Cantiga do Rei Louco
- Anónimo
- Oct 7
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Majestades, perdoai, o Rei está louco,
de outrora inabalável, caiu qual pouco.
Autoproclamado, perdeu-se na razão,
o povo já duvida da sua condição.
A imagem ruída, tão fraca, tão vã,
a antiga rainha recorda o que nele era chaga.
O castelo de cartas desmorona, é certo,
confiança perdida, o trono já deserto.
Majestades, perdoai, o Rei está louco,
Repete histórias, sempre remendadas,
quando ouve da falecida lembranças passadas.
Mas não esperava tamanhas reações,
agora os súbditos riem das suas invenções.
A antiga monarca ausente, culpada é tida,
pela loucura régia, tão bem servida.
Nos banquetes farto de boas companhias,
afoga-se em copos, promessas vazias.
Julga-se senhor de poder e vontade,
mas não vê que perdeu já toda a autoridade.
Majestades, perdoai, o Rei está louco,
Pensa ter tudo seguro, nome e posição,
mas já ninguém o segue, reina só ilusão.
Cego de vaidade, crê-se ainda superior,
quando o povo murmura: “Sabemos quem sustentava o seu labor!”
Muitos perguntam, entre riso e desgosto,
se não foi afinal a antiga rainha quem fez o posto.
E o rei, louco e preso na sua vaidade,
cai cada vez mais na dura realidade.
Democracia! — grita, cheio de engano,
Mando sobre todos, mas ninguém manda sobre meu pano.
Enquanto ri a corte, em segredos bem guardados, já se trama quem ocupará os tronos abalados.
Quando um rei fraqueja, trocam-se peças,
ficam os restos, a coroa em promessas.
Majestades, perdoai, o Rei está louco,
Planeava grandeza, mas só fez engano,
culpa dos outros, nunca do soberano.
A Inquisição agrada-lhe, decapitar o vilão,
Entre amigos sorri, mas em praça nega a mão.
Planeia a ruína de quem ousa contrariar,
Mas diante do povo finge nunca julgar.
Tenta enganar os súbditos com lábia e mentira,
mas todos sabem bem da sua cobiça e ira.
Por mais truques que use, ninguém se deixa levar,
o povo já conhece o rei e o seu fingir sem par.
Sonha com os cofres, o ouro a dominar,
oculta segredos, e a todos tenta enganar.
Só pensa em fortuna, poder e ilusão,
faz do sonho de trono o seu palco de traição.
Majestades, perdoai, o Rei está louco,
Ora diz ser presidente, ora veste coroa,
anda como louco, a corte não perdoa.
Vendido a todos, mas engana ninguém,
Fala bem de uns, e de outros fala também.
Tudo pela atenção, pelo sonho do poder,
Só tem lábia, nada sabe fazer.
Se à presidenta se atrever a ir,
nenhuma vitória há de conseguir
Ela age com naturalidade e sem fingir,
não precisa mil máscaras para se fazer aplaudir.
Ela governará de forma simples, sem truques ou engano,
Ele só quer poder, custe o que custar,
vendia a alma inteira só para reinar.
Majestades, perdoai, o Rei está louco.
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