“O sangue da rosa”
Não é só porque não viste o sangue,
Que eu não sangrei por dentro.
A rosa tem espinhos,
E eles nem sempre fazem sangrar.
Mas picam. Magoam. Cortam.
A rosa tem espinhos.
E por mais que os tentemos evitar,
Eles vão acabar por nos tocar.
A rosa não pode não ter espinhos.
Não mais do que o céu
Pode deixar de ser azul.
A rosa não pode não picar.
Não mais do que o sol
Pode deixar de brilhar.
A rosa tem espinhos.
E eles picam.
Principalmente quando os tentamos evitar.
“(Não) somos estranhos”
Um dia fomos estranhos.
Não sei se voltámos a ser estranhos.
(Espero que não),
Mas é o que dizem as músicas
E elas raramente se enganam…
Talvez a letra esteja errada.
Pois como posso eu conceber
Que sejamos estranhos?
Se tu me conheces
De trás para a frente.
Se recitas de cor
Todos os meus poemas.
Se trilhaste cada canto,
Cada linha, cada curva.
Se por vezes gostaste mais
De mim do que eu própria.
Se amaste os meus silêncios
Como quem ama o dito amor.
Não. Não somos estranhos.
Nunca fomos estranhos.
Nunca seremos estranhos.
Estaremos sempre entrelaçados
Nas redes de pesca que a vida lança
Em dias de céu cinzento e de chuva.
Não somos estranhos.
“Deixar ir”
Porque, no final,
Amar é deixar ir.
E deixar ir é saber,
Que haverá harmonia
Noutra casa.
Que a dor será acolhida
Noutro abraço.
Que haverá felicidade
Sem nós.
Deixar ir é amar.
Mesmo quando não queremos,
Quando parece errado,
Quando a dor nos corta.
No final, não há prova de amor
Maior do que deixar ir.
Comments