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Poemas dos espinhos do amor - Parte II

“Querer fugir”


No início quis fugir.

O medo do passado tentou vencer,

Sobrepor-se à esperança do futuro.

Tentei ignorar os sinais.

E se correr mal?

E se voltar a sofrer?...

Dizia que não.

Mesmo quando à minha volta

Abanavam a cabeça que sim.

Toda a gente sabia.

Menos nós.

Nós ainda queríamos fugir.

“Relvado de outono”

Naquela tarde de outono,

Que mais parecia verão,

Tocaste-me no ombro e disseste

“Precisamos de falar”.

Pegaste na minha mão,

E lá seguimos sem rumo.

À nossa volta apenas verde,

Tal como no primeiro dia…

Até hoje não sei bem

Qual o feitiço que usaste,

Para o meu coração acalmar

E eu olhar nos teus olhos.

Quando dei por mim

As palavras já tinham saído,

Da minha boca para os teus ouvidos,

Como há muito deveria ter sido.

A ti a voz tremia-te,

De mim as palavras fugiam.

Nos lábios os sorrisos

Eram as únicas certezas.

Parámos.

Respirámos fundo.

Olhámos em volta como crianças

Que viam a cores pela primeira vez.

E foi aí que soubemos

Que aquele relvado,

Onde já rimos e já chorámos,

Nunca mais seria o mesmo.

“A minha mãe perguntou por ti”


Hoje a minha mãe perguntou por ti.

Disse-lhe que estava tudo bem.

Na minha mente as imagens daquele dia

Passavam devagar como um filme.

A chuva cai com pressa

Mas aquele prédio é o nosso abrigo.

Falamos por horas,

Sem trocar uma palavra.

Faz-me esquecer onde estou,

Deixa o mundo ruir à nossa volta.

Sussurra-me ao ouvido

Que eu prometo sorrir lentamente.

Olhamos de relance para o relógio,

Fazemos dele nosso inimigo.

Digo-te que tenho de ir,

Mas tu fazes-me ficar.

Em redor o caos da cidade.

E eu que odeio a chuva,

Percebo que, nos teus braços,

Aguentava uma tempestade.

“O enlace”


Vem juntar a tua insignificância à minha.

Vagueemos sem rumo pela vida,

Mas lado a lado, mão na mão...

Põe de lado os teus medos,

Deixa as palavras passarem a ação.

E flutuemos, sem tocar o chão,

Como fantasmas que perderam a vida.

Vem cantar comigo.

Traz todas as tuas inseguranças...

Talvez te mostre as minhas também.

Ignora qualquer instinto,

Esquece o que parece fazer sentido.

Deixa a coragem entrar em ti

E dá o salto no escuro que tanto temes...

Vem ser uma marioneta a meu lado.

Balancemos juntos no mesmo fio,

Sem saber o que fazemos nem o que faremos...

Respira, sem preocupações,

E deixa que eu te tire toda a dor.

Liberta-te das amarras,

Sê leve, nem que seja por um dia...

Vem ter comigo e ri.

Sem que nada te impeça,

E falemos sobre nada e sobre tudo...

Saibamos o nosso lugar um para o outro,

Sem pensar demasiado nele.

Aprendamos a cuidar um do outro

Sem esperar nada em troca...

Vem viver a vida comigo.

Juntos sem saber bem porquê,

Sabendo somente que faz sentido, mesmo sem fazer.

E fiquemos tristes juntos.

Sintamos o peso da vida sobre nós...

Mas no fim, saibamos aliviar-nos um ao outro,

E voemos para onde o vento nos levar...

Sem nunca desenlaçarmos as mãos,

Certos apenas de estarmos certos um para o outro...


 
 
 

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