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- Setembro
Hoje começa o outono. Setembro sabe-me a melancolia. É o mês das comédias românticas, as protagonistas vêm ligeiramente tocadas pelo sol, ela com umas pequeninas sardas e manchinhas na pele, engordou um pouco, mas tenta todos os dias não pensar demasiado nisso. Veio com a sensação de que podia, de que devia ter vivido mais, foi tocada pelo sol, pela areia, pela água salgada, mas espera agora outro toque, mais profundo, mais íntimo. Setembro não tem saldo na conta bancária para a protagonista que é estudante, é o mês em que se quer ver livre dos pais, da sua casa, já não é criança, mas sente-se infantil, quer que lhe façam as vontades, que a peguem ao colo. Repete-se quando fala com as amigas, conta a todas a mesma história, mas muitas vezes guarda só para ela, às vezes ao chegar a casa doiem-lhe os pés, já não lava os dentes, deita-se na cama, chora e dorme e não é tudo tão bonito assim. Mas quando acorda promete que vai ser diferente, vai tomar o pequeno almoço para não acumular a fome toda para aquele deslize que lhe é costume à noite, não vai misturar o café com os comprimidos, vai usar corretor e rímel e fazer uma máquina de roupa. Não importa que ontem às 11 não se conseguisse sentir, agora são 7 da manhã e as coisas têm de mudar, ela quer melhorar. Coloca muita pressão em si, mas desculpa os outros. Sente muito, demais. Não quer ligar à mãe, só precisa de algum carinho, conforto. Os lençóis da cama têm de ser trocados e a louça da máquina despejada, a liberdade sabe a isto, e sabe bem. Não é isso que a incomoda, é sentir-se tão frágil, na mão, como se pudesse a qualquer momento ser despedaçada. Tenta ignorar aquelas bolachas antes de dormir, o cheiro a tabaco entranhado na roupa. Se ao menos conseguisse dormir em paz, chorar em paz, agradar a todos, fazer mais exercício. As folhas das árvores estão a cair, e eu só queria que me caisse esta vontade de ser perfeita, esta imposição a mim mesma, o sofrer por antecipação. Acho que não notam, só até certo ponto, só até que eu deixe, mas não me toquem na ferida, por favor. Vamos fingir que não sabem, que não veem, elogiemo-nos uns aos outros, vamos fazer por parecer bem. Caramba, eu estou bem. Não quero que me achem tão vulnerável. Não queria ser tão vulnerável. Não queria que soubessem. Não queria... só queria o verão, que é a estação do ano que menos gosto.
- Lista de Redatores, Coordenadores e Direção - 2023/2024
Redatores Do 1º Ano: André Saragoça Carolina Maia Catarina Rodrigues Constança Ferreira Diogo Simões Filipe Pedro Isadora Elias Ísis Martins João Coelho Lara Cândido Mafalda Carrôlo Maria Botelho Maria Veloso Mariana Cruz Matilde Santos Matilde Silva Matilde Proença Naima Mende Sara Schurmann Simão Lucas Tiago Carretas Do 2º Ano: Beatriz Diogo; Beatriz Franca; Beatriz Rodrigues; Bernardo Pinto; Constança Rito; Eduarda Meneses; Francisco D'Orey; Francisco Jesus; Inês Fonseca; Joana Lima; Joana Moreira; Leonor Baptista; Letícia Mendonça; Mariana Carvalho; Mateus Rego; Nuno Ferreira; Pilar Passos; Raquel Barros; Riccardo Noronha; Rita Horta; Sara Pinto; Simão Costa; Sofia Batista; Sofia Silvério; Sofia Tello Barradas; Taavi Medeiros; Ved Bagoandas. Do 3º Ano: Ana Beatriz Reis; António Subtil; Beatriz Geraldi; Beatriz Pereira; Carolina Correia; Carolina Sacavém; Fábio Pereira; Guilherme Sousa; Hugo Mendes; Inês Costa Graça; Isabel Costa; Luís Lobo; Margarida Raposo; Maria Inês Paredes; Maria Leonor Simão; Rafael Guerra; Rafael Santos; Rita Esteves; Simone Silva; Sofia Dias; Sofia Paulino; Sofia Ribeiro; Tiago Monni; Zulficar Silva. Do 4º Ano: Beatriz Mello; Diana Pry; Diogo Simões; Inês Brazão; Matilde Ribeiro; Neuza Lopes; Salomé Alexandre Lourenço. Externos: Bruno Martins. Coordenadores Beatriz Rodrigues, Coordenadora dos Podcasts; Inês Fonseca, Coordenadora da Edição Física; Joana Lima, Coordenadora da Comunicação; Maria Castro Ribeiro, Co-coordenadora das Entrevistas; Maria Leonor Baptista, Co-coordenadora das Entrevistas; Sofia Paulino, Coordenadora das Artes Plásticas; Rafael Santos, Coordenador do Clube de Leitura. Direção Sofia Dias, Diretora; António Subtil, Diretor-Adjunto; Francisco de Jesus, Diretor-Adjunto; Inês Brazão, Diretora-Adjunta.
- 1.ª Reunião de Núcleo 23/24
No âmbito do art. 7.º, n.º 2 dos Estatutos do Jur.nal, vem a Direção, neste sentido, publicitar a 1.ª Reunião de Núcleo do mandato 2023/2024. A reunião dar-se-há no dia 30 de outubro, pelas 18h, simultaneamente de forma presencial, na sala dos Núcleos, e online, através da plataforma ZOOM. No devido momento, irão os redatores receber o link no Grupo de Whatsapp Geral do Jur.nal. Esta primeira reunião terá a seguinte ordem de trabalhos: Apresentação da Direção, Coordenação e Redação; Apresentação das “regras” do Jur.nal; Apresentação do plano geral de atividades para o mandato; Discussão sobre a Edição Física; Apresentação de propostas de atividades e iniciativas por parte dos Redatores; Outros assuntos. A Direção do Jur.nal, António Subtil, Inês Brazão, Francisco de Jesus e Sofia Dias. 25 de Outubro de 2023.
- Porque não continuamos a brincar?
Às vezes, em lapsos do meu cotidiano, recorro à nostalgia do despertar de uma criança, que não sabia o que era o mundo, e que tinha como dever explorá-lo e descobrir todos os seus labirintos e entranhas. Hoje em dia, por outro lado, sou um especialista no Mundo, pois provavelmente conseguiria desenhar um mapa que incluísse todos os seus caminhos e esconderijos, sendo tudo já previsível e esperado. Portanto a minha única arma para viver é a nostalgia: quem dera se alguém apagasse a minha memória e o passado tornasse presente… Da mesma maneira que muitas crianças, eu costumava montar os meus próprios brinquedos, consternado, “vidrado” naquela ação. Poderia estar a acontecer um incêndio na cozinha, causado pelo meu irmão desastrado ou um anúncio de que a família fosse fazer uma grande viagem, que eu ainda estaria incessantemente à procura daquela maldita peça pendente para que eu pudesse completar a construção de uma das dez torres que tinha pelo caminho. Passava horas nesta atividade, “movido” por qualquer coisa que eu não sabia identificar. Apesar da indicação do resultado do brinquedo, evidenciada na própria caixa, e da existência de um passo a passo pormenorizado que indubitavelmente me levasse a tal resultado, tomava como meu dever terminar a construção que eu próprio comecei, do meu próprio jeito. Em reflexão, descobri que o que me movia era um verdadeiro Mistério, uma exigência de totalidade sobre qual, mesmo com a minha tenra idade, conseguia intuir ser infinitamente mais forte e mais potente do que o previsível manual de instruções que me apontava à construção da imagem pré formatada presente na caixa. Terminada a construção, corria diretamente ao quarto dos meus pais. Eles sorriam; e assim os meus olhos brilhavam, ao saber que fiz algo de importante. Naquele momento, através da realização da tarefa a qual me designei, me sentia pertencido, feliz. Reconhecia que nenhum manual de instrução, por mais detalhado que fosse, conseguia instruir-me até a beleza consubstanciada naquele momento. Cinco minutos depois de ter saído do quarto deles, eu volto e peço por mais um brinquedo. Por mais bela que aquela aventura tenha sido, não me encontrava satisfeito. Eles coçam a carteira, fazem contas e decidem o dia da compra. Como o dia D nunca chegava, ficava eu na fila de espera, louco para que fosse a vez da minha senha. Atualmente, tenho 20 anos e cerca de 30 brinquedos na minha coleção. Eles ficam ali, hermetizados no armário, envoltos de poeira. Agora já não brinco, já não crio. Resta-me viver afundado em uma maré de obviedades, ditas e repetidas pelos meus colegas. Nós já jogamos todos os jogos, já brincamos até mais do que deveríamos. Tornamo-nos os criadores dos manuais de instruções. O Mistério que buscávamos nos brinquedos já foi desvendado, pois agora somos donos do nosso próprio destino. O que resta é a reputação de já ter feito de tudo e o alívio de finalmente não ter nada mais por fazer. Qualquer imprevisto, surpresa, trabalho a ser resolvido ou convite inesperado é uma mosca a zumbir no nosso ouvido: matamos logo. São completamente artificiais, pois não teriam sido fruto da nossa infrutífera criação. Em cima do estandarte da nossa arrogante autossuficiência, escolhemos deliberadamente censurar o novo em prol de um reconfortante bem-estar, em que tudo é óbvio. Agora, afinal, o novo não existe. Passam-se meses e nem me apercebo do devir das coisas, pois tudo continua igual, “bem”, “tranquilo”, “normal”. De alguma forma, criamos a nossa própria linha do tempo. Até que chega o derradeiro ponto em que me sinto sozinho, mesmo quando rodeado por dezenas de amigos. Sinto-me fraco, pois parece que já não consigo possuir a realidade com as minhas próprias mãos. O ambiente de condescendência entre os meus amigos torna-se intimidante. Passados alguns dias, constatei que este nosso “tudo” não era suficiente. Volta a insatisfação, aquela que sempre me deixava inquieto enquanto criança. Já não escolho violentamente anulá-la, mas entendê-la, refletir sobre ela. Noto que a nossa autossuficiência afinal tinha prazo de validade, pois não me basto sozinho e nem quando estou com os meus amigos. Simultaneamente a esta insatisfação está uma nostalgia profunda, que procura distrair a minha memória em busca daquela época pueril, quando, para aprender a andar, eu não tinha medo de cair no chão; e mesmo assim chorava ao ralar o joelho. Chorava porque sentia na pele o impacto da vida. De uma vida “vivida”, não de uma suposta artificialidade fabricada. Sinto saudade da criança que queria construir brinquedos cada vez maiores e que ainda ficaria insatisfeita mesmo após ter finalizado o maior que já lhe foi dado. Apercebi-me que, por mais poderoso que fosse, não conseguiria saciar a sede infinita do coração com as minhas próprias obras. Preciso de algo diferente que não dependa e que não consiga ser medido por mim, porque sei que se fosse tentar resumir a potência da vida em um manual de instruções, não haveria papel suficiente. Necessito precisamente de recuperar aquele segundo antes de abrir a porta do quarto dos meus pais. Ali tudo era um imprevisto, tinha, inclusive, um pouco de medo de que eles ficassem indiferentes quanto aquilo que lhes iria apresentar. Não obstante, após uma certa hesitação, sempre decidia por, em um ato de coragem, abrir a porta e entregar-me a algo que não dependesse de mim, mas sim da obra de um outro. Assim, em uma curta reminiscência, descobri que a entrega é infinitamente mais bela do que a posse! Hoje cheguei a casa após um intenso dia na faculdade, passado junto com os meus amigos. Decido abrir o compartimento mais recôndito do meu armário e acabo por despedaçar-me a chorar. Contudo, a meio deste mar de lágrimas consigo afirmar, com uma voz trêmula: aos 20 anos, recuso-me de já ter construído o meu último brinquedo.
- Corredores
É suposto pensar em algo quando ando por corredores inacabáveis? Ao ver todas as portas de sensivelmente uns 3 cm que separam um mundo privado das restantes vidas devo pensar só em mim? Hoje pensei nos pesadelos que ao dormir muitos podiam ter. porém, debrucei-me sobretudo no facto de acordarmos sempre. Quase que como se uma força natural, sempre mais forte que qualquer um, nos force a acordar antes de encararmos cenários demasiado tristes ou assustadores para o nosso cérebro sequer criar imagens acerca destes. Parece que o sentido natural do mundo é fugir de algo que não somos capazes de processar. Algo que me fascina nestas versões bizarras de sonhos é a sua evolução ao longo de uma vida. Comecei por ter pesadelos absurdos, em que o medo causado era apenas suficiente para caber na cabeça de uma criança. Atualmente um pesadelo quase que transcende paredes de osso e de paira no ar quando tento voltar a dormir. Se olharmos para o primo mais simpático do pesadelo vemos que ele também é o parente esquecido. Um sonho é tão inútil que já não me lembro do último que tive, por outro lado, o meu último pesadelo foi tatuado na memória. Outra coisa que me faz comichão no cérebro é a dúvida de se, sabendo que as abelhas sonham ( está cientificamente comprovado) também acordam exaltadas dos seus sonhos mais infelizes? Ou será que sequer lembram-se deles ao acordar? A real comichão (está já está em carne viva de tanto coçar) recai sobre a incerteza quanto à minha suposta superioridade humana. Pensava que era especial por sonhar mas se calhar também sou só uma abelha. E se calhar até sou pior a ser uma abelha (mesmo tendo todas as faculdades humanas dadas pela evolução) do que uma própria abelha, mesmo tendo os mesmos sonhos. Outro grande problema é não saber se eu mesmo sou um sonho de um universo morto Vamos lá ver, se teoricamente o conceito de uma seta do tempo que corre tal como um rio sempre para o mesmo sentido é ilusório, qualquer parte do universo que se move tem uma certa probabilidade de, nesse tal de futuro, ocupar um lugar completamente aleatório. Quase que como uma gota de sangue num copo de água. Se deixarmos cair tantas quantas presentes em todas as pessoas, eventualmente algumas delas formarão formas, ou mais interessante ainda, estatisticamente, é possível que uma delas numa se espalhe pela água. A única diferença entre o universo e o copo de água é a infinidade de tempo pela frente de todas as partículas e das suas jornadas cósmicas. Outro exemplo é aquele dos macacos que conseguem escrever tudo se tiverem tempo suficiente. Neste caso, há tempo e há macacos (forças e tal, não sou de física). No fundo, se calhar sou só uma probabilidade e, como o sangue, apenas existo por poucos momentos até dissipar-me novamente. Isto levou-me a pensar no que sou. Um cérebro ou um corpo? Infelizmente abri aqueles 3 cm de madeira, vesti o pijama e adormeci, só para não me lembrar nem dos sonhos ou dos pesadelos que poderei ter tido.
- 2h24: monólogo interno sobre síndrome de impostor
O meu processo criativo diz muito de mim. (Uau, processo criativo, que intelectual e importante que ele é!). Estando a passar por um bloqueio criativo (again, uau, mas quem sou eu?), penso cada vez mais no porquê de não ter ideias e de quando as tenho não conseguir fisicamente escrever nada, de todo, ou nada que me agrade. Já há muito tempo, apercebi-me que o meu processo criativo advém de uma epifania, pelo menos é isso que eu penso que é, ou de uma inspiração divina (claro, não acredito nesta última). Não gosto que seja assim. Nunca me considerei uma pessoa totalmente espontânea e render-me a uma eventualidade incerta e incontrolável porque dependo dela para resultados que sejam minimamente agradáveis para mim não é algo que me traz grande felicidade. Penso: se este meu talento, como dizem, é algo que só surge através destas chamadas epifanias será mesmo um talento meu? Se não o consigo dominar e usá-lo a meu favor quando e onde me convém, será mesmo um talento? Sei que as minhas ideias surgem através de alguma associação ou de palavras-chave que eu leio, penso, imagino, elaboro e que se não as espremer e esculpir nas Notas do telemóvel ou no Word quando tenho o PC aberto, então nunca mais. A minha mente coloca-as num envelope endereçado a destinos indefinidos. Vão para o lixo e seguem no camião para se camuflarem na lixeira enquanto se deterioram. Nunca mais me é concedido acesso. Se eu nem sequer as consigo restaurar, serei mesmo um bom escritor como me têm dito vezes e vezes sem conta? “Ok, analisa isto racionalmente!” Eu nem leio assim tanta poesia e às vezes armo-me em poeta. E os livros que paro de ler passadas menos de cem páginas são quase tantos como aqueles que eu já li. Mas quem sou eu para dizer que gosto de ler e de escrever? Quer dizer, eu nem tenho uma biblioteca em casa. “Ok, calma lá, bolas de neve no verão e a esta hora não!” Às vezes escolho não pegar nos tais conceitos epifânicos porque estou a fazer qualquer outra coisa, porque tenho de estudar ou de me encontrar com certa pessoa(s). Abdico delas sabendo que serão inatingíveis passados meros minutos. Se me são assim tão descartáveis (não são, eu sei que me dão uma certa plenitude), serei mesmo um bom escritor? O Saramago escreveu em média duas páginas por dia ao longo da sua vida e eu se escrever mais de dez linhas semanalmente já me aplaudo. “Ok, nem vale a pena continuar, mais vale calares-te, voz interior, aproveita esses regalos de Deus (ou whatever it is) e deixa-me dormir.” Boa noite!
- Sonhos de Menino II
Hoje sonhei que matei o meu pai. Ele era um velho rico enrugado e pomposo, e não usava óculos. Havia um jardim na nossa mansão, um pequeno lago rodeado de árvores altas e mesas com cadeiras, com uma cerca à volta. Andavam pavões pelo jardim. Eu matei um dos pavões e cozinhei-o. Isso irritou muito o meu pai, que estava sentado numa das cadeiras e de seguida, uma de duas coisas aconteceu, talvez as duas, não me lembro. Atirei o pavão pela cerca, excepto a perna cozinhada, que atirei à cabeça do meu pai, incapacitado-o ou matando-o. E, se ele não morreu, envenenei-o com vinho. A ***** estava numa das outras mesas virada de costas e não viu o homicídio. Mas ela veio com um amigo dela (não sei quem, talvez um drogado) dar-me uma lição de vida sobre não sei o quê, talvez sobre os meus problemas com relações sociais. Infelizmente acordei a meio da lição, mas voltei a adormecer. Depois sonhei que Veneza tornara se uma zona de guerra, dividida entre três fações: alienígenas, o governo americano, e as jurisputas. Eu pertencia, claro, à fação das jurisputas. O sonho foi curto, mas lembro-me de uma catedral se tornar o novo palco de combate, mas eu só fugia e esquivava-me dos inimigos, porque eu não acredito na violência. Hoje sonhei que estava a jogar algo, mas aborreci-me e procurei uma versão alternativa do jogo. O primeiro red flag é que a comunidade à volta desse jogo era um bando de weebs, e sei disso porque nos fóruns em que eles falavam tinham todos profile pics de anime O jogo consistia em mim estar numa sala no PC, enquanto que, por detrás de mim, estava a minha mãe. Exceto, não era realmente a minha mãe. Era uma mulher desumanamente alta, pálida e magra. Os olhos dela estavam vazios e olhavam sempre a direito. Com o tempo, o cenário ia mudando. Os olhos dela iam ficando mais vazios. Iam aparecendo bebés. Os bebés iam se multiplicando, misturando-se numa massa. Eles possuíam a mãe e aí os olhos dela ficavam ainda mais brancos. Mostrava dentes afiados. E depois nada. Só eu a continuar no PC, e ela atrás de mim, mas nada aconteceu. Acordei. Suponho que o objetivo fosse prevenir de alguma forma que ela me matasse. Hoje sonhei que estava a ver vídeos da minha mãe comigo em bebé todos fofos e alegres. Mas apercebi-me que o vídeo estava no youtube e isso não fazia sentido, logo, questionei a minha mãe. Ela também não fazia ideia. Aí o mundo virou jogo em pixel de terror, um labirinto escuro, e a minha mãe a personagem jogável. Acabámos por descobrir que foi um stalker que apanhou os vídeos e os colocou online. Ele descobriu a minha mãe e perseguiu-a até ao meio do labirinto. Apesar do desfoque, porque são gráficos de pixels né, lembro-me da cabeça dele ser desumana e metálica de alguma forma, talvez em forma de holofote. Houve uma pausa no meio do labirinto. Silêncio. E depois, ele aparece e mata a minha mãe. Depois, sonhei que escrevia este sonho para o grupo das bichas, ao qual a ***** e eu comentamos que, no último sonho, eu matei o meu pai, e está a haver um padrão com mortes parentais nos meus sonhos. O sonho termina connosco a comentar que Freud teria muito a dizer sobre os meus sonhos. Hoje sonhei que estava em Torres tinha uma grande bolha de carne à volta do meu umbigo. Perguntei à minha mãe se fazia mal rebentá-la, ela disse que não. Então, puxei e tentei rebentá-la, mas acabei por puxar a minha carne em vez disso. Um pedaço de pele da minha barriga ficou meio solta, e se o puxasse, conseguia ver as minhas costelas e carne vermelha interna. Acho que desmaiei por um bocado. Quando acordei estava à mesa de jantar inclinado numa cadeira. Falei à minha mãe sobre o problema, pedi-lhe que me ajudasse. Acho que ela me deu um comprimido só, mas não era o suficiente. Disse-lhe várias vezes para me levar ao hospital, mas ela nunca o fez. Para sarar a ferida, tive de ficar ali sentado, imóvel, até aquilo sarar por si mesmo. No tempo em que estive inconsciente, a minha família encontrou as coisas que escrevi no meu PC. A minha mãe olhou para mim muito preocupada, e perguntou-me sobre um documento que se chamava "Carta de suicidio". Era uma folha em branco. Eu limitei-me a responder "É um projeto artístico para o qual ainda não tive inspiração".
- Dia de praia
Simone enterrou os pés na areia, provocando um agradável contacto entre os grãos finos e a sua pele. Havia colocado a sua cadeira de praia numa zona intermédia entre a areia seca e a areia molhada, afastada dos resquícios de conchas e algas que davam à costa. Aquele lugar parecia-lhe perfeito, corria uma suave aragem, e não existia o mínimo risco de, caso uma onda decidisse rebentar mais à frente, os seus pertences ficarem alagados. Na sua posição estratégica, Simone observava os veraneantes a ir e a vir ao longo do vasto areal. Se virasse o seu pescoço o máximo que podia, para um lado e para outro, as pessoas transformavam-se em pequenos pontos no horizonte de areia e ondas. A porção de areal que antecedia a zona da rebentação era ocupada por gentes de diferentes gerações que jogavam à bola ou com raquetes, em campos delineados com o indicador ou com algo pontiagudo que estivesse à mão de semear. Simone ouvia as gargalhadas estridentes das crianças que, sentadas na areia, construíam castelos utilizando baldes, pás e forminhas, amontoavam sedimentos que se transformavam em pequenos muros, e cavavam buracos, sendo surpreendidas com o aparecimento de água no fundo destes. Simone fixou, então, a sua atenção numa mulher que praticava ioga no meio da aglomeração de gente. Vários transeuntes olhavam demoradamente enquanto a sujeita movimentava delicadamente, mas decisivamente, os seus quatro membros e o seu torso, alternando entre as posições de guerreiros. A dada altura, quando se sentiu cansada de transferir o peso do seu corpo dos pés e pernas para as mãos e braços, e vice-versa, a mulher sentou-se, à semelhança das crianças que povoavam o areal, de pernas cruzadas e de frente para o mar. Simone reparou nos seus braços, outrora elevados em direção ao sol, pousados sobre os joelhos dobrados, e na sua respiração serena, acompanhando o ritmo das ondas que subiam e desciam. Alguns minutos depois, a mulher levantou-se e aproximou-se de Simone, afundando-se na cadeira de praia que se encontrava ao lado da desta. Estiveram em silêncio por momentos, com a mulher, de olhos cerrados, a banhar-se no calor que o sol irradiava. “Acho que vou dar um mergulho.” – acabou por dizer. Levantando-se da mesma maneira abrupta com que se tinha sentado. – “Queres vir?” “Vai andando. Eu já lá vou ter.” A mulher assentiu. Fez descer os calções pelas pernas, ficando apenas de bikini. Simone viu Júlia, assim era o seu nome, afastar-se mais e mais. A determinada altura tornou-se numa silhueta que rasgava o mar, difícil de identificar ao longe. Simone não se mexeu um milímetro que fosse. O calor que incidia no lado direito do seu corpo gerava em si uma sensação de inércia total. Como tal, prosseguiu o seu trabalho de perscrutação dos estranhos que habitavam aquela praia. Contemplava as pessoas de variadas idades que brincavam de variadas formas na areia molhada junto à rebentação, as que caminhavam à beira-mar, as que penetravam as ondas e davam braçadas irregulares da esquerda para a direita e da direita para a esquerda. Pensava que toda aquela matéria humana, todos aqueles pontinhos que polvilhavam o horizonte, continham dentro de si histórias. Desde o homem com a pele escurecida pelas muitas horas a caminhar ao sol, vendendo os doces que carrega nos antebraços em dois cestos, à criança com o regador que se deleita a verter água nas pernas da mãe, do pai, dos irmãos, e quando o conteúdo do mesmo se esgota, corre em direção ao mar para o encher. Todos eles são ilhas com vários X’s à espera de serem descobertos. Simone sentiu-se subitamente assoberbada. O tão só pensamento de que lhe era impossível conhecer cada uma dessas histórias fê-la sentir-se insignificante naquele mar de organismos vivos. Quão bizarro seria aproximar-se de um estranho e pedir-lhe que começasse a dissertar sobre a própria vida, e que nesse relato não economizasse na pormenorização. Infelizmente, mesmo que concretizasse a interação, nunca ultrapassaria o circunstancialismo. Com essa conclusão, levantou-se, por fim, e foi passo a passo até ser abraçada pelo oceano. ** À noite, Simone encontrava-se sentada à mesa da salinha do aconchegado T1 que havia arrendado, a meias com Júlia, a uma magnata da vila com olhos muito claros e cabelos muito brancos. Diante de si estava novamente um documento de texto. A sua prima-quase-irmã já dormia a sono solto numa das camas do quarto que ambas partilhavam. Simone travava a sua habitual batalha com um ecrã de computador. Nos últimos tempos congratulava-se por chutar as suas dúvidas existenciais para canto, e, assim, lograr transformar os seus pensamentos em caracteres de cor negra. Algumas vezes a escrita fluía de forma tão natural que, com a delicadeza de uma bailarina, produzia um capítulo completo em questão de poucas horas. Outras vezes, [nunca deixarão de existir essas vezes], meia dúzia de linhas eram arrancadas a ferros. No entanto, não se podia queixar. Era com satisfação que constatava que, numa perspetiva geral, a sua empreitada literária se desenvolvia em velocidade de cruzeiro. Agora era outra a indagação que a visitava com frequência. Não de forma angustiante como a anterior, antes com uma dose saudável de curiosidade. Simone cogitava a existência de musas, de fontes inesgotáveis de inspiração. No seu ponto de vista, qualquer artista quererá alcançar esse filão. Ela sentia não o possuir. Ou estaria enganada? Seria possível dispensar a busca por um algo ou alguém a quem pedir o néctar infinito que alimentaria o seu impulso criativo? Talvez não fosse preciso um objeto soberano dos seus afetos, ou suplicar aos céus, ou rogar aos deuses. Talvez a sua musa fosse a fenda na parede que se assemelha a um relâmpago, ou a concha desfigurada por embater na água e nos restantes sedimentos, uma e outra e outra e outra vez. Talvez aquilo que a incentivaria a levantar a caneta fossem as pegadas que se sobrepõem infinitamente no areal, o vento carregado dos aromas do mar salgado, a sua prima Júlia que amava as flores desde que eram pequenas, e, por isso, decidiu estudá-las e fazer delas a sua vida. Talvez aquilo que a levaria a não desistir por completo nos dias em que a escrita não se mostra satisfatória sejam todas aquelas histórias que desconhece, e também as que conhece. Todas merecem ser eternizadas. Simone bateu nas teclas até o seu cérebro permiti-lo. Baixou o visor do portátil, e ergueu-se enquanto esticava os seus braços ao alto. Subiu as escadinhas que levavam ao terraço. Daquela não muito alta casinha conseguia ver uma faixa de mar. Era noite de lua cheia. Simone assistiu, como há muito não fazia, a um perfeito diálogo silencioso entre o astro e o oceano.
- Programa Eleitoral da Direção de 2023/2024
Nos termos do artigo 35.º dos Estatutos do Jur.nal, apresentamos a seguinte candidatura à Direção do Jur.nal, núcleo autónomo da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa: a) Identificação dos Candidatos: Candidatam-se à Direção do Jur.nal os seguintes alunos da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, apontando que, de acordo com o artigo 35.º dos Estatutos do Jur.nal, não detêm cargo diretivo da AEFDUNL ou de um núcleo autónomo da Universidade Nova de Lisboa ou AEFDUNL, com a exceção dos candidatos n.º 1 e 4, que detêm o cargo de Diretores-Adjuntos na Direção cessante do Jur.nal, não se revelando qualquer incompatibilidade: 1 - António Jorge Carvalho Subtil, N.º 8622, do 3.º ano da Licenciatura 2 - Francisco de Jesus, N.º 9264, do 2.º ano da Licenciatura 3 - Inês Teixeira Matos da Cunha Brazão, N.º 7953, do 4.º ano da Licenciatura 4 - Sofia de Campos Silva Peças Dias, N.º 8574, do 3.º ano da Licenciatura A Direção candidata autovincula-se ao exercício das competências dispostas no artigo 13.º dos Estatutos do Jur.nal e ao respeito pelos princípios enunciados no artigo 3.º dos mesmos Estatutos. b) Plano de Repartição de Funções entre a Direção: Nos termos do artigo 10.º dos Estatutos do Jur.nal, a Direção deste núcleo é composta por um Diretor/a e três Diretores-Adjuntos/as. Planeamos a seguinte repartição de funções: Diretora – Sofia de Campos Silva Peças Dias, N.º 8574, do 3.º ano da Licenciatura, assumindo as competências enunciadas no artigo 14.º dos Estatutos do Jur.nal, mais especificamente, dedicando-se à elaboração do Orçamento, à orientação do rumo do Jur.nal e método de trabalho do mesmo; Diretor-Adjunto –António Jorge Carvalho Subtil, N.º 8622, do 3.º ano da Licenciatura, assumindo as competências enunciadas no artigo 15.º dos Estatutos do Jur.nal, cabendo-lhe, mais especificamente, orientar as Coordenações, previstas no artigo 18.º dos mesmos Estatutos; Diretor-Adjunto – Francisco de Jesus, N.º 9264, do 2.º ano da Licenciatura, assumindo as competências enunciadas no artigo 15.º dos Estatutos do Jur.nal, salientando-se a importância que terá a nível das Relações-Públicas, Eventos e Redes Sociais; Diretora-Adjunta - Inês Brazão, N.º 7953, do 4.º ano da Licenciatura, assumindo as competências enunciadas no artigo 15.º dos Estatutos do Jur.nal, auxiliando a organização burocrática do Jur.nal, como por exemplo: compilando textos para futura publicação, dispondo de outros documentos administrativos e especializando-se em Entrevistas. As competências de Proofreading e planeamento da Edição Física/ das Edições Físicas serão assumidas por todos os membros da Direção. c) Plano Geral para o Jur.nal: Considerando as competências da Direção expressas no artigo 13.º do Jur.nal, a Direção candidata apresenta os seguintes traços gerais: ✔ Manutenção da periodicidade das publicações, no site e conta oficiais do Jur.nal; ✔ Criação da Coordenação da Entrevistas e da Coordenação da Edição Física; ✔ Desenvolvimento de sondagens no Instagram do Jur.nal e nos grupos de turma/ano sobre temas relevantes para a sociedade, que serão posteriormente publicadas; ✔ Desenvolvimento de, pelo menos, 1 (uma) entrevista por semestre; ✔ Desenvolvimento de, pelo menos, 1 (um) evento por semestre; ✔ Continuação do trabalho realizado no Clube de Leitura, em constante partilha de ideias com a respetiva Coordenação do mesmo; ✔ Possível publicação de múltiplas Edições Físicas, de acordo com o orçamento disponível; ✔ Publicitar as eleições da AEFDNUL de 2023/2024, consultando os possíveis candidatos; ✔ Publicitação ativa do Jur.nal nas redes sociais e no campus, nomeadamente através de atividades de integração de novos membros da Comunidade Académica; ✔ Desenvolvimento de campanhas de sensibilização, relativamente ao tema da Saúde Mental dos estudantes e restante Comunidade Académica e do Reforço do Poder Estudantil, dando a conhecer os principais órgãos institucionais da Universidade Nova de Lisboa e respetivas funções. Exemplo de uma possível questão que ambicionamos ver respondida: “O que fazer quando um Professor viola um regulamento?”; ✔ Como qualquer meio de comunicação social, continuar a exigir mais e melhor de quem está acima, com rubricas como o ‘Mais uma da Nova Escola da Lei’ ou outras que possam surgir. Fazer com que as críticas que surjam cheguem aos órgãos competentes; ✔ Promoção de eventos a título individual, em colaboração com outros núcleos da faculdade, ou até interfaculdades, de preferência de modo presencial, de forma a fomentar o convívio e a partilha; ✔ Continuar a acompanhar de perto os eventos da Faculdade e externos de muita relevância (ex. eventos do CNED), para que a Comunidade Académica esteja sempre atualizada e informada; ✔ Reflexão acerca dos meios tecnológicos do Jur.nal, mais precisamente da plataforma atual de publicação - renovação do site, investigar uma possível migração para uma plataforma mais apelativa e intuitiva; ✔ Continuação da realização de Visitas de Núcleo, para fomentar o espírito de comunidade do Jur.nal; ✔ Continuação do projeto “Mergulho Profilático” e criação de novos Podcasts; ✔ Possível venda de merchandising alusivo ao Núcleo; ✔ Realização de atividades lúdicas, como workshops de escrita e celebração de datas notáveis, como o Dia da Mulher, o Dia da Poesia, 25 (vinte e cinco) de abril, e o Mês do Orgulho; ✔ Realização de um Concurso de Escrita. Enquanto Direção candidata comprometemo-nos a zelar pelo cumprimento dos traços gerais acima definidos, não excluindo a possibilidade de delinear novos objetivos, tendo sempre em conta o disposto nos Estatutos do Jur.nal. d) Plano para as Edições Físicas: Nos termos do disposto no artigo 4.º dos Estatutos do Jur.nal, a Direção candidata compromete-se, caso as circunstâncias assim o permitirem, a desenvolver 2 (duas) Edições Físicas em cada um dos semestres, do presente ano letivo de 2023/2024. Estas Edições Físicas serão elaboradas com base em vários temas a ser discutidos entre todos os membros do Jur.nal, e serão compostas por: ✔ Textos elaborados pelos redatores e/ou eventuais colaboradores, em qualquer formato; ✔ Imagens e/ou ilustrações; ✔ Ficha Técnica e Agradecimentos; ✔ Outros; A elaboração das Edições Físicas é da competência principal da Direção, com o auxílio da Coordenação da Edição Física, sendo aquela responsável por todas as questões orçamentais e de impressão, não excluindo o contributo dos redatores, coordenadores e colaboradores para o conteúdo material da mesma. e) Plano para a Componente Online: Nos termos do disposto no artigo 4.º dos Estatutos do Jur.nal, a Direção compromete-se a fomentar a presença online do Jur.nal, através de: ✔ Publicações nas redes sociais e no site oficial do Jur.nal; ✔ Continuação das Rubricas “Trocado por Miúdos”, “Dicionário”; “Melopeias”; “Mãos Flanantes”; “Mais uma da Nova Escola da Lei”; “Lembro-me que..”; “Sonhos de Menino” e criação de novas rubricas; ✔ Publicação da Edição Física em formato digital no site oficial do Jur.nal; ✔ Interação com os leitores online, de modo a obter feedback construtivo; ✔ Desenvolvimento de sondagens no Instagram do Jur.nal e nos grupos de turma/ano sobre temas relevantes; ✔ Transmissão de diretos nas redes sociais, de forma a difundir os eventos realizados; As presentes iniciativas não excluem a posterior definição de outros objetivos e/ou adoção de novas ideias. Declaração Final: Em primeiro lugar, gostaríamos de expressar o nosso agradecimento à Direção cessante pelo magnífico trabalho desenvolvido no âmbito do seu mandato. O seu espírito de iniciativa e vocação dinamizadora foram essenciais para a afirmação do Jur.nal enquanto núcleo autónomo promotor da criação artística e do espírito crítico da Comunidade Estudantil. À coordenação, queremos agradecer por aceitarem o desafio de assumirem esta nova responsabilidade no núcleo. Estendemos o nosso agradecimento e congratulação à Redação, pelas suas formidáveis contribuições. Reforçamos o seu papel fulcral no desenvolvimento da atividade do Jur.nal, desejando que a cooperação com a mesma se mantenha. Apenas numa perfeita simbiose entre as 3 partes chave deste núcleo, poderemos levar a bom porto as propostas apresentadas neste Programa. Agradecemos a agilidade da Direção cessante ao longo deste processo, fazendo votos de que a relação de entreajuda com os seus membros perdure. Sabemos da importância que este núcleo representa na Comunidade Estudantil. O Jur.nal será sempre uma casa para aqueles que não querem ter um amor exclusivo com o Direito, dá-nos paredes, teto e chão para escrevinhar à vontade, sem regras rígidas que impedem o fluir das nossas mentes. Não queremos que os talões de desconto sejam a maior carta de amor no vosso correio. Queremos que agarrem o verso livre, muitas vezes perigoso, contra o peito; que não deitem livros para a reciclagem e que, essencialmente, nunca queimem poesia. O Jur.nal deixa-nos ser líricos e que bom que é ser lírico. Pois que “toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou procuramos. E já foi dito que não interessa tanto o objeto, apenas pretexto, mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas pretexto, mas antes o seu exercício.” [1] Foi o exercício que nos cruzou (apesar de ter sido parido por paixões diferentes) e é com muito carinho e dedicação que ambicionamos dar-lhe continuidade. “Só de nostalgias faremos uma irmandade e um convento, Soror Mariana das cinco cartas. Só de vinganças, faremos um outubro, um maio, e novo mês para cobrir o calendário. E de nós, o que faremos?”[2] António Subtil, Francisco de Jesus, Inês Brazão e Sofia Dias. Lisboa, 22 de setembro de 2023 [1] Maria Isabel Barreno, “Primeira Carta I”, Novas Cartas Portuguesas. [2] Maria Isabel Barreno, “Primeira Carta I”, Novas Cartas Portuguesas.
- Ata de eleição da Direção de 2023/2024
Ao segundo dia do mês de outubro do ano de dois mil e vinte e três, pelas dezoito horas e quarenta e oito minutos, deu-se início, na Sala dos Núcleos e por conferência online na plataforma Zoom, à reunião de eleição da nova Direção do núcleo autónomo de estudantes Jur.nal. Estiveram presentes a Diretora demissionária e representante da Nova School of Law Students’ Union, Isabel Costa, os Diretores-Adjuntos demissionários, António Subtil, Hugo Mendes e Sofia Dias, e a Vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral, Joana Almeida, e alguns membros da Redação, Francisco de Jesus, Inês Brazão e Simão Costa, presencialmente, e zero participantes online. Havia apenas uma lista candidata, doravante designada por Lista A. A Lista A era composta por Sofia Dias (Diretora), António Subtil, Francisco de Jesus e Inês Brazão (Diretores-Adjuntos). Posto isto, procedeu-se ao ato de eleição. Cumprindo o disposto no n.º 1, do artigo 34.º dos estatutos do Jur.nal, tiveram capacidade de voto todos aqueles que, até à data, estavam há pelo menos um semestre no núcleo, tendo-se também considerado que os membros da Direção demissionária tinham capacidade de voto, uma vez que estes apenas se tinham demitido enquanto membros da Direção, tendo permanecido enquanto membros da Redação. Assim, tiveram legitimidade eleitoral todos os presentes, à exceção da representante da MAG, Joana Almeida. Recorreu-se à plataforma Strawpoll para realizar a eleição, tendo-se garantido o anonimado do voto, com as seguintes opções: a favor, contra e abstenção. Os resultados foram os seguintes: A favor: 6 Contra: 1 Abstenção: 0 Sendo a lista A eleita com seis votos a favor, um voto contra e zero abstenções. Nada mais havendo a tratar, deu-se por encerrada a reunião pelas dezanove horas, da qual se lavrou a presente ata, ficando a nova Direção em gestão até que aquela seja lida e aprovada em Assembleia Geral dos Estudantes da NOVA School of Law. Isabel Lundbo Murta Costa 2 de outubro de 2023, Lisboa
- Os primeiros estão dados. Agora é continuar.
Ir embora é difícil, mas chegar também é. E quase sempre estão ligados. Não saímos de um sítio para ficar em lado nenhum. Não há nenhum lugar intermédio onde possamos parar e contemplar. Contemplar o que ficou para trás, sem ainda estar no que vem a seguir. Vêm ao mesmo tempo, como que a dizer-nos que não nos é permitido querer ficar no mesmo lugar. Somos empurrados para à frente, com a esperança de não esfolar os dois joelhos ao mesmo tempo. Sim, porque, vá lá, que ao menos seja um de cada vez. Primeiro o da saudade; depois o do receio do desconhecido. Ou ao contrário. Ninguém quer saber da ordem! Ao fim ao cabo, quem cura um, cura o outro. Mas assim vamos. De muletas ou meio coxos, lá nos vamos pondo de pé. Os primeiros passos no relvado. Os primeiros dedos nas secretarias (e, inevitavelmente, na máquina de café!). Ainda não fazemos parte da mobília; os que já cá estavam parecem todos ter ajudado a levantar as pedras do edifício em que assenta a cantina. E nós? Nós que já não somos do secundário, mas também ainda não somos bem universitários. Mas de repente, e sem darmos conta, passou 1 mês. Há um mês que subo aquela rampa, escondida num beco de Campolide. Há um mês que dou os bons dias ao Sr. Vítor. Há um mês entrei pela primeira vez no anfiteatro, ainda com tantas dúvidas sobre se algum dia sentiria aquelas cadeiras desconfortáveis e o ar-condicionado gelado familiares. Há um mês conheci pessoas que, hoje, julgo já conseguir imaginar serem meus companheiros nos próximos quatro anos. Na verdade, acho que consigo imaginar amizades a surgirem dali; daquele primeiro dia em que me disseram para vestir a t-shirt vermelha e, a medo, vesti. Questionei se essa era uma boa decisão. Hoje também sei que sim. Não sei como serão os tempos que se avizinham. Se tudo correr bem, continuarei por cá, a deambular pelas letras do teclado do meu computador. Ou pelo menos, encontrar-nos-emos pelos corredores; ou certamente no bar. Sim, imagino-me a passar bastante tempo no bar.
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