Poemas dos espinhos do amor - Parte II
- Carolina Correia
- Jan 4, 2023
- 2 min read
“Querer fugir”
No início quis fugir.
O medo do passado tentou vencer,
Sobrepor-se à esperança do futuro.
Tentei ignorar os sinais.
E se correr mal?
E se voltar a sofrer?...
Dizia que não.
Mesmo quando à minha volta
Abanavam a cabeça que sim.
Toda a gente sabia.
Menos nós.
Nós ainda queríamos fugir.
“Relvado de outono”
Naquela tarde de outono,
Que mais parecia verão,
Tocaste-me no ombro e disseste
“Precisamos de falar”.
Pegaste na minha mão,
E lá seguimos sem rumo.
À nossa volta apenas verde,
Tal como no primeiro dia…
Até hoje não sei bem
Qual o feitiço que usaste,
Para o meu coração acalmar
E eu olhar nos teus olhos.
Quando dei por mim
As palavras já tinham saído,
Da minha boca para os teus ouvidos,
Como há muito deveria ter sido.
A ti a voz tremia-te,
De mim as palavras fugiam.
Nos lábios os sorrisos
Eram as únicas certezas.
Parámos.
Respirámos fundo.
Olhámos em volta como crianças
Que viam a cores pela primeira vez.
E foi aí que soubemos
Que aquele relvado,
Onde já rimos e já chorámos,
Nunca mais seria o mesmo.
“A minha mãe perguntou por ti”
Hoje a minha mãe perguntou por ti.
Disse-lhe que estava tudo bem.
Na minha mente as imagens daquele dia
Passavam devagar como um filme.
A chuva cai com pressa
Mas aquele prédio é o nosso abrigo.
Falamos por horas,
Sem trocar uma palavra.
Faz-me esquecer onde estou,
Deixa o mundo ruir à nossa volta.
Sussurra-me ao ouvido
Que eu prometo sorrir lentamente.
Olhamos de relance para o relógio,
Fazemos dele nosso inimigo.
Digo-te que tenho de ir,
Mas tu fazes-me ficar.
Em redor o caos da cidade.
E eu que odeio a chuva,
Percebo que, nos teus braços,
Aguentava uma tempestade.
“O enlace”
Vem juntar a tua insignificância à minha.
Vagueemos sem rumo pela vida,
Mas lado a lado, mão na mão...
Põe de lado os teus medos,
Deixa as palavras passarem a ação.
E flutuemos, sem tocar o chão,
Como fantasmas que perderam a vida.
Vem cantar comigo.
Traz todas as tuas inseguranças...
Talvez te mostre as minhas também.
Ignora qualquer instinto,
Esquece o que parece fazer sentido.
Deixa a coragem entrar em ti
E dá o salto no escuro que tanto temes...
Vem ser uma marioneta a meu lado.
Balancemos juntos no mesmo fio,
Sem saber o que fazemos nem o que faremos...
Respira, sem preocupações,
E deixa que eu te tire toda a dor.
Liberta-te das amarras,
Sê leve, nem que seja por um dia...
Vem ter comigo e ri.
Sem que nada te impeça,
E falemos sobre nada e sobre tudo...
Saibamos o nosso lugar um para o outro,
Sem pensar demasiado nele.
Aprendamos a cuidar um do outro
Sem esperar nada em troca...
Vem viver a vida comigo.
Juntos sem saber bem porquê,
Sabendo somente que faz sentido, mesmo sem fazer.
E fiquemos tristes juntos.
Sintamos o peso da vida sobre nós...
Mas no fim, saibamos aliviar-nos um ao outro,
E voemos para onde o vento nos levar...
Sem nunca desenlaçarmos as mãos,
Certos apenas de estarmos certos um para o outro...
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