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- Patriotismo e Projeção de Portugal no Estrangeiro
O patriotismo é um valor muito importante, sobretudo na conjuntura pandémica em que nos encontramos: é um dos maiores desafios da história portuguesa que exige uma resposta sólida para mitigarmos os efeitos do Covid-19. Nesse sentido, os valores patrióticos nunca foram tão importantes, uma vez que todos temos de estar mobilizados e preparados para agirmos enquanto comunidade e sociedade para respondermos a este grande desafio de desígnio nacional. Ser patriota é ser um agente de exaltação de valores nacionais, é estar preocupado com os interesses de Portugal. Contudo, o patriotismo tem caído em desuso; todos ficam muito admirados quando alguém diz que Portugal é uma grande nação e que a maior riqueza de Portugal é o povo português, sendo cada um dos portugueses de extrema importância para a construção de um Portugal melhor. Numa ótica mais económica, considero cada vez mais que o patriotismo é crucial para a atração de investimento direto estrangeiro para Portugal: ser patriota é promover a imagem de Portugal no estrangeiro para que, desse modo, as empresas invistam mais em Portugal e encontrem condições aqui que não encontram noutros países. Portugal foi a primeira nação num pequeno recanto da Europa a ser independente e foi pioneiro na descoberta de novas terras, e é por isso que o povo lusitano tem que olhar para si mesmo sem vergonhas e de uma maneira positiva, abraçando o orgulho em ser português e não procurando o que vem do estrangeiro! Termino dizendo que, quem não é patriota, não é português nem tem a coragem lusitana para ultrapassar estes grandes desafios da nossa vida em sociedade. Enfim, faço um apelo para que todos os portugueses sejam patriotas e vivam intensamente esses valores na sua vida convidando outros a serem patriotas. Viva Portugal! Viva o povo português!
- Análise literário-jurídica de "O Processo", de Franz Kafka
“Alguém deve ter difamado Joseph K. pois que numa linda manhã foi preso sem ter cometido qualquer crime.” Assim se principia uma das obras mais perturbadoras e mórbidas do século XX, O Processo , de Franz Kafka. O enredo centra-se em Joseph K., funcionário de alta patente num banco que, precisamente no dia do seu trigésimo aniversário, acorda com dois oficiais de justiça no seu quarto, pretendendo detê-lo. Sublinhe-se que, ao longo de toda a trama, K. é mantido em liberdade e leva sua vida “normalmente”, com a única diferença de que agora ele carrega um pesado fardo: um processo incógnito quanto aos motivos e respetivos pormenores. Conforme o processo se vai desenrolando, Joseph apresenta-se em audiências sem fim em lugares velhos e claustrofóbicos. Pode, neste ponto, estabelecer-se uma analogia entre o espaço físico e mental: os corredores intermináveis e escuros simbolizam a busca incessante pela prova de inocência, a luta pela retidão da justiça, a “procura de luz” num processo completamente descabido. É até comparável ao paradigma da justiça dos nossos dias, onde muitas vezes é desconhecido o que ocorre durante um processo, ficando meio que às “cegas”, dependendo somente do poder judicial. Esta obra oferece uma análise rica em detalhes jurídicos, na medida em que se verifica a violação flagrante de inúmeros princípios jurídicos basilares, tais como o do devido processo legal (dado que K. não teve direito a um processo justo e equitativo, começando pela própria acusação, que nem sequer foi fundamentada) e o princípio da publicidade (tanto K., quanto o seu advogado não sabiam o porquê da sua detenção. Existe uma total falta de conhecimento sobre os processos deste tribunal, como se ele não fosse, de facto, público). Outro princípio ignorado do começo ao fim deste romance é o princípio da duração razoável do processo. A morte de K. – ponto mais marcante da obra - é precisamente despoletada pela demora absurda do processo. O desespero, o medo a roçar o desvario foram simplesmente demasiado para um protagonista exausto e desorientado. Ademais, é importante salientar que ninguém sabia o real motivo da detenção, nem foi dada a Joseph a chance de se defender, o que atualmente feriria o princípio do contraditório. Para finalizar, obviamente que a presunção de inocência também foi menosprezada, o que configura um gravíssimo atentado não só aos direitos individuais de K., mas também aos direitos humanos em geral, dado que esta seria, segundo a obra, uma prática recorrente. Todas estas transgressões contrariam veementemente a lógica da segurança jurídica, um dos pilares da convivência social harmoniosa. Está claro que n’ O processo escrito por Kafka, não há segurança jurídica em nenhuma dessas vertentes, uma vez que um processo arbitrário jamais poderá conduzir à paz social. Paralelamente ao processo kafkiano, na atualidade também se continuam a apontar, em alguns países, as mesmas críticas: a insatisfação generalizada com o poder judiciário, a sua morosidade e ineficácia, a falta de participação dos próprios envolvidos no conflito (o que começa a ser, contudo, gradualmente minimizado pelas formas de justiça participativa, como a mediação e os tribunais arbitrais) e a utilização de vocabulário dificilmente compreensível pelo comum dos cidadãos no meio jurídico (apreciação esta que deve ser abordada cautelosamente, pois o Direito, enquanto campo científico-jurídico do conhecimento, necessita de uma linguagem específica e detalhada que lhe faça jus). “Tal como um cão!”. A frase derradeira de Joseph K. resume perfeitamente o tratamento que este recebeu durante todo o processo, não enquanto Ser Humano, respeitando todos os seus direitos individuais e fundamentais, mas como um animal, desprovido de qualquer racionalidade e dignidade. O modo como decorreu todo o procedimento torna percetível a fragilidade do Homem diante da mecanização e do desenrolar dos processos sociais nos quais estamos inseridos, em que os valores e a vida do Ser Humano são relegados a um plano inferior. Assim, a alienação toma conta da razão e da sensibilidade humanas, pois a consciência fica totalmente dominada por essas fragilidades e imposições da sociedade. O sujeito é desmedidamente mais preso quando a sua própria consciência está amordaçada. O pior controlo e repressão são aquelas que se exercem na mente, onde a esperança não consegue mais alcançar. Ser controlado por dentro, no seu próprio espírito, é a maior das brutalidades – Joseph parece ter perdido a capacidade de sentir-se um ser livre, logo, estaria automaticamente morto sob quaisquer que fossem as circunstâncias. A trama de O Processo é nitidamente claustrofóbica e obscura, passível de variadas sub-interpretações. Destarte, destaca-se a aceção de que o processo pode até ser encarado como a própria vida, na qual muitos não sabem (ou não entendem) o verdadeiro motivo da sua existência e que, perante as situações desesperantes que enfrentam dia após dia, a única coisa que almejam é o fim desse mesmo “processo”. Podem também, neste ponto, tecer-se algumas considerações paradoxais: se a lei é supostamente uma expressão de justiça que transcende todos os casos humanos individuais por ser de caráter genérico, mas é, de facto, injusta precisamente por ser tão abstrata, porque é alheia ao caso humano individual, como podemos chegar a um meio-termo ideal? Outro paradoxo interessante é que, embora a lei seja abstrata e descrita como estando acima de todos os assuntos humanos, a verdade é que ela satura e escrutina esses mesmos temas humanos, ou seja, ninguém pode, de qualquer das formas, escapar às “garras da lei.” Em suma, O Processo não deve ser entendido no seu mero sentido literal, apenas como uma história de um indivíduo que fica “preso” num processo judicial. O livro vai muito além disso. É uma alegoria da situação do homem decadente, do seu estado de culpa permanente e irremediável (mesmo sendo, na realidade, inocente) num mundo onde toda a esperança foi esmagada.
- Jardins Abandonados
Impaciência. Angústia. Isolamento. Medo. Dúvida. Desordem. Desacordo. Caos. Como nos deixamos embrulhar nesta sequência degradante e perfeitamente previsível, adivinhável em cada passo que lhe confere continuidade? Como fomos tão imprudentes ao avistar a sua vinda? Como sobrevivemos à sua efetiva presença na nossa rotina? Como lhe arrancaremos pelas raízes a essência maligna, que nos invade como se não passássemos de jardins por cultivar, sem propósito, deixados ao abandono. Como nos transformámos em tal coisa? Precisamos de respirar para viver e, para alguns, essa será a nossa maior fraqueza. Pois, se mergulhamos por muito tempo, se voarmos demasiado alto, ou se simplesmente nos taparem o nariz e a boca, morremos. Ainda assim, acredito que se tenham esquecido, esses que consideram a respiração uma fraqueza superior do contacto humano. Precisamos e buscamos, de uma forma um tanto exaustiva, o contacto uns com os outros. E criaram-se gestos que legitimam esta necessidade comum, criaram-se tradições que trazem a convivência para a rotina, sem que pareça suspeito. Buscam-se, nos lugares mais estranhos, estímulos de sentimentos, através da compra do toque, da companhia, do ser-se querido e desejado por alguém. Atravessam-se os caminhos mais controversos como meio de alcançar ideais que, por vermos nos outros, desejamos para nós. No fim, muitos trocam a função do caminho, um simples meio, para que este passe a ser o fim. Submetem-se aos meios duvidosos, encurralando-se nas emboscadas das fraquezas alheias, que os impedem de prosseguir. Vivem vazios e ocos por dentro. São fraquezas destas que nos tornam dependentes uns dos outros. Subtilmente dependentes, numa situação comum quotidiana, mas não em estado de crise. Que coisa controversa, estarmos unidos por uma fraqueza comum, que tanto nos beneficia, como é capaz de nos trazer os piores venenos, que nós próprios plantámos, noutro canto qualquer do mundo, conferindo uma eterna verdade à lei de causa e efeito. O ar, que tanto nos liga, espalha as notícias e nos dá vida, também ele nos sufoca, contamina e aprisiona. O isolamento, que tanto nos dá tempo, nos permite introspeção, também ele nos leva à loucura, nos enche de saudades, nos tira a mobilidade, nos põe em causa. Na natureza, os animais estão divididos por reinos, filos, classes, ordens, famílias, géneros e espécies. Sabemos que, aqueles que pertencem à mesma espécie, se reproduzem entre si, caçam e migram em grupo, entre outras atividades coletivas. Verificamos que o espírito de liderança, de companheirismo e compromisso são muito mais efetivos nos animais irracionais do que na nossa espécie. E porquê? Talvez porque eles não percam tempo a encontrar fatores que os agrupem ou separem. Talvez porque lhes baste o instinto daquilo que já é evidente - a vida em comunidade dentro da mesma espécie. Eles protegem-se uns aos outros. E nós, humanos, dotados de racionalidade e de ferramentas excecionais, somos historicamente ambiciosos e autodestrutivos. Separamo-nos, dentro da mesma espécie, entre ricos e pobres, pretos e brancos, cristãos e muçulmanos, apoiantes do clube A e do clube B. Mas não em estado de crise. Tentamos elevar-nos uns aos outros para preencher os tais vazios que nos conferem triste isolamento. Procuramos seguidores que aprovem tais feitos, e julgamo-nos felizes. Mas não somos. A verdade é que, na época em que vivemos, pouco ou nada importa se me acho mais importante que o meu vizinho da mesma espécie. Pouco ou nada ajuda eu ser mais rico que ele. Se não formos solidários, se escolhermos caminhar sozinhos, se nos afastarmos do sentido de comunidade no seu expoente mais elevado, não poderemos sair ilesos, não em estado de crise. Porquê? Porque somos iguais. Caracterizamo-nos pelas mesmas fraquezas. O ar que me contamina, irá contaminar o meu vizinho. O isolamento que me põe em causa, irá pô-lo em causa também. Porque quando somos reduzidos à nossa essência, não somos mais que rosas de cores, tamanhos e aromas diferentes, vindas de outros lugares, únicas na sua identidade. Porque, talvez, lembrarmo-nos da nossa essência comum, num tempo de crise assim, não nos reduzirá a nada. Pelo contrário, elevar-nos-á a uma humanidade grandiosa que fomos perdendo, em tantos meios controversos, em tantos fins duvidosos, feitos de caminhos pouco prováveis. Ser mais, neste momento, passa por ser menos. Passa por ser. Apenas ser. Livrar-nos das máscaras que visam melhorar o nosso estatuto. Porque o ar é de todos. Ele é igual, imparcial, é severo. E só juntos, como um todo, nos poderemos nos proteger das suas ações mais cruéis. Só em comunidade, como um bando de leões, que procura proteger o seu parente ferido, nos poderemos curar. Nunca sozinhos.
- masculinidade tóxica.
Vivemos num mundo em que, desde crianças, somos bombardeados com expressões, atitudes e reações que nos moldam de forma a sermos tudo o que é esperado de nós. Seja pelo ideal de homem que a sociedade tem, seja pela única noção de masculinidade que (ambos!) os nossos progenitores têm e colocam em prática na relação entre eles e para connosco. Enquanto homem com 19 anos, gostaria de dizer que nunca tive medo de me expressar e de me mostrar vulnerável, mas esse não é o caso. Sempre notei que os rapazes à minha volta, tal como eu numa determinada fase, evitavam demonstrar as suas emoções com medo de serem percecionados como fracos, vivendo numa narrativa que os prendia - e prende - a normas culturais tóxicas. E a partir do momento em que um quebra essas normas, é automaticamente marginalizado e/ou, em muitos casos, alvo de bullying . São frases como: “Os rapazes não choram”, “A ginástica e a dança são para meninas”, “No homo”, “O meu filho é um garanhão”, “Quem veste as calças?” e “Não sejas maricas!” que reforçam a clausura e a espessura da parede que divide o homem da sua realidade emocional, criando um teto de vidro gerador de consequências pejorativas. Na mesma nota, o impacto destas expressões e de tantas outras é corrosivo. O efeito é prejudicial para a saúde mental dos homens, que, em todos os aspetos que a influencia, deve ser priorizada. O estudo “ Masculinity and suicidal thinking ”, realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Melbourne, em 2016, concluiu que os homens que se identificam com um elemento particular da masculinidade dominante – ser autossuficiente – poderiam estar em risco de terem pensamentos suicidas. Atualmente, os homens vivem menos devido a alguns fatores, incluindo a supressão das suas emoções, o que se pode traduzir no facto de as taxas de suicídio em Portugal evidenciarem uma discrepância ensurdecedora entre homens e mulheres, 15,4% face a 4,4%, respetivamente, em 2019. Mas, afinal, o que é ser homem? O que é a masculinidade e a virilidade? Estes conceitos são construções sociais, com uma alta carga subjetiva, havendo inúmeras noções de masculinidade e virilidade. Contudo, uma coisa é certa: antes de sermos homens, somos pessoas, pessoas com emoções, inseguranças e questões. Portanto, em vez de agirmos em torno de um ideal inalcançável pela sua inquestionável irrealidade, não devíamos ensinar-nos mutuamente a sermos autênticos e a procurar ajuda sempre que precisarmos? As emoções devem ser abraçadas, celebradas e, sobretudo, abordadas. É urgente assumir esta realidade, desconstruí-la e tratá-la como deve ser tratada. É urgente sermos corajosos o suficiente para não termos medo de sermos vulneráveis. Larguemos o guião. Sejamos humanos! (na imagem, está presente o cantor Tiago Iorc, no vídeo da sua música “Masculinidade”, que, desde já, recomendo, e que serviu de inspiração para a construção deste texto).
- A Cruzada
Recebi um chamado . Uma chance de novas aventuras, e fugir do quotidiano, sair do lar, em busca do inesperado. Possuo objetivos próprios, só desejo afirmar a minha liberdade; mas viajarei sob uma bandeira, que definirá o que foi e o que será. Reconheço meu egoísmo e anseio, mas respondo ao chamado. Deixo pra trás o lar, família e amigos; porém, ainda, carregando um sorriso ansioso e nervoso. Ponho a minha armadura para cobrir o frio na barriga, e uma espada para repelir ataques. Sinto o peso e desconforto, no entanto, só me motivo. Corro atrás do tempo perdido e viajo quilômetros, para, finalmente, alcançar o grupo, mas continuo longe. Pessoas de diversos lugares, com diversas histórias e ambições, trata-se de um ar acolhedor e intimidador. Ainda é o início, mas as minhas pernas já doem e respiro ofegante, busco apoio nos outros mas continuo mancando. Comecei o percurso antes, mas já passei por florestas, pântanos e colinas com os outros, que logo se aproximam de mim. A armadura vai enferrujando e desgastando, ao lutar contra o tempo e o ambiente. Brigas, discussões e intrigas surgem ao longo do caminho, não sei como lidar, mas devo aprender. Meses já se passaram, e já não sei quem, nem de onde sou, já não me identifico com quem eu era, já não reconheço de onde eu era; o que e quem deixei para trás mudaram, e eu também; me pergunto se há para onde voltar no fim. Apesar da mudança, vários problemas ainda continuam, devo olhar para dentro, mas já não sei o que quero, nem o que pensar. Percebo que o meu objetivo é a jornada, e não quero só as virtudes, honras e glórias; apenas estará completa com o sofrimento e o suor. A linha de chegada se aproxima, e o que eu vim fazer aqui se torna mais real; mas nada disso importa. No momento, o fim não importa.
- Um Martelo que já não se ouve há anos
Uma dramatização encenada e interpretada por estudantes de uma Faculdade, que tem como elenco de personagens vários professores da casa, e que tem como principal objetivo a satirização e o escárnio das suas idiossincrasias mais marcantes e caricaturais, reservando a primeira fila da plateia justamente para aqueles que são o alvo da chacota – o proposto é arrojado (em algumas faculdades talvez mesmo arriscado, diríamos), mas na NOVA SOL é uma realidade, e uma realidade bem arraigada na comunidade estudantil: na verdade, chama-se “Martelo” (as alusões à magistratura e ao Direito são óbvias), e é uma das mais longas tradições existentes na nossa Faculdade, organizada pelo Grupo da Retórica, um dos nossos núcleos de estudantes. Sendo um dos maiores exemplos da proximidade existente entre alunos e professores da nossa instituição, a verdade é que nos últimos anos esta tradição tem sofrido, lamentavelmente, uma forte coibição e debilitação por conta da pandemia e das restrições que esta trouxe: à conversa com o Jur.nal, Matilde Ribeiro, a atual coordenadora do Grupo da Retórica, relembrou-nos que os alunos até ao 3.º ano da Licenciatura ainda não tiveram a oportunidade de presenciar ao vivo uma edição do “Martelo”, e que, em virtude disso, aquele que era antigamente um evento que granjeava uma adesão notável no seio da comunidade estudantil (pessoas de pé e sentadas no chão dos anfiteatros e das salas para poderem assistir), tem definhado num discreto e passageiro acontecimento cuja razão de ser muitos dos alunos mais recentes desconhecem por completo. Este ano, porém, pode (e deve) ser o ponto de inflexão para o “Martelo”: voltando ao modelo presencial, acontecendo nesta terça-feira, dia 17 de maio, às 18h30 no Anfiteatro B, este será o primeiro ano em que o Martelo irá voltar a ecoar com toda a sua força e vigor, e todos nós temos o dever de o ouvir – esta é uma tradição que merece ser prezada e preservada por todos nós, pois é o testemunho que as relações entre aluno e professor (especialmente numa Faculdade de Direito) podem ser radicalmente melhores e diferentes do que é o padrão.
- E Eu Tremi…
Estaremos a fugir de algo que podia, no mínimo, ser bom ou, pelo menos, divertido, por estarmos acorrentados às razões morais com as quais nem nos identificamos? Agora apenas comunicamos entre olhares escondidos e, talvez demasiado, ingénuos, e ataques fugazes e picantes dirigidos pelo poder das palavras, que já nada alcançam com os nossos corpos cansados de querer. Eu não vejo os novos horizontes que tu proclamas e tu não entendes a luta que eu preconizo e essa é a maior desculpa para noites longas e efémeras a discutir pacífica e ardentemente um futuro que não está ao alcance de só duas pessoas. Creio que os outros fingem não entender, mas, de facto, nem sei se tu próprio entendes, nem sem se queres entender, aparenta ser muito mais pragmático e adequado às nossas posturas apenas fugir de tentar e fingir não entender, continuar esta corrida desde o momento que entras até ao momento que sais e tudo fica igual, exceto, claro, a minha mente, que se confunde ainda mais com cada olhar e efervesce com cada declaração insignificante, que até me leva a acreditar em borboletas; a mim! Eu nem sei que mais escrever; todos aqueles momentos e todas aquelas entrelinhas que eu fujo de perceber para não complicar o que já é inexoravelmente complexo, por muito simples que seja. É tudo tão claro… Ficou uma noite esquecida que nenhum de nós esqueceu, uma noite perdida e desperdiçada em que rejeitamos os desejos dos nossos corpos novos e selvagens e fugimos à tentação, andámos horas para trás e para a frente, entre conversas e pequenos beijos roubados e nunca saímos do mesmo lugar. Naquele dia, era uma cama quente, cheia de sonhos e esperanças, no seguinte, estava vazia e nela guardava todos os segredos de algo que nunca chegou a acontecer; agora é a minha eterna confidente e esconde tudo o que eu não sou capaz de dizer, aliás, esconde conversas ternurentas e elogios sublimes, esconde preocupações e dúvidas trocadas, esconde pernas a tremer de prazer e corações a bater de emoção... esconde tudo o que ficou por acabar e as mil palavras por dizer e, por fim, esconde o teu golpe final, cujo não sei se foi em tua ou minha misericórdia. Há tanto que eu não sei... na verdade, também não sei se quero realmente saber, poderá ser mais fácil continuar no purgatório, no eterno sem saber em que só temos que viver com a vergonha do que já fizemos e nada mais, viver com a constante pergunta do que poderá ser e nunca dar aquele último passo mortal, que pode até nada mudar. É como ter insónias constantes o dia inteiro, a mente deambula por todos estes pensamentos e momentos e tudo está tão difuso, exceto a vontade de conversar contigo sobre tudo e sobre nada e de continuar este nosso jogo provocador, que me enche de esperança e me rebenta ao mesmo tempo. O meu desejo incomunicado de que tu fiques mais tempo e te sentes mais perto e a minha desilusão quando és o único que não aparece ou és o primeiro a sair, ou pior ainda, quando ela chega e eu sinto que começo a desaparecer, a verdade é que nunca consigo entender, mas não pergunto a ninguém, muito menos a ti, e apenas continuo, como sempre faço, as minhas piadas vazias que me vão comendo aos pedaços... Parece-me que os teus olhos já nem brilham tanto quando olhas para ela, mas não comento com medo que seja a minha esperança a tentar iludir-me, apenas continuo… porque tu também continuas a discutir os confins do universo e o sexo dos anjos comigo e, nesses momentos, nada me parece mais simples do que essas horas infinitas de desabafos sobre os problemas sérios de que somos irremediavelmente fãs e aos quais tentamos dar resposta das maneiras mais diversas possíveis e com as piadas mais estúpidas. Mas é tudo tão claro e ao mesmo tempo tão difuso e o teu odor a gin barato não sai da minha mente… E há dias em que penso que se calhar nem gosto de gin tónico, mas depois sinto aquele aroma perfumado familiar e os meus lábios encontram aquele sabor intenso, porém refrescante e, de repente, sou novamente refém de algo que nunca escolhi apreciar... E, no fundo, só sei que eu tremi…
- A atual "Sociedade do Cansaço"
Já alguma vez deste por ti a fazer algo de que gostas, a passar tempo com os teus amigos, ou simplesmente a descansar e te veio à cabeça a sensação de estares a “desperdiçar tempo”? Cada vez mais, tudo o que fazemos parece obedecer a uma lógica de produtividade, que se tem vindo a tornar num fardo tão pesado, que o mero repouso resulta num excessivo sentimento de culpa e insuficiência. Na azáfama da atual sociedade, caminhamos para um abismo de intolerância ao tédio e de incapacidade contemplativa: existe em nós uma ansiedade constante que nos impede de usufruir cada momento sem sermos dominados por pensamentos acerca do que deveríamos estar a fazer, do que deveríamos ter feito ou de tudo aquilo que ainda temos para fazer. Somos todos os dias bombardeados com propaganda de auto-realização, seja em formato de livros, vídeos e até mesmo palestras e workshops , que nos incumbem de “dar o máximo de nós próprios no mínimo que fazemos”: de acordar todos os dias antes do sol nascer, meditar pelo menos durante meia hora e, claro, não nos pode faltar disciplina para o exercício matinal. “Porque de manhã é que se começa o dia”. Isto tudo para termos tempo para passar as restantes horas sentados em frente a um computador, e à semelhança da própria máquina, só desligar quando a bateria se esgotar totalmente. À primeira vista, a produtividade pode soar como sendo algo positivo. Na verdade, não deixa de o ser. O problema surge quando ser produtivo, tanto a nível pessoal como profissional, se transforma numa obsessão: uma preocupação constante por querer atender às expectativas, não apenas da sociedade em geral, mas sobretudo de nós próprios. Neste cenário, a tão propagada “auto-realização”, conduz-nos precisamente à autodestruição. São inúmeros os estudos que provam que os problemas associados à saúde mental, nomeadamente à ansiedade, à hiperatividade, à síndrome do “burnout” e à própria depressão, têm vindo a afetar, como nunca antes, a nossa geração. Esta “produtividade tóxica” enquadra-se num fenómeno social mais amplo, a que o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han designa “Sociedade do cansaço”: um ambiente patológico de neuroses, pautado por uma positividade excessiva, onde existe uma normalização e sobretudo uma glorificação de indivíduos inquietos e hiperativos, tudo isto sob o pano da produtividade. O nosso valor e a nossa identidade são portanto reduzidos àquilo que conseguimos fazer e produzir, motivados por uma obsessão pela disciplina e pela eficácia. A atual sociedade neoliberalista, cada vez mais competitiva e individualista, leva-nos a assumir o papel de “chefes de nós próprios”, que se reflete numa servidão voluntária pós-marxista, na medida em que a “alienação” não demanda mais um terceiro. Alcançada esta condição, deixamos de ter como máxima a obediência ao outro, o cumprimento da lei e do dever, mas antes um sentimento ilusório de “liberdade” e de “autonomia”, que nos conduz à exploração de todos os nossos recursos físicos e mentais e nos aproxima de um colapso. Este fenómeno está também associado ao “excesso de positividade” presente em todas as esferas da sociedade contemporânea, em que predominam mensagens de ação produtiva e a ideia de que todas as metas são alcançáveis através do esforço e da disciplina. O perigo desta lógica é que no lugar do enunciado disciplinar - “tu deves” - imposto por um terceiro, entra em cena um novo enunciado - “eu posso”- o qual, no seu aspeto imanente, remete a uma falsa sensação de liberdade. A verdade é que somos seres limitados – não apenas fisicamente, mas também social e economicamente - pelo que estas premissas levam a uma constante frustração, que é por elas próprias romantizada. Será sempre possível conquistar uma melhor versão de nós próprios, pelo que nunca devemos parar até atingirmos a excelência e o sucesso. Este positivismo extremo leva-nos ainda a impor a nós próprios – e aos outros - uma atitude falsamente positiva: generalizamos um estado feliz e otimista, independentemente da situação, através de um silenciamento de emoções "negativas", tanto nossas como das pessoas à nossa volta. “É só pensar positivo”. Neste cenário de “auto-exploração”, em que nos tornamos escravos de nós próprios e em que suprimimos todos os aspetos emocionais que sentimos diante de qualquer situação que nos represente um desafio, surge portanto uma nova forma de violência: a violência neural, que deixa de estar associada a uma negatividade exterior, manifestada através do confronto entre duas ou mais entidades, para passar a se manifestar cada vez mais subtil e silenciosamente, estabelecendo uma relação unipessoal, em que o próprio agressor é vítima de si mesmo. Vivemos numa luta constante connosco próprios. Porém, ao concorrer contra a nossa pessoa, somos incapazes de chegar a uma conclusão. Jamais alcançamos o ponto de repouso da gratificação. Passamos a viver constantemente num sentimento de carência e de culpa, procurando obsessivamente superar-nos a nós próprios, até sucumbirmos. Será este o nosso futuro?
- O Rapaz Que Vendeu Versos ao Diabo
I Vagueio errantemente pela cidade nesta glamorosa tarde de verão. Os pequenos pardais cantam jubilosamente, enquanto o brilho alaranjado do sol começa a dar mostras do seu vigor, sem que por isso uma leve e fresca brisa deixe de dar, simultaneamente, ar de sua graça. O céu pinta o rio com um tom tão resplandecente que não há gaivota que se prive de, no seu níveo dorso, refletir o brilho azulado da água cristalina. A placidez do ambiente contrasta com o frenesim no qual se encontram todas as pessoas que por mim passam, assemelhando-se a marionetas ambulantes, comandadas por um sujeito constituído por números e ponteiros. A natureza derrama uma lágrima sempre que os relógios não nos permitem admirar a sua beleza, nem que seja por breves instantes. Ao invés da maioria, para além de não ter relógio, não me privo da livre comunhão com o que de mais apolíneo existe no mundo em que fomos despejados – talvez seja uma forma de não permitir que me roubem a alegria de sentir na plenitude tudo o que me rodeia. O tic-tac dos relógios transforma os homens em máquinas com momentos específicos para sentir e, quando deixam estes de sentir porque soou um tic-tac a mais, deixam de ser homens. Entre a calçada moída e os sapatos transeuntes, reparo num pedaço de papel sujo e rasgado pelas solas que a todos os instantes a desgastam. É uma página de jornal. Prontamente a apanho, e nela leio que uma companhia de teatro procura atores para representar Hamlet . Ainda ontem à noite fui o príncipe Hamlet sobre o banco onde costumo pernoitar. O sangue da arte não pode ser menos do que pó de estrelas. É essa a única explicação para que um sem-abrigo se sinta um príncipe através de meras palavras. Caminho até à morada indicada pelo jornal e chego sem dificuldade ao meu destino. A porta encontra-se entreaberta, pelo que entro cautelosamente e insiro-me na fila, nem grande nem pequena, que porventura me separa da oportunidade de comer nos próximos dias. Um calor abrasador, motivado tanto pelo clima próprio da época quanto pela aglomeração de gente num espaço exíguo, mancha-me de suor a camisa já amarelada. Chega, enfim, a minha vez. Tento disfarçar o tremor que me percorre as pernas ao contemplar a sumptuosidade do jurado – alto, espadaúdo, de semblante fino e cabelo grisalho. Tem a aparência de um nobre, tanto pela postura altiva como pelo refinado traje, e ainda pelo seu pelo típico e arcaico anel aristocrático. — Julga que vou observar a sua investida? — pergunta, olhando-me de soslaio. — Porque não? — retruco, fitando-o. — Porque descreio em criaturas míseras! — vocifera altivamente, balançando a cabeça para trás num jeito efeminado. — Como pode o senhor conjeturar que me incluo nessa categoria? — Até um olho míope o perceberia — responde com desdém —, o menino não passa de um sandeu! Apresentar-se perante mim de pele imunda e vestes esfarrapadas… Pelo amor de Deus! Sabe porventura quem foi o senhor meu avô? Que verme petulante me saiu este plebeu horroroso! Saia-me da frente, não impurifique este chão com os seus pés encardidos! Uma dor surda entranha-se-me no corpo. Sinto-a enraivecida, fitando-me tão intensamente que me despe. Contempla-me sombriamente a alma, penetrando-a de seguida como quem com uma farpa penetra um touro, afogando-me num tempestuoso inferno. Olho para as paredes sujas e rachadas vendo-me. Sinto que cadeiras coxas têm as minhas pernas. Sou uma porta cansada de bater infindavelmente, obrigada por um vento inacabado. Um desespero enlouquecido em mim cresce, no entorpecido e no grotesco me faz ver, me faz sentir. Doente me torna a consciência de que este ódio lancinante me transforma a nobre alma em plebeia, alma outrora semelhante às vestes do jurado, mas agora, pelo rancor, similar à sua índole. Que consciência tão aterrorizadora quanto as trevas da cave do Demónio! Ah, consciência que me tornas fétido! Morre! Morre e contigo leva aquele fidalgo pretensioso! Morre! Saio e percorro o caminho inverso ao que trilhei para aqui chegar. Por vezes na vida há que voltar atrás, já com a consciência de que uma das frentes é mais retrógrada do que o ponto inicial, e depois intentar percorrer uma trajetória divergente, na esperança de que o destino de tal rumo seja mais clemente. É-me imprescindível esquecer este incidente, que me suscitou desejos horrendos com os quais não quero conspurcar a minha alma. O que eu não daria para que a perceção de que não sou tão bom homem quanto gostaria me abandonasse… Estes nobres, que nobres nasciam e nada de grandioso (ou sequer útil) precisavam de fazer para que se lhes tivesse estima, sempre foram muito soberbos. Ao que parece, um grupo substancial de plebeus não compreendeu ainda que, desde 1910 (ano apenas triste pela morte de uma das maiores figuras da literatura mundial), os títulos nobiliárquicos nada representam. Devido a tal ignorância, ou ao péssimo e anacrónico hábito suscitado pelo complexo da inferioridade, continuam a tratar os de sangue azulado como se superiores fossem. Enfim, aquele senhor tem tanto de valor quanto de sangue azul. Julgo até que o que lhe corre pelas veias seja negro, e por momentos fez com que o meu sangue se enegrecesse também. Contudo, mais pena dele tenho que de mim, pois o meu voltou a avermelhar-se em instantes. A tarde vai-se metamorfoseando em noite e o céu torna-se ainda mais belo, tal como o ledo cantarolar dos passarocos que esvoaçam dançando à volta do velho banco onde me aconchego, do meu velho banco. “Talvez apenas consiga ser o príncipe Hamlet em cima de ti”, penso alto. Abro um livro que alguém cuspiu para o chão numa noite destas, um pequeno e sublime livro, de seu nome Noites Brancas . Li-o todo ontem, assim que o encontrei; contudo, elevou-me de tal modo o espírito que o lerei hoje uma vez mais. Costumo ler quase tudo o que a vida me oferece e, quando tenho a sorte de ser presenteado com belas palavras que, em conjunto, formam pensamentos elevados, fico com o dia feito; caso contrário, aprendo como não se deve escrever. Dostoiévski foi um génio, portanto não tem grandes dificuldades em fazer-me o dia. A alma vai ficando saciada, mas para o estômago não tenho nada. Amanhã, bem cedo, procurarei novamente um novo trabalho. Desce uma noite tão deslumbrante quanto o sonho mas mais fria do que o mundo, e apenas me mantenho minimamente aquecido porque não me esqueci de trazer as mantas da casa de onde me despojaram. Um homem perde o pai e a herança e já não é ninguém. O seu nome era Jorge, um pequeno comerciante de gado com lucros consideráveis, lucros esses que lhe permitiam pagar-me um salário razoável. Trabalhávamos e vivíamos juntos. Era um bonito homem, tanto de pele quanto de caráter, mas tinha um temperamento eminentemente prático. Em fevereiro, a doença que o levou começou a fazer-se sentir cada vez mais intensamente, até que a sua vitalidade declinou por completo e, em poucos meses, morreu. Suspeita-se que foi a tuberculose que o levou. Tentei salvar o que era nosso, mas não fui bem-sucedido. Ao meu inexistente jeito para negócios se uniu uma terrível praga que nos colheu mais de três quartos do gado, e o nosso património foi sepultado. O desgraçado ainda viveu tempo suficiente para me ver perder tudo. Jamais esquecerei o seu rosto, marcado pela mágoa e encharcado em lágrimas. Viu o seu único filho perder, em cinco meses, o que construíra numa vida. E, ainda assim, entre o estado febril e a agigantada angústia, teve tenacidade bastante para me dizer que não me preocupasse, que iria correr tudo bem porque ainda tinha os meus poemas e o hipotético sustento que eles me trariam. Depois de terem estas palavras saído dos seus secos lábios, adormeceu para não mais acordar – foi como se contrariasse toda a teoria por si defendida em vida antes do suspiro que o conduziu à morte. Em tempos mostrei-lhe a minha poesia, mas, segundo ele, “o trabalho só é trabalho quando dá dinheiro”. Provavelmente as suas últimas palavras resultaram de um delírio proveniente da febre que lhe assolou o juízo nos últimos dias, ou então de uma visão divina entre a passagem da tirania dos vivos para a democracia dos mortos – um local maravilhoso e plácido, utópico, visto por Ivan Ilitch, em que cada ser é tão valorizado que o simples vislumbre da sua proximidade dá a um cego vista. Gosto de pensar que as suas palavras foram o efeito dessa contemplação luminosa, mas não creio em ideias quiméricas. Enfim, já vai sendo tarde. Não será fácil que o sono tenha mais força do que a dor, pois embora a insensibilidade do meu pai me magoasse, ele era a pessoa de quem eu mais gostava no mundo. E eu não gosto de muita gente.
- Marxismo ao contrário
Vários são os acontecimentos que têm vindo a deixar a sua destacada marca na história da humanidade, influenciando sociedades, inspirando grupos e fazendo mover o mundo social e político, cujo girar depende inteiramente das ideias e filosofias de que esses mesmos acontecimentos se fazem acompanhar, numa relação quase (se não totalmente) interdependente e simbiótica. Ora, como em tudo, há sempre dois lados da mesma moeda: por um lado, grande parte desses momentos contribuíram para o avançar e desenvolver da raça humana, de forma direta e sem a necessidade do conhecido sofrendo, aprendendo característico de tantas outras situações (o período dos Descobrimentos, por exemplo, ou a invenção da locomotiva a vapor); por outro, uma também significativa quantidade de eventos forçaram-nos a uma evolução assente na dor e no sofrimento, unicamente justificada por cenários horríficos outrora vividos. É nestes últimos que se centrará este modesto texto. Exemplifiquemos: os horrores do nazismo são hoje reconhecidos por todo o mundo e desprezados por todos (ou assim se espera), desprezo esse assente numa crítica constante que parece querer forçar a (re)lembrança desses tempos e das atrocidades experienciadas. Assumindo que qualquer democrata e, acima disso, qualquer ser humano – no sentido não de espécie, mas axiológico e, ainda que redundante, humano – se insurge contra aquilo que foi e que todos sabemos ter sido a Alemanha Nazi, não gastarei muito mais linhas na tentativa de condenar aquilo para o qual não existem sequer suficientes palavras (ou palavras com sentido forte o suficiente) para condenar. Torna-se, no entanto, fundamental o apontar de uma situação assaz controversa e antíctone quando comparada com a já exposta acima: a aceitação do ideário marxista e das suas várias ramificações. Não seria, no mínimo, coerente condenar com a mesma força a ditadura do proletariado como se o faz com o nacionalismo extremado? Não nos faria menos hipócritas a crítica de Estaline e Lenine com a mesma austeridade e intolerância com que criticamos Hitler ou Mussolini? Ignorando (finjamos que por lapso) o facto de os regimes comunistas terem nos seus armários um número inimaginável de cadáveres, quando comparados com os extremismos de direita, este fenómeno tem uma fácil e simples explicação, pelo menos no que ao que se passa «dentro de casa» diz respeito: o amor que Portugal nutre às esquerdas. Muitos diriam que, desde a Revolução dos Cravos, o nosso país não recuperou da sua crónica alergia à direita e às suas principais bandeiras. Já eu, prefiro ouvir dizer-se que aceitou uma patologia autoimune bem pior que uma simples alergo-constipação: a chamada esquerdopatia. Já várias são as provas dadas de que, em solo português, poucas são as ocasiões em que a coerência e o bom senso são tomadas em consideração. Nada disto terá que ver com a vincada presença da ala esquerda nos aparelhos de governação, ao longo do tempo de democracia… Tomemos como exemplo a tradição constitucional portuguesa. Tem-se insistido bastante - quase transparecendo uma imensa vontade de perpetuar os estereótipos de abril - na manutenção do famoso «caminho para uma sociedade socialista» , que, mesmo apenas sendo parte do preâmbulo da constituição, demonstra a obsessão e o deslumbre de que falo. Proíbem-se, também, e com a superioridade moral do costume, «movimentos que perfilhem a ideologia fascista» . Compreensível, legítimo, e sem defeitos a assinalar, não fosse o caso de nada se dizer sobre os pressupostos-base das teorias da foice e do martelo. A estes juntam-se outros exemplos, não só escritos, mas, também, costumeiros, que demonstram sem margem para dúvidas o porquê de Portugal não crescer, não se desenvolver e não evoluir – e o porquê de estar estagnado. Naturalmente que não faço cair sobre os ombros de uns quantos membros da brigada do reumático toda esta imensa e complexa culpa/responsabilidade. Não estão sozinhos, não! A eles juntam-se todos os seus camaradas adeptos de nacionalizações e estatizações, paladinos e defensores ávidos da extinção das classes sociais para que possam, eles próprios, assumir-se como a classe mais abastada e confortável das duas que passarão a existir, ignorando por completo o povo e as suas vontades e necessidades. Os reis e rainhas do utópico, idílico e onírico, portanto. Se apenas um suave toque de utopia, não vejo como possa ser prejudicial. Até pelo contrário. Estamos, porém, perante um agarrar total – e pelo pescoço – do sistema em que hoje se vive, tirando a um capacitado país (com provas dadas dessas capacidades) o ar de que necessita para se voltar a erguer - ar desprovido de moralismos e filosofias não funcionais, mas cheio de vida, fulgor, direitos, liberdades, e iniciativa privada. É por tudo isto que me assumo como marxista ao contrário.
- Carceral Society: An ode to Foucault
The way words turn into verbs and into actions Legitimizing factors The drivers and dividers of units split into factions Biproducts of a fraction Of centralized intelligence That built the pretense Of the viralized bought doctrine of the indigent Irreverently profitable To the Apostle of the dissonant Cognition The intellectual prophet’s repetition His pocket’s fingerprint In the crime scene he’ll imprint With every dollar made in slaughter Or the contaminated water of flint The warehouse collapse in Illinois The six dead that he employed And the kids in Bangladesh See the Veil of Ignorance is real but too is mesh See-through Like the policies of Congress deployment of troops Through words is derived licit “righteous” abuse Through words they build the ruse And the archive they connive Made to deprive our mind of use Can but confuse When the screws are fake the chains we can refuse The path is ever open Though stolen, can’t be defused And many chapels many castles Were once upon a time accused Can’t be defused Resistance a pestilence ever ensued Ever pursued For doubt is the sprout that’ll out protrude Mental jails into open air Widen minds into open room The Carceral Society’s dead If we all create its tomb.
- Eiichiro Oda
Eiichiro Oda , conhecido pela sua obra One Piece , nasceu a 1 de janeiro de 1975. Decidiu, com apenas 4 anos, que seria um mangaka (artista de banda desenhada japonesa). Tal decisão baseou-se, principalmente, na tentativa de evitar ter um “trabalho verdadeiro”. Com várias mangas adaptadas em anime pelo mundo fora, todos nós desde pequenos, já tivemos algum contacto com algumas delas: Oliver e Benji, Beyblade, Pokémon, Dragon Ball . Todas estas são adaptações animadas destas histórias escritas e desenhadas em quadradinhos, sendo natural que os autores de gerações futuras absorvam algum tipo de influência das histórias criadas pelos seus ídolos. Para Eiichiro Oda , a sua inspiração foi o mangaka do Dragon Ball , Akira Toriyama . E a sua inspiração para fazer uma história num mundo de piratas, deu-se com a série aninada de televisão Vickie, o Viking . O primeiro passo que o nosso autor deu na sua jornada para criar a manga mais vendida do mundo, One Piece (480 milhões de vendas), sucedeu quando o mesmo se encontrava no último ano do secundário. Com apenas 17 anos, publicou o seu primeiro trabalho intitulado de Wanted!, muitíssimo galardoado. Este feito permitiu-lhe arranjar o seu primeiro trabalho, como assistente, na Weekly Shōnen Jump , uma das revistas de manga mais conhecidas. Durante esta altura da sua vida, o autor publicou uma pequena história num mundo de piratas a que chamou de Romance Dawn , que mais tarde seria a primeira arc da sua obra-prima One Piece . Nesta pequena história, que o mesmo não saberia se lhe seria dada a possibilidade de a continuar ou não, apresentou-nos o protagonista da manga mais vendida do mundo, Monkey D. Luffy . Mais tarde, Oda recebeu a notícia do sucesso que tinha sido a sua pequena história, tendo sido a mesma publicada pela Weekly Shōnen Jump . A partir desse dia, esta “pequena” história tornou-se umas das mangas com maior longevidade e mais conhecidas no mundo, estando até hoje, apesar de ter começado em 1997 , a ser publicada e a quebrar recordes. No dia 3 de janeiro de 2021, a obra de Oda viu publicada o seu capítulo 1000 , mostrando o autor uma genialidade e criatividade soberba ao deixar a sua história cada vez mais intrigante com cada capítulo que passa. Os leitores ficaram de tal forma “agarrados” a esta história, aos seus personagens, e a este mundo, que durante quase um quarto de um século continuam a acompanhar a história desta manga a cada semana que sai um novo capítulo (atualmente no 1043), continuando a mesma a angariar cada vez mais fãs. Esta manga recebeu a sua adaptação para anime no dia 20 de outubro de 1999 e vai hoje no seu episódio 1013. Já foram feitos 14 filmes sobre o One Piece , bem como 30 jogos de vídeo, sendo o net worth do autor avaliado em 200 milhões de euros. A história começa com Gol D. Roger, conhecido como o Rei dos Piratas, o mais forte e famoso pirata que alguma vez navegou a Grand Line . Gol D. Roger foi capturado e executado publicamente pelo governo mundial, nas últimas palavras que lhe foram dadas, o mesmo revelou a existência do maior tesouro que alguma vez existiu - One Piece . As suas últimas palavras deram origem àquilo que iria ser a grande era dos piratas, todos em busca deste tesouro, e consigo, o título de Rei dos Piratas. 22 anos mais tarde, somos apresentados ao protagonista da história, Monkey D. Luffy , um rapaz de 17 anos. Em vez de ser um pirata normal, isto é, perverso, horroroso e desdentado, que saqueia vilas e mata pessoas por diversão, a razão de Luffy se ter tornado um pirata deve-se à sua natureza curiosa e à vontade de viver uma aventura emocionante que o leve a conhecer um mundo maravilhoso cheio de pessoas intrigantes, e consequentemente, com a sua tripulação, encontrar o prometido tesouro. Seguindo os passos do seu herói de infância, e inspirado, como muitos outros, pelas últimas palavras de Gol D. Roger , Luffy e a sua tripulação viajam pela Grand Line , vivenciando todo o tipo de aventuras que trazem consigo mistérios sombrios, bem como são deparados na sua jornada com inimigos fortes pelos quais têm de passar para alcançar a mais cobiçadas de todas as fortunas – One Piece .
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