Sento-me à secretária, É de noite, Deveria estar a deitar-me, tenho exame amanhã. Mas não estou, comecei a escrever isto na esperança de que saia algo brilhante e maravilhoso. Só que não, sinto-me vazio. Vazio como se nada do que fizesse importasse, como se fosse apenas uma ervilha no cosmos do universo. E sou, na verdade. Daqui a 100 anos, o exame de amanhã não importarão. A média do curso, os estágios, as teses, os textos, nada. Eu não importarei. A Terra continuará a girar em torno do Sol, e o sol a girar em torno de uma merda qualquer (não sei, nunca fui bom a física) e eu terei finalmente perdido a luta contra a gravidade, que tanto puxou, tanto puxou, e tanto que me custava, por vezes, aguentar aqueles 9 ponto qualquer coisa newtons, que conseguiu finalmente puxar-me para debaixo da Terra.
Não me interpretem mal, é por esta dinâmica do mundo que a vida tem a sua piada, e que a ocasional miséria é facilmente aguentável. Mas, não sei, por vezes tenho estas crises existenciais, esta provavelmente induzida pela desgraça de amanhã, em que me sinto tão impotente, não só em relação ao estudo, que foi abundante, mas que provavelmente me vai garantir um 10 e nem mais uma décima (estou a ser otimista), mas em relação à vida no geral.
Sempre fui uma pessoa que acredita em destino, nas verdades universais do mundo e no caminho traçado por alguma força léguas superior aos 9 newtons da gravidade que simplesmente decidiu alguns aspetos da nossa vida por nós. Deixem-me explicar, com medo de ser mal interpretado. Como é obvio, existe a autodeterminação, e claro está que o destino não faz o nosso trabalho quando não o queremos fazer. Se queremos algo, temos e devemos de lutar por ela.
Agora, não consigo deixar de acreditar que não é por acaso que me sento à secretária, agora de noite, com exame amanhã. Não é por acaso que estou neste curso, aqui, que sou eu. Se chumbar, não será por acaso. Fiz a minha parte. Mas, chegada a altura decisiva, deixa de depender de mim. Deixo ao destino. Ele com certeza fará a parte dele, e cá estarei eu a aguardá-lo.
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