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Lenda de Abril

Simone Silva

Veio a lenda de Abril

Do movimento estudantil

Ser atrapalhado, encurralado

Pelo ralo do funil


Do conformismo

Individualismo ou Xuxalismo

Do sistema, o mecanismo

Voz que faz da água do pensamento

O autoclismo


Que desvanece

O sentido, invertido, desaparece

O partido, pela luta de Abril,

Não se reconhece


Pelo povo, que pelo laboro

Da frente se aquece

Na luz que tomba a cruz

E dedica à verdade sua prece


Liberdade, Igualdade

Não existe

Só a farsa positivista que junta direitos à lista

Só consiste

De palavras ocas, realidade positiva não persiste

Liberdade negativa, idade triste


Faculdade sem faculdades

Direito sem direitos

Reivindicações, sonhos, gritos

De Abril, morrem desfeitos


Preconceitos pelos meios

De comunicação são propagados

Enterrados, os sensos críticos

Dos povos, pobres povoados


Magoados, adormecidos

Envergonhados, mas não vencidos

Serão unidos

Estudantes, empregados, renascidos


Pomares com olhares entenebrecidos

Onde está a maçã da insurgência?

Onde morre o coitadinho

Nasce nu de inocência


Que nos falte a paciência!

Ó educados, doutores,

Senhores, homens letrados

Para que servem vossos livros se racionalizam os pecados

Fazer lógico o apológico desumanismo pelos mercados

Terão vós orgulho desses legados?


Coitados, coitadinhos

Sejamos Homens, não meninos

Em sarilhos

Perdidos, extraviados sem os trilhos

Da mão invísivel

Ou o punho de ferro

Recomecemos estaca zero

Reviremos este inferno

Do avesso

Livres, desacorrentados no recomeço

O punho em vez do terço

Que o Terreiro do Paço não tenha sido só um acaso

Um fracasso

Que sejamos mais que cem mil

Que em diante, nos acalente, o quente sol d’Abril.






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