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Imóvel

Beatriz Franca

Parece-me que o mundo anda depressa demais. 


Os dias passam todos numa euforia de movimento, sem uma pausa para respirar, sempre a andar, sem parar, porque há sempre mais. 


E assim, o mundo anda, como se estivesse a fugir de algo que o perseguisse eternamente. Mas eu, eu estou parada. É como se o meu relógio estivesse suspenso, obrigando-me simplesmente a existir no meio do caos e da loucura que é o dia-á-dia. 


E que agonia é esta que me prende. Não me consigo mover, não tenho força para tal, e a inércia de qualquer movimento que eu faça não me move nem um milímetro. Portanto estou parada. No espaço, no tempo, simplesmente parada. Pergunto-me se alguma vez irei mover-me de novo. Viver a vida. Não na azáfama e correria que uma vez vivera, mas com calma, a apreciar os momentos mais insignificantes. 


Ou talvez fique por aqui, uma estátua num pedestal a ver a vida passar-se à minha frente enquanto eu, imóvel, não consigo fazer nada além de assistir. Este triste futuro parece-me cada vez mais real, tão sólido que quase lhe consigo tocar. Mas o mundo continua a andar e eu imóvel. 


Esta parálise parece-me fomentada pela velocidade do resto do mundo. Porque é que as semanas passam a correr para todos menos para mim? Um estalar de dedos, acabou. Para mim, uma semana parecem anos que passam lentamente, de forma agoniante. Será um sintoma desta estagnação em que me encontro? Será este um problema só meu? Estarei renegada a observar a vida a desenrolar-se à frente dos meus olhos sem ter força, capacidade, de realmente vivê-la?

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