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15 de novembro

Maria Leonor Baptista

Sempre a tentar relembrar-me o porquê de eu estar a fazer tudo isto. A lembrar-me que ainda falta um ano para acabar e fazer o quê depois, e para quê? Uma realidade tão distinta da que imaginei ter nesta altura. Sensação de que não fiz quase nada e não tenho quase ninguém. Garganta seca, estômago revirado, um frio interior. Se não me disserem nada, não tenho de inventar desculpa para não ir. Se não disserem, por outro lado, é a confirmação do pouco que resta. Ansiedade quase como uma pressa de fazer, tirar o penso rápido e deixar que passe. Se arrancar de uma vez vai doer menos. Não querer falar sobre o assunto, nem falar. Solução abstrata apenas e não seremos somente todos uns pedantes?


Semelhantes no modo de falar, maneirismo, expressão, gesto de mãos, tom de voz. Alguém maior que nos influencia ou tentarmos influenciar-nos uns aos outros mutuamente, fazer força para influenciar, fala de mim, alimenta-me o ego e mesmo assim não passa. A sensação de crescer sozinha, sala muito grande para o meu silêncio, na ponta da mesa, popular, mas ninguém pra sentar ao meu lado. Não cobrar nada, não estudar muito, não desviar do estilo, esforço por reagir bem. Podes falar por cima de mim, de mim, dizer que esta opinião não conta, olhar a marca, podes tirar o que quiseres. 


Deve ser bom ser-se como tu e ter alguém como eu. Jogo de comparação, ser mais simpática (ainda), esticar o cabelo, comer menos. Fazer tudo por tudo e não sobrar quase nada. Não ir e deixar cair no esquecimento ou ser esquecida enquanto aqui estou, apenas a escrever lugares comuns.


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