A vida dela desenrola-se num tabuleiro de xadrez, em que nenhum dos lados joga a seu favor. É como se entre as peças pretas e brancas ela fosse um cinzento, uma mistura dos dois, tornando-se simultaneamente invisível e incontestável. Ela é só um peão, uma mísera peça no jogo da sua existência. Mas será mesmo sua? Sendo um peão, ela não passa de um objeto, algo necessário para que os jogadores cheguem realmente ao seu objetivo. Então até que ponto é que esta existência é realmente sua? Ou poder-se-á dizer que esta existência, este peão que não joga realmente a favor nem contra ninguém, não passa de algo, um meio, para que os outros atinjam o fim desejado? Mas o jogo continua com ela no meio. Entre manipulação e mentiras, sorrisos e subornos, ela continua a sua vida, como se não se encontrasse sempre no meio a fazer de diplomata, de psicóloga, de peça de xadrez, a duas pessoas que nunca ouvem e nunca irão ouvir. As suas palavras e os seus atos são distorcidos para favorecer qualquer um dos lados. Os seus esforços transformam-se repetidamente em armas de arremesso prontas a ser usadas contra o inimigo. E ela vai perdendo a esperança, já se perdeu tanto nesta luta tumultuosa. Ambos os lados parecem indiferentes às vítimas desta guerra que parece infindável. Não há sinais do final deste jogo e ela, a peça cinzenta, continua no centro do tabuleiro, a ser usada por quem mais beneficia. E o jogo, este jogo triste, angustiante, torna-se eterno, condenando o peão a uma vida lastimável de altos e baixos, e de infinitas guerras, todas passadas num tabuleiro de xadrez.
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