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No outro dia foi dia da mulher

No outro dia foi dia da mulher.

A minha mãe estava stressada. Tínhamos de ligar à avó.

⁃ Mas porquê mamã? - perguntei eu.

⁃ Porque é mulher. - responde-me ela. 

E eu interrogo-me porque não tem também ela tanta pressa para ligar à avó quando são as eleições e a vovó teima em insistir que não vota. Afinal, isso são coisas de que trata o avô. 


No outro dia foi dia da mulher.

Fui ao centro comercial e vi filas e filas à porta das lojas e perguntei à minha mãe:

⁃ O que está a acontecer?

⁃ Estão a dar kits de ofertas! - responde-me ela.

⁃ Porquê? - perguntei eu. 

⁃ Porque somos mulheres - diz, enquanto nos conduz para a fila .

E eu pergunto-me se não são estas mesmas empresas, hoje a dar “presentes”, que ainda não pagam a cada uma destas senhoras que está na fila aquilo que pagariam a um homem pelo mesmo trabalho? 


No outro dia foi dia da mulher. 

À hora de jantar era o papa que vestia o avental e eu espantada gritei:

⁃ Mamã, hoje não és tu a cozinhar?

⁃ Não filha, hoje é o teu pai a fazer tudo!

⁃ Mas porque mamã?

⁃ Porque é dia da mulher!

Na verdade, o que queria mesmo saber é o porquê de nunca antes o ter visto de avental, de esfregona ou de esfregão? Como é que alguém em pleno 2025 ainda se derrete com um gesto tão banal quanto a simples divisão de tarefas?


No outro dia foi dia da mulher.

E eu juro que não sou contra o dia da mulher, só gostava que a sociedade deixasse de o superficializar com presentinhos e flores, e passasse a encará-lo como um dia para homenagear a luta travada pelas nossas ascendentes, em prol dos direitos das mulheres, e acentuar o longo caminho que ainda falta percorrer rumo à paridade. 


-Sissi, 9 de março de 2025


 
 
 

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