Estava a pensar-me de fora, é incrivelmente narcisista ser-se um ser triste. É uma mistura entre um inigualável sentimento de inferioridade e uma inabalável superioridade. Como se ninguém à minha volta gostasse de mim mas todos me quisessem observar, ao mesmo tempo.
Lençóis, uma t-shirt e o computador em cima das coxas, enquanto escrevo isto. Foi o fim, conduzi até casa, despi-me, vesti a t-shirt largueirona e percebi que era o fim de um capítulo que eu tinha a sensação de já ter lido. Achava que me ia repetir para sempre, mas no fundo sabia que só estava confusa, não tenho saudades de discutir na minha cabeça e de imaginar que as coisas acabariam por acontecer do modo como eu queria. A casa não me traz conforto, mas também não quero sair daqui, talvez só torne tudo pior. Tudo o que conheço traz-me de volta aqui, não estou preocupada, só a pensar nisso, a hiperanalisar.
Se podia ter ido sair naquela festa, se podia ter entornado cerveja com os meus amigos, ou se as pessoas iam gozar comigo por estar lá. Estou sempre a pensar em como me sinto delicada, vulnerável à ideia que os outros poderão ter de mim. Obcecada com o que pensarão.
As vezes que eu desrespeitei os outros, que quebrei as regras, que me atirei de cabeça e acabei por me magoar. Tudo ecoa na minha mente. Se devia avisar antes de ir embora, se alguém vai pedir para me vir ver mais tarde, se me vai dar os bons dias, se não vai ser demasiado ocupado para estar lá para mim. Porque ninguém tem culpa de mudar de ideias de súbito, mas eu também não posso ser sempre responsável por não me dizerem a verdade, por me fazerem cega, por dizerem que está tudo bem comigo e que o problema não é meu, por me deixarem a desejar sempre que não me tivesse aberto.
Deve ser agradável ter alguém como eu, que não instiga, que não diz adeus, mas que finge estar ok quando todos vão embora. O mesmo perfume e olhos tristes, o mesmo coração partido e a promessa de não confiar tanto, de não dar tanto, nem da próxima vez, nem nunca mais, pelo menos não enquanto me lembrar.
Andar às voltas, fechar-me, não há forma nenhuma de alguém deixar de gostar, e só jogar jogos. Não é engraçado como eu faço graças acerca disso, acerca de tudo. Seria agradável pelo menos que as pessoas lamentassem o modo como maltratam os outros, mas suponho que não importa. Gostava de ter pensado nisso antes, de me atrever a pensar no modo como já magoou tanto antes e vai continuar a magoar, se eu permitir.
Acho que gosto da estética da miúda triste e de coração partido. Mas tenho de a deixar ir. Quero divertir-me, que alguém me mostre como é possível. Quero experienciar a beleza dos meus amigos, de um pôr de sol. Na verdade, é tudo da minha cabeça e é egoísta não me permitir sair disso. Tão egoísta.
Claro que vou sempre desejar ser um bocadinho mais bonita, ou mais magra ou menos sozinha ou ter menos medo da adrenalina. Mas posso viver com isso. Posso permitir-me viver. Está tudo na minha cabeça, apenas.
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