Taormina, Itália, 17 de janeiro de 2025
A ti e a todas as coisas que ficaram por dizer,
Acredito que todas as pessoas no mundo já deixaram coisas por dizer. É um sentimento forte, que sobressalta ao de leve o coração e que passeia pela nossa cabeça vários dias, até o tempo as levar e nunca mais nos lembramos delas. Não tivemos coragem no momento certo, então nunca foram ditas (pelo menos, nunca foram ditas ao seu destinatário, porque, mentalmente, foram repetidas milhares de vezes e protagonizaram todos os banhos mais demorados ou momentos de reflexão).
Mas porque é que tem de existir um momento certo? Acredito que o mundo seria mais simples se pudéssemos dizer tudo o que ficou por dizer, sempre que desejássemos. Nem era preciso uma resposta, apenas a certeza de que chegavam a quem lhes pertencia. Poderia ser através de uma carta (tal como estou a fazer agora), de uma secção do jornal própria para estas situações ou até pessoalmente, se fosses forte o suficiente. Também, quem sou eu para dizer que o mundo seria mais simples assim...
Tenho de te ser sincera. Não estou a ser imparcial, já que tenho muitas coisas que ficaram por dizer. Aliás, o objetivo desta carta é ter a certeza de que as queres ouvir, (neste caso, ler). Eu sei que gostaria de ouvir todas as palavras que me foram roubadas pela (falta de) coragem. Gostava que todos tivessem esta iniciativa, de escrever uma carta a todas as pessoas que nunca foram esquecidas, que nos marcaram, que fazem parte de nós e, que sem tentar e sem querer, nos moldaram na pessoa que somos hoje.
Sempre me disseram que não conseguia esquecer estes assuntos, que tinha de ignorar porque, de alguma maneira, era uma proteção do destino. Até pode ser verdade, se calhar há coisas que vão sempre ficar por dizer, mesmo por não estarmos prontos naquele momento para ouvir a resposta. Pena que não consigo acreditar que tal exista. Cheguei a uma conclusão, se calhar é por isso que há tantas palavras que não se chegam a transformar em sons, porque as pessoas acreditam no destino e acham que é assim que tem de ser, em vez de tomarem as rédeas da sua vida e dizerem aquilo que lhes apetece, quando lhes apetece. Deve ser por isso que nunca me chegaste a dizer tudo o que ficou para trás. Aqui te dou a oportunidade para o fazeres e, como já mencionei, peço que me a dês também, porque há muito que te tenho a dizer.
Não quero saber como estás, não é esse o objetivo desta carta. Não quero saber o que mudou, o que recebeste no Natal, em que cidade andaste a deambular por aquela noite fria de outubro ou o que ouviste sobre mim. Apenas quero que me dês permissão para te dizer todas as coisas que ficaram por dizer, porque, no final, as palavras que nunca dissemos pesam mais do que as que nos atrevemos a dizer.
Eu
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