , que largam os estetoscópios e a Constituição para agarrarem a prancha de surf. A primeira, larga o velho Campo Santana, que nunca teve condições para uma Universidade, quanto mais de medicina, e emigra para Cascais, numa parceria com – pasmem-se – a CUF Saúde. Mas não há problema, como o que não faltam por aí são médicos que querem vir para o SNS, podemos dispensar os graduados da NMS. Só que não. Mais uma Nova School que abandona a sua casa. Esperemos ao menos que seja uma mudança para o melhor, tendo em conta que viver numa casa degradada e que só garantiu refeições de ação social há menos tempo do que eu me encontro na universidade, não é fácil. A segunda. Ai, a segunda. Foi em setembro que passei a chamar a Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa a minha casa. E foi em setembro que me apercebi que, como tudo na vida, não era um mar de rosas. Atualmente, estamos sentados na nossa cadeira. O nosso campus. A nossa casa. Mas, no entanto, a nossa casa não é perfeita. A nossa casa tem 3 salas de aulas, uma sala de audiências e 2 anfiteatros. Para 5 turmas de licenciatura – duas de primeiro ano, e uma de cada um dos anos restantes – 9 mestrados e um doutoramento. Isto significa que muitas das vezes, as aulas são dadas nas Salas do Colégio Almada Negreiros, e mesmo que nos digam que dele fazemos parte, é como irmos jantar à casa do vizinho e ele dar-nos umas pantufas e dizer-nos para nos sentirmos em casa. Temos uma sala de estudo, em que não cabe um quarto de uma turma e que está fechada aos fins de semana, tendo que recorrer a outros espaços na cidade. No entanto, aqui venho eu reclamar da nossa ida, da nossa participação no jogo das cadeiras, já que querem à força toda que me torne um advogado-surfista. Levanto vários problemas com esta mudança, mas acho que o mais relevante é a incerteza. Esta mudança foi anunciada em 2019. Para referência, os colegas que começaram a Licenciatura em Direito em 2019 serão finalistas no próximo ano letivo. É duro começar um curso sem saber se irei ou não receber o meu diploma salpicado com a água do mar. Surge então outra coisa que me incomoda: não quero estudar numa faculdade que leiloa os seus espaços, trocando homenagens que poderiam ser simbólicas e significativas, por investidores que ajudaram a pagar os espaços. Não estou interessado em ter aulas no PLMJ Auditorium ou estudar na Abreu Library . Terei tempo para o fazer se lá trabalhar. Não me interessa uma faculdade que seja trendy , e que tenha supermercados cashless , e que tenha restaurantes maravilhosos, se não houver um prato de ação social, se não houver habitação estudantil social e viável. Não me interessa a mim, e não interessa os estudantes. Ao longo deste artigo, referi já 2 cadeiras abandonadas, ou que o serão, na zona de jogo de Campolide. No entanto, 3 restam: a NOVA IMS, Information and Management School , a Reitoria da Universidade, e a Residência Alfredo de Sousa. Está na hora de falarmos sobre quem as vai ocupar. No dia 27 de abril de 2021, na Cerimónia do Campus de Campolide, foi anunciada a venda dos edifícios da NOVA FCSH: surpreendentemente a única que não tem nome pomposo em inglês. Ora, com a venda destes espaços, foi anunciada a migração da FCSH para Campolide, que começou a ser feita gradualmente. Até à data, duas das 14 licenciaturas trocaram as torres de Berna pelo castelinho amarelo: Sociologia e Ciência Política e Relações Internacionais, assim como alguns centros de investigação, a biblioteca e parte da Divisão Académica. Tenho de dar o devido mérito à FCSH, por disponibilizar um shuttle gratuito Berna – Campolide, mas é o único mérito que lhe posso dar, porque se levantam inúmeras questões com esta mudança, sendo a principal a mesma da Faculdade de Direito: ninguém sabe se vai acabar o curso na Avenida de Berna, ou no Campus de Campolide. Ou até outras, como a distância física do seu próprio campus, afastados da Associação de Estudantes e da restante Faculdade. Entretanto, nessa mesma cerimónia que há pouco referi, foram anunciados 2 novos empreendimentos no Campus: a expansão da NOVA IMS, e a construção de mais um edifício para albergar a NOVA FCSH, que começariam a ser construídos no ano passado, mas que até agora não passaram apenas de um oásis. Espero firmemente que, pelo menos, esta construção contemple uma sala de estudo 24 horas para reposição do “Aquário”, que foi retirado aos estudantes através de uma decisão autocrática de lá instalar a NOVA Desporto. Não há problema: não estudam, mas façam um pilates ou uma sessão de yoga e isso passa. A Reitoria. Alojada agora no que é o maior edifício do Campus de Campolide, também abandonará a sua cadeira. Faz as malas, e emigra para o Campo Santana, deixado vazio pela Medical School . Mas, então, o que se faz com o edifício da Reitoria? Um edifício relativamente novo, completamente desadequado para ser utilizado como um espaço de ensino, que conta apenas com 2 auditórios fantásticos, exceto para os alunos, que só os usufruem em eventos da sua Faculdade, a não ser que os aluguem. Esperemos para ver. Agora, se há coisa positiva que saiu destas mudanças, foi que ficando em Campolide ou migrando para Carcavelos, estarei longe do local onde estas decisões estão a ser tomadas. Não nos devemos esquecer da NOVA que reside do outro lado do Tejo, a NOVA FCT, ou agora NOVA SST: NOVA School of Science and Technology . Choca-me francamente que não tenha sido sugerida a mudança desta que é a maior Faculdade da UNL. Mas não foi esquecida, por azar. Ainda que se mantenha do outro lado da ponte, há planos para a NOVA FCT, e são no mínimo ambiciosos, no máximo irrealistas. Numa entrevista para o Diário de Notícias, o Vice-Reitor para a área do desenvolvimento José Ferreira Machado, explicou todo este jogo de cadeiras, intitulado Campi 21, e contou ao público a “cidade” que planeia construir na Caparica. Surgiu a ideia de montar um empreendimento monstruoso, que segundo o vice-reitor, “é 18% superior à área de intervenção da Expo"98”. O problema, lá está, é que este empreendimento pode servir os interesses da Universidade, mas não serve o dos estudantes. Na mesma entrevista, o vice-reitor refere que já estão a intervir na FCT, criando uma residência de estudantes – não de ação social, porque já têm uma com 300 camas para 8000 alunos e, portanto, podem concessionar a privados e fazer mais lucro, obrigando os estudantes a, das duas uma: a batalhar por uma cama da Residência Fraústo da Silva, ou a abrir mais o bolso, que já está aberto o suficiente, para poderem ter uma habitação digna que não seja em cascos de rolha. A outra construção que já foi efetuada foi: não uma biblioteca, não uma maior cantina, mas um supermercado de grande superfície. Assim se vê, mais uma vez, as prioridades da Universidade. Termina assim o jogo das cadeiras da UNL. Quando comecei a pesquisar sobre estas mudanças, fui ficando progressivamente mais confuso com toda estas trocas. E cada vez mais, estou mais ciente que quem está a fazer estas mudanças também começa a ficar confuso com os espaços que estão ou não ocupados, e onde é que ainda pode mandar construir. Universidade que me és tão querida, ouve o teu staff e os teus docentes, mas principalmente: ouve os teus estudantes. Pergunta, e ouve as respostas. Ninguém, absolutamente ninguém, te vai responder que estes planos de construção desenfreada são a solução. Enquanto instituição pública, serve os estudantes e não os investidores. Podem ser eles que te pagam as contas, mas não são eles que te dão os rankings de que tanto te orgulhas. Enquanto aluno, não te peço muito. Peço o mínimo. Habitação social e digna, alimentação social e decente, e condições boas para estudar. Dizer que vamos inovar, e que vamos expandir, e que nos vamos tornar uma das maiores Universidades do país, pode ficar muito bonito nas redes sociais. Convém é anunciar que a inovação não vem associada à melhoria do bem-estar dos estudantes. Quando se dá um passo maior que a perna, 10 em cada 10 vezes não corre bem. No início do meu percurso Universitário, na NOVA Direito, disseram-me que iria tornar-me um “agente de mudança”. Se as mudanças são estas, está na hora de repensar a minha formação.
- A Epifania do Perdão
Em uma tarde, os lençóis sacudiram o ar puro em uma noite, a água quente avermelhou a minha pele em uma manhã, os pássaros me parabenizaram. Em fotografias, ficaram minhas cicatrizes em cores, desmancharam-se no preto asfalto em cafés, diluíra-los em leite em sangue, centrifugaram a plaquetas. em um dia, os feches de luz congelaram-se em uma semana, os montes de areia foram sequestrados pelas marés em um mês, o astigmatismo evolui-se para a miopia em um ano, espetei-me no campo e vesti-me de espantalho em teu jardim. Em uma epifania, por relevância tamanha que não expressa-se em específico, ou em uma respiração -que liberta o peito e destrói o diafragma- Eu, você, nós, não parecíamos mais gigantes, ou inalcançáveis e miseráveis que imploram por um feijão peculiar. Em um momento, éramos um único nó, um nó com duas cores opostas, unidas a um só rasgo de pano branco. Éramos o infungível, por vinho das veias, éramos insolúveis como óleo e água, éramos nós, como sempre fomos, e sempre seremos. Em um belo dia, ao nascer da manhã, dilacerei meus fios e você, estava ali. Assim, deitei-me a chorar nas penas da almofada, no vestido em rasgos e na poeira do ar. Por isso, me disse então, nada havia a não ser abraçar a estrela que a ti, tem andando por voltas e retrocessos. Aos raios que borbulhas ardentes já ocasionaram em minha pele, angustiadas em constantes erupções, agora mornos, como um par de braços, me adormecem em noites de trovão. Ao caso de, beber por dias só cafés gelados e tigelas vazias, sei que estará lá, todas as manhãs, até os fins dos teus dias.
- As borboletas da independência
Não sei se posso começar por dizer neste texto que este já foi, (ou continua a ser), um desejo que todos nós temos. Eu pelo menos sei que o tive e tudo devido a um daqueles livros teen , que li com os meus doze anos. Esse tal livro, que já nem me recordo do nome, foi o livro que despertou em mim a vontade de estudar no estrangeiro. Eu sei, provavelmente estavam à espera de um sonho maior. É um facto que todos nós conhecemos pelo menos uma pessoa que já o fez, é algo que atualmente até se pode considerar bastante banal, mas era o meu sonho. E os sonhos não se medem aos palmos. Passaram os anos e, infelizmente, nunca surgiu oportunidade para conseguir concretizar este sonho, que me seguiu até ao final do ensino secundário. Mas, para minha surpresa, nesse mesmo ano, em junho de 2022, recebi a notícia que ia embarcar numa aventura que LITERALMENTE mudou a minha vida. Sim, acabei de usar a típica frase cliché do “mudou a minha vida”, mas podem ter a certeza de que não há melhor frase para definir esta viagem. Dia 10 de julho de 2022, embarquei, completamente sozinha, num voo com destino a Dublin. Dublin era apenas o ponto de paragem, pois o destino final era o Aeroporto Internacional de Los Angeles. Tal como qualquer outra pessoa com dezoito anos, estava a sentir um misto incrível de sentimentos, que intercalavam do nervosismo ao excitamento total. Com uma mala quase maior que eu (levei o meu armário inteiro, nunca se sabe que outfit podemos acabar por desperdiçar), cheguei ao aeroporto de Lisboa confiante de que tudo ia correr bem. Porque não haveria? Que eu saiba não estou em nenhum filme da Bridget Jones, achava eu... Começou logo tudo mal quando aquele típico senhor do check-in que, apesar de serem seis da manhã, estava com uma cara que já não conseguia aturar mais ninguém, como se tivesse chegado ao limite do seu dia – aquela cara que todos já fizemos a olhar para a matéria de constitucional - e me despachou apressadamente, a dizer que estava a haver um erro qualquer informático e que apenas me conseguia dar um dos dois bilhetes de embarque – “Basta mostrar isto quando chegar a Dublin e vai servir” – está bem, está. Assim que passei a alfândega senti algo que nunca tinha sentido em toda a minha vida. Um sentimento de liberdade e independência inexplicável, senti que era capaz de fazer tudo. Se me permitirem, até direi que senti borboletas na barriga, não daquelas parvas que sentimos quando temos catorze e gostamos de alguém, mas sim de umas fortes, que nos fazem olhar o mundo com outros olhos e que são sempre tão fáceis de recordar, as borboletas da independência. Mas, retomando, quando aterrei em Dublin, acordada pelo piloto e os seus suspiros de boca colada ao microfone – nada satisfatórios, completamente contrários a um vídeo de ASMR - num chinês disfarçado de inglês (porque irlandês não se percebe de todo, não se deixem enganar pelos Peaky Blinders ), fui informada que o voo se atrasou e que tinha apenas vinte minutos para apanhar o voo para Los Angeles, num aeroporto que não conhecia. Corri pela minha vida e quando cheguei, fiz o que o senhor do check-in me tinha dito. Podem adivinhar o que aconteceu a seguir. Já que estamos numa época de exames, vai como uma resposta de escolha múltipla: a) apanhei o voo e fui feliz para Los Angeles; b) não me deixaram passar, porque não tinha o bilhete de embarque, perdi o voo, mendiguei uma noite no aeroporto de Dublin sozinha e tive que comprar um voo para o Canadá (única maneira de chegar a LA no dia a seguir). Acho que a resposta é óbvia. Mas, não sinto que me possa queixar. Foi uma das melhores experiências da minha vida, um mês na Califórnia, especialmente em Santa Bárbara (cidade que me ficou muito querida), com grandes amizades e amigos de todo o mundo, não esquecendo também, da oportunidade de frequentar aquelas casas de banho tecnológicas, em Vancouver, em que se levanta o rabo e o autoclismo puxa sozinho (ansiosa que essas cheguem a Portugal, uma maravilha). Hoje sei duas coisas, e provavelmente não mais, que já estamos a chegar ao fim de Janeiro e me estou a transformar num autêntico Sócrates: se não fosse por esta viagem, em que as minhas borboletas da independência voaram tão alto, eu estaria muito mais desesperada com esta mudança de estudante deslocada; e que, se um dia quiserem uma tour completíssima ao aeroporto de Dublin, eu posso dá-la de bom grado. Por isso já sabem, se algum dia sentirem uma necessidade enorme de se tornarem mais independentes, façam uma viagem estilo Bridget Jones, prometo que resulta. P.S.: Fui burlada no Canadá e fiquei sem malas durante uma semana nos Estados Unidos (imaginem o pânico, tinha lá o meu armário).
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