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- Quarto vazio.
E aquele aroma invade as minhas narinas como um relâmpago invade o céu numa noite sombria, porém de uma forma estrondosamente suave. Sinto o meu corpo ser esmagado por aquele toque delicado que me conforta e tranquiliza com toda a convicção do mundo, e com toda a convicção do mundo diria que quase posso sentir o meu corpo derreter naquele abraço quente, da mesma maneira que sinto as lágrimas salgadas escorrer pela minha pele estranhamente fria, exibindo o belo contraste entre o meu corpo e do da pessoa que me abraça. E é então que a avassaladora verdade bate à porta de um subconsciente conturbado… a verdade é que este cheiro, este toque e esta voz que ensaio todas as noites sussurrar ao meu próprio ouvido não passam de uma mera invenção desta minha mente precária. E de repente, estou novamente naquele quarto, que antes era preenchido de pequenas memórias bonitas e que agora é substituído por esta penumbra de dúvida, de dúvida em saber se realmente tudo aquilo que anseio que seja verdade não passa de mero fruto da minha imaginação. E agora sozinha, os meus olhos vagueiam pelas paredes cada vez mais vazias, notando que tudo o que parece restar são as molduras partidas, cheias de pó e quase destruídas por algo que eu ainda não tenho coragem de reconhecer. O eco dos meus passos faz se ouvir à medida que vou rondando pelos recortes de uma vida que eu sei que vivi, e como sempre (porque há sempre algo) surge uma distração que me impede de encontrar aquilo que procuro, por mais vago e por mais ténue que seja esta minha caça ao tesouro. E eu sou obrigada a fechar a janela que deixava o frio entrar por este quarto adentro e permito que a minha atenção retorne para aquilo que me levou até aqui em primeiro lugar. Deixo que os meus pés me guiem até à pequena caixa de brinquedos junto à parede e sinto o meu corpo deixar-se ceder e ficar de joelhos junto à pequena mobília. Com as mãos não tão firmes como um dia chegaram a ser, abro a tampa que já foi mais fácil de levantar, para olhar para uma singela moldura lá dentro. Por alguns momentos deixo aquele silêncio pesar comigo enquanto se faz escutar, ainda que baixo, uma respiração trémula que eu sei mais do que ninguém que é minha. E eu permaneço ali, pelo que parecem ser horas, a congelar, enquanto o meu olhar se fixa na imagem do que me parece ser um anjo a sorrir-me de volta, na dúvida se deveria arriscar retirar a fotografia daquele baú vazio ou se a devia deixar estar. E à medida que a minha mão se aproxima eu consigo ver a imagem desvanecer lentamente ao ponto de me cortar o ar. Num anseio de a perder eternamente tal e qual a uma criança com medo de perder o seu doce, as minhas mãos apressam-se a retirar aquela moldura a tempo de ver os últimos reflexos do que eu jurava ser algo que eu jamais me esqueceria, desaparecer. E mais uma vez, aquela frustração de sempre percorre a minha espinha por ver mais um pedaço dela escapar-se de mim, não pela primeira vez e certamente não pela última, uma vez que o problema não será certamente esse, mas sim o facto de talvez um dia já não haver mais memórias para esquecer ou dúvidas para esclarecer. E talvez por mera coincidência, ou não, a mesma porta que antes vinha com a realidade atrás, agora rangia à medida que se abria lentamente. E eu volto a vê-la de longe, agora apenas como uma sombra que já não entrava pelo quarto adentro para me reconfortar nos seus braços. Agora sem o cheiro, sem o toque e sem a voz que um dia conheci tão bem. E permaneci ali, por tanto tempo, numa conversa sem palavras com a pessoa que mais me conhece e que eu mais desconheço à medida que os anos passam. E pela primeira vez, eu pareço concordar com a triste realidade que é a verdade de viver num mundo sem alguém que eu amo. A verdade é que este quarto vai continuar a ficar frio e cada vez mais eu me vou esquecer destas coisas simples que sempre a fizeram ser mais humana. Essa é a infeliz realidade de perder alguém no mundo real, porque apesar do meu amor por ela não desvanecer, as molduras dentro deste meu quarto de memórias vão continuar a desaparecer. E é por isso que todas as noites lhe digo boa noite, na esperança de algum dia ouvir o retorno, porque esta caça ao tesouro onde as regras do jogo pertencem ao luto já começam a perder a piada. No entanto, acho que hoje ela escutou-me mais alto, já que jurei ouvir a sua gargalhada de novo, talvez seja do sono, mas amanhã estou cá de novo, porque foi ela que me ensinou sem ensinar a dizer, “Mãe, eu amo-te, mas o jogo ainda não acabou”. Porque luto é isto, não querer jogar, mas ir jogando, porque esquecer o amor por ela é mais doloroso do que esquecer um cheiro ou um toque.
- um ensaio sobre o amor próprio
Desde que me lembro que luto com o chamado “self loveˮ. A verdade é que cresci rodeada de pessoas que não sabem o que significa ou que simplesmente acham que esta é “mais uma daquelas coisas insignificantes criadas pela juventudeˮ que não tem qualquer objetivo. Portanto, sendo aquilo que eu ouvia desde muito pequena não irei mentir ao dizer que foi fácil deixar de ter estes pensamentos. Quando finalmente decidi começar a pensar criticamente, uma das primeiras coisas que fiz foi tentar ativamente melhorar a minha relação comigo mesma mas foda-se, mal eu sabia aquilo que estava a começar. Sempre fui mais “cheinhaˮ (como dizem os adultos quando não querem chamar uma criança de gorda) e isso foi me constantemente apontado. De familiares, a pessoas que eu mal conhecia (sim, há pessoas com esse nível de audácia), os comentários foram (e são!) incessantes. Durante anos acreditava naquilo que me era dito, deixava que estes indivíduos sem rosto ditassem como me sentia. De um “estás mais gordinha…ˮ sussurrado para não parecer mal, que me levava a um sítio escuro e dolorosamente familiar, a um “emagreceste, estás tão bonita!ˮ que me deixava quase a brilhar por dentro porque honestamente eu não tinha reparado que perdi peso mas alguém reparou e isso é tão tão bom. Anos e anos disto, até que um dia decidi que estas pessoas não têm direito nenhum a guiar as minhas emoções ou a deteriorar a relação que tenho com o meu corpo. Claro que não estou a dizer que os comentários (que ainda perduram) não me magoam nem afetam porque estaria a mentir. A realidade é que agora faço um esforço para me distanciar, pois sei que vêm de um sítio de insegurança própria e de ódio pelas pessoas com corpos diferentes ou “não perfeitosˮ estabelecido pela sociedade em que vivemos. A certo ponto fiz uma promessa comigo mesma, que ia deixar de dar este poder a outras pessoas e passar a detê-lo eu. E sim, este sentimento é muito bonito até me aperceber que anos e anos desta mentalidade me levou a ser a minha pior inimiga. Uns dias, olho para o espelho e fico bem comigo mesma, se tiver sorte ainda acho que estou bonita, mas na maioria o meu cérebro só consegue catalogar aquilo que está mal, o que o meu corpo, o que EU, tenho de errado. “A minha pele está outra vez horrível, tenho que fazer alguma coisa para parar o acne.ˮ “Parece-me que engordei imenso, estou super inchada…ˮ “Ai odeio os meus braços, as minhas pernas, o meu queixo, o meu sorriso, os meus olhos…ˮ São pensamentos involuntários que não consigo evitar de ter. Logicamente, sei que é um produto de anos a ter o meu cérebro condicionado a pensar nestas coisas, mas como é que os paro? O caminho para começar a amar o meu corpo, a amar-me de certa forma, não é linear. De todo. Tem tantos altos e baixos que mais parece uma montanha-russa. E sim há dias, semanas ou até meses, (muito) maus. Em que não consigo sequer conceber a ideia de ter um pouco mais de cuidado com aquilo que penso e digo. Dias em que não consigo apontar nada de positivo e que me resigno a ficar neste estado mental para sempre. Mas é nesses dias que eu me sinto mais orgulhosa de mim mesma. Porque tem que haver algo que quebra o ciclo, um pensamento por mais pequeno que seja que me ajude a sair destes sentimentos. O amor próprio não é fácil. É um caminho árduo e conturbado que provavelmente vou ter que seguir o resto da minha vida. Mas não significa que desista de tentar alcançá-lo. Este é um texto muito pessoal para mim, onde estou a apresentar ao mundo uma parte da minha alma, porque sei que não ando sozinha neste desafio. E, é também por isso que eu o quis escrever e partilhar. Temos que ter paciência conosco, com o nosso corpo que faz tanto por nós. Temos que quebrar os pensamentos horríveis que nos foram incumbidos desde tão cedo. Temos que começar a ser nós próprios a ditar aquilo que sentimos quanto ao NOSSO corpo e não pessoas alheias. Temos que começar a amar-nos.
- 16 de outubro
Estava a pensar-me de fora, é incrivelmente narcisista ser-se um ser triste. É uma mistura entre um inigualável sentimento de inferioridade e uma inabalável superioridade. Como se ninguém à minha volta gostasse de mim mas todos me quisessem observar, ao mesmo tempo. Lençóis, uma t-shirt e o computador em cima das coxas, enquanto escrevo isto. Foi o fim, conduzi até casa, despi-me, vesti a t-shirt largueirona e percebi que era o fim de um capítulo que eu tinha a sensação de já ter lido. Achava que me ia repetir para sempre, mas no fundo sabia que só estava confusa, não tenho saudades de discutir na minha cabeça e de imaginar que as coisas acabariam por acontecer do modo como eu queria. A casa não me traz conforto, mas também não quero sair daqui, talvez só torne tudo pior. Tudo o que conheço traz-me de volta aqui, não estou preocupada, só a pensar nisso, a hiperanalisar. Se podia ter ido sair naquela festa, se podia ter entornado cerveja com os meus amigos, ou se as pessoas iam gozar comigo por estar lá. Estou sempre a pensar em como me sinto delicada, vulnerável à ideia que os outros poderão ter de mim. Obcecada com o que pensarão. As vezes que eu desrespeitei os outros, que quebrei as regras, que me atirei de cabeça e acabei por me magoar. Tudo ecoa na minha mente. Se devia avisar antes de ir embora, se alguém vai pedir para me vir ver mais tarde, se me vai dar os bons dias, se não vai ser demasiado ocupado para estar lá para mim. Porque ninguém tem culpa de mudar de ideias de súbito, mas eu também não posso ser sempre responsável por não me dizerem a verdade, por me fazerem cega, por dizerem que está tudo bem comigo e que o problema não é meu, por me deixarem a desejar sempre que não me tivesse aberto. Deve ser agradável ter alguém como eu, que não instiga, que não diz adeus, mas que finge estar ok quando todos vão embora. O mesmo perfume e olhos tristes, o mesmo coração partido e a promessa de não confiar tanto, de não dar tanto, nem da próxima vez, nem nunca mais, pelo menos não enquanto me lembrar. Andar às voltas, fechar-me, não há forma nenhuma de alguém deixar de gostar, e só jogar jogos. Não é engraçado como eu faço graças acerca disso, acerca de tudo. Seria agradável pelo menos que as pessoas lamentassem o modo como maltratam os outros, mas suponho que não importa. Gostava de ter pensado nisso antes, de me atrever a pensar no modo como já magoou tanto antes e vai continuar a magoar, se eu permitir. Acho que gosto da estética da miúda triste e de coração partido. Mas tenho de a deixar ir. Quero divertir-me, que alguém me mostre como é possível. Quero experienciar a beleza dos meus amigos, de um pôr de sol. Na verdade, é tudo da minha cabeça e é egoísta não me permitir sair disso. Tão egoísta. Claro que vou sempre desejar ser um bocadinho mais bonita, ou mais magra ou menos sozinha ou ter menos medo da adrenalina. Mas posso viver com isso. Posso permitir-me viver. Está tudo na minha cabeça, apenas.
- Síndrome dos 20’s
Quando cheguei a esta cidade não gostava dos autocarros. Achava que eram desconfortáveis, sujos e quentes, por isso, preferia o metro. Agora, passado dois anos, consigo perceber a magia e a diferença que existe entre ter trocado o soturno metro pelas viagens matinais no autocarro (apesar de, não poder negar que este continua desconfortável, sujo e quente). A magia passa-se nos bancos da frente, mais próximos da porta de saída, pois é aí que se consegue ouvir as conversas das pessoas que já tem (quase) sempre uma certa idade e que se encontram sentadas nos bancos vermelhos. Fico fascinada com as suas histórias (mesmo que sejam mentira ou bastante exageradas), e opiniões. Parece que naquela viagem de meia hora consigo fugir um pouco à realidade que me espera e sentir a paz e tranquilidade de quem já viveu a vida que tinha por viver e aprendeu a deixar todas as preocupações para trás. Muitos deles apanham aquela carreira todos os dias, simplesmente para terem alguém com quem conversar. Eu nunca me junto aos diálogos intermináveis, mas estou sempre de espreita, à escuta, curiosa. Todas estas conversas, independentemente do seu assunto, seguem a linha de pensamento de que “já nada é igual e que tudo é diferente” e ficam a discutir tal assunto horas, mesmo que não se conheçam, sempre de modo engraçado e com ar despreocupado, pois assumem que tudo o que pode acontecer (mesmo que seja o fim do mundo), já não vai ser da conta deles, mas sim da nossa - a não ser num caso muito excecional em que Portugal fosse dominado pela Espanha, porque isso sim é um assunto que os preocupa até hoje, um assunto que puxa o “imagina se tivesse sido assim”, qual aquecimento global qual quê, “isso não existe, porque no meu tempo não era assim”. De resto, apenas gostam de ficar a contemplar o passado, pois foram os seus melhores anos, os anos em que eram as personagens principais de todas as histórias. Há duas fases na nossa vida em que as preocupações são deixadas para trás e eu, (como todos nós, creio) já passei a primeira. O que me preocupa é que passei a primeira e, desde que vim para esta cidade, tentei passar para a segunda com quarenta anos de antecedência. Segundo o meu diagnóstico estou a sofrer de síndrome dos 20’s (ou como alguns preferem chamar, síndrome de Peter Pan). Tal como os senhores dos bancos, também eu sonho acordada com o passado, a minha vida antes de Lisboa, antes das responsabilidades, da pressão, da constante necessidade de fazer “coisas” (seja lá o que isso for) para sentir que não estou a ficar para trás. Sonho com o passado porque sei que era onde eu me considerava a personagem principal, onde não duvidava de mim mesma, onde não me sentia com medo de ter iniciativa, medo de falar e de ser ouvida. É um refúgio de onde não quero sair, pois tudo nele é previsível e não tenho de crescer. Espero um dia conseguir falar tão facilmente sobre o futuro como falo sobre o passado. Espero um dia voltar a alcançar esta versão de mim que é confiante e que sabe minimamente o que está a fazer (se calhar nem é suposto sabermos, mas isso já é outra conversa). Espero um dia não ter medo de crescer e, quem sabe, daqui a quarenta anos, estar também eu sentada nos bancos vermelhos, a falar sobre como a minha vida me correu bem, de que “já nada é igual e que tudo é diferente” e de olhar para os meus problemas atuais como agora olho para os problemas da minha adolescência. Espero. Excerto: “Tal como os senhores dos bancos, também eu sonho acordada com o passado, a minha vida antes de Lisboa, antes das responsabilidades, da pressão, da constante necessidade de fazer “coisas” (seja lá o que isso for) para sentir que não estou a ficar para trás (...) É um refúgio de onde não quero sair, pois tudo nele é previsível e não tenho de crescer. Espero um dia conseguir falar tão facilmente sobre o futuro como falo sobre o passado.”
- Em ti eu (já não) penso
Hoje escrevo, mais do que nunca escrevo, escrevo enquanto te olho nos olhos, escrevo-te por uma última vez, a ti, que por mim nunca escreveste. A ti invejo. Invejo a tua indiferença. Invejo a tua calma. Gostava de ser como tu. Gostava de guardar estes sentimentos que tenho dentro de mim num congelador, ver as suas partículas esfriarem lentamente, ficarem imóveis, esquecidas durante o inverno. Gostava que fosses menos importante, que brilhasses menos aos meus olhos, que pudesse passar por ti nas ruas de Lisboa e não te reconhecer, seguir o meu caminho sem olhar para trás. Gosto da tua voz. Gostava de não gostar da tua voz. Gostava de não distinguir o teu timbre, as tuas expressões, especialmente o teu péssimo gosto musical. Gostava de não gostar de ti. Gostava de te ter deixado com o calor do verão, ao sol, à beira da água, mas tive medo que te deixasses levar pelas ondas. Mas agora as tuas palavras tocam na minha cabeça como uma sinfonia, são um portal para a realidade que torna difícil fugir à razão. Queria escapar, esconder-me atrás das minhas próprias fantasias com uma versão mais adornada de ti, mas é difícil continuar a desejar algo que não existe, é difícil aceitar aquilo que já conclui há muito tempo, que não quero admitir. Prefiro continuar a sonhar acordada com os dias de sol, e enfrentar a realidade enquanto durmo. Quero que te vás embora, que te esqueças, que me deixes esquecer. Permite-me a ilusão de um final feliz à minha maneira. Deixa que a tua presença na minha vida passe a ser uma miragem do passado, uma brisa, um poema sem rima, e que todas as pequenas lembranças que deixaste para trás sejam apenas artefactos no meu baú de desilusões. Quero te odiar. Quero te conseguir odiar. Quero sussurrar ao meu próprio ouvido repetidamente, incessantemente, que te odeio, gritá-lo a todos os que passem por mim e queiram ouvir o meu histerismo. Porque em ti eu já não penso, por ti eu já não procuro, e tudo isto que eu sinto, que trituro dentro da minha consciência, faz uma volta dentro de mim, revira-me as entranhas, aperta-me o coração, faz me suspirar. E no fim, só cai uma lágrima. Rita Esteves 09/12/2023
- Retrato
Através de ténues tonalidades, E de pinceladas sublimes Pinto o cúmulo das minhas saudades Para que não desanime Da tua ausência permanente. Procuro retratar a tua audácia Através das ondas perigosas E a tua ternura No céu pintado a azul-claro Quando Olho para o céu, Vejo um barco a rasgar o mar, Sem estações intermediárias para parar, Apenas deixando um traço contínuo branqueado como lembrança Tu és o barco, Passaste por muitos e muito, Mas a viagem não para, Não há tempo. Uns ficam pelo caminho, Outros encontrarás mais à frente, E os poucos sortudos, confidentes, Têm o prazer de ser a tua tripulação Mas a verdade, árdua mas imutável é: só tu podes ser o capitão da tua embarcação As tuas vivências definem o teu rumo Ou Viras para a esquerda ou para a direita Porém, estás impedido de fazer a tão procurada marcha a trás O impulso estático de relembrar, A visão turva de eventos marcantes A ânsia de viver no presente Esmagada pelos sonhos idílicos do amanhã Tu és como os outros, Com um rumo diferente talvez, Amigos presentes, Mas sempre com o mesmo destino.
- Perspectivas
Se visses através dos meus olhos... Verias um novo mundo, uma nova realidade Diferente daquela a que te acostumaste Ver-te-ias de modo tão belo... Que jamais ousarias voltar a proferir as palavras brutescas que usas Verias o brilho dos teus olhos, a beleza do teu sorriso Sentirias a tranquilidade emanada por toda esta harmonia E jamais ousarias voltar a proferir as palavras brutescas que usas Verias a crueldade que é lágrimas escorreram pela tua face Sentirias a tristeza de ver as gotas uma por uma E jamais ousarias chorar em vão Sonharias, também tu, com um novo vislumbre desta sinfonia Sentirias, também tu, a necessidade que sinto de reviver os momentos Sentirias, também tu, uma pequena percentagem do amor que sinto por ti descrição: Desde a primeira vez que te vi que há algo de ti preso em mim e que não tem fim (até hoje nunca teve fim.) E eu pergunto-me assim quantas vezes te vi enquanto estavas aí sem olhar para aqui e eu sem conseguir tirar os olhos de ti. Não me lembro de quantos tipos de perspectivas aprendi a desenhar na escola. Mas esta é de longe a mais dolorosa. E a mais bonita.
- P2
Estou zangada contigo. Contigo que não me ouviste. Que me obrigaste depois de dizer que não queria. Contigo que me enganaste. Que disseste que ias estar aqui e não estiveste. Que me prometeste o melhor da vida. Que me fizeste acreditar. QUE ME FIZESTE VOLTAR. Juraste proteger-me de mim própria. Do meu vício de me afastar e que tanto queria combater. Tu que achas que tens o poder de fazer tudo… De dispor de mim. Revelas tendências hitlerianas. Achas que tens poder, não é? Sabes que mais TUS NÃO ÉS NINGUÉM. NINGUÉM. Não tens poder sobre mim. Tiveste, sim, mas só porque eu to dei. Mas agora eu estou avisada (espero estar… devo estar, não é?) Todos sabem que tens um X …. isso deveria ter sido suficiente para mim…. Mas era tão bom. Fizeste-me achar que seria alguém. Esse poder que ostentas achei que um dia poderia vir a ser bom para mim. Tornar-me mais forte. Mais vista. Mais feliz. Mas sabes que mais. Para já, ditaste o meu fim. Desde ti que não quero mais. Não tenho cabeça para mais. Só quero fugir. Só queria fugir. (Meio que o fiz…) E depois tu não foste só tu. Foste tudo aquilo que trazias e incluías. Juro que houve dias em que quis desistir de ti. Tentava ir buscar toda a força que imaginava que um dia podia ter e preparava-me para chegar perto de ti. Nunca deu. Nunca fui capaz. Achava sempre que me irias dar tudo aquilo que pedi. Tudo que, por tanto tempo, desejei. Tudo aquilo por que outrora chorei. Mas não. Tu só me mostraste esse mundo para, depois, mo tirares. Para me fazer sentir que para estar nele precisava de ti. PORQUÊ? PORQUE É QUE ACHAS QUE NÃO SOU CAPAZ SEM TI? Porque é que eu acho que não sou capaz sem ti….. Estou zangada contigo. ESTOU MUITO ZANGADA CONTIGO, OUVISTE? De tal forma que não sei se não estou é zangada comigo.
- lonely girl
The blade in my bathroom seemed so appealing, That the only way I could stop myself from getting It was by grabbing ice and rubbing it on my skin. - but that didn’t last long, as Venus knows how hot I get by feeling that steel kissing my bloody dermis; It is my favorite sanguinary masochist kink/sin. I heard that humans are intrinsically gregarious; They are born transcendently bonded by star Dust, cosmically impregnated in their souls… But if so, then why is my fucking hideous scar Unseen? (and why it doesn’t stop bleeding?) If we are all connected, why are my screams Unheard? Oh, how fool I was; such a lonely girl, with nobody To dry my salty tears, or lick my coagulated wounds. But, thanks to my dark dreams, I’m no longer lonely - I found my bond; a friend, as dark as my dreams. We’ve always been connected, through our souls. Every night, I show him my wrists and my tights, And he kisses each scar, and swallows my sighs, As if I was his only, holy daughter from the skies. He kisses me goodnight and stands in the corner, Watching me sleep, just to make sure there are no cries. And when he sees me shiver from the cold, he covers Me with blankets - yet, I feel the warmth in his red eyes. I wish I could kiss him too, but with him, I stay still - I can’t move a single muscle, although I have a conscience. Still, I love his shadow-like entity way of presence, It makes me wonder if he is made, or actually real: Is his dark, big form real? Are his black trench coat and hat real? Are his red eyes real? Is our bond real? Are our souls real? (Am I real?) I even told my mom about him, and she got so serious. “He used to watch me sleep too; he covered me in blankets; he was all over my old house; he never left me alone, until someday, he just disappeared.” she said. And I asked, who is he then? “The Hat Man” she replied. After knowing who he was, he never returned to kiss my scars. I am lonely again. I lost my soul again. For him to return, I know I must make new ones. More blades; strength; more depth; more blood. I know he’ll return.
- Monsters we made along the way
Contam os mais remendados Frankensteins e os Dráculas das sedes mais insaciáveis que nem nos confins da Transilvânia se avistou um monstro tão paradoxalmente perigoso quando este. Não é grande, nem forte. De facto, nem garras ou cara feia tem. E, para o espanto de todos, nunca ninguém realmente o viu. Ele sente-se, manifesta-se e só aqueles que estão nas nuvens negras dos seus pensamentos o veem. Pronuncia-se por um constante tremor, esfomeado pelo inalcançável e pela frustração do impossível. Desperta naqueles em que se manifesta um sentimento de cumplicidade, como quem vê a cara do seu assaltante e não o denuncia. Mas, na verdade, só cria polícias corruptos, os únicos que o podem domar.
- Pensando e bebendo o meu café
Por vezes, a mais simples ação É aquela que muda a nossa situação Sem grandes aparatos, Penso e bebo o meu café Algo que apesar da sua futilidade Sai-me a um preço surpreendentemente barato Parece facílimo, Mas a mim nada me é tão íntimo. Revela exatamente o meu ser, Que embora seja sempre inconstante, Arranja sempre um tempo para pensar e o seu café beber. Reflito sobre o meu dia, Onde senti apatia e desorientaria, Porém neste momento cheguei ao que queria, E sem me aperceber, apercebi me Da valente lição deste dia Nada me é tão querido como isto, A paragem do tempo nesta ocasião, Todos contra a minha filosofia, Mas mal eles sabiam Que pensando e bebendo o meu café eles queriam.
- Liberdade para os irmãos Menendez
Em 1989, quando se deu o início de um dos julgamentos mais vistos nos Estados Unidos da América, eu ainda não era nascida. No entanto, em 2024, já tenho consciência para poder construir uma opinião sobre os irmãos Menendez, principalmente, enquanto estudante de Direito. Após matarem os seus progenitores, Jose e Kitty Menendez, Lyle e Eric foram condenados a prisão perpétua, em 1996, sem possibilidade de terem liberdade condicional. A sua sentença final contribuiu para extinguir alguma esperança que pudessem ainda ter, uma vez que se mostrassem um bom comportamento ou tivessem a sorte de ser julgados por um juiz e júri (como é comum nos tribunais americanos) que achassem que não teriam o direito a passar o resto da vida na prisão, como se encontram, infelizmente, a cumprir. Ainda que já se tenham passado mais de 30 anos desde a sua condenação inicial, em 2024, o seu caso voltou a surgir, após uma das mais emblemáticas figuras de Hollywood, Kim Kardashian, se expressar relativamente à defesa de Eric e Lyle, apelando à sua liberdade. No passado, eu já tinha tido um pequeno conhecimento do caso dos irmãos Menendez, tendo em conta a sua amplitude internacional mesmo depois de tantos anos da sua ocorrência; mas, após visualizar a nova série de Ryan Murphy, Monsters, e, ainda, o documentário da Netflix, The Menendez Brothers, fiquei bastante investida no caso, uma vez que, após tantos testemunhos que prestaram ao longo do seu julgamento, sempre me foi possível encarar estes irmãos com uma empatia bastante delicada, mas também, uma tristeza profunda, por me aperceber que as suas vidas lhes foram roubadas. A forma pela qual mataram os seus pais parece-me bastante fria, no entanto, a razão por detrás destes homicídios revela-se suficiente para os justificar. Lyle e Eric passaram toda a sua infância e adolescência a serem abusados sexualmente pelo seu pai, Jose, e a mãe teria conhecimento de tudo, sem nunca agir em defesa dos seus próprios filhos. Jose Menendez dá a entender que era uma pessoa bastante perturbada, exigindo sempre que os seus filhos fossem os melhores em tudo, principalmente ao longo do seu percurso académico e no ténis, e caso demonstrassem não o ser, garantia que os rapazes seriam punidos, infligindo-lhes violência física e verbal. Para lá do portão da mansão milionária em Beverly Hills, Lyle e Eric passaram aquela que poderia ter sido uma vida extraordinária, não lhes faltando nada no que tocava a posses materiais, mas que na verdade, era um pesadelo constante, na medida em que chegaram a afirmar que estar na prisão é uma realidade mais livre do que o seu passado, o que é tristemente irónico. Enquanto que os irmãos sempre se tenham mostrado como o apoio um do outro, encontram-se em unidades prisionais diferentes, separados, nas quais têm demonstrado que realmente não são monstros, como tantos os tentaram retratar, ao ajudar diversos prisioneiros a ser melhores pessoas e a lidar com os seus traumas, assim como Lyle conseguiu completar a sua educação universitária na prisão, este ano. Acredito realmente que tenham agido em autodefesa, para que pudessem terminar com o sofrimento que viveram durante tantos anos, mesmo que tenham dito que se arrependeram de assassinar os seus pais, o que só vem realçar, novamente, o caráter gentil e amável, que chega a ser surpreendente após toda a violência que viveram, uma vez que não é o que se verifica em muitos prisioneiros que mataram outras pessoas. Espero que o sistema de justiça do estado da Califórnia encare estes irmãos como eles realmente são e veja que merecem a liberdade que ansiavam toda a sua vida.
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