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Vejo-os no natal

Acordar, tirar café, ver mensagens que mandei antes de adormecer, sentar à secretária, abrir o computador e rezar para que a placa do teclado ainda não esteja desfeita. UFF ainda não foi desta. Respirar de alívio. Queimar a língua. Esperar que o café arrefeça, gato escaldado de água fria tem medo. Acabar a beber café frio e aguado, e agora parece melhor que apenas tivesse deixado queimar. Enviar uma candidatura. Duas se calhar, não vá o diabo tecê-las. Amanhã repetir, sem grande vontade mas também sem grande enfado. 

Levantar e bater com o dedo mindinho na mala, porra, mala aberta no meio do quarto, mala vazia, mas pelo menos está escancarada não vá ela num laivo de coragem empacotar tudo de repente e partir. Partir, dar beijinho ao avô com lágrimas nos olhos. Vemo-nos no Natal. Não é corajosa, nem destemida, não pertence ao mundo, mas teme-o, tem que ver por si, com os próprios olhos. Sem particular interesse por nada, mas curiosa com tudo, vai seguindo, fones nos ouvidos, caneta na mão, vai abrir o caderno onde despeja os sentimentos. Para a meio, está a mentir. Risca, porque a caneta não se apaga. Começa de novo. Agora a verdade. Naquela noite dormiu mal. Não lhe apetece sair, tem coisas para escrever. Não muito boas, mas suficientes. Também não mediocres, trabalhou em si própria, acha que muda todos os dias e o lobo frontal que só se desenvolve aos 25, a paciência de esperar. É bom que chegue por lá com aliança no dedo, filhos pela mão, e um de colo. Com ou sem carreira? Só porque alguns sonhos são diferentes, isso não os torna menos importantes. Ou qualquer coisa com que se pareça, frases feitas pelo meio, voltar do inicio, ao início? Sobre ontem, quando dormi mal e sobre esta manhã quando bati com o mindinho na mala, e amanhã quando for repetir e beber café frio, porque antes estava demasiado quente e esqueci-me de que era preferível queimar-me a bebê-lo frio e não importa porque depois volto. Volto aqui, a repetir, afinal vou sair, mesmo que não me apeteça. E elas que são as minhas preferidas, jantar de despedida, presente de despedida, despedida no aeroporto, pai de carro engatado e lágrima de lado, próximos meses vai sozinho à bola, eu talvez volte mais mais elucidada, de fones nos ouvidos, vejo-os no Natal.


 
 
 

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