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Maria Leonor Baptista

J(o)urnal

23 de agosto (sexta-feira)


Aqui começa mais um journal. Acho que não me lembro bem de como era a minha vida antes de eu começar a apontar absolutamente tudo o que se passa nela. É aqui que eu me vejo e analiso ao pormenor, mas não tenho a certeza de que as pessoas me vejam realmente. A maioria das pessoas com que me venho a cruzar, querem ser amigas, amigos, próximos de mim, mas quem é que fica realmente? Quem é que espera pacientemente por que eu me consiga abrir? Para que me possa realmente conhecer. Acho que gostava que toda a gente soubesse que, pelo menos, eu estou a tentar. Eu sei que as minhas barreiras são mentais, e que provavelmente sou apenas um desperdício de potencial, mas é difícil. É difícil sair e ir a qualquer lugar, na verdade, quando tenho tantas feridas abertas e que estou a tentar sarar. Estou tão aborrecida, enquanto me tento isolar. Por vezes é mais fácil só ficar assim, escondida, sem que possa ser vista. Às vezes sinto que sou negligente e insensível e culpada de situações em que afasto pessoas. É só porque quando tento dar mais de mim, não costuma ser suficiente, de algum modo. Não é nunca suficiente, de qualquer forma. Quando me permito aproximar, acabo por estragar tudo, e a desviar-me do autocontrolo que me imponho. Devia quebrar estes maus hábitos, alguns deles, no mínimo, se não for capaz de acabar com todos, de vez. Ou talvez tudo isto seja natural, ou eu nunca tenha sido natural, realmente. Estou em bicos dos pés, a tentar chegar aos sítios, a tentar estar lá para outros, lá para mim, ser presente, ser melhor, a tentar deixar que alguém fique, a tentar deixar que me possam ver por aquilo que eu sou e não o que mostro ser.

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