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Carta Aberta ao Ambientalismo Vazio

Se esta é a ressonância da nossa geração, então precisamos urgentemente de afinar a frequência.

Queremos ressoar com os jovens, mas o eco que fica é o da artificialidade e da apropriação oportunista do discurso ambiental. Perdoem desde já a raiva que provavelmente vai transparecer nesta minha partilha, mas há limites quando falamos da imagem dos meus pares, da minha Instituição, e, primordialmente, do futuro do nosso planeta. Já chega de reclamar em surdina de atos vazios e eticamente questionáveis, prejudiciais para causas que nos tocam a todos. Da hipocrisia do uso indiscriminado da inteligência artificial, das palavras vazias, do culto à personalidade do líder e da normalização da cultura das cunhas, ao ativismo vergado ao sistema e ao status quo: É altura de falar contra as ações que atentam à inteligência de quem acredita que o direito e o ativismo ainda podem mudar o mundo.

Comecemos pelo mais simples. A defesa dos interesses do meio ambiente pura e simplesmente não se coaduna com o uso óbvio, indiscriminado e quase transparente de inteligência artificial, não apenas para a criação de legendas e artigos publicados por meios que se dizem respeitados como para a geração de imagens de forma constante. Os recursos naturais e hídricos gastos pintam de hipocrisia qualquer mensagem profunda que abstratamente estaria a ser partilhada. Contudo, esse conteúdo não existe. Porque de facto se somos lacaios do sistema, o ativismo torna-se muito rapidamente uma ferramenta de propaganda pessoal desprovida de impacto e ideias. 

Quando os membros principais do culto escrevem textos e opiniões badalados que são apenas uma junção de buzz words em inglês, repetições poéticas, mas pouco impactantes, e a inexistência de uma qualquer ideia, torna-se difícil justificar a existência e a ocupação de espaço no limitado mundo da proteção ambiental nacional. Mencionar que “é urgente repensar o enquadramento legal [das ações de grupos ambientalistas como a climáximo]” sem identificar o enquadramento existente ou fazer uma proposta de alteração é somente vender palavras vazias numa análise a que nenhum professor de direito daria nota positiva. Mas está no melhor interesse dos ativistas que vivem no bolso das grandes corporações propor como medida para o futuro do ambientalismo nacional que os jovens “walk the walk” e “talk the talk” como se o inglês emprestasse seriedade a discursos repetidos e reciclados em vários podcasts.

Falamos pelos jovens, e “subsidiamos a educação” porque gostamos de “acesso”, mas usamos IA para gerar imagens em vez de colaborar e dar espaço e voz a artistas que partilhem das alegadas cores ideológicas vendidas pelo culto de que falamos. Somos os jovens, mas não falamos de interseccionalidade, grupos económicos ou interesses políticos porque não queremos afastar os nossos patrocinadores, não queremos alienar o nosso futuro patrão. Mas sejamos honestos: ninguém esperava mais de um projeto que é, na prática, a imagem de capa da cultura de cunhas nacional

Se nos despirmos dos receios que colocam nos bastidores o que tem sido dito e repetido por tantos de nós, há uma conclusão repetida: Há grupos que são nada mais, nada menos, do que uma plataforma de publicidade criada em torno do líder supremo “Fundador e Presidente” e dos seus lacaios numa desesperada tentativa de apanhar o comboio do maior lucro possível por menor competência. De que serve saber direito, concluir o curso com sucesso, pensar criticamente, quando é tão fácil fingir a competência que cabe tanto mais a outros? 

Esta apropriação da educação, do ativismo e da justiça ambiental é um insulto à minha universidade, à formação jurídica que recebemos, e ao futuro que dizemos defender. Não podemos continuar a fingir. Se almejamos um Direito ao serviço da maioria, do planeta e da justiça intergeracional temos de romper com esta cultura de fachada. A mudança começa por dizermos, com clareza, o que muitos já pensam.

Não se trata de negar a importância de iniciativas que queiram aproximar o Direito e o ativismo. Mas exige-se responsabilidade, exige-se que não se brinque. Que se critique de dentro, com seriedade, com conhecimento e com humildade.


 
 
 

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