A garganta está apertada, mal escorrega a água. O braço está pendurado, ao sol, enquanto o cigarro se queima. A cinza que cai para o chão faz um pequeno amontoado. O olhar vazio, fixo em algo imóvel, o corpo paralisado. A única coisa viva é o cabelo que se espanta com o vento. Reativa com a queimadura do cigarro nos dedos, que depois foi esmagado contra o pavimento resplandecente que me reflete. Examino-o, vejo-o como estou, nenhum pensamento cruza os campos de guerra da mente, ou apenas não se consegue racionalizar. Não se ouvem palavras, não se toca nas emoções, o que há é um animal mecânico do ar, que leva os que querem ser outros. O formigueiro dos pés, a dormência do corpo que se escondem na presença de alguém, que não sejam os meus fragmentos. O calor não me derrete, se assim fosse, evaporava, fundia-me com o ar, circularia por terra e mar. Leve, erguer-me-ia. O fardo transformaria-se em brisa fresca da noite e o ar abrasador do meio dia. Mas sou feita de correntes, de carga, que me impedem de me elevar.
Quando entrares, a minha boca vai se rasgar, as covas vão ser fossas e a pele contraída, a ondulação. A imagem vai estar distorcida, agora é uma representação. Nem vais ver a apatia, prometo. Ela é desconfortável, é incómodo lê-la, perceber de onde vem, por isso, senta-te ao pé de mim e aquece-me com a tua fala monótona e supérflua.
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