De tempos em tempos surgem momentos de crise, que mostram o alcance, os limites e novas imagens sobre as pessoas; os problemas que culminam nesses conflitos frequentemente já se encontravam presentes há eras, de maneira sutil, guiando os nossos comportamentos até a iminência do seu estouro, tornando-se nítidos e fomentadores dos vícios em todas as partes. Para mim, em momentos como nós estamos, revela-se novamente um enorme defeito: a vaidade.
A realidade é que nós, estudantes de Direito, somos nada. Apesar da noção comum de que somos os virtuosos defensores da justiça e da verdade, nada nos garante essa posição e título. Não passamos de pessoas que passam 4 anos aprendendo como interpretar normas de conhecimento público, criadas há mais de 40 anos; a maior parte de nós não tem um feito próprio que comprove e fundamente a sua moralidade e consciência superiores. Não detemos legitimidade para impor nosso discernimento, sobrepor nossas visões e nos colocarmos antes dos demais. E é a partir do momento que nos valorizamos a um ponto de sermos inquestionáveis e encontrarmos absurdos nas menores diferenças, é quando nos limitamos e vive-se uma fantasia.
O ceticismo é o primeiro passo de um pensamento científico e para a busca da verdade, e é ao assumirmos factos e não duvidarmos, que se encontra a ignorância. Viver em plena ignorância é encontrar-se limitado por não sequer perceber o seu próprio limite, é viver uma ilusão ao nunca se colocar em pé de igualdade; uma vez que se está tão absorto nas próprias ideias. Nesses casos, estamos sempre estagnados, nunca se contesta, nunca se sai da zona de conforto, nunca se aprende a aprender. Muitos vêm para a faculdade com a intenção de melhorar o mundo, mas não conseguem melhorar nem eles mesmos; querem ajudar os outros, mas não conseguem parar de falar antes de ouvir. Com isso, corroboram para um sistema que eles mesmos lutam e criticam.
Procura-se corrigir no mundo exterior e em terceiros e frequentemente passa-se despercebido as próprias hipocrisias, contradições e falhas; de modo que no caso de discordâncias, as pessoas são ou condescendentes consigo mesmas ou são reativas ao externo. É a partir da humildade que se adquire uma visão mais real, em que se percebe a verdade, a ambiguidade e a contradição sobre si mesmo e o mundo; tornando possível a apreensão de diferentes lados e visões. É necessário reduzir e despir-se das nossas camadas mais superficiais e luxuosas, como certezas, ego, sentimentos e hábitos, que protegem o Solipsismo em cada um de nós, e nos separam do mundo. Apenas quando enxergar a si mesmo com clareza é que se será capaz de se reconhecer no outro lado, mesmo que parcialmente.
Com isso, percebe-se a multilateralidade sobre a verdade e a indefinição da mesma, percebe-se a contradição em tudo e o paradoxo do que é certo e errado; por fim, percebe-se que você sabe que nada sabe e nunca existe outra resposta além de procurar sempre uma resposta.
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