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  • Entrevista à Comissão Académica 2025/2026

    Nesta entrevista, a nossa diretora-adjunta Lara Cândido embarca numa conversa com o Dux, Riccardo Noronha, e a Presidente da Comissão Académica, Rita Castro, sobre o que os levou aqui, e sobre onde levarão a praxe neste próximo ano. Lara: Esta nova comissão vai integrar novos elementos, mas também é composta por alguns membros da comissão anterior, como vocês [Rita Castro e Riccardo Noronha ] . O que é que vos leva a querer continuar a estar na Comissão? Rita : Eu quando era caloira tinha um interesse algo forte em estar na Comissão. Isso proporcionou-se no ano passado, fui vogal de 2º ano. Claro que são posições completamente diferentes, sendo eu agora presidente, mas eu sinto que a Comissão acaba por ser a maneira, para mim, que mais me agarra no servir para a praxe. A praxe na nossa faculdade, na minha opinião, é bastante boa e super positiva, e acho que não levanta grandes questões problemáticas. Eu gostei tanto de trabalhar [na Comissão] o ano passado que quis continuar e de facto só me via a continuar na Comissão e foi um bocadinho por aí. Riccardo : Eu tecnicamente nem da Comissão faço parte, mas considerando o agradecimento pela reincidência [enquanto membro da Comissão], se é que podemos chamar assim a esta coisa. Eu comecei o ano passado mais pela vontade de articular uma coisa diferente. No ano passado a nossa candidatura surgiu numa tentativa de fazer diferente, de melhorar coisas que não estavam a correr assim tão bem e talvez também tentar introduzir algumas propostas no mérito. Se calhar, até fazendo um balanço, até nem acabou por não acontecer mesmo da maneira que nós queríamos, mas parece que foi um passo em frente e este ano parece que se vai melhorar mais ou se vai tentar melhorar mais do que se tentou melhorar o ano passado. Eu, pronto, admito que a princípio estava um bocado reticente, até por questões minhas pessoais, mas estenderam-me um convite para um projeto inovador e eu aceitei naturalmente. Eu e a Rita esquecemo-nos, mas claro, não somos os únicos repetentes, da Comissão do ano passado estará também na deste ano a Joana Silva. Lara: Riccardo, tal como aferem os requisitos para se ser Dux, tu tens quatro matrículas, o que faz com que já tenhas testemunhado várias comissões e desempenhado várias funções na comunidade praxista. Das diferentes facetas que vivenciaste na praxe, houve alguma que te tenha marcado mais? Riccardo : Eu sendo muito sincero, e como tu disseste eu já vi mais ou menos tudo, já desempenhei as funções todas: fui caloiro, fui doutor, fiz parte da Comissão e agora espera-me o cargo de Dux. Mas sabes, eu acho que cada coisa marca por motivos diferentes. Não sei se te consigo quantificar ou qualificar a marca de melhor para pior ou mesmo indicar uma coisa que me marcou mais, porque são realidades diferentes. Nós vamos vivendo sempre o presente, não é? E quando vivemos o presente, a única relação que nós temos é o passado. E para fazermos um juízo mais articulado, temos sempre de remeter para julgar depois aquilo que fizemos durante ou antes. Por isso, não sei se te conseguia indicar, mas sei que gostei muito de ser caloiro. É muito divertido, conheci muita gente, abri-me… Eu era um miúdo não tão desenvolto como passei a ser durante e depois do 1º ano da faculdade e também enquanto tive nas Atividades [Académicas] e fui caloiro e gostei muito. É uma coisa assim um bocado diferente e que nos força a explorarmos várias outras facetas que se calhar nós enquanto estávamos em casa não o fazíamos. Lara: Ainda para ti, a tua carta de candidatura fala sobre praxe e sobre a tradição enquanto uma “escada de pedra centenária” e mesmo há bocado também falaste sobre o porquê de continuares na Comissão e sobre no ano passado teres a proposta de algo inovador, e a pergunta é: pensaste no degrau que queres construir encarregado enquanto Magnânimo Dux? Riccardo : Se por ano fizermos um degrau, quero que eles sejam postos sobretudo na onda de as pessoas olharem para o próprio semelhante, com dignidade, com respeito. E especialmente quando fazermos parte de uma comunidade, que no nosso caso é particularmente pequena – o que traz consigo muitas vantagens: conhecemo-nos todos, somos todos relaxados uns com os outros, porque acabamos por ter uma convivência diária com quase todos – mas, parece-me que acaba por também por haver algumas desvantagens que nós devemos tentar mitigar. Porque num sítio onde conhecemos todos, acabamos por poder ficar um bocado maçados: a verdade é que vemos sempre as mesmas pessoas, muitas vezes vemos as mesmas pessoas da mesma maneira, nas mesmas circunstâncias, e às vezes isso parece que não estamos prontos, como é característico dos dias de hoje, a reconhecer os nossos colegas sempre de uma maneira digna. Sem querer parecer drástico, porque dizer “digno” pode parecer algo excessivo. Mas eu gostava que se mantivesse um certo grau de cordialidade, a trocar ideias, a reconhecermos os nossos pontos de vista. Uma coisa mais pacífica e mais de reconhecimento da diferença, que eu acho que é uma coisa muito importante. E a praxe mostra que é possível fazermos isso todos juntos. Lara: Agora, Rita, enquanto Excelentíssima Presidente de terceiro ano, como te sentes por chegares aqui e o que pretendes transmitir? Rita : Sendo perfeitamente honesta, ser Presidente da Comissão, especialmente estando no 3º ano como disseste, não era de todo um plano que eu tivesse quando assumi o cargo de vogal 2.º ano o ano passado, mas é um cargo que eu levo muito a sério, porque a Comissão, quer querendo ou não, durante a primeira semana de praxe está encarregue de oferecer aos caloiros o melhor que nós temos. De impressionar o máximo que eles fiquem o resto do ano. Mas, para mim a nível pessoal é um cargo que me traz bastante gratificação, porque eu sempre amei a praxe, sempre amei esta praxe especialmente, e o que eu quero transmitir aos caloiros é este sentido de comunidade. Ainda por cima, nós temos na nossa faculdade, e na nossa praxe, uma coisa muito característica que são os grupos [de praxe] que são todos unidos e são muito característicos entre eles, muito diferentes entre eles e é isso, basicamente, oferecer e mostrar aos caloiros o nosso melhor e espero que seja isso que eu e a nossa Comissão consigamos transmitir.  Lara: Passando a perguntas mais gerais, quais são as vossas visões desta nova Comissão, e se haverá alguma continuidade com a Comissão anterior, e, caso haja [continuidade], haverá algo que nesta nova Comissão pensem em mudar ou  inovar? Rita : Eu acho que o tema da continuidade acaba por ser, pronto, como tinhas dito, nós temos pessoas que estiveram na Comissão anterior - eu, o Riccardo e a Joana - e basicamente, o nosso objetivo é mesmo trazer o melhor de todas as comissões que nós já experienciámos  todos enquanto caloiros e doutores. Claro que temos a Comissão do ano passado que acaba por ser um exemplo maior, visto que nós  a integrámos. No entanto, também sabemos reconhecer as partes boas, as partes menos boas e também as partes boas e menos boas das outras comissões anteriores. E o nosso objetivo é mesmo ir buscar  aquilo que gostámos mais, ou aquilo que fez sentido na organização de todas, e trazer para a nossa para conseguirmos fazer todos o melhor trabalho possível.  Sobre coisas inovadoras, o que nós já implementámos, por exemplo, foi meter os vice-líderes no grupo de líderes da praxe, por acharmos, em primeiro lugar, que em eventualidades em que o líder não está presente, acaba por haver uma melhor comunicação, porque para nós usamos o mesmo canal e não há essa questão de faltas de comunicação, como se calhar houve no ano passado - coisas que acontecem, é natural -, e em segundo lugar também porque, lá está, o vice-líder também é eleito pelos seus pares e por isso acho que também merece “aquele degrau” de proximidade com a Comissão. Esta medida já está implementada.  Outra medida que metemos no nosso plano, que não foi feito no ano passado, e que queríamos fazer este ano é fazer um documento ou uma pasta digital com as memórias da primeira semana e ao longo do ano para que possa ficar guardado não só entre nós [comunidade académica] mas também com os próximos anos que vierem, porque acho que é sempre giro ter essa cápsula temporal para olhar para trás e ver. Portanto, em termos de medidas inovadoras temos isto.  À medida que o ano vai acontecendo, nós se calhar iremos depararmo-nos com problemas que possam ter acontecido ou não nos anos anteriores, ou novos problemas, e vamos ter outras medidas para lidar com eles.  Riccardo : A Rita falou do que vai mudar, e eu quero dizer o que é que ficou mesmo: é a postura de compromisso e a postura de coadjuvação e de amizade que nós sentimos. E também quero dizer que todos os membros, embora só haja três em doze que estejam a afigurar pela segunda ou mais vez ou vezes na Comissão, todos estão aptos para desempenhar as suas funções e tenho a certeza de que o vão fazer da melhor maneira, porque são pessoas respeitosas, idóneas e que têm o mesmo espírito que nós sempre tivemos - de entreajuda, compromisso e liderança ativa. Rita : Exatamente, e só para acrescentar também nesse seguimento, nós também temos, por exemplo, alguns líderes dos grupos do ano passado integrados na Comissão, portanto também não vamos perder a perspetiva de representar sempre o melhor pelos grupos e pelos doutores no geral.  Lara: Isso é bastante positivo… Agora, e por falar em inovação, vocês já tiveram alguma ideia nova para as atividades académicas e eventos? Rita : Sendo perfeitamente honesta, estamos muito preocupados com a primeira semana de praxe, e lá está, em fazer o nosso melhor e impressionar todos os caloiros para que eles possam continuar. Não consigo dizer algo que nós tenhamos pensado para além disso, mas é basicamente manter bom trabalho e, entretanto, se nos surgirem novas ideias, ou se calhar novas maneiras de fazer certas praxes que já estão implementadas… é esperar e ver. Mas estou bastante positiva e bastante contente e esperançosa com as nossas cabeças para trabalhar [risos]. Riccardo : Mas uma coisa que foi feita o ano passado e que deu resultado e que acho que a malta gostou, embora não tenha sido implementada da forma que nós pretendemos, foi a atividade com a NOVA SBE. Isso foi uma coisa um pouco diferente, porque eu também honestamente não me lembro de alguma atividade assim - se fizeram alguma atividade do género, foi antes de eu entrar -, e acho que deu resultado. Os caloiros aproveitaram, e nós doutores também aproveitámos para conhecer pessoas novas; para ver como é que se faz a praxe nos outros sítios, e parece-me uma coisa bastante positiva e que nós também  devemos tentar replicar. Se não com a NOVA SBE, com outra faculdade. Acho que foi mesmo uma coisa positiva, porque é uma troca um bocado diferente, e fez bem a todos, eu acho. Lara: Vou-vos fazer uma pergunta meramente hipotética: se vocês tivessem orçamento ilimitado para organizar uma atividade académica, o que é que fariam? Rita : [risos] Essa é uma excelente questão. Orçamento ilimitado… o que é nós fazíamos?... Não sei, é assim, claro que não estamos aqui todos para ter uma reunião e decidir uma atividade, mas, se tivéssemos orçamento ilimitado, eu honestamente fazia um fim de semana do caloiro espetacular, num sítio qualquer, fora do país - ou até uma semana, não sei -, pela Europa talvez... [risos]. Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça. Riccardo : A Rita diz que não gostou do fim de semana do ca loiro em Pombal com o Óscar… [risos] Rita : Levávamos o Óscar, pagávamos a viagem ao Óscar para nos fazer a comida [risos]. Riccardo : Olhem, eu não faço a mínima ideia. Até porque orçamento ilimitado é uma coisa que nunca vai haver, e nos dias de hoje ainda menos, mas se houvesse orçamento ilimitado pá, eu faria - tradições à parte - um dia do traçar da capa com orçamento ilimitado: fora da faculdade, ou dentro da faculdade, tudo junto, que se lixe - agora, homens, perdoem-me -, mas fazia uma coisa assim mais composta, sem depender da boa vontade das pessoas que se envolvem todos os anos - e que é muito valorizada, atenção. Tradições e dinheiro à parte, vamos fazer um parênteses na tua pergunta [risos]. Lara: Ok [risos]. Ainda que hajam preceitos e regras fundidos na praxe, de modo a enfatizar uma melhor experiência académica, sabemos que em todos os anos existem incumprimentos de regras, como faltas de respeito - quer seja perante à comissão, aos outros doutores, aos caloiros, ao código do traje… De que forma é que vocês se vão posicionar, caso este tipo de atitudes exista? Rita : Primeiro que tudo, acho que é positivo e mostra logo outra ideia de “autoridade”, no seu sentido menos restritivo; mostra uma autoridade mais assente se nós todos estivermos no mesmo pé relativamente ao nosso posicionamento sobre essas faltas de respeito - sobre essas infrações ao código da praxe, código do traje, etcetera . Portanto, uma boa comunicação entre toda a comissão é logo o primeiro passo, na minha opinião. Por isso, nós já tivemos reuniões em que falámos sobre como é que vamos lidar com isso e o que é que vamos fazer - se acontecer alguma situação, a comissão há de reunir e falar sobre isso, para depois termos um course of action  específico para lidar com a situação.  Mas eu digo mesmo que o passo número um é mesmo uma boa comunicação e estarmos todos no mesmo pé, porque eu compreendo que depois possa ser, hum… não é bem injusto, mas por exemplo, imagine-se que eu tenho um método de atuação diferente do que o Riccardo - isso mostra logo uma falta de posição que nós temos de acordo com esse problema que depois poderia levar a algumas injustiças que estariam a nosso cargo. Portanto, eu acho que é isto, boa comunicação e usar os canais certos, ou seja, pela comissão, pelos líderes e pelos doutores. Riccardo : Olha, eu vou começar por dizer que esses fenómenos que tu descreves existem, certo, mas são uma coisa mais ou menos marginal, o que é bom; são uma coisa que se verifica, e que embora se tenham verificado algumas vezes, são uma minoria bastante pequena dos acontecimentos. E eu acho que quando nós estamos numa comunidade com regras e que são regras antigas, não são de hoje nem de ontem - nós precisamos de ter um chão comum e esse chão comum está vertido no código. Agora, para nós conseguirmos ser um membro ativo e reconhecido da comunidade, temos de respeitar as regras que estão no código e, o que é que acontece, às vezes, pá, é preciso uma zanga e uma pessoa se irritar.  As medidas, eu acho que por si só, devia valer a vontade de pertencer à comunidade das pessoas, e acho que por si só devia valer o reconhecimento que as pessoas fazem e têm das regras que existem há bem mais de vinte, trinta, quarenta anos, que existem há não sei quanto tempo. Às vezes isso não chega, infelizmente, e aí nós também - Comissão, Dux e todos os Líderes dos grupos - têm de assumir uma postura que terá de necessariamente de variar consoante as características de cada pessoa, então parece-me que não há assim um único caminho. A Rita estabeleceu, e disse bem, que nós temos um course of action  mais ou menos delineado, mas isto é uma coisa que é maleável e que se vai alterando. Então parece-me que, caso esta coisa toda do respeito e da inclusão e do, vá, “ soft power”  não resulte, teremos uma série de medidas que, até por coerência, elas próprias estão vertidas no código. Mas as nossas ações individuais, como nós somos a voz da comunidade, somos as pessoas que estão à frente, terão de necessariamente respeitar duas coisas - primeiro, a nossa linha geral que é respeito e cooperação e, segundo, as regras do código. Lara: Ainda sobre este tópico, algumas pessoas têm vindo a comentar que as comissões anteriores foram um pouco levianas nesta questão das faltas de respeito no ambiente da praxe. Qual é a vossa opinião sobre isso? Sei que vocês já falaram um pouco sobre isto, porque, na verdade, nunca é um caso geral, são sempre casos concretos, e por isso leva a uma maleabilidade na vossa posição. Mas, mesmo assim, têm alguma coisa a comentar em relação a isto? Rita:   Ok , então, primeiramente, é dizer que com cada comissão vêm pessoas diferentes e mentes diferentes, sempre com o mesmo objetivo; ou seja, fazer com que o código seja respeitado, com que os doutores, a praxe, que os nossos valores sejam respeitados, mas há sempre um espaço de discricionariedade, o que é normal porque somos todos pessoas diferentes e acabamos por pensar todos de maneiras diferentes. Portanto, eu acho mesmo que isso é o meu único comentário a fazer. Claro que nós agora sendo Presidente e Dux, nesta Comissão o nosso objetivo é mesmo que estas faltas de respeito não sejam passadas a limpo, ou seja, não sejam varridas para baixo do tapete, vamos tentar lidar com tudo da melhor maneira que nós conseguirmos, tendo sempre também em mente o bem-estar na praxe. No entanto, na minha opinião, para manter o bem-estar na praxe nunca podemos chegar ao nível em que fechamos os olhos a faltas de respeito, porque, no fundo, na minha opinião, o respeito pelo código, pela praxe e, mais uma vez, por todos nós são os alicerces que mantêm a praxe. Porque, tal como o Riccardo estava a dizer, nós todos estamos aqui por queremos e porque queremos respeitar o código, e isso deve ser o motivo número um.  Claro que existem sempre situações em que as pessoas cometem uma certa infração que nem sequer têm noção que estão a cometer, ficando a nosso encargo avisar a pessoa; depois essa pessoa é que “escolhe” como lidar com a situação e nós, por nossa vez, estamos no direito de responder a essa posição da maneira que entendermos, sempre com bom senso e respeito em mente. Riccardo : Eu vou só acrescentar uma coisa. Esta é a minha opinião pessoal - qualquer atuação desrespeitosa que impeça os caloiros de ter a experiência que merecem, não vai ser tolerada de modo algum. O objetivo todo é nós incluirmos os caloiros e juntá-los a esta comunidade que já temos construída há dez, onze, doze anos, por aí. E uma coisa assim de intransigência é só essa, é esse tipo de atitudes que prejudicam a fruição dos caloiros dos momentos que nós queremos, com eles e com a comunidade, construir. De resto, como a Rita disse, impera o bom senso e embora para mim, a vontade de fazer parte da comunidade e de nos respeitarmos uns aos outros devesse bastar, a avaliação será necessariamente mais casuística, mais de juízo concreto do que “linhas vermelhas” em abstrato. Lara: Agora noutra linha, é notável que o papel da comissão ao organizar e materializar os planos para a praxe é complexo - seja pelas logísticas envolvidas, pelos imprevistos que acontecem, pelas avaliações que se intercalam… Nesse sentido, quais são os maiores desafios que sentem na gestão de uma comissão com tanta responsabilidade simbólica e prática? Rita : Logisticamente, organização do tempo, não é… [risos] Deus sabe que já aconteceu aquelas praxes que às vezes se atrasam - é normal e está tudo bem. Mas pronto, logisticamente, respondendo de uma maneira mais pragmática, é mesmo a parte de organização do tempo. Agora, de um ponto de vista assim mais simbólico, é claro que uma grande responsabilidade e é sempre um ponto a tocar na mente da Comissão é a parte de a Comissão fazer com que as praxes tenham uma boa vibe , que estejamos todos bem e confortáveis, nada que meta os caloiros obviamente constrangidos a um certo nível, não é… no fundo não nos podemos esquecer que é a praxe, mas basicamente são esses os desafios com que me deparo pessoalmente na minha cabeça, é mesmo a gestão de tempo e balancear o stress  todo que podemos sentir com a ideia de que isto é para os caloiros. Riccardo : Concordo, tenho a dizer que concordo com a Rita na primeira e na última parte. O desafio logístico, especialmente quando se tem pessoas novas que não estão habituadas a esta face da moeda, fica um bocado difícil, mesmo na própria organização. Naturalmente quem já esteve, sabe quais é que são alguns elementos, mesmo no planeamento ou de execução das atividades a que tem de ser dada prioridade, e outros [elementos] que não, e às vezes corre-se muito o risco, mesmo nas próprias reuniões ou antes de a atividade começar, ou até durante, de haver situações em que devíamos gastar 2 segundos e gastamos 20 minutos… mas isso é uma coisa que nós, claro, temos membros novos e estamos a tentar mitigar isso - nós, os repetentes [risos]. E a questão da centralidade do interesse dos caloiros também provoca algumas tensões entre nós, às vezes.  E outro aspeto que eu queria referir é que é muito difícil estar à frente e serem 12, porque se estás à frente e és um, só há uma voz, mas a voz é o líder, certo? Quando são 12, é muito difícil a coordenação, até porque somos pessoas - graças a deus - que pensam diferente e têm opiniões diferentes e pensam pela própria cabeça, o que é muito bom porque temos muita diversidade de opinião, tivemos muita discussão e muito debate interno nas primeiras reuniões que fizemos… e tem outra face também, porque parece (ou pode deixar a parecer) que é um grupo pouco coeso, até pela diversidade de pensamento e de opinião. E isso é uma coisa que também tem de ser tida em conta. Mas nós claramente estamos a fazer o melhor que podemos para darmos a nossa voz (dos 12) e de todos os restantes doutores. Lara: Passemos a uma questão hipotética (mas não tanto): se houvesse um caloiro com receio de comparecer na praxe, o que é que vocês lhe diriam? Rita : Ok, isto é uma boa questão, e no ano passado até lidei com ela. Mas basicamente o que eu diria é que temos pessoas excelentes, de todas as frentes, a trabalhar para ti, caloiro. Ou seja, temos a comissão, temos uns excelentes doutores de grupo, temos uns excelentes líderes, e estão todos aqui pura e simplesmente por ti; para te dar esta oportunidade. E também se calhar diria assim de uma maneira mais off the record , que a nossa praxe é uma praxe relativamente - em comparação com outras praxes - muito tranquila e que é feita mesmo para conhecer pessoas, para ser aberto a outros horizontes… nós obviamente recebemos caloiros de todas as condições, de todos os cantos do país, de tudo… Portanto eu acho que, especialmente a nossa praxe, é uma excelente oportunidade para ficarmo-nos a conhecer a todos, e se calhar sairmos um bocado da casca e avacalhar um bocadinho. E basicamente frisar que os doutores estão cá para ti, caloiro, e que te vais divertir muito. Riccardo : Eu tenho a dizer que o Riccardo do 1º ano não conseguia ir à esplanada do bar pedir um café. Mas o Riccardo do 1º ano conheceu 90 pessoas no primeiro dia de praxe, e fez os melhores amigos que tem na praxe. E tem os amigos de hoje, da faculdade, todos na praxe, por isso parece-me que é uma boa maneira (especialmente para quem não é de Lisboa), de fazer amigos, de criar um ambiente de convívio tranquilo, pacífico e acolhedor, em que se pode ser ele/ela próprio/a, e desfrutar. Lara: Há algum comentário final que gostassem de transmitir à nossa comunidade académica? Rita : Acho que a única coisa que tenho a dizer é para virem e para se divertirem . Estamos todos aqui para um objetivo e um objetivo apenas.  Riccardo : Olha, o meu recado final é uma palavra: venham, apareçam. Ou duas, no caso: apareçam e venham.

  • O sonho de um caloirinho

    O calor de agosto é exuberante e este ano parece até infernal. Soube que entrei na minha primeira opção e que vou ser o primeiro da minha família a frequentar o ensino superior. Vou sair da minha terrinha do interior num autocarro interminável, ou até atravessar o Atlântico, para estudar na capital. Deixo a minha família para trás e trago comigo apenas sonhos e aspirações de ser mais do que os meus pais conseguiram ser. Encontrei um quarto a 40 minutos da faculdade e os meus pais vão ter de dar metade do salário deles para pagar a renda. Mas tudo isto vale a pena. Vou formar-me, arranjar um bom emprego e retribuir tudo o que os meus pais fizeram por mim.  Almoço sempre em casa porque a refeição social está cada vez mais cara. Mas tudo bem, isto constrói independência. Estudo, cozinho, lavo a roupa e limpo a casa como todos os meus colegas.  Evito gastar dinheiro em coisas desnecessárias. Ninguém precisa de comer três refeições por dia para ser saudável e, quiçá, consigo poupar cinco euros da minha mesada para marcar uma consulta nos serviços de psicologia da faculdade.  Adoro Lisboa e a minha rotina. Só tenho de fazer tudo e mais alguma coisa: ter boas notas, construir um bom currículo e orgulhar os meus pais que nunca tiveram esta oportunidade. Não faço mais do que todos os meus colegas. Bom… menos aqueles que chegam a casa e já têm o jantar feito, a roupa lavada e uma mesada igual ao salário do meu agregado familiar. Mas tudo certo. Tenho uma oportunidade e acredito na meritocracia. Só tenho de me esforçar.  Recebo uma chamada de casa. A rede é instável, mas com as saudades que tenho só quero ouvir a voz deles. O meu pai, entre cortes e ruídos, diz-me que precisamos de falar.  Automaticamente penso que alguém está doente ou que algo correu mal. Mas não.  Ele diz-me que o que eu achava que tinha ganho com o meu esforço e com o sacrifício dos meus pais me vai ser tirado. É demasiado caro. A renda, as despesas, as propinas descongeladas. Os meus pais não aguentam e não lhes posso pedir mais.  Regresso a casa. Com uma chamada e uma medida do governo acabou o sonho de um caloirinho.

  • I have a dog in me… and it’s killing me

    Eu amo como um cão.  - I'm not your pet. I never liked you. I don't care about you. I won't wait for you. I bite. - Mas é mentira. Eu sou um bom cão. Não sou selvagem.  - I'm not a violent dog Apenas procuro o incondicional amor de um dono, de uma trela que me abrace o pescoço. Desesperada por uma festa na barriga, por alguém que me dê uma casa e me ponha comida na taça. Acho deveras triste. Amar como um cão e desejar ser amada como um gato.  - I bet on losing (dogs) owners Cresço cansada. Exausta e drenada desta corrida. Cansada de saltitar com a cauda a abanar para a porta quando te oiço chegar e ser recebida com o mínimo dos interesses. Exausta de correr por campos, de fazer passeios longos, caçar pardais e de te trazer pequenos presentes, para que possas ver o quão boa e atenciosa eu sou. Drenada de esperar sentada para sentires tanto a minha falta como eu sinto tua, para decorares cada movimento, cada interação, cada gosto meu como eu faço por ti.  Pensas em mim? Pensas em mim quando não ocupamos o mesmo espaço, quando não respiramos o mesmo ar, quando não nos prendemos num beijo. Pensas em mim? Na minha presença? No meu riso? Ou apenas desejas passar a mão pelo meu pelo?  Olho para ti como um deus, com a alma embebida em divino, cavo a terra sôfrega à procura de sinais do universo, pois é isso que as pequenas coincidências têm de ser: sinais de que talvez sejas tu o meu dono, finalmente.  Não faz mal que nunca me alimentes o suficiente para eu ficar saciada, que não me dês água que chegue para que eu possa matar a sede, que não brinques comigo se eu não vier ter contigo com uma bola entre dentes.  Amanhã será um novo dia e a qualquer altura poderás melhorar e dar-me o que eu preciso, e tudo o que eu tenho de fazer para receber o que mereço…é esperar. E eu não me importo de esperar. E enquanto espero eu faço todos os truques. Dou a pata, rebolo, sento e finjo de morta, perguntando-me quanto mais tempo até deixar de fingir, até ser consumida por completo por esta procura gananciosa. Faço todos os truques até os que vão para lá dos meus desejos e ponho sempre a língua de fora quando me é pedido. Uma carícia e um elogio solto preenchem o vazio no meu peito.  Será que um dia apenas serei lembrada pelos meus truques? Depositarei eu todo o meu valor nisto? Será que isso basta?  Por favor diz-me que basta eu não sei mais o que fazer.  Se eu fizer mais truques ficas mais um pouco?  Não faz mal. Não faz mal se me chutares. Não faz mal se me pisares. Não faz mal se me tocares. Não faz mal se me gritares. Podes depositar em mim todas as tuas frustrações. Se precisares de um tempo podes pedir. Se não estiveres bem, eu faço o esforço pelos dois. Não tens de te preocupar em pôr comida na minha taça. Estas migalhas bastam. Eu não vou a lado nenhum.  Eu não vou a lado nenhum… - I am the losing dog. The runt of the litter - Este vazio, dobra-me, assombra-me e sufoca-me. Eu sou tão boa. Por favor, eu sou tão boa. Deixa-me provar. Deixa-me provar que mereço. Que mereço mais do que uma ocasional festa na barriga, uma ocasional palavra de carinho, que mereço devoção, esforço e bondade. Por favor. Por favor, escolhe-me. Da ninhada escolhe-me a mim. Não precisa de ser para sempre. Se te cansares podes me devolver e voltar quando quiseres. Por favor, só te peço um pouco. Escolhe-me durante um tempo, por favor. Talvez assim eu saberei que sou suficiente. Por favor, Deus, deixa-me sentir que sou suficiente.  Oh meu deus, como eu estou cansada. Oh meu deus, como não aguento mais ser sôfrega. Eu não consigo mais seguir este caminho. Eu não consigo mais ser um cão. Dói-me tanto. Esta sombra que eu carrego no peito queima e sutura qualquer ferida.  Por favor solta-me desta amarra, desta armadilha que me quebra os ossos e me arranca a carne.  Eu quero morder. Eu quero latir. Eu não quero ser um ser dependente dos meus truques, da minha pelagem lustrosa, do meu cio.  Por favor. Por favor solta-me, que este desespero não me deixa respirar.  Livra-me desta forma, deixa-me viver em duas patas. Eu não quero ser um cão. Um cão que em qualquer vulto vê um dono. Nada importa. Nada importa sobre o meu dono. O seu nome. Como é. Só importa que me queira. Que estupidez, que doença, que humilhação. Eu recuso-me. Recuso-me a continuar esta corrida. Acabou. Dei a minha última volta, procurei o meu último sinal, comi pouco pela última vez nesta taça, não voltarei a rebolar e a dar a pata.  Exijo a mim, a mim e a mais ninguém, que me deixe ser suficiente, que viva por mim e não à espera de um dono que não me mereça, pois esta vida apenas a mim me pertence. Eu que mato a minha sede, eu que como até estar satisfeita, eu que afago os meus próprios cabelos, eu que me amo tanto, não irei raspar o fundo de um tacho tentando que alguém seja melhor por mim, não irei deixar a porta aberta para que possam retirar da minha mesa sem nada deixar, não me irei sentar quieta a aceitar as migalhas finais, não irei esperar que alguém me deseje intensamente, pois neste mundo inteiro não haverá ninguém que me irá desejar ou me completar tanto como eu. Aqui abdico desta dor, abdico desta busca, abdico desta necessidade.  Abato este cão que vive atrelado ao meu peito, tremendo no frio, implorando por uma mão quente. Não serei eu conhecida por viver esperando que alguém venha e me leve a passear, mas serei conhecida por caminhar erguida contemplando o meu caminho, banhando-me na minha companhia e se alguém digno desta se quiser juntar, será bem-vindo a partilhar comigo os meus passos.  Aqui foi abatido este rafeiro carente, doente por amor, desesperado por um dono.  I have the dog in me...but now I will set it free.

  • O Direito nunca será democrático

    Sempre achei curiosa a mentira sobre a independência dos tribunais. Não é mentira a noção de os tribunais serem órgãos com autonomia, mas retirar-se, dessa autonomia, esta ideia tão reiterada – de que os juízes são, de alguma forma, meros tecnocratas, e aplicadores da lei – é tão autoevidente que parece ridículo esta ter nascido de todo. Veja-se o exemplo mais direto, mas também o mais perigoso – é o parlamento que elege 10, em 13, dos juízes do Tribunal Constitucional. Os restantes são escolhidos pelos juízes eleitos pelo parlamento. Estas são as figuras que, durante os próximos anos, e com consequências na escala das décadas, irão definir, e redefinir, conceitos como liberdade , igualdade , soberania , e casamento  (para os que se importam com isso). Assim, o Tribunal Constitucional nada mais é que uma extensão da soberania política do parlamento, e, indiretamente, também são uma extensão do executivo, que, com o parlamento certo, por ele atua, e do poder do povo, que irá configurar o parlamento que os irá eleger.  Por isso, é forçoso concluir que os juízes são políticos de toga. Mas não temos de ir tão alto. Todos os tribunais são tribunais constitucionais, e todos têm, nas suas mãos, definições políticas para balizar. No processo penal, cabe ao juiz, pela sua vontade e opiniões, controlar a vida de todos os criminosos. E, na escola, podemos ensinar artigos, e princípios, e procedimentos, mas não podemos nunca ensinar um jurista a ser bondoso com o seu poder. Podemos ensinar-lhe o princípio da liberdade, mas não o podemos ensinar a querer saber sobre liberdade. Damos-lhe as ferramentas, e, se assim quiser, poderá matar, desde que com a fundamentação certa. O Estado Moderno de Direito, mais do que uma infraestrutura democrática, requer uma classe jurídica dirigente, insulada do restante mundo, que aí chegou, por uma mistura de estudo meritoso e herança corrupta, cuja palavra é valorizada pela restante sociedade porque assim se convenciona, e cuja interpretação das palavras, das doutrinas, ininteligíveis ao comum dos mortais, poderá alterar radicalmente a ordem do mundo. Nós não somos, nem uma aristocracia, nem do povo. Nós somos a continuação do clero. E é por isso que nunca seremos democratas.  A expressão máxima da Democracia no Direito seria a guilhotina. E temos de fazer paz, e guerra, com este facto. De que somos políticos disfarçados, e que com este poder podemos ser santos, ou diabos. Nós vemos nos Estados Unidos o que acontece quando fingimos demasiado tempo de que os juízes são neutros, e não políticos a serem criticados e atacados, como qualquer outro político. O Supremo americano é, atualmente, um dos pilares fundamentais desse fascismo, e da destruição desse Estado de Direito. Foram os doutores da lei que entregaram, de mão beijada, ao presidente americano, imunidade legal. Entre o respeito à lei e o mal, os diabos escolherão sempre o mal. Os santos que empreguem a lei como a arma que é, e a arremessem de volta, em nome do bem.

  • Carta Aberta ao Ambientalismo Vazio

    Se esta é a ressonância da nossa geração, então precisamos urgentemente de afinar a frequência. Queremos ressoar com os jovens, mas o eco que fica é o da artificialidade e da apropriação oportunista do discurso ambiental. Perdoem desde já a raiva que provavelmente vai transparecer nesta minha partilha, mas há limites quando falamos da imagem dos meus pares, da minha Instituição, e, primordialmente, do futuro do nosso planeta. Já chega de reclamar em surdina de atos vazios e eticamente questionáveis, prejudiciais para causas que nos tocam a todos. Da hipocrisia do uso indiscriminado da inteligência artificial, das palavras vazias, do culto à personalidade do líder e da normalização da cultura das cunhas, ao ativismo vergado ao sistema e ao status quo: É altura de falar contra as ações que atentam à inteligência de quem acredita que o direito e o ativismo ainda podem mudar o mundo. Comecemos pelo mais simples. A defesa dos interesses do meio ambiente pura e simplesmente não se coaduna com o uso óbvio, indiscriminado e quase transparente de inteligência artificial, não apenas para a criação de legendas e artigos publicados por meios que se dizem respeitados como para a geração de imagens de forma constante. Os recursos naturais e hídricos gastos pintam de hipocrisia qualquer mensagem profunda que abstratamente estaria a ser partilhada. Contudo, esse conteúdo não existe. Porque de facto se somos lacaios do sistema, o ativismo torna-se muito rapidamente uma ferramenta de propaganda pessoal desprovida de impacto e ideias.  Quando os membros principais do culto escrevem textos e opiniões badalados que são apenas uma junção de buzz words em inglês, repetições poéticas, mas pouco impactantes, e a inexistência de uma qualquer ideia, torna-se difícil justificar a existência e a ocupação de espaço no limitado mundo da proteção ambiental nacional. Mencionar que “é urgente repensar o enquadramento legal [das ações de grupos ambientalistas como a climáximo]” sem identificar o enquadramento existente ou fazer uma proposta de alteração é somente vender palavras vazias numa análise a que nenhum professor de direito daria nota positiva. Mas está no melhor interesse dos ativistas que vivem no bolso das grandes corporações propor como medida para o futuro do ambientalismo nacional que os jovens “walk the walk” e “talk the talk” como se o inglês emprestasse seriedade a discursos repetidos e reciclados em vários podcasts. Falamos pelos jovens, e “subsidiamos a educação” porque gostamos de “acesso”, mas usamos IA para gerar imagens em vez de colaborar e dar espaço e voz a artistas que partilhem das alegadas cores ideológicas vendidas pelo culto de que falamos. Somos os jovens, mas não falamos de interseccionalidade, grupos económicos ou interesses políticos porque não queremos afastar os nossos patrocinadores, não queremos alienar o nosso futuro patrão. Mas sejamos honestos: ninguém esperava mais de um projeto que é, na prática, a imagem de capa da cultura de cunhas nacional Se nos despirmos dos receios que colocam nos bastidores o que tem sido dito e repetido por tantos de nós, há uma conclusão repetida: Há grupos que são nada mais, nada menos, do que uma plataforma de publicidade criada em torno do líder supremo “Fundador e Presidente” e dos seus lacaios numa desesperada tentativa de apanhar o comboio do maior lucro possível por menor competência. De que serve saber direito, concluir o curso com sucesso, pensar criticamente, quando é tão fácil fingir a competência que cabe tanto mais a outros?  Esta apropriação da educação, do ativismo e da justiça ambiental é um insulto à minha universidade, à formação jurídica que recebemos, e ao futuro que dizemos defender. Não podemos continuar a fingir. Se almejamos um Direito ao serviço da maioria, do planeta e da justiça intergeracional temos de romper com esta cultura de fachada. A mudança começa por dizermos, com clareza, o que muitos já pensam. Não se trata de negar a importância de iniciativas que queiram aproximar o Direito e o ativismo. Mas exige-se responsabilidade, exige-se que não se brinque. Que se critique de dentro, com seriedade, com conhecimento e com humildade.

  • A NOVA foi de ERASMUS à terra da falta de bom senso

    E levou na mala meia dúzia de ideais plastificados, uma vontade difusa de mudança e um  mapa onde o destino final é sempre o conforto.  Foi com ar de quem sabe muito e vive pouco, embriagada em certezas sobre sistemas que mal  compreende, e com uma língua afiada para criticar o mundo, mas incapaz de se cortar ao espelho.  Aqui, reclama-se da carga horária como se os corredores da universidade fossem minas  de carvão, mas mal aparece um professor que exige mais do que a média, que trata o ensino como  uma entrega humana e não um serviço de catering académico, que é imediatamente acusado de  ser vaidoso, antiquado ou opressor.  Não se quer aprender, quer-se passar. Quer-se um diploma com aplausos, currículos com tachos  e quotas sem espaços.   Se o professor exige, é arrogante, se não exige, é desleixado. E no fim, é sempre o sistema que  falha, nunca a preguiça do estudante.  Curioso também é o compromisso político.  Denuncia-se o racismo institucional com frases copiadas de artigos que nunca se leram até ao  fim. Grita-se contra o machismo, contra o classismo, contra o capitalismo, tudo com a confiança  de quem nunca teve de enfrentar verdadeiramente o que denuncia.   E, no entanto, os mesmos que aplaudem estas palavras são os que votam sempre nos mesmos, os  que se emocionam com o discurso bonito e esquecem o vazio por trás. Lutam com emojis.  Revoltam-se com partilhas. Mas, quando chega o momento de levantar a voz, de encarar um  colega, um professor, um dirigente, quando chega a hora de dizer: “Isto está errado” calam-se.  Calam-se por medo. Calam-se porque nunca o disseram antes. Porque, é mais fácil ser corajoso  num texto que começa com um “Desculpa, alguma coisa” do que perante algo que possa ser  verdadeiramente constrangedor.   Veneram a negligência, desde que ela venha com carisma. Acreditam em causas, desde  que não impliquem desconforto. E, se num domingo à noite quando o mundo lhes aparece no  ecrã, numa guerra, numa tragédia, num escândalo…sentem algo. Sentem, sim, mas sentem como  quem vê um filme triste. Comovem-se, mas não se movem. Suspiram, mas não agem. Sofrem  durante dois scrolls e depois voltam ao vídeo do cãozinho.  São rápidos a comentar o erro do árbitro, o VAR, o penálti mal marcado…aí há paixão,  há força, há convicção. Mas são lentos, muito lentos, quando se trata de enfrentar a mediocridade  real. E não é que não saibam falar. Sabem falar muito bem. Sabem indignar-se. Sabem citar.  Sabem teorizar. Só não sabem agir. Ou não querem. Porque a ação exige corpo. E o corpo, esse,  está colado à cadeira, à desculpa, ao medo de falhar.  E o moralismo académico não falta, condenam o consumo, a exploração, o trabalho  mecânico, com a solenidade de quem nunca pegou numa esfregona.   Há pena, sim…pena quase poética, por quem estuda e trabalha, mas nunca desejo de ser como  eles. Quer-se liberdade, quer-se autonomia, mas sem largar o cordão umbilical dourado da mesada  mensal. Vivem, por isso, esmagados por uma culpa vaga por ainda dependerem dos pais, mas  recusam, no seu estoicismo folgado, a rotina do operário, o suor do salário, o horário picado.  Porque isso, é indigno. Porque isso é outro mundo. E esquecem que esse mundo os espera… no  fim do curso, ou no fim da ilusão.  O mundo onde ninguém lhes vai perguntar o que pensam, mas sim o que sabem fazer. E ainda, criticam tudo, a estrutura, os professores, o curso, o país, o mundo… mas não  mexem uma vírgula do que podem mudar. Não exploram, não questionam a sério, não vão ver  com os próprios olhos. Falam de bolhas, mas nunca saem da sua. Falam de opressão, mas  recusam-se a cair. Porque cair exige coragem. E coragem, aqui, é o mesmo que dizer que te vais  candidatar a uma lista.   Aqui, prefere-se o sarcasmo à entrega. Prefere-se parecer lúcido a ser vulnerável. Prefere-se  criticar quem tenta do que tentar com medo de falhar.  Vivem numa bolha decorada a slogans, onde se repete a performance da consciência sem  nunca a sentir. Patos mimados num lago morno, com as penas bem arranjadas e o ego bem polido,  que preferem dar voltas em círculo do que arriscar o salto para o desconhecido. O desconhecido  assusta. O real assusta. O compromisso, por sinal, também assusta.  Não vivemos num jardim. Vivemos num palco. Num cenário pintado com luzes LED  onde as flores são compradas em centros comerciais e os protestos são feitos com likes. Aqui, ninguém quer ver, quer ser visto. Ninguém quer mudar, quer parecer transformador.   A NOVA não foi de ERASMUS. Fugiu de si. Fugiu da frustração que dói e preferiu a  revolta que entretém. E mesmo lá longe, entre conferências e selfies, o espelho vai junto. E ele ri se. Ri-se de quem grita por justiça, mas não a pratica no dia-a-dia. Ri-se de quem exige escuta,  mas não sabe ouvir.   E ri-se, acima de tudo, de quem sabe tudo sobre o mundo, menos sobre si.

  • Como lidar com Israel, os nazis do nosso tempo?

    Este artigo não se debruça sobre se existe um genocídio em Gaza: existe. Negá-lo equivaleria a negar as leis da física, e não pretendemos gozar com a gravidade da situação. Este artigo também se recusa a entreter o bom gosto da metáfora: a comparação não é um insulto às vítimas do Holocausto; Israel é.  Não, este artigo serve, pura e simplesmente, para refletir sobre o que pode parar os nazis do nosso tempo de perpetuarem o seu genocídio. Organizemo-nos por camadas, do mundial ao local. A primeira solução, óbvia e antiga, é a da intervenção militar. Uma invasão, um D-Day, portanto, por parte das Nações Unidas, seria apenas complexa na logística. Temos como precedente, por exemplo, a Guerra do Golfo. Infelizmente, o Conselho de Segurança, com o veto americano, nunca aprovaria tal justiça.  Passemos ao continental. A Europa é o principal parceiro comercial de Israel. Tal deve acabar. Não falamos de meros boicotes ao que vier dos colonatos, ou parar de enviar as armas que matam crianças palestinas - isso é óbvio, e o facto dos dirigentes políticos europeus não se dignarem a tal mínimo não o torna menos óbvio.  O que deve acontecer é a rejeição total de Israel. Embargos comerciais completos, cortes de relações diplomáticas, e o reconhecimento pleno da Palestina enquanto estado soberano. A verdade é que Israel necessita do apoio ocidental para continuar, e se não podemos contar com a América para o fazer, só a União Europeia, na sua majestade colossal, pode estrangular estes nazis. Não é essa a vontade dirigente, claro. Para os órgãos europeus, Israel é um mero parceiro, e assim, se fazem tantas parcerias militares, comerciais, científicas que poderíamos confundir este país com um membro pleno da União. E estes órgãos europeus, os partidos europeus, os políticos europeus, devem ser convencidos, e assediados, pela comunicação social e pelo mundo físico que os rodeia, a tomar as decisões corretas. (E sim, claro que Israel se deve juntar à Rússia na Eurovisão.) Isto leva-nos, claro, ao nacional, e ao local. Em parte, aplicam-se os mesmos princípios: Portugal, deve, no mínimo, cortar relações diplomáticas e comerciais com Israel. A direita portuguesa está-se objetivamente, a marimbar para os milhares (um dia dirão milhões) de mortos. Devem ser escrutinados até tomarem a decisão correta, tal como outros partidos são quando apoiam, de uma forma ou outra, regimes fascistas e genocidas. Ao nível local, podemos opinar, por esta e outras formas, influenciando o discurso político cada vez mais, balançando o pêndulo cada vez mais contra o novo Reich. E, cirurgicamente, o protesto e a ação direta. Em 2023, o embaixador israelita, Dor Shapira, foi convidado a dar uma aula no nosso Mestrado de Direito e Segurança. ( https://novalaw.unl.pt/en/open-class-on-security-and-geopolitics-abraham-accords-conflict-peace-and-diplomacy-in-the-great-middle-east/) A Nova que se atreva a fazê-lo outra vez. Entretanto, nós, pequenas pessoas, pequenos estudantes, rejeitemos os nazis nos nossos corações, nas nossas palavras, e nas nossas pequenas ações. Não apoiemos a chacina nem à mesa de jantar, nem à mesa de voto, nem na carteira. E assim, para sempre, até que isto tudo pare. Até que reabram Nuremberga. Para finalizar - perdoem-nos. O Wix, a plataforma onde este site se baseia, é de uma empresa sediada em Tel Aviv. O Jur.nal deve procurar alternativas.

  • sobre a gala lex

    Mais um ano mais uma gala, menos uma noite de estudo, mais 50€ para fora da mala. Os mesmo sentam se “aleatoriamente” nas mesmas mesas com formato diferente, as cadeiras vazias de estarem todos em pé, elogiam-se os vestidos sem saber quem é. Sempre as mesmas queixas: “Pouca comida”, “má música”, todos falam mas ninguém muda. Chegamos todos arranjados sem saber se é o sítio certo, devido ao ar duvidável e de Lisboa não estar por perto. Os professores sorriem e elogiam, mas há algo peculiar em sorrir para quem me vai chumbar. Os prémios são entregues, muitos discordam, outros saltam e outros nem votam. E de volta à faculdade surge uma nova guerra, quem consegue uber e quem fica à espera. Deitados na cama criticamos até o luar, mas no fundo sabemos para o ano vamos voltar.

  • Nova Alegoria - greve, outra vez.

    Querida academia – a  intelligentsia  da NOVA decidiu que a greve é um embaraço para o Estado de Direito. Bem haja! A aceitação é o primeiro passo. Baixem a cabeça por respeito. Porquê? Não sabem? É que, humildemente, caminham entre nós constitucionalistas, brilhantes como diamantes, com a bravura de... questionar a própria questão!Cale-se a miséria. A desigualdade. A violência sistémica. Os senhores estão a falar agora! E o que os senhores querem falar é precisamente sobre tudo aquilo que conquistámos no pós-Salazar: transportes públicos, habitação, educação, aborto, lei da paridade... O Estado tem é que ter (e ser!) um valor líquido — algo que se esprema facilmente entre punhos fechados. Acabou-se o tempo em que o teu Direito prevalece sobre o meu direito de questioná-lo.Acabou-se o materialismo histórico que fundamenta a tua Constituição.Acabou-se tudo! (dizer  chega  é pouco chique entre nós, sociais-democratas) Nasceu uma nova  intelligentsia : uma que goza com os Paulos Otários da Escola Clássica enquanto se deita à sombra do eucalipto Cristas. Uma que brilha com a internacionalização do Direito — opcionalmente em inglês.  Gens  humanista ... contamos tão penosamente todos os palestinianos mortos, ansiando chegar ao número que preencha o tipo de genocídio. Os nossos códigos não se moldam às convicções partidárias do intérprete – por mera admissão do dogma, claro.Ilustre academia, Virgem Maria! Parteira de todos os especialistas de direito nos OCS privados! Rogai por nós... Camaradas, até Jesus teve dúvidas na cruz... E eu? Eu pensei que a NOVA Law, ali em Campolide, era uma instituição minimamente focada na adaptabilidade.Aliás — para quê a nova alcunha?  As estigmas pulsam nas mãos. E com o pus, borbulha o pressentimento de que esta tal "adaptabilidade" é guiada por interesses que pouco têm a ver com os dos alunos.  Por que razão os mesmos que escreveram leis de despejo, cortes salariais e privatizações são agora os que nos explicam o que é justiça, cidadania e Estado de Direito?Por que é que os mesmos professores que nos deram aulas online durante uma peste se recusam agora a fazê-lo por causa de um regulamento inflexível?Por que é que o professor que questiona a palavra “trabalhadores” nas aulas de Direito Constitucional é o mesmo que nega serviços mínimos no tribunal arbitral? É a razão da causa ou a causa da razão, senhores?  Não haverá algo mais português do que uma greve da CP? Talvez o segredo esteja no nome:  grève des trains!   Public transportation kaput! Prioridades? Nestes termos não se questionam.  Afinal, nós só estamos a pedir um link de zoom... e eles? Um salário que chegue ao fim do mês.  Honremos, pois, todos os académicos de honra.Porque no silêncio, a ideologia torna-se método.

  • O dérbi dos dérbis: uma cidade pintada a dois tons

    Na última semana o nosso país parou. Nos meios de comunicação e redes sociais de toda a espécie debatia-se este tema por horas a fio, conversas de café, de elevador, entre família e amigos passavam,  irremediavelmente, este assunto a pente fino. Não era o apagão, nem o início da campanha eleitoral. Era o dérbi decisivo - o dérbi do século , apelidado por alguns - jogado entre Benfica e Sporting no passado sábado, que não saía da cabeça nem das bocas dos mais ou menos entusiasta pela bola. Durante uma semana, Portugal, em particular a cidade de Lisboa, entrou numa antecipação asfixiante que se prolongou desde o fim da jornada anterior até às 17h59 do derradeiro dia. Arrisco-me a dizer que se tratou de um fenómeno sociológico de histeria coletiva, e, em simultâneo, um evento desportivo quase sem precedentes, uma vez que as duas equipas chegavam a este jogo em igualdade pontual quando apenas restavam duas jornadas para o fim do campeonato, com o bónus de que qualquer uma delas poderia sagrar-se campeã nacional naquele mesmo final de tarde. A acrescer à rivalidade histórica entre águia e leões, estava montado o cenário idílico para o pandemónio. É um lugar comum do futebol, mas vou-me socorrer dele, citando uma frase atribuída ao treinador italiano Arrigo Sacchi: “O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes da vida”. Falo da minha experiência, ainda que apenas de um dos lados da barricada, de que naquele dia vivenciava-se um verdadeiro sentimento de comoção e união. Apesar dos problemas da mais diversa índole que assolam as gentes no seu dia-a-dia, naquela tarde fizeram questão de se deslocar ao estádio, inclusive muitas e muitas horas antes do apito inicial, e de apoiar aqueles rapazes que envergam camisolas vermelhas vivas. Estavam ali para algo maior do que elas mesmas, para algo que é um elemento de ligação imediata entre os mais díspares indivíduos. E não há como negá-lo, o futebol em Portugal é mais do que um simples desporto, particularmente entre os 3 Grandes, é um fenómeno económico e cultural, que move multidões e incendeia paixões. Tanto antes, como já depois de a bola começar a rolar, para além da comoção, sentia-se um clima de esperança no ar, misturada com alguma ansiedade - aqueles 90 minutos representavam a batalha decisiva numa guerra que já vai longa. No pré-jogo, escutavam-se por toda a parte cânticos de incentivo à equipa, talvez uns decibéis acima do habitual, cachecóis e bandeiras eram agitados, talvez com mais genica do que noutras partidas. Milhares de pessoas concentraram-se nas imediações da Luz para receber a equipa. O ambiente frenético transferiu-se para o interior do estádio, e mesmo quando o resultado era desfavorável aos homens de vermelho, toda aquela multidão não se calou, compelindo os seus a lutar pelo resultado. E quando, aos 63 minutos, Kerem Aktürkoğlu, o Harry Potter turco, marcou o golo que deu a igualdade e que recolocou as águias na corrida para o título, o recinto ia colapsando.  O empate a uma bola manteve-se até ao fim da partida, e, por conseguinte, também a igualdade pontual entre as duas formações, empurrando a decisão final para a última jornada. De nada valeram as estruturas montadas na rotunda do Marquês de Pombal, nem os cortes à circulação em pontos estratégicos da cidade. Porém, com este resultado, o Benfica deixou de depender apenas de si próprio para vencer o título. Resta a esperança de triunfar em Braga e esperar que o Sporting tropece frente ao Vitória. Quanto ao Sporting, face ao 1x0 alcançado no dérbi da primeira volta, está a uma vitória de alcançar o bicampeonato, feito que lhe escapa há 70 anos. The last dance , para ambas as equipas,   joga-se, mais uma vez, no sábado pelas 18h. Ao início da noite, Lisboa ficará pintada com os tons de um destes clubes.  Para quem sente falta de um dérbi lisboeta, ou para aqueles que não têm problemas ao nível do sistema cardiovascular ou do nervoso (ou ambos), não precisa de aguardar muito para ter repetição da dose. No dia 25 deste mês, o Estádio Nacional será colorido de vermelho e verde para a final da Taça de Portugal, a “prova rainha”. Águias e leões bem podem começar a emitir cheques-saúde aos seus adeptos, porque este final de época está impróprio para cardíacos.

  • Desde pequena, sempre quis o poder de parar o tempo

    A minha avó sempre teve a mania de tirar mil e um fotografias. Conservava tanto o mais importante aniversário como o mais banal jardim num flash. Preservava tanto a nossa família como meros desconhecidos num clique. O que era necessário era eternizar a essência de quem amava. Por fim, reunia todas as valorosas memórias num álbum meticulosamente escolhido. Acho que esta foi a herança mais bonita que ela me deixou: o hábito de capturar quem amamos numa fotografia. Conservei fotos das minhas preciosas bonecas, dos meus queridos brinquedos e das visitas de estudo, tal e qual a minha avó fazia, queria que aqueles momentos e aquelas pessoas ficassem assim para sempre. No entanto, o mágico flash não foi suficiente para resistir ao intransigente tempo que levou consigo tudo o que eu queria eternizar. Quis manter as minhas barbies, mas já nem sei em que contentor de doações as abandonei. Quis guardar a minha blusa favorita, mas as traças consumiram-na por completo.  Quis recordar para sempre as velas do meu sétimo aniversário, mas o sol derreteu-as  Quis eternizar a minha avó, mas já nem me lembro da sua voz. Quis parar o tempo, mas não há nada mais certo do que a sua inexorável passagem.

  • Kinetic Rebirth

    What is it? I honestly, and deeply, in Marianas Trench depths of longing, wish I could understand. I wish I could see, but the reality’s reflection seems as blurred as a river in a Monet painting, and my eyes are as damaged as astigmatism could corrupt them. I wish I could know what it is, almost as I wish I could know me. What am I. And why that thing that I don’t know what it is impacted me so acutely - and with such a precise aim, perfectly embedding the core of my heart, summoning an echo of Dahmer’s old habits (and I bet the rational hyenas are craving the satisfaction of their hunger with my heart), as if it thrived in the Slayer’s repentless  philosophy. That must have something to do with me, right? It has to. If it breaks me, even just a little, even if it is only a nano fragment of mine - of my body, of my soul, of my own aura - that is demoralized, it must be because something, in me, in my kinda way; in my own essence of existence; in my own anatomical proportions’ organization; in the way that my own blood travels inside me; in the way my own heart pumps both willing to start moving and inertia; in the way my own tear ducts rain me salt, and in the way my own dust of stars is organized in and through me, in order for it to be me, collapses with. It must be that. It has to be that - or else, what would it be in order to exist fractures? That is the only explanation that sustains my ache - celestial collisions; multilateral collisions, from every possible angle and of every kind of nature, impregnated in any possible cogitated sense - atoms, blood, metal, screams, euphony, symphony, tears, and light, all intrinsically, transcendentally, combined and collided, dancing altogether, in a so smooth harmony, personifying the own concept of coalescence. They look almost indistinguishable. And as they keep on increasing their speed; their transitions; their tension; their coordination; their complexion; their complexity, and as they stretch their Shakespearean act, almost until there is nothing more to stretch; almost reaching Icarus desired destiny, they just can’t take it anymore. They reach their own limit - and explode. And I guess that, even if there is any other possible explanation for my feelings, I don’t want to accept another. I don’t even want to acknowledge the possibility for there to be any other key for my transcendental puzzle. Because I do want to believe in collisions. I want to believe that, as stars and gas in a galaxy move, and sometimes collapse, blowing up, and then create a whole new universe, I myself sometimes let my emotions and thoughts indulge in an energetic overflow, to the point that they rip apart, in order to new emotions, or new interpretations of those emotions be born. If we are made of atoms, why couldn’t this explanation be considered sufficient?  Nothing is lost, everything is transformed , that’s what I’ve used to hear. I will believe in it; I want to believe in it. I want to believe that each collision is beautiful and it has its own magical dust; its own mesmerizing light; and its own secret of motion, all embedded in their own well constructed maze of extra mundane nature. I want to believe that each collision was meant to be, in order for me to become a new better me .

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