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- ANIMUS, do latim: alma, espírito, coração
No passado dia 23 de abril, a JurisTuna, a tuna mista da Faculdade de Direito da Universidade NOVA de Lisboa, deu vida ao seu primeiro festival, o Animus. Animus, uma palavra que no Direito nos aconchega com o seu “espírito, alma, coração e disposição” é um pequeno espelho da essência da JurisTuna. Foi com grande esforço, investimento e sacrifício que, após 10 anos desde a sua formação, foi finalmente colocado em palco o tema “Terra-mãe” - um tema, por si só, acompanhado da melancolia nostálgica da saudade. Na verdade, era um sonho há muito ambicionado pela JurisTuna a realização deste festival, que acabou por surgir com o tema do regresso a casa, depois da partida para outra cidade; uma realidade vivida por tantos jovens que sabem bem qual é a sensação de voltar à terra-mãe, à família, aos amigos, e à paz que só o lar pode dar. Neste enquadramento, estiveram presentes a VETuna (tuna mista da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa), a Tuna Médica de Lisboa (tuna mista da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e da Nova Medical School da Universidade Nova de Lisboa), a TUIMS (tuna universitária da Nova Information Management School da Universidade Nova de Lisboa) e a Magna Tuna ApocalISCSPiana (tuna mista do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa). Cada uma à sua maneira, estas tunas trouxeram animação e muita música ao dia, com repertórios singulares fieis à essência de cada uma delas. Chegadas por volta das nove, as tunas foram apresentadas aos seus guias, com os quais passaram o dia. Depois de uma visita ao campus da faculdade, todas as tunas se dirigiram ao lar das Irmãzinhas dos Pobres, onde cantaram em conjunto várias músicas para quem as ouvia das janelas e varandas. Depois almoçaram, nunca deixando de ter uma guitarra ou uma pandeireta a incitar alguém a cantar, o que se transformava rapidamente numa coletividade de vozes que enchiam os corredores da faculdade. À tarde houve uma gincana - uma série de jogos organizada pela JurisTuna - no relvado do campus, ao mesmo tempo que os testes de som ocorriam na reitoria. Depois de algum tempo livre, as tunas foram todas para o buliçoso jantar no pátio da Nova IMS, seguindo-se, por volta das oito, o início do I ANIMUS, no auditório da reitoria. A noite terminou com um convívio no pátio da Faculdade da IMS onde se partilharam experiências, canções, danças e o amor pela tuna; e onde, acima de tudo, no seio da comunidade académica lisboeta, se forjaram novas amizades. Não foram poucas as pessoas que se disponibilizaram e contribuíram avidamente para o bom funcionamento do Festival. Durante todo o dia, múltiplos tunantes acompanharam e prepararam atividades para as tunas convidadas. Contou-se também com um painel de júris constituído pelo Professor Miguel Moura, o artista Caio, o ex-magister da JurisTuna, Paulo Oliveira e João Ribas, tunante da Tuna Académica de Lisboa e membro do grupo Sétima Corda, que premiou os convidados nas diversas categorias. A TUIMS brilhou nos estandartes, tendo sido galardoada com o Prémio Melhor Estandarte. Com uma atuação excelente a todos os níveis, a VETuna brilhou nas pandeiretas onde conquistou o respetivo prémio e o Prémio Tuna Mais Tuna. A Magna Tuna ApocalISCSPiana também se distinguiu com um solo brilhante que os encaminhou para o Prémio Melhor Solista. Finalmente, a Tuna Médica, com a sua atuação notável, arrecadou os prémios de Melhor Tuna, Melhor Instrumental e Melhor Original. Claro que não podemos deixar de fazer um apontamento sobre o público, não estivesse praticamente cheio o auditório da reitoria! Depois de conversarmos com alguns transeuntes, já no fim do espetáculo, o feedback foi positivo, o I ANIMUS caracterizado como “um sucesso” e “para repetir!” Permitindo-nos um pouco de parcialidade, enquanto membros da JurisTuna, não podemos deixar de expressar o quão gratas nos sentimos por podermos ter feito parte do I ANIMUS no nosso primeiro ano. Com todas as palavras que existem na nossa bonita língua, faltam-nos as que consigam descrever o orgulho que sentimos no trabalho, tempo e esforço que cada tunante pôs na preparação deste festival, como faltam para descrever a sensação de pertença àquilo que é uma família da nossa faculdade. A JurisTuna, estando para muitos de nós longe da respetiva terra-mãe, deu-nos uma segunda casa. Terminamos com a certeza de que o I ANIMUS ficará para sempre nos nossos corações, e nos de todos os que vêm assistindo ao crescimento da JurisTuna, que, não temos dúvidas, está no início de um caminho que trilha brilhantemente e com a resiliência que só o amor pela música consegue criar. Nascido de um sonho intergeracional, o I ANIMUS surgiu como o maior evento cultural organizado na NOVA School of Law desde há muitos anos. Estiveram presentes Tunas de grande calibre, originárias da nossa tão querida cidade de Lisboa: Magna Tuna ApocalISCSPiana, VETuna, Tuna Médica de Lisboa e TUIMS. Pessoalmente, ter visto o trabalho de todos os tunantes, o tempo que dedicaram nos últimos meses a este projeto, deixa-me de coração cheio. Viver o dia a dia ao lado de pessoas tão talentosas, divertidas, dedicadas e apaixonadas pela JurisTuna é tudo o que um Magister pode pedir, e, por termos isso, eu não me podia sentir mais sortuda. Inês Alves, Magister da JurisTuna O I Animus fez jus ao nome que solenemente lhe foi atribuído, pelo seu caráter, dinâmica e espírito de grupo (ou casa, como gostamos de lhe chamar). Apanágios esses que apenas foram experienciados por quem se deslocou ao Campus de Campolide graças aos tunantes, sempre ávidos para ajudar onde quer que fosse necessário. Só desta forma foi possível dar corpo e alma a um sonho longínquo, que superou todas as expectativas. Valeu a pena? Tudo vale a pena, quando é feito por amor. Pedro Ribeiro, Vice-Magister da JurisTuna
- O Estado da Nação
Portugal com quase nove séculos de história é símbolo do heroísmo, tenacidade e bravura do povo português que conquistou a sua independência na região mais ocidental da Península Ibérica. Conhecer quem fomos é saber quem somos, e torna ainda mais seguro o amor à nossa pátria “à beira-mar plantada”. Nas duas últimas décadas tenho assistido com muita inquietação ao rumo que o país leva. Portugal não cria riqueza, não tem empresas e um tecido empresarial robusto e com capacidade de investimento, vivendo-se numa estagnação que parece eterna com um povo resignado e que muitas vezes parece derrotado. Como cidadão português, patriota e orgulhoso do meu país, considero que Portugal tem um grande potencial para ser melhor, oferecendo sólidas perspetivas de crescimento económico o que se tem de consubstanciar numa significativa melhoria das condições de vida dos portugueses. Assim, para de forma mais clara ilustrar o retrato de uma nação heróica no passado e que tem tudo para ser heroica no futuro, apresentarei sucintamente alguns dados que não são animadores. Nesta conformidade, analisando os indicadores, concluímos que Portugal tem a terceira maior dívida pública da União Europeia, tendo registado um valor de 130,5% do PIB no terceiro trimestre de 2021, no PIB per capita Portugal foi ultrapassado por quatro economias de leste em 20 anos, tem uma fraca competitividade, produtividade e taxa de poupança. Na educação, Portugal é o terceiro país da União Europeia mais iletrado nas novas tecnologias, é o oitavo país da União Europeia com menos jovens a frequentar o ensino superior e, se considerarmos toda a população portuguesa, é o país menos educado da Europa . A tendência demográfica é preocupante, uma vez que Portugal é o segundo país da União Europeia com mais idosos face ao número de jovens (há mais 60% de idosos do que jovens), o que ameaça a sustentabilidade social e económica do país no futuro. De tudo isto, retiramos que Portugal é um país estagnado e adiado há 20 anos e, citando “ Os Maias ” de Eça de Queirós “ Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta - cobrar o imposto e fazer o empréstimo. E assim se havia de continuar… ”. Concluindo, Portugal face a esta difícil situação em que se encontra precisa de uma alternativa galvanizadora e mobilizadora que devolva a esperança ao povo português e faça uma mudança de políticas que se traduza numa melhoria substancial em termos económicos, sociais, culturais e políticos do desempenho do país. Neste sentido, fazendo das palavras de Adolfo Mesquita Nunes as minhas “ Os dados que temos do Eurostat e da OCDE são preocupantes, temos um problema de competitividade e crescimento e continuamos a ser ultrapassados por economias de leste. É preciso fazer reformas! ”. Termino com dois versos do poema Infante de Fernando Pessoa “ Cumpriu-se o mar e o Império se desfez / Senhor, falta cumprir-se Portugal! ”.
- O esquecimento de uma Democracia
Cravos ao peito, Espingardas na mão Lá iam os soldados, Preparando a revolução. São palavras semelhantes às presentes nestes versos que escrevo que nos surgem na memória quando festejamos uma vez mais o 25 de abril. Data marcante, além de histórica, pois claro, mas parece que o seu significado esmorece no coração do povo português. Todos os anos, comuns ou bissextos, dia útil ou fim de semana, festejamos esta data com grande fervor nas ruas. Aclamamos o fim de uma ditadura, o fim de um regime que causou sofrimento a milhares (até milhões), isolou Portugal do mundo e do desenvolvimento, desconectou-o do seu verdadeiro ser. Celebramos tudo isto (e muito mais) no dia de hoje. Ainda assim, por muito que seja uma data ilustre, não podemos deixar passar de soslaio a hipocrisia que ela faz sobressair em quase metade da população portuguesa (42%, para ser mais exata). Imensos são capazes de lançar fogo de artificio aos céus para aplaudir uma revolução que aconteceu há 48 anos, mas parecem incapacitados de sair das suas confortáveis e acolhedoras casas uma vez de quatro em quatro anos para desempenhar um dever cívico. A situação em que o povo lusitano se encontrava há pouco menos de meio século atrás não é inconceptível na atualidade. Não basta cantar "Grândola Vila Morena" ou recordar Salazar e Marcelo Caetano como os líderes do sofrimento passado. Não basta agradecer o fim da PIDE, da Censura, ou a queda do Tarrafal. Não basta rezar a pés juntos para que aqueles tempos escurecidos não obstruam uma vez mais o futuro da nossa comunidade. Não basta agradecer o regresso da democracia desfilando com cravos nas mãos pela Baixa de Lisboa. É preciso fazê-la perpetuar-se no tempo, manter os seus alicerces bem firmes para impedir que aquele ciclo da história se repita uma vez mais. Este simples texto não passa de um apelo à consciência dos leitores, uma pequena chama de esperança de que, num próximo momento eleitoral, tanto a música do José Afonso como a flor escarlate surjam no espírito de cada um dos portugueses, que causem uma verdadeira revolução interior, despertem um desejo pessoal de defender a nossa herança mais querida, o supremo poder que possuímos enquanto povo de Portugal - a nossa Democracia.
- Lenda de Abril
Veio a lenda de Abril Do movimento estudantil Ser atrapalhado, encurralado Pelo ralo do funil Do conformismo Individualismo ou Xuxalismo Do sistema, o mecanismo Voz que faz da água do pensamento O autoclismo Que desvanece O sentido, invertido, desaparece O partido, pela luta de Abril, Não se reconhece Pelo povo, que pelo laboro Da frente se aquece Na luz que tomba a cruz E dedica à verdade sua prece Liberdade, Igualdade Não existe Só a farsa positivista que junta direitos à lista Só consiste De palavras ocas, realidade positiva não persiste Liberdade negativa, idade triste Faculdade sem faculdades Direito sem direitos Reivindicações, sonhos, gritos De Abril, morrem desfeitos Preconceitos pelos meios De comunicação são propagados Enterrados, os sensos críticos Dos povos, pobres povoados Magoados, adormecidos Envergonhados, mas não vencidos Serão unidos Estudantes, empregados, renascidos Pomares com olhares entenebrecidos Onde está a maçã da insurgência? Onde morre o coitadinho Nasce nu de inocência Que nos falte a paciência! Ó educados, doutores, Senhores, homens letrados Para que servem vossos livros se racionalizam os pecados Fazer lógico o apológico desumanismo pelos mercados Terão vós orgulho desses legados? Coitados, coitadinhos Sejamos Homens, não meninos Em sarilhos Perdidos, extraviados sem os trilhos Da mão invísivel Ou o punho de ferro Recomecemos estaca zero Reviremos este inferno Do avesso Livres, desacorrentados no recomeço O punho em vez do terço Que o Terreiro do Paço não tenha sido só um acaso Um fracasso Que sejamos mais que cem mil Que em diante, nos acalente, o quente sol d’Abril.
- Verdade(s)
Estou cansado que nos vendam miséria esmaltada em ouro. Estou cansado dessa verdade enfarpelada e enaltecida pelas elites e pela escola. Dessa verdade aprumada e deliberadamente excisada das suas características mais vis e verdadeiras pelos que estão no topo – estou cansado que nos falem da vida retratada do cimo de uma cadeira de um qualquer executivo quando nós todos vivemos dobrados sobre nossos próprios rins numa labuta infinda que nunca nos trará mais nada senão cansaço e vazio. Eu quero a má verdade; quero a verdade feia – aquela destrutiva, remordente e insuportável. Aquela mutilada pela fome e pela pobreza, pela indigência, pelo sacrifício, pela injustiça. Eu quero a verdade do povo. Esse que se farta de criar riqueza mas que acaba inexplicavelmente todos os meses com um par de bolsos vazios e um estômago à míngua. Esse que não se cansa de ouvir falar no elevador social mas que há muito que teve tirada das suas mãos calejadas a única escada que alguma vez teve. Esse que há muito que deixou adormecer no seu peito abril e vê setenta e quatro como um mero oásis na aridez seca da mediocridade política portuguesa. Estou cansado de ouvir os mesmos quatro comentadores na televisão a falarem de problemas e de assuntos com os quais nunca terão de lidar após a emissão terminar. Já alguém pensou em entrevistar a prostituta em horário nobre e lhe perguntar o que acha da sua condição? Já alguém ponderou em interpelar o pobre e mostrar a Portugal inteiro o que é que o aumento do salário mínimo significaria para a sua vida? Conseguirá alguém apurar o grotesco em não haver um único afrodescendente nos órgãos de comunicação social a expressar a sua opinião depois de um incidente de brutalidade policial contra corpos negros à porta do seu local de residência? E os homossexuais? O que terão eles a dizer sobre a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo? Porque é que sobre todos estes assuntos nunca ouvimos a opinião daqueles que de facto sofrem na pele as consequências do debate político e da opinião que saiu vitoriosa da altercação? Já alguém teve a inaudita e genial ideia de interrogar a adolescente que teve um brutal e sangrento aborto clandestino num vão de escada e perguntar-lhe o que é que esta acha da descriminalização da interrupção voluntária da gravidez? Mãe, porque é que estão quatro homens a falar na televisão sobre as vinte e três mulheres que morreram vítimas de violência doméstica no ano passado e não há qualquer voz feminina a opinar? Bem sei o que tu dirias se pudesses, mas as nódoas negras e os hematomas que tens no corpo não são suficientes para poderes ter uma opinião, primeiro precisas de ter um curso superior e um pós-graduamento. Pai, porque é que na rádio quando é para falar sobre o aumento dos impostos às grandes fortunas e para combater a evasão fiscal falam sempre só com os empresários e os mais abastados e não há uma única voz a falar em defesa de todos aqueles que beneficiariam de um maior investimento nas infraestruturas e nos serviços públicos? Bem sei em como seria um alívio para nós lá em casa não termos de pagar passes de transportes públicos ou se não tivéssemos de pagar as propinas da mana. Mas não há almoços grátis… oxalá houvesse, só Deus sabe a fome que já tive que enganar com sobras de pão e uma pouca de água, ou os sonhos de ser artista que me forcei a renunciar por não termos dinheiro e só irem migalhas do orçamento de Estado para a cultura. E eu, preso a este corpo que repudio, que abomino, que execro com todas as minhas forças, que me arrasto pelos dias com uma depressão severa porque me veem como mulher quando eu me amo como homem, porque é que quando é para falar dos transgéneros e da operação da mudança de sexo não há vivalma que se lembre de centrar o debate à volta de quem de facto sente na pele a ostracização e a violência de não poder escolher ser quem é, e porque é que continuam a relegar cinicamente as pessoas transgénero para o papel de espectador desinteressado num assunto que muitas vezes lhes é uma questão de vida ou de morte? Estou cansado desta açambarcagem vil e abjeta da verdade. Estou cansado que coloquem um v maiúsculo quando falam dela e que continuem a fingir que há só uma no meio de todas estas pessoas indescritivelmente diferentes e inapreensivelmente únicas entre si. A verdade nunca foi unívoca – há tantas verdades quanto há corações palpitantes por esse mundo fora, e isso é incontornável: cada alma é uma forma singular de se relacionar com a realidade e de a condicionar; cada alma é uma constelação irreproduzível de experiências e de acasos; cada alma é um universo inteiro encapsulado numa forma única de ser. E no entanto saem sempre nos ecrãs e nos rádios as mesmas e pisoteadas verdades a que estamos tão habituados e nauseados de ouvir – a verdade do homem; a verdade do branco; a verdade do heterossexual; a verdade do rico. Tornemo-nos de uma vez por todas intransigentes nisto. Reclamemos finalmente um pouco de espaço no campo discursivo para as nossas verdades – as verdades da mulher; as verdades do negro; as verdades do homossexual e do transgénero; as verdades do pobre – uma democracia que abraça uma verdade unidimensional e inequívoca é uma democracia que está gravemente doente. Uma democracia saudável, uma democracia sadia, uma democracia como aquela que abril imaginou, é aquela que se encontra em permanente tensão; é aquela onde as verdades se multiplicam irrazoavelmente e se sobrepõem umas às outras! É aquela onde nenhuma das infinitas verdades se arroga o direito de superintendência e superioridade em detrimento das outras! Reivindiquem o vosso lugar, reivindiquem a vossa história, afirmem a vossa verdade! Peguem com as vossas mãos o legado de possibilidades que 74 nos fez herdar e entrever.
- Nada disto é assim
Escritas no pergaminho do tempo Estão as marcas de mil sonhos, De mil canções trazidas pelo vento De tantos gritos abafados Por paredes de cimento. Estão desenhadas na tela do desalento As pegadas inconformáveis com o destino severo, Que procura privá-las do ímpeto violento Que habita o seu coração sincero. Largos são os passos Levados pelos pés que caminham Guiados pela crença de que estarão sempre a dois passos Do desfecho que há tanto imaginam. E o solo chora baixinho Cada vez que pegadas errantes Enrugam o seu rosto cansado De tantos passos dados em falso Em busca do seu sentido. Procuro o teu rasto, ó liberdade Nos trilhos do meu caminho. Procuro por onde fugir deste lugar vazio, Que conheço justamente como as linhas Que cruzam as palmas destas mãos. Pra onde foste? E o que levaste contigo… Sinto a terra Por baixo dos meus pés. Imagino para lá do muro que nos cerca, A ponte que um dia nos há de unir Quando será que nos deixam ir? Palavras. Que palavras trarão de volta O meu corpo e alma vagabundos Sem porto onde atracar? Que corpos e que almas Trarão de volta As palavras que me foram roubadas E trocadas por mentiras Que não me deixam descansar… Parecer é tão mais fácil que ser E, parecendo que não, Há muito que ruímos imbuídos no engodo, Desta vida em modo simulação. Onde parece que decidimos, Que sonhamos e fazemos acontecer Que alcançámos naquele dia de abril Algo que jamais iremos perder. Onde parece que sabemos, Que acedemos à pura verdade do que existe Que o mundo não é assim tão triste Que queremos e podemos. Nada disto é assim Mas não me privo de nada E vou guardando mais um sonho um desejo, Neste mar sobejo Daquilo que quero e de quem sou. Traço linhas esquivas Sintonizadas com o tempo Serpenteando ao ritmo da pulsação Fluindo no momento. Venha a falsa liberdade, Venha o ocultar da verdade. Venha a alegre subordinação, ou Levem-nos a vontade Nada disso importa Pois quem conseguir decifrar Os carateres desenhados No livro do meu cauteloso palpitar Saberá sempre por que direção Este (livre) coração há de andar.
- Quem é contra a guerra
Quem é contra a guerra não a faz. Quem é contra a guerra não grita por armas. Quem é contra a guerra não provoca belicosamente. Quem é contra a guerra não arma civis, pois armar civis é, já por si, armar um morto. Quem é contra a guerra não define os “bons” e os “maus”: a guerra é já a maior perda. Quem é contra a guerra não apoia um lado, pois tal coisa é apoiar a morte. Mas bem, vós é que sabeis, não é? Vós que fazeis a paz semeando a guerra, vós que hipocritamente clamam pela vitória do vosso lado, quando tal é a consequência de uma caminhada sobre os corpos dos vossos irmãos. Vós, que dizeis que a paz só existe quando saída da vossa boca. Vós, que armais pais e filhos pela “liberdade” e “democracia” (com muitas aspas). Desta forma é difícil ser contra a guerra, porque, para vós, a única solução para alcançar a paz é fazendo, precisamente, a guerra.
- VAI (a) TUNA (e vamos nós)!
No dia 23 de abril às 20h todos os caminhos vão dar à Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, pois é lá que se vai dar o I ANIMUS, primeiro festival de sempre da JurisTuna, Tuna Académica da mui nobre instituição da NOVA School of Law. Encabeçado por mais quatro outras Tunas (a VETuna, a Tuna Médica de Lisboa, a TUIMS e a Magna Tuna Apocaliscspiana), o I ANIMUS promete ser um belíssimo momento cultural, assim como um importante e emotivo marco histórico, não só para a JurisTuna em específico, como para toda a tradição académica da sua Faculdade em geral, que em muitos aspetos ainda está a dar os seus primeiros e tímidos passos, dada a sua tão jovem idade. Será inquestionavelmente o evento do mês de abril, e onde será possível observar o melhor que há da vida universitária: a união académica, a diversão tunante, a fraternidade estudantil e a despreocupação de quem tem apenas o hoje para viver. Bem vistas as coisas, serão estas as memórias que subsistirão ao fluir do Tempo e que ficarão para sempre gravadas nos nossos corações académicos. Por esse motivo, apressa-te e compra o teu bilhete, e vem disfrutar desta noite académica inesquecível! Deixamo-vos com um testemunho do nosso redator e tunante Tiago Monni que expressa a importância que a Juristuna representa na sua vida, enquanto refúgio do dia a dia, e o seu agradecimento aos colegas tunantes que o acompanham nesta jornada. TESTEMUNHO Os súcleos(1) são, ao final do dia, a sala de aula que não estávamos à espera. No caminho da faculdade de direito para a famigerada sala dissociamo-nos das doutrinas e jurisprudências e incorporamos a paixão inocente pelo cantar que nos seduz desde o primeiro ensaio, com o conforto de saber que temos lá os virtuosos, românticos e poetas que já há tempos nutrem a flama musical na mais alta oitava dentro dos seus corações, e que, ávidos por transmiti-la, estão sempre dispostos a tirar as nossas dúvidas, remediar as nossas incertezas e curar as nossas inseguranças, em um esforço conjunto em busca da suposta perfeição musical. Mas aí é que todos se surpreendem: é uma falácia essa tal perfeição, ou pelo menos o lugar onde ela está. A cada ensaio, insere-se em nossos subconscientes que o que tange a perfeição e o que nos leva mais perto da completude não é a reprodução final do que está nas partituras, mas sim a vivência, a assiduidade semanal, o trabalho duro do Conselho(2) e da Coordenação(3), as pequenas correções da Marta e as chamadas de atenção da Ialves, em suma, é a progressiva relação simbiótica entre tunos(4) e tunantes(5), mestres e aprendizes, professores e alunos. Nesse sentido, a ressoar das notas são apenas ferramentas de atração, entretanto o que nos faz continuar a atravessar o curto caminho entre a ''FACULDADE DE DIREITO'' e a tímida sala dos núcleos, é a singela comunidade de pessoas chamada juristuna, composta, por nós, os caloiros e vocês, nossos queridos amigos, os tunantes que nos receberam. Isto não vais encontrar em nenhum artigo da Constituição. (1) Sala dos Núcleos (2) Conselho de Tuna (3) Coordenação Artística (parte integrante da Juristuna) (4) Posição mais alta na hierarquia do estatuto dos tunantes (5) Membros da Juristuna
- Sem título
Tábula Rasa arrasada Alma cansada Pé a pé a pegada De carbono E tanta resolução da ONU P’ra nada Constrói célere a impúbere fachada Morre antes da hora, à chegada Este canto lusófono, Mundo preso num canto monótono Soe antes gritante esse galo Tábula que se vê como fábula que se lê Ao contrário Como salmão no lago, Povo dito otário Monótono o canto do horário Alienado e mal pago A priori a prisão, diz tradição Contratualismo, essencialista ou não A posteriori a real dominação Venha Nietzsche e sua postulação Weber e sua resignação Verdade se constitui na burocracia No mercado, na economia E socioeconómicas nossas manias Freudianas Patologias Venham as vossas demagogias! Que aqui fica tudo acabado Ser humano é regido não pela inovação, pelo mercado Daí não vir o teletransporte Mas o teletrabalho, E enquanto liberal se vê individualizado É só mais uma carta no baralho O indivíduo só existe Se a comunidade o reconhece Persiste em vão esta tese Porque continuarão, raça humana em corda bamba Até que tropece.
- (Não) Ser
'Ser ou não ser, eis a questão?' - interrogou-se Hamlet durante o terceiro ato da peça. Mas não é apenas o príncipe da Dinamarca que se debate sobre os mistérios da essência do ser humano, daquilo que está dentro de cada um de nós. Creio que não é um eufemismo afirmar que todos já nos questionámos sobre o nosso propósito para existir, seja nos momentos de desespero e perdição que enfrentamos durante a nossa passagem terrena, ou durante os instantes que nos enchem de felicidade e que nos deixam de coração cheio. Em qualquer um destes casos, acabamos sempre por pensar 'O que fiz eu para merecer isto?'. A introspeção de Hamlet, como os amantes de Shakespeare devem estar cientes, leva-o apenas pelos caminhos mais obscuros do pensamento humano. Fá-lo concluir que a única razão para aceitarmos as dificuldades da vida é o medo do desconhecido, daquilo que a morte nos traz, algo para o qual não nos dão a mínima preparação, nem mesmo uma pequena palestra ou free-trial . Mas é o medo que nos move? Talvez esta fosse a forma como o poeta encarava a vida. Ainda assim, a sua visão não representa a de todos os homo sapiens que vagueiam por este pedaço de pedra flutuante, e cada um de nós terá a sua sentença a proferir e a sua avaliação a dar quando for o momento para o fazer. Aqui está uma forma diferente de ver o mundo, para inspirar os mais melancólicos que pensam e respiram como Hamlet: enquanto somos devíamos existir, só quando deixarmos de ser o que somos é que nos deveríamos preocupar com o não ser. Trocado por miúdos, foquemo-nos mais no 'ser' do que no 'não-ser'. Só podemos ser uma vez, mas dispomos de toda a eternidade para não sermos aquilo que outrora fomos. Mas, afinal, porque 'somos'? Somos, ora porque Deus o ditou, ora porque a evolução nos fez, ora porque as decisões dos nossos pais, avós e bisavós nos trouxeram por este trilho. Somos um produto de outras gerações, histórias inacabadas que temem pelo seu desenlace, incompreendidos nas nossas diferenças, mas iguais naquilo que nos une enquanto desconhecedores do futuro. Somos profundos, somos aquilo que somos e nada mais podemos ser. Estamos limitados pelo nosso desconhecimento, e por isso não estamos autorizados a aventurar-nos além do que reconhecemos enquanto nosso. Não é, por tal, o medo que nos move, mas a curiosidade e o desejo de saber o que acontece no nosso próximo capítulo. A morte nada mais é que a promessa de uma vida que cada um de nós decide como viver. Uma verdadeira conclusão que precede à derradeira premissa que tudo define. Melhor não poderia dizer Fernando Pessoa quando escreveu “Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre.”. Aceitar a nossa condição de ser enquanto prequela do não ser, mas fazendo questão de deixar a nossa marca num mundo em que somos sem temer o futuro, para que nos recordem dessa forma quando já não o formos. Espero que estas palavras sejam lidas com escrutínio, que mudem mentalidades, transformem Hamlet's em Pessoa's e interrogatórios interiores em afirmações convictas: 'ser ou não ser?' não requer obrigatoriamente o uso de um ponto de exclamação e muito menos o uso de uma conjunção disjuntiva. Fiquemo-nos apenas pelo 'e' e pelo simples ponto final, adequado para a conclusão de uma narrativa: 'ser e não ser.' i* Pessoa, F. Livro do Desassossego , por Bernardo Soares. Vol. II. Mem Martins: Europa-América, 1986.
- Mágoa, Perdão, Conciliação
Mágoa Estou magoada contigo! Como foste capaz de fazer isto comigo? Sempre te vi como um ombro amigo… Mesmo sabendo tudo o que tinha acontecido E o raio de ano que tinha tido Contigo em mente tenho sobrevivido Pensava que me ias salvar Mas a tua solução foi ainda mais me destroçar Não sei se te vou conseguir perdoar! Perdão Recordo os momentos que me proporcionaste E da maneira que de mim cuidaste. Tu também já me perdoaste! Agora percebo que a culpa não foi tua. Estive com a cabeça na lua E interiormente sentia-me nua. Ao apanhar os pedaços do meu coração Dentro de mim procuro o perdão. Serás a minha exceção. Reconciliação Para os teus braços voltei E a ti novamente me entreguei. Sei que não me arrependerei. As coisas comigo já resolvi E toda a mágoa já absolvi. Quero-te ao meu lado, como sempre convivi. Contigo volto a ser feliz. Quase perdi tudo, foi por um triz Em ti tenho a minha raiz.
- O Mal de Cortar pela Raiz
Os valores fundamentais e originais do Homem estão em perigo. O indivíduo vem ao mundo direcionado para o bem e para a vivência em sociedade e nasce com a graça* necessária para trilhar o seu respectivo caminho pessoal consoante os valores fundamentais destinados à realização da sua autonomia e evolução pessoal, assim como dos interesses e necessidades da coletividade. Cada um nasce, portanto, ser autónomo e ser servo. Autónomo pois deve ser ativo e atuante na sua esfera pessoal, almejante de objetivos que conduzem à felicidade própria, e servo na medida em que vem a um mundo cujo um dos elementos apriorísticos é a sociedade, e que, por isso, deve conduzir as suas ações e pensamentos ao cumprimento do bem-estar social. Um jovem da geração Z observaria o parágrafo acima e, estonteado e confuso, questionaria, possivelmente de forma coloquial, como ele pode ter nascido com tamanha responsabilidade e compromisso, destinado já a tantas coisas e criado, de certo modo, badalado e solene: ‘’Isto está a parecer um emprego, mesmo bebé, já tenho compromissos, metas e objetivos? Que medo, que tão grande medo’’. A verdade é que mesmo a chupar o dedo na mais tenra idade ou a se preparar para entrar no mercado de trabalho, o indivíduo possui a mesma constituição interior original, que é constante em função do tempo, presente até o último respiro. É pura em sua conceção, mas deve ser resiliente e persistente com o passar do tempo; isto porque o crescimento é um fator problemático, deixa a interioridade à mercê de rastos viscosos e de feridas provenientes do exterior capazes de danificá-la profundamente, de deteriorações que são traiçoeiras pois alteram a imagem do indivíduo perante a sociedade e encobrem a verdadeira graça, embaçam as lentes dos óculos utilizados pelos outros; concedendo, por conseguinte, razoabilidade ao questionamento do jovem do século XXI. Agora a mãe de um jovem da geração Z, nascida na década de 70, exclama: ‘’o meu filho enquanto bebé era tão bonzinho e carinhoso, estava sempre a sorrir, agora é apenas rebelde e agressivo, tornou-se apenas mais um daqueles jovens deslocados e insurgentes que não canso de ver em outras famílias, parece que perdeu o seu caminho”; ele, na verdade, ainda é BOM, ainda tem um caminho próprio a percorrer; isto só não aparenta, não está escancarado nos seus olhos, pois está oculto pelas degradações do devir da vida, que podem, não se engane, partir de influências externas ou de ações do próprio indivíduo, contribuintes para a sua própria autofagia, embebidas de um certo obscurantismo pairante a todos e estranho ao solene e fascinante momento da criação. Nesse sentido, os valores fundamentais intrínsecos aos indivíduos sofrem e deterioram-se através de pequenos e constantes hematomas em seu invólucro. Já agora, no entanto, não releva aqui a definição dos valores fundamentais, pelo simples motivo de que já estão interiorizados a todos, e de que é dever do indivíduo encontrá-los, fazê-los reluzir e transformá-los em seus ‘’estandartes espirituais” (modelos de ser e de pensar); contudo, se fosse possível exprimi-los de acordo com a sua devida posição imaculada, eles se manifestariam como as distintivas bases de sustento do bom e próspero convívio social, sendo, concomitantemente, disciplinadores e libertadores, complexos e inteligíveis, fundacionais e constantes, universais e únicos conforme o especial caminho individual. Dessarte, entende-se, por essa panóplia de qualidades, a sua magnitude, o seu poder e o seu caráter distintivo, e, consequentemente, que o confronto e o dano dirigido a eles representariam a mais pura antítese da composição original do Ser Humano, um némesis do seu âmago, portanto, uma ameaça à sua existência. Levanta-se, então, o seguinte questionamento: foi-nos sempre ensinado o não agredir, mas nã agredir o quê? Quem é o objeto? Apenas as pessoas ou também tudo aquilo que nos faz como indivíduos agraciados? O constante vilipêndio do verniz moral que molda o ser humano em sua essência é talvez a mais grave das agressões, ao mesmo tempo que idiotiza o indivíduo, o esvazia de sentido, corrói os seus fundamentos e retira a sua esperança; ainda por cima acontece de forma velada, em que a pessoa, da mesma maneira que se cobre por uma quantidade excessiva de maquiagem para tentar disfarçar as suas supostas desarmonias faciais, recorre a mecanismos de defesa, a ‘’armaduras’’, com a finalidade de enturvar este vilipêndio, recorre ao ‘’está tudo bem’’ enquanto está a decorrer um choro silencioso ou, principalmente, recorre a formas exóticas de externalização que se configuram como ilusões inverosímeis de relevância e atuação face ao vazio existencial humano. Então, para uns, os valores fundamentais são valores insondáveis por uma prática reiterada de negligência à originalidade e a tudo o que foi estabelecido no momento da criação, enquanto outros, felizmente, os levam como guias de conduta e determinantes para a vida, os seus ‘’estandartes espirituais”. Se és o primeiro, rezo com força para que busque, custe o que custar, a tua graça e que a acenda como uma labareda ardente presente em teu coração, mas se és o segundo, não te envergonhes e a despeja pelos caminhos do Mundo, transmita-a àqueles que a desconhecem ou que a perderam, faz bom uso do teu gregarismo natural e vai ajudar os outros. O teu rasto também se pode concretizar na espiritualidade dos outros como um meio de salvação; ele não é apenas individual e, desde sua concepção, não é suposto que seja. i* Maior dádiva posterior à vida, Guia suprema de todas as ações e pensamentos de um Ser Vivo
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